sexta-feira, 10 de outubro de 2025
Com prédio centenário na Cinelândia, Brookfield estreia no Rio sua maior aposta imobiliária: residenciais para aluguel
Antes do A Noite, gestora abrirá as portas do Cena Carioca em edifício inaugurado em 1925.
Há exatos cem anos, um recém-criado O GLOBO noticiava a inauguração do Cinema Glória, às 14h daquele sábado, 3 de outubro de 1925. O prédio, “num bello tom cremado”, segundo a reportagem, era apenas o segundo da “série de palácios dedicados à arte muda que a Companhia Brasil Cinematographica está construindo nos terrenos do Convento da Ajuda”. Na estreia, 1,2 mil espectadores assistiram a “A única mulher”, estrelado por Norma Talmadge — e até o presidente da República, Artur Bernardes, enviou um certo general Santa Cruz para representá-lo.
Localizado na Praça Floriano, no Centro do Rio, o Glória foi um dos embriões da Cinelândia, onde poucos quarteirões concentrariam ao menos oito cinemas por décadas a fio. Um século depois, quase nada sobrou daquilo, mas a gestora canadense Brookfield está dando os retoques finais em uma obra cuja ambição é encontrar uma nova vocação para o espaço e inaugurar, no Rio, sua principal estratégia imobiliária hoje: o “multifamily”.
O conceito foca em empreendimentos construídos ou retrofitados com o objetivo exclusivo de gerar renda por meio de aluguel, seja de longa ou curta duração. O Edifício Glória está sendo convertido no Cena Carioca, com 119 unidades mobiliadas e plantas entre 23 e 53 metros quadrados. Serão 77 apartamentos de um quarto e 42 “estúdios”. Com inauguração prevista para dezembro, o prédio da Cinelândia será o primeiro “multifamily” da Brookfield no Rio, que também comprou 97% das unidades do Edifício A Noite e deve colocar suas 400 unidades para locação após o fim das obras, em 2027.
Popular nos EUA, o “multifamily” ainda engatinha no Brasil, mas a Brookfield está ampliando sua carteira por aqui. Já são 31 empreendimentos em oito cidades, com 2.340 apartamentos prontos e outros 3.328 em obras. Em agosto do ano passado, a gestora comprou de uma só vez cinco prédios no Centro de São Paulo, entre eles o Edifício Renata Sampaio Ferreira. Em 2027, abrirá no Itaim, bairro nobre paulistano, o Victória, com 110 unidades.
‘Sonho adiado’ e Gen Z
Segundo André Lucarelli, vice-presidente sênior de investimentos imobiliários da Brookfield, a gestora começou a desenhar sua estratégia de “multifamily” no Brasil ainda em 2018 e destravou os investimentos no pós-pandemia. Hoje, afirma o executivo, o conceito se tornou sua “principal aposta” imobiliária.
Em paralelo, a gestora se desfez de ativos importantes no segmento de shoppings. Desde o ano passado, a Brookfield vendeu participações bilionárias em empreendimentos como o Rio Sul e os shoppings paulistanos Higienópolis e Paulista.
— Com juros a 15% e inflação acelerada do custo de obra, ficou mais difícil comprar imóvel. O sonho da casa própria continua existindo, mas está sendo cada vez mais adiado. E ainda há uma nova geração que quer mais mobilidade e privilegia experiência, o que estimula o “multifamily”. Ao mesmo tempo, a nossa “concorrência” é de baixa qualidade: são imóveis velhos, alugados sem gestão profissional, o que nos dá vantagem competitiva — argumenta o executivo, que recebeu a coluna para uma visita guiada pelas obras do Cena Carioca.
Aluguel a partir de R$ 3 mil
Como é comum no modelo de “multifamily”, o empreendimento terá serviços semelhantes aos de um hotel, como espaços de co-working, Wi-Fi, lavanderia compartilhada, minimercado e, em breve, um restaurante operado pelo BFW Group (de marcas como Bar do Zeca Pagodinho e Gruta do Fado) no térreo, ocupando todo o quarteirão da Rua Álvaro Alvim. No “rooftop”, funcionará uma academia com vista para o Pão de Açúcar e para o Theatro Municipal.
A locação, seja de curta (short stay) ou longa duração, é feita pela internet. A gestão será da startup Tabas. Segundo Lucarelli, a expectativa é que os aluguéis de longa duração (a partir de 12 meses) custem entre R$ 3 mil e R$ 4 mil mensais, com tudo incluído no pacote: internet, água, luz e condomínio.
