sexta-feira, 29 de novembro de 2024
Cyrela aposta alto: novo arranha-céu terá a vista mais elevada de São Paulo
Construtora quer seduzir alta renda paulistana com seu quinto lançamento acima de 135 metros de altura.
“Nunca existiu nada em São Paulo construído nesta altura”. Assim, Efraim Horn, co-CEO da Cyrela, define o novo lançamento da incorporadora. Em parceria com o J. Safra Properties, a torre com 144 metros de altura será construída em um dos pontos mais altos da cidade, a três quadras da Avenida Paulista. Quando finalizado, em maio de 2029, On the Sky Bela Cintra estará a 956 metros do nível do mar, e será o edifício com vista mais alta da capital.
“Existe apenas uma coisa mais alta na cidade, que é o Pico do Jaraguá. Mas com Deus não vamos competir”, disse Efraim, durante o lançamento do empreendimento para corretores. O evento foi marcado por referências ao céu e às estrelas – mote de marketing do novo empreendimento – que iam desde dress code azul e branco até a aparição do CEO trajado como um cavaleiro Jedi e usando um sabre de luz.
O local escolhido para o lançamento foi a Roda Rico, na Marginal Pinheiros. Com 91 metros de altura, ela é a maior roda gigante da América Latina. “Quando estamos no topo da roda, ainda não chegamos no piso do On The Sky. Em uma comparação exagerada, seriam como três rodas gigantes empilhadas”, afirmou o CEO em entrevista à EXAME, concedida durante os trinta minutos de duração do passeio.
Efraim é o filho mais velho de Elie Horn, fundador da Cyrela, e divide a presidência da empresa com o irmão Raphael desde 2014. Ele é responsável pela visão de produtos e marca, enquanto Raphael cuida da gestão. Embora participe de toda a gestão de projetos, Efraim não costuma dar entrevistas à imprensa. Os lançamentos são raras exceções.
No caso do On The Sky Bela Cintra, Efraim conta que a altura de 144 metros ficou muito próxima dos limites de aeronáutica da região, que estão em 150 metros. “Chegamos à altura máxima.”
O lançamento faz parte da corrida de alto luxo em São Paulo que, nos últimos anos, vislumbrou um novo potencial de crescimento com a verticalização. “Em algumas áreas de São Paulo, sempre foi possível construir prédios um pouco mais altos. Mas as construtoras preferiam fazer duas torres, que é um processo mais barato”, argumenta Efraim.
Para o alto luxo, a palavra de ordem é experiência. E para o CEO, os espigões são a tradução desse movimento. “A maioria delas [das experiências] são efêmeras, mas se você pode comprar uma casa que te proporciona isso para todo o sempre, por que não?”, questiona. Prova disso, segundo Efraim, é que ele próprio nunca antes havia comprado um imóvel da Cyrela até o lançamento do On The Sky Pompeia, precursor do Bela Cintra, com 147 metros.
Corrida vertical em São Paulo
Efraim admite que os espigões trazem desafios técnicos e financeiros para as construtoras que, ainda assim, enxergam vantagem no modelo. “É mais difícil de construir, de vender, o fluxo de caixa piora muito – a entrega é um ano e meio depois [de uma convencional]. Ainda assim, existe sim um reforço da verticalização na cidade.”
Quem deu o pontapé inicial do movimento “para cima” em São Paulo foi a construtora Porte, ao colocar de pé o Platina 220, no Tatuapé. Com 172 metros de altura, o edifício entregue em 2022 tirou o posto de mais alto da cidade do Mirante do Vale, que mantinha o título desde a década de 1960.
Até 2026, o novo prédio mais alto da cidade será o corporativo Paseo Alto das Nações, na Marginal Pinheiros, com 219 metros de altura – uma parceria do Carrefour Properties com as construtoras WTorres e EzTec.
Entre os residenciais, a liderança deve ficar com o Vista Cyrela Furnished by Armani/Casa, lançado ainda este ano. Quando finalizado, em julho de 2029, o edifício terá 206 metros de altura – limite máximo permitido por lei na cidade.
O prédio promete colocar a Cyrela na lista dos 10 edifícios mais altos do Brasil segundo o órgão internacional CTBUH (Conselho de Edifícios Altos e Habitat Urbano), que mantém um ranking dos maiores arranha-céus do mundo.
“Não vamos ter concorrência para construir 10 prédios nas alturas [diferentes]. São Paulo é tão grande que cada empreendimento vai estar no seu bairro, ter sua marca e seu público”, diz.
A aposta da Cyrela nas alturas
O primeiro flerte da Cyrela com os espigões veio em 2002, com o lançamento do Mandarim, no Brooklin, com 137 metros de altura. A semente ficou adormecida até o ano passado, quando a construtora lançou o On The Sky Pompeia, com 147 metros de altura, o segundo prédio da família Mandarim, também no Brooklin, com 122 metros de altura, e o Çiragan, nos Jardins, com 125 metros.
Os prédios gigantes Vista Armani e o On The Sky Bela Cintra fecham o portfólio de seis arranha-céus residenciais. E a construtora vê espaço para mais. “Queremos dar a São Paulo a vista que ela merece”, diz. Para 2025, estão programados dois novos espigões da construtora entre as regiões de Pinheiros e Itaim Bibi: um de 206 metros de altura e outro de 180 metros de altura.
O mais recente lançamento terá 305 unidades com metragens de 56 metros quadrados a 169 m². O preço médio do m² será R$ 20 mil, colocando o apartamento mais barato ao preço de R$ 1,1 milhão e o mais caro em R$ 3,3 milhões. O valor geral de vendas (VGV) esperado para o projeto é de R$ 700 milhões.
Como de praxe, a Cyrela não pretende colocar o preço do m² em seu ponto máximo logo de largada, para permitir a valorização do empreendimento para os primeiros compradores. A expectativa de Efraim é que o projeto chegue a R$ 25 mil/m² – valorização de 25% frente ao lançamento.
O bom resultado da construtora na alta renda paulistana tem sido um dos diferenciais que colocam as ações da Cyrela entre as favoritas dos analistas. A incorporadora teve um lucro líquido de R$ 473 milhões no terceiro trimestre deste ano, avanço de 88% ante o mesmo período de 2023 – quase 20% acima das expectativas.
Os analistas do Santander acreditam que a ação da Cyrela está com um ponto de entrada – o papel é negociado a R$ 21,90 segundo o último fechamento, com queda acumulada de 12,42% no ano. Um dos fatores de atenção destacados pelos analistas é o “pipeline de projetos icônicos com forte proposta de valor, que continuam a apoiar um atraente desempenho de vendas.”
O Goldman Sachs também tem recomendação de compra para Cyrela. “O debate atual está focado no impacto do aumento das taxas de juros sobre a demanda pelo produto Cyrela, mas, em nossa opinião, a construtora se beneficia de seu foco na alta renda de São Paulo, que está vendo fundamentos favoráveis de oferta/demanda”, escreveram os analistas.
Para fazer frente ao cenário macroeconômico mais desafiador, Efraim diz apostar em um portfólio “imune” aos ciclos econômicos. “Tentamos fazer um produto que as pessoas comprem, independente do preço”, explica. “Se existe uma Mercedes, que é o sonho de muita gente, custando 20% a menos, todo mundo compra. Temos que fazer produtos especiais com preço ótimo. Não podemos depender da economia.”
Exame, 29/nov
quinta-feira, 28 de novembro de 2024
Ademi premia mais de 40 iniciativas que se destacaram no mercado imobiliário do Rio em 2024
Em cerimônia no Vivo Rio, associação reconheceu empresas, projetos e profissionais em 22 categorias e seis destaques.
De prédios residenciais inovadores a empreendimentos que levam em conta a responsabilidade social e até trabalhos universitários, a Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi) premiou 41 iniciativas que se destacaram em 2024. O prêmio Destaque Ademi foi divulgado e entregue em cerimônia realizada no Vivo Rio, no Aterro do Flamengo, na noite desta segunda-feira.
Nesta 20ª edição, 41 profissionais, projetos, empresas e empreendimentos foram premiados em 22 categorias e seis destaques. Na avaliação de Marcos Saceanu, presidente da Ademi, em 2024, o mercado imobiliário do Rio deu saltos significativos. Os lançamentos de 9 meses do ano deste ano cresceram 50%, em relação aos lançamentos de 2023.
— Foi um ano fortíssimo em números. Este ano tem tudo para ser o melhor ano dos últimos cinco anos do mercado. A distribuição dos bons projetos por toda a cidade, sejam eles econômicos, de média ou alta renda, com inovações e criatividade, se deu em todas as regiões da cidade. E a premiação mostra isso — avalia, Saceanu.
A noite começou com uma homenagem a Carlos Fernando de Carvalho, engenheiro e fundador da construtora Carvalho Hosken, que morreu em agosto de causas naturais, aos 100 anos.
— A gente perdeu o doutor Carlos recentemente. Nada mais justo do que fazer uma homenagem a ele, pelo legado e toda a história que ele tem no mercado imobiliário — afirma.
A RJZ Cyrela, a Cité Arquitetura e a Lopes Rio foram os grandes contemplados da noite, levando, respectivamente, os prêmios de empresa, arquiteto e imobiliária do ano. O prêmio de gestor social foi para a obra social Gastromotiva.
— Ficamos honrados por ter nossos empreendimentos e iniciativas constantemente reconhecidos pelo júri. É o reconhecimento do empenho da RJZ Cyrela em oferecer ao público do Rio produtos diferenciados, com qualidade e inovação — diz Michel Gottlieb, Diretor Geral da RJZ Cyrela.