— Esperamos que a demanda comece pelo short stay, mas, com o tempo, o aluguel tradicional deve se tornar predominante. Nos nossos outros empreendimentos “multifamily”, mais de 80% dos clientes têm contratos de longa duração — explica.
Projetos na Zona Sul
O Edifício Glória entrou para o portfólio da Brookfield em 2022, quando a gestora pagou R$ 5,9 bilhões por 12 prédios da BR Properties, entre eles os cariocas Edifício Manchete e Ventura. O imóvel era ocupado pela Caixa Econômica, mas o banco já queria desocupá-lo, abrindo espaço para a conversão em residencial. Hoje, apenas uma agência da Caixa ocupa parte do térreo.
— Demoramos a entrar no Rio porque sempre batemos na trave na hora de adquirir os ativos. Agora, já temos o Cena Carioca, o A Noite e vamos fechar, até o fim do ano, outros três projetos na cidade. Serão na Zona Sul, sendo um retrofitado e dois em desenvolvimento — adianta.
Além da tendência do “multifamily”, o projeto do Cena Carioca acompanha a conversão de edifícios comerciais em residenciais no Centro do Rio, resultado do esvaziamento dos escritórios na região e de incentivos públicos como o programa Reviver Centro. Os exemplos no entorno são inúmeros: a poucos passos dali, o Edifício Mesbla e o Edifício Almirante Barroso estão prestes a virar residenciais.
No caso do Cena Carioca, como a fachada é tombada, a Brookfield manteve todas as características arquitetônicas desenhadas por Eduardo Pederneiras. Os traços são contemporâneos à abertura do cinema e do Hotel Monroe, que funcionava nos andares superiores. O interior, porém, foi todo reformado. Para o átrio central, a gestora encomendou um painel de 40 metros que percorre os nove andares e reproduz cenas de clássicos do cinema brasileiro.
O Globo, Capital, 10/out
quinta-feira, 9 de outubro de 2025
Retrofitado, prédio de escritórios no Centro do Rio vai ser movido a energia solar
Com isenção de IPTU, incentivos do Reviver Centro e a chegada do primeiro prédio corporativo da região a operar com 100% energia solar, empreendimentos reduzem custos de condomínio e ganham fôlego na disputa por inquilinos ’premium’.
O Centro do Rio vive uma fase de retomada, ainda de forma gradativa, mas os sinais já são visíveis. Depois de anos de vacância alta, agravada pelo período pós-pandemia e pela adoção do home office, as lajes corporativas nos chamados “edifícios de primeira linha” voltam a ser ocupadas em um movimento que sinaliza o retorno ao trabalho presencial. As estatísticas das corretoras especializadas dão conta de que cerca de 80% destes prédios já estão ocupados. E, claro, cresce também a procura por endereços que transmitam solidez e representatividade às grandes empresas: os empreendimentos que investem em modernização saem na frente. Quem chega à região não busca apenas um endereço nobre, mas também infraestrutura capaz de reduzir custos de operação e oferecer vantagens reais que façam diferença no caixa das companhias.
Isenção de IPTU, incentivos do programa Reviver Centro e soluções de sustentabilidade que possam reduzir os valores de cota condominial estão na linha de frente dessa corrida. Entre elas, a energia solar vem ganhando protagonismo e se tornou um diferencial cada vez mais valorizado pelas gestoras dos edifícios mais concorridos da região. Além de alinhar os prédios a uma pauta ambiental cada vez mais exigida por grandes companhias, ainda ajuda a baixar o valor do condomínio, item decisivo na hora de assinar o contrato. Segundo Valdemar Barboza, gerente de condomínios da Sergio Castro Imóveis, o valor médio de condomínios corporativos no Centro é de R$ 27,50 por metro quadrado por mês. “Qualquer coisa que o condomínio tenha que trabalhe para baixar este custo, torna o prédio muito mais atrativo. É por isso que há prédios na mesma rua com 100% e 20% de ocupação. O diferencial está no cuidado e na manutenção, mas muito mais na otimização de custos”, explica, citando que a eletricidade é um dos custos mais relevantes de um prédio comercial, além da água.
Daniel Leão, CEO da Construtora Internacional e à frente do retrofit do elegante Edifício Aliança da Bahia, enxerga no prédio um marco para o futuro da região. “O Aliança da Bahia é o primeiro prédio comercial do Centro com energia solar capaz de suprir a demanda dos serviços do condomínio durante o dia. À noite, é claro que não há geração, mas durante o dia toda a operação de consumo de energia e até de água funciona com o sistema solar, o que representa economia real para o inquilino”, afirma.