De olho nas tendências, o prêmio também contempla projetos universitários desenvolvidos por estudantes. A edição deste ano recebeu 15 inscrições de diversas universidades, mas a pesquisa científica vencedora foi a de Victória de Araújo Rutigliani. Ela desenvolveu um diagnóstico para a bacia do Rio Acari. Ela se formou em 2022 em Arquitetura e Urbanismo pela UFRJ, mas como o prêmio aceita trabalhos feitos nos últimos três anos, ela se inscreveu.
— Uma das diretrizes que eu proponho no estudo é a valorização da paisagem do Rio Acari, através da criação de um parque fluvial, com infraestrutura que incorpore a drenagem urbana e sistema de espaços livres para a população usufruir — explica Victória, que ficou surpresa com a premiação. — Eu não esperava, mas fiquei muito, muito feliz. É um sinal verde de que sim, o estudo científico pode ser reconhecido.
O evento conta com apoio da Eichenberg, Lobato, Abreu & Advogados Associados, Mizu Cimentos, Polimix Concreto, Rio Mix, Celumassa, Casashopping, Hagana, Clim Engenharia e Demolição, Campos Mello Advogados, Claudio Mandelblat Advogados Associados, e O GLOBO. Já o prêmio tem patrocínio de Mútua, Firjan, Águas do Rio, Cartório 15, Arcelor Mittal e Manchester Distribuidora de Ferro e Aço Ltda. A Caixa Econômica Federal é Patrocinadora Master.
Destaques Ademi 2024
Hotel, Apart Hotel e Residence Service
Residencial Senior RJZ - Fundo Rogerio Jonas Zylberstajn
Empreendimento comercial, de serviços e outros
TAO Jardim Pindorama - TAO Empreendimentos
Claris Casa & Clube - Tegra Incorporadora S/A
Empreendimento residencial de pequeno porte
Oui Ipanema Studios - Sig Engenharia
Tom Delfim Moreira - Gafisa Rio Servicos Imobiliarios Ltda
Empreendimento residencial de médio porte
Onlife Flamengo - Calçada Empreendimentos Imobiliários S/A e Construtora Montserrat Ltda
Empreendimento residencial de grande porte
Heitor dos Prazeres Condomínios - Cury Construtora e Incorporadora Ltda
Orygem Acqua Home - RJZ Cyrela
Retrofit
Sal Rio Residencial - CTV Construtora
Revitalização Do New York City Center - Multiplan Empreendimentos S/A
Projeto de habitação de interesse social – faixa 1
Residencial Mangueira - Dimensional Engenharia Ltda
Projeto de habitação de interesse social – faixa 2
Soul Taquá I - Construtora Tenda S/A
Novolar Atlanta - Patrimar Engenharia S/A
Projeto de habitação de interesse social – faixa 3
Empreendimento Portal Vila Dos Mares - BRZ Empreendimentos Portal Vila dos Mares
Vitale View - Construtora Vitale Ltda
Projeto de prédio comercial de pequeno porte
Joá 102 - Nigri Construtora Ltda
Projeto de prédio comercial de médio porte
Hospital De Transição Reabilitação Valsa-Abbr - Cognati Construções e Reformas Ltda
Projeto de prédio residencial de pequeno porte
Signature Praia do Pepê - Avanço Realizações
Nascimento 245 - Piimo Empreendimentos Imobiliários Ltda
Projeto de prédio residencial de médio porte
Aqua Village Residence Club - Newview 42 Gestão Patrimonial e Participações Ltda
Ibitá - Performance Empreendimentos Imobiliários Ltda
Projeto de prédio residencial grande porte
Gaea Home Resort - Tegra Incorporadora
Only By Living - Rjz Cyrela
Marketing/comercialização de empreendimento de pequeno, médio e grande porte
Coleção Be In Rio - Opportunity Fundo de Investimento Imobiliário
La Isla Residence Club - RJZ Cyrela
Projeto urbanístico, loteamento e outros
Orla Bothanica - Bothanica Urbanismo e Empreendimentos Ltda
Pontall Private Clubhouses - Calçada Empreendimentos Imobiliários S/A e Construtora Montserrat Ltda
Concepção arquitetônica – obras concluídas ou obras em andamento
Empreendimento Reserva do Alto Teresópolis - Grupo Mauad
Criatividade imobiliária
Origem Porto Imperial - Riva Incorporadora S/A E Cury Construtora e Incorporadora Ltda
Nook Copacabana - Itdoc Soluções Imobiliárias
Construção com sustentabilidade
Park Design By Edsa - RJZ Cyrela
Residências da Comunidade do Aço - Dimensional Engenharia Ltda
Responsabilidade social
Uma Jornada de Revitalização Cultural - Cury Construtora E Incorporadora Ltda
Escola Nota 10 - Mrv&Co
Inovação tecnológica
Reserva Carioca desburocratização - Metro Regularização Imobiliária e Fundiária Ltda
Inovação Tecnológica em Canteiros de Obra - Visione Engenharia
Arquiteto do ano
Cité Arquitetura
Imobiliária do ano
Lopes Rio
Empresa do ano
RJZ Cyrela
Ação Social
Gastromotiva
Homenagem
Carlos Fernando De Carvalho (In Memoriam)
Reconhecimento Arquiteto - 50 Anos
Inacio Obadia
Destaque Ademi Universitário
Victória De Araújo Rutigliani
O Globo, 26/nov
quarta-feira, 27 de novembro de 2024
Crédito para comprar imóvel usado desaba mais de 80%, após aperto nas regras para uso do FGTS
Governo endureceu condições dos financiamentos para privilegiar construção de novas moradias.