Segundo ele, iniciativas como essa ajudam a recolocar o Centro no mapa das grandes companhias. A combinação entre modernização, incentivos fiscais e sustentabilidade cria um ambiente competitivo e mais atraente para empresas que buscam não apenas endereço estratégico, mas também eficiência operacional. “Hoje, um edifício que alia tradição, tecnologia e custos reduzidos é visto como ativo estratégico. Essa é a importância do Aliança da Bahia: mostrar que o Centro pode oferecer o que há de mais moderno, sem abrir mão de sua história”, completa.
Tradição e modernidade
Em frente ao Palácio Capanema, na Avenida Araújo Porto Alegre, o Aliança da Bahia acaba de renascer. Construído nos anos 1960 e tombado pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, o edifício – que ocupa um quarteirão inteiro – passou por um retrofit completo. O projeto levou a assinatura do arquiteto Ruy Rezende, um dos grandes nomes do urbanismo carioca, que acompanhou de perto cada detalhe até seu falecimento, em 2024.
São 15 andares no total: 14 lajes corridas de mil metros quadrados, classificadas como AAA+, além de uma cobertura envidraçada que entrega imponência ao skyline do Centro. O conjunto se completa com loja e sobreloja, elevadores de última geração — os mais rápidos do mercado — e um pacote de soluções que colocam o prédio em pé de igualdade com os melhores empreendimentos corporativos do Rio.
A aposta, no entanto, vai mesmo bem além da estética e da tecnologia embarcada. Com o sistema de placas solares, o custo de condomínio cai de forma significativa, e a isenção do IPTU pelo Reviver Centro amplia ainda mais as vantagens para futuros ocupantes. Um atrativo e tanto em tempos de contas enxutas e reestruturação de escritórios.
Segundo levantamento da Sérgio Castro, a vacância de prédios retrofitados e adequados às novas demandas não passa de 20%, enquanto os que ficaram parados no tempo enfrentam índices acima de 60%. O Aliança da Bahia, portanto, chega ao mercado em um momento favorável e pronto para receber um inquilino de peso. “O investimento em energia limpa não foi apenas uma questão de inovação, mas de estratégia”, reforça Daniel. “Queremos que o Aliança da Bahia seja um modelo de eficiência e sustentabilidade, oferecendo ao inquilino a melhor experiência e o menor custo possível”.
Diário do Rio, 09/out
quarta-feira, 8 de outubro de 2025
Colado ao Edifício A Noite, um prédio com R$ 65 milhões em ‘estúdios’: ‘A Noitinha’
Acompanhando a tendência do arranha-céu A Noite, um vizinho da Praça Mauá será retrofitado e transformado em residencial de “estúdios”. O projeto — apelidado de “A Noitinha” pelo Grupo CTV, responsável pela incorporação — terá Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 65 milhões.
O empreendimento fica praticamente colado ao A Noite, no número 13 da Praça Mauá. Trata-se de um prédio comercial com 14 andares. O plano é converter as lajes em 148 estúdios, com plantas entre 17 e 24 metros quadrados. De acordo com o projeto, todas as unidades terão vista para a Baía de Guanabara ou para o Cristo Redentor. O “rooftop” terá piscina de borda infinita, e a fachada será ativa — ou seja, contará com comércio no térreo.
— É o local mais premium da região, próximo ao Museu do Amanhã e em frente ao Museu de Arte do Rio — diz Guilherme Mororó, diretor comercial do Grupo CTV.
Laranjeiras
Será o terceiro retrofit da companhia no Centro. Os anteriores ficam na Pedra do Sal e na Rua Acre, e todas as unidades já foram vendidas. O CTV também fará o retrofit de um prédio comercial em Laranjeiras, Zona Sul do Rio, transformando-o em um residencial com 96 “estúdios” e VGV de R$ 96 milhões.
O empreendimento se chamará Céu Laranjeiras e ficará no lugar do antigo edifício empresarial Laranjeiras Corporate 44. O imóvel, na Rua Moura Brasil, está nas imediações do Viaduto Jardel Filho e a uma quadra da sede do Fluminense. O projeto do residencial será assinado pela Feu Arquitetura.
— A região não recebia lançamentos havia cinco anos, daí a demanda por imóveis mais modernos — acrescenta o executivo da CTV, que também está criando uma marca de loteamentos e vai estrear com um projeto de R$ 36 milhões no Recreio dos Bandeirantes.
O Globo, Capital, 08/out
terça-feira, 7 de outubro de 2025
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