O financiamento de imóveis usados com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) desabou nos últimos meses, após uma série de decisões do governo para privilegiar a aquisição de lançamentos. No programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), números da Caixa Econômica Federal mostram uma queda de 85% na concessão de crédito para compra de imóveis antigos nos últimos dois meses. Para os cotistas do fundo que ganham mais de R$ 8 mil, o recuo é de 98% entre maio e outubro.
Com recursos do FGTS, o governo, por meio de bancos operadores, oferece empréstimos para compra da casa própria a juros mais baixos. O MCMV é destinado a famílias com renda mensal de até R$ 8 mil e permite a aquisição de imóveis de até R$ 350 mil. Quem tem conta no FGTS e ultrapassa o teto do MCMV pode optar pela modalidade Pró-Cotista, que financia casas ou apartamentos de até R$ 1,5 milhão.
O FGTS é usado como funding. Ou seja, o dinheiro depositado pelas empresas fica no fundo e é usado como forma de financiar a casa própria a juros mais baixos do que no mercado tradicional — para a classe média, o financiamento com funding da poupança também está mais difícil, desde que, por falta de recursos, a Caixa passou a exigir uma entrada maior nessa modalidade a partir deste mês.
Mudança no governo Bolsonaro
Na origem do Minha Casa, Minha Vida, não era permitido adquirir imóveis usados. Eles foram incluídos durante o governo de Jair Bolsonaro e mantidos por Luiz Inácio Lula da Silva na reformulação do programa, no ano passado, com ampliação do subsídio (desconto a fundo perdido dado no valor de entrada e na taxa de juros).
A ideia do governo Lula era dar vazão aos 11,4 milhões de unidades habitacionais vagas, segundo o Censo de 2022, e combater o déficit habitacional no país, estimado em 6,2 milhões de moradias.
Mas a opção fez mais sucesso do que o esperado. Em 2023, as moradias usadas representaram 29,32% de tudo que foi financiado com recursos do FGTS, mais do que o dobro de 2022 (13,25%), segundo dados do Ministério das Cidades. Em 2021, a participação tinha sido de apenas 6,25%.
A expansão foi verificada em todas as faixas do programa, mas a preferência pelos imóveis mais antigos foi maior quanto mais alta a renda. No Pró-Cotista, para a classe média alta, a fatia no ano passado foi de 65,41%. Enquanto na faixa 3 do MCMV (voltada para renda familiar entre R$ 4,4 mil a R$ 8 mil), foi de 38,72%.
Fechando a torneira
Diante dos números, já em 2023, o Ministério das Cidades, responsável pelo programa, decidiu fechar, aos poucos, a torneira para os imóveis mais antigos. A avaliação era de que a situação estava desbalanceada, com a aquisição de usados tomando muito espaço dentro do orçamento apertado do FGTS — algo que também incomodou o setor da construção.
Inicialmente, o governo reduziu o subsídio (desconto a fundo perdido ao público do MCMV) para os usados. Neste ano, porém, foram necessárias novas medidas em abril e agosto. A decisão foi privilegiar o acesso a usados às classes mais baixas, restringindo as condições para quem ganha mais de R$ 4,4 mil.
Agora, na faixa 3 do programa, a entrada mínima para compra de usados é de 50% para quem mora no Sul e Sudeste e 30% nas demais regiões. Além disso, o valor máximo do imóvel usado que pode ser financiado caiu de R$ 350 mil para R$ 270 mil. O governo ainda limitou o orçamento do fundo para compra de moradias antigas a R$ 13,3 bilhões. No Pró-Cotista, só podem financiar usados rendas inferiores a R$ 12 mil e com um valor de entrada mínimo de 50%.
Tombo
Dados da Caixa, principal operadora do Minha Casa, Minha Vida, mostram que a fatia de usados ainda é significativa este ano. O financiamento de usados soma R$ 21,1 bilhões no programa até outubro, ou 27,4% do total de crédito contratado com o banco (R$ 77,1 bilhões).
Esse percentual, porém, era de 31,2% até agosto, quando o governo decidiu apertar ainda mais as condições para compra dos imóveis mais antigos. Naquele mês, as concessões para compra de usados alcançaram R$ 2,8 bilhões, o maior valor desde o início de 2023. Foram 18 mil unidades habitacionais financiadas.
Já no mês seguinte, o baque foi grande, de 70%. Em outubro, as concessões somaram R$ 423 milhões (3.114 unidades) — um recuo ante agosto de 85%.
No Pró-Cotista, a redução foi ainda mais significativa. Começou a ficar evidente já em maio, quando entraram em vigor as primeiras restrições. O financiamento passou de R$ 263 milhões para R$ 5 milhões no período — redução de 98%. Em unidades, foi de 1.023 para apenas 29.
‘Equilíbrio’, diz ministro
Segundo o ministro das Cidades, Jader Filho, as restrições atuais buscam alcançar o equilíbrio na política habitacional e estão em permanente avaliação para possíveis afrouxamentos ou novos apertos, sempre mirando a saúde financeira do orçamento do FGTS.
A oferta de novos é considerada importante pelo ministro porque gera mais emprego e renda, retroalimentando o fundo. Por outro lado, o usado aumenta as opções para as famílias, principalmente em estados “periféricos”, onde o volume de lançamentos é pequeno em relação às demais localidades, de acordo com Jader Filho.
— Tem que equilibrar esse jogo. Mantendo os novos diante da questão do emprego, para economia girar. Por outro lado, não pode abrir mão dos imóveis usados. Porque, além de ser a única opção em alguns lugares, se concentrarmos só nos novos, os preços vão começar a subir por uma oferta menor que a demanda — disse o ministro ao GLOBO.
Jader Filho acrescenta que não seria prudente deixar o orçamento para novos acabar e dar uma sinalização negativa para o setor da construção, já comprometido com investimentos nos próximos anos.
Sobrecarga do fundo
Para além da restrição maior na compra de usados, o orçamento do Pró-Cotista vem perdendo espaço dentro do FGTS, em um momento que poderia funcionar como alternativa para parcela da população que é afetada pela limitação nos financiamentos com recursos da poupança. No ano que vem, o orçamento para a modalidade, considerando novos e usados, será ainda menor, de R$ 3,3 bilhões, contra 5,5 bilhões este ano.
Segundo Jader Filho, se sobrar recursos, o governo vai avançar e facilitar as condições para o Pró-Cotista. Mas o ministro argumenta que é urgente uma discussão de toda a sociedade sobre as alternativas para financiamento imobiliário nas faixas de renda que não compõem o MCMV.
— Não podemos colocar todas as fichas no FGTS. O FGTS não dá conta de absorver toda a demanda que existe hoje no país. Precisamos discutir a questão habitacional — disse o ministro — Se não é o FGTS, qual é a alternativa que o Brasil tem hoje? O Brasil precisa da iniciativa privada e de toda a sociedade. Não é possível uma economia do tamanho da nossa depender só do FGTS.
O Globo, 27/nov
terça-feira, 26 de novembro de 2024
Incorporadoras do Minha Casa Minha Vida vivem ‘fase de ouro’ e lucro somado sobe 143%
Cury e Direcional foram principais destaques entre as empresas listadas em bolsa; mudanças feitas pelo governo ajudam a melhorar as vendas.
As incorporadoras que atuam no Minha Casa Minha Vida (MCMV) apresentaram resultados bastante positivos no terceiro trimestre, confirmando o melhor momento do programa habitacional desde a sua criação, há 15 anos.
A temporada de balanços das empresas do segmento foi marcada pelo crescimento da receita e do lucro, resultados impulsionados pelo avanço na velocidade de vendas dos imóveis, subida de preços e expansão da margem de lucratividade - cenário que deve perdurar por mais alguns trimestres, de acordo com analistas.
A receita líquida consolidada totalizou R$ 6 bilhões no terceiro trimestre de 2024, uma alta de 31% em relação ao mesmo período de 2023. Já o lucro líquido consolidado foi de R$ 539 milhões, um salto de 143% na mesma base de comparação anual.
O aumento do lucro em um ritmo maior que o da receita se deve à diluição das despesas administrativas e comerciais, com melhora das margens de lucro, segundo as empresas.
O levantamento foi realizado pelo Estadão/Broadcast com os números das cinco incorporadoras do segmento econômico com ações listadas na Bolsa de Valores: Cury, Direcional, MRV, Plano & Plano e Tenda.
“Foi mais uma boa temporada para as empresas do setor imobiliário de baixa renda. As empresas estão em um momento muito positivo em termos de reconhecimento de receita e crescimento da rentabilidade”, disse a analista de construção civil do Santander, Fanny Oreng.
A razão para o bom desempenho se deve aos ajustes promovidos pelo governo no MCMV, que ampliaram o poder de compra da população, facilitando as vendas (veja mais detalhes abaixo). “Isso mostra que as condições do programa continuam muito favoráveis”, disse.
Para Oreng, os próximos trimestres continuarão sendo bons para as empresas, com espaço para subir mais um pouco os preços de venda e preservar as margens. Por outro lado, há uma preocupação crescente com o aumento nos custos de materiais e mão de obra, uma vez que a inflação setorial já superou a média da inflação geral. “O comportamento dos custos é um ponto de atenção. Muitas empresas operam com gordura no orçamento das obras, mas isso precisa ser acompanhado”, disse a analista do Santander.
O analista de construção do Citi, André Mazini, concorda que o avanço da inflação acende uma luz amarela no setor. Vale lembrar que, no MCMV, os clientes são repassados para o financiamento bancário logo após a compra do imóvel na planta, e não só após a entrega das chaves. Dessa forma, as empresas não recebem parcelas mensais reajustadas pela inflação.
“Isso é um ponto para se ficar super de olho. A última disparada da inflação, durante a pandemia, teve um efeito dramático para as empresas, com estouro nos custos e perda de margem”, lembrou Mazini. “Desde então, houve um aprendizado. As empresas não têm só a preocupação em vender rápido, mas também em ajustar preço e preservar margens.”
Para o ano que vem, Mazini espera que as incorporadoras mantenham lançamentos e vendas em níveis altos. Um ponto positivo foi a melhora no orçamento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para o MCMV. O orçamento para 2025 ficou em R$ 121 bilhões, estável na comparação com 2024. Entretanto, os recursos para financiamento de imóveis novos cresceram 12,5%, chegando a R$ 101 bilhões, enquanto o para usados diminuiu 35%, para R$ 20 bilhões (o restante pertence a linhas fora do programa).
“Dado que o orçamento é restrito, faz sentido destinar uma parte maior para financiar casa nova, que gera emprego e movimenta a economia”, avaliou Mazini. “Para as empresas, foi muito bom, porque garantiu um orçamento maior”.
Entre as empresas listadas na bolsa, os destaques da temporada foram Cury e Direcional, segundo os analistas do Santander e do Citi, que destacaram a capacidade das empresas combinarem elevação de vendas, receita, margens e geração de caixa. A MRV, por sua vez, viu as ações despencaram na bolsa porque ainda tem dificuldade de gerar caixa e baixar a dívida alta.
“A nossa performance está nos melhores patamares da história, mas ainda há chance de melhora”, disse Ricardo Ribeiro, presidente da Direcional, na conferência de apresentação de resultados, no início do mês. “Temos conseguido crescer ao mesmo tempo em que devolvemos capital para o acionista.”
Ajustes
Desde a metade de 2023, o governo federal aumentou o subsídio dado às famílias para aquisição de imóveis (de R$ 47,5 mil para R$ 55 mil), cortou os juros em 0,25 ponto porcentual para o financiamento das famílias de menor renda (para o patamar de 4% a 4,25% ao ano) e elevou o teto de preços dos imóveis de R$ 265 mil para até R$ 350 mil em todo o País, permitindo que mais moradias fossem enquadradas. Também houve expansão do prazo de financiamento de 30 para 35 anos.
Mais recentemente, foi cortada de 4% para 1% a alíquota do Regime Especial de Tributação (RET) para projetos da faixa 1 do MCMV, para famílias com renda de até R$ 2,6 mil, o que aumentou o apetite das construtoras neste segmento.
A cereja do bolo ficou por conta dos governos estaduais, que passaram a ofertar subsídios adicionais aos compradores de imóveis do MCMV. Isso tem funcionado como maneira de colocar para dentro do mercado as famílias de renda mais baixa.
Por exemplo: o programa Casa Paulista, de São Paulo, oferece subsídios entre R$ 11 mil e R$ 16 mil para aquisição de moradias do MCMV. Já o Morar Bem, de Pernambuco, aporta R$ 20 mil, assim como o Casa Fácil, do Paraná. Mais de uma dezena de Estados têm iniciativas do tipo.
O resultado foi um grande impulso nos lançamentos e nas vendas, conforme mostrou levantamento da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) divulgado nesta semana. Os lançamentos dentro do MCMV no terceiro trimestre de 2024 somaram 47.525 unidades em todo o País, alta de 31,8% na comparação anual, enquanto as vendas atingiram 46.142 unidades, um salto de 46,9%.
Estadão, 26/nov
segunda-feira, 25 de novembro de 2024
Construção Civil e Sustentabilidade: emissões de CO2 e soluções com bambu e madeira
O setor da construção civil é responsável por cerca de 37% das emissões globais de carbono. Diante do avanço urbano e das crescentes pressões ambientais, políticas que incentivem o uso de materiais regenerativos são imperativas para reduzir esses impactos e impulsionar uma transformação sustentável. Nos últimos anos, o foco recaiu sobre a diminuição do "carbono operacional" das edificações — relacionado ao consumo de energia para aquecimento, resfriamento e iluminação. A expectativa é que essas emissões caiam de 75% para 50% até 2050. Contudo, o "carbono incorporado" nos materiais de construção, uma fonte significativa de emissões, ainda carece de uma abordagem urgente e efetiva.
Alternativas viáveis para reduzir o carbono incorporado já existem, particularmente por meio de materiais de base florestal e inovações na engenharia de materiais. Os materiais tradicionais, como o cimento e o aço, são intensivos em energia e recursos, respondendo juntos por mais de 11% das emissões globais de CO₂. Além do impacto no clima, a produção desses materiais provoca perda de biodiversidade, poluição hídrica e elevado consumo de água. Esse cenário evidencia a necessidade de soluções que conciliam desenvolvimento urbano com conservação ambiental.
A madeira engenheirada tem se mostrado uma alternativa de baixo carbono promissora, capaz de substituir estruturas de aço e concreto. Além de sua sustentabilidade, a madeira laminada cruzada (CLT) se destaca como um material que também armazena carbono. Diversos países já possuem regulamentações que incentivam o uso de sistemas de construção em madeira, inclusive em edificações de grande altura. Outra matéria-prima que vem ganhando relevância é o bambu, que, com o auxílio de novas tecnologias de laminação, surge como uma solução ainda mais viável e sustentável para o setor.
Embora a extração de madeira natural continue a ultrapassar o crescimento das florestas, o bambu oferece uma alternativa sustentável com características técnicas surpreendentes. Com resistência à tração semelhante ao aço e resistência à compressão duas vezes maior que a do concreto, o bambu pode ser utilizado em uma vasta gama de aplicações, incluindo colunas, vigas e paredes. Além disso, o bambu engenheirado alcança desempenho mecânico comparável ao da madeira tradicional.
O rápido crescimento do bambu é um de seus principais atrativos: ele atinge a maturidade em menos de cinco anos e sequestra uma quantidade significativa de carbono por hectare, tornando-se uma opção valiosa no reflorestamento e no combate às mudanças climáticas. Estudos indicam que o bambu sequestra entre 5 e 24 toneladas de carbono por hectare anualmente, superando as florestas de vináceas e tropicais. A colheita seletiva do bambu também minimiza os impactos ecológicos, e a produção sustentável desse material pode render até 296 toneladas por hectare.
Embora a produção de bambu envolva emissões de carbono, principalmente devido ao uso de produtos químicos, ele ainda representa uma vantagem estratégica frente a materiais convencionais, como o aço e o cimento, por sua capacidade superior de armazenamento de carbono. Em um momento em que a construção civil busca alinhamento com metas climáticas e práticas sustentáveis, o bambu e outros materiais regenerativos surgem como alternativas essenciais para construir um futuro mais equilibrado e ecologicamente responsável.
Valor Econômico, 25/nov
Em um ano, Rio tem valorização de 20% no preço médio de venda de novos imóveis
Setor de imóveis luxo também apresentou alta na cidade.
A cidade do Rio teve valorização de 20,44% no preço médio de venda dos novos imóveis, nos últimos 12 meses. Nos segmentos de médio-alto padrão e luxo, os aumentos foram de 14,55% e 2,26%, respectivamente. Os dados são da atual edição do Índice de Lançamentos Imobiliários, desenvolvido pelo Grupo OLX via DataZAP. A pesquisa revelam ainda que os preços dos novos empreendimentos tiveram valorização acima do Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) no terceiro trimestre de 2024. Considerando as regiões monitoradas, os valores avançaram 3,08%, superando o crescimento do INCC, que foi de 2,16%. O Rio de Janeiro registrou um aumento de 7,14% nos preços médios, alcançando R$ 10.913,62 por metro quadrado. Em nível nacional, o preço médio no período foi de R$ 11.184,00.
O Globo, Coluna do Anselmo, 25/nov
Mercado festeja amanhã os melhores do ano
O Prêmio Destaque Ademi entrega troféus aos vencedores da 20ª edição em cerimônia com show no Vivo Rio.
O mercado imobiliário carioca se reúne amanhã para festejar os melhores do ano do setor na 20ª edição do Prêmio Destaque Ademi. A cerimônia acontece no Vivo Rio, no Aterro do Flamengo, com a entrega de troféus aos vencedores de 22 categorias, além homenagear o engenheiro Carlos Carvalho, fundador da Construtora Carvalho Hosken, falecido em agosto deste ano. Os cerca de 800 convidados esperados poderão ainda celebrar um dos melhores anos do setor dos últimos tempos com o show de Diogo Nogueira.
Em 2023, 36 profissionais, projetos, empresas ou empreendimentos foram reconhecidos na 19ª edição do prêmio. No mercado, é grande a ansiedade para conhecer os vencedores de cada categoria.
Segundo o presidente da Ademi-RJ, Marcos Saceanu, embora 2024 ainda não tenha terminado, a expectativa do mercado é que este será o melhor ano da década, tanto em lançamentos quanto em vendas.
—Isso nos deixa muito otimistas para 2025, que tem tudo para ser um ano igualmente próspero — afirma Saceanu, que destaca as sucessivas modernizações na legislação municipal que regulamenta o setor e que abriram espaço para o lançamento de novos produtos. No fim das contas, pontua ele, é a cidade que sai ganhando ao ter sua arquitetura renovada.
Na avaliação do CEO da Calçada Empreendimentos Imobiliários, João Paulo Matos, ex-presidente da Ademi-RJ, o prêmio tem um papel fundamental no mercado, ao promover a excelência e destacar iniciativas que realmente transformam a realidade urbana.
Para ele, ao longo desses 20 anos de existência, o Prêmio Destaque Ademi funcionou como um incentivo para as incorporadoras irem além do convencional, elevando a qualidade de seus projetos e pensando em soluções que dialoguem com as necessidades urbanas.
— Com isso, as empresas contribuem para o fortalecimento da arquitetura e do urbanismo das cidades e desempenham um papel estratégico na criação de um Rio mais inteligente, inclusivo e bem planejado — afirma.
Matos destacou que o prêmio não apenas reconhece o empenho de incorporadoras e construtoras em criar projetos inovadores e sustentáveis como também reforça a relevância do setor para o desenvolvimento econômico e social do Rio e do país.
— Isso contribui para a construção de um mercado mais competitivo, que busca entregar empreendimentos que façam diferença para as cidades e as pessoas — pondera.
Para Michel Gottlieb, diretor-geral da RJZ Cyrela, o prêmio incentiva o mercado ao apontar os melhores projetos desenvolvidos ao longo do ano. Em 2023, a empresa levou cinco troféus — e o empresário Rogério Jonas Zylberztajn, que fundou a RJZ, foi homenageado in memoriam.
— O prêmio reconhece as iniciativas das incorporadoras no sentido de oferecer produtos diferenciados, com qualidade e inovação —destaca Gottlieb.
O Globo, 25/nov
quinta-feira, 14 de novembro de 2024
Prefeitura quer cobrar IPTU progressivo de até 15% para donos de imóveis desocupados; saiba os detalhes
Projeto de lei do Executivo exclui toda a Zona Oeste e parte da Zona Sul, mas ainda não tem consenso na Câmara dos Vereadores.
A prefeitura quer que a Câmara Municipal vote ainda este ano as regras que regulamentam a adoção do IPTU progressivo, previsto em legislação federal (Estatuto das Cidades) e no Plano Diretor do Rio. A nova lei, se aprovada, definirá as situações em que o município poderá cobrar alíquotas mais elevadas de proprietários de imóveis e de terrenos subutilizados ou abandonados na cidade. As áreas consideradas prioritárias para a adoção do mecanismo são o Centro e a Zona Norte. São Paulo já adotou essa ferramenta fiscal.
— São regiões dotadas de boa infraestrutura, que têm grande quantidade de imóveis sem qualquer uso. Esse será um mecanismo adicional para estimular a reocupação dessas áreas e evitar que a cidade continue a se expandir para a Zona Oeste — disse o secretário municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico em exercício, Thiago Dias.
Pelas regras atuais, as alíquotas variam conforme a tipologia do imóvel: residencial, comercial ou terreno. O proprietário de um residencial, por exemplo, paga por ano o equivalente a 1% do valor venal. Ao ser aplicada a nova lei, o proprietário de um bem sem uso deverá ser notificado. Se, três anos depois, ele não der uma destinação ao imóvel, a alíquota passa a ser majorada ano a ano. No oitavo ano após a notificação, esse percentual chegará a 15%, a alíquota máxima. Neste ponto, já pode ocorrer a desapropriação. O texto enviado à Câmara prevê que o dono não seja indenizado em dinheiro, mas em títulos da dívida pública, resgatáveis em um período de dez anos.
De acordo com dados do Censo do IBGE, levahndo-se em conta apenas residências, o número de unidades vazias no Rio dobrou em 12 anos: passou de 193.682, em 2010, para 388.345, em 2022. Para a prefeitura, o IPTU progressivo deverá reduzir esse número. Ao ser sancionada, a nova regra vai atingir até os 918 mil imóveis considerados populares e hoje isentos de IPTU — os proprietários que não seguirem a lei perderão o benefício e terão que pagar o imposto.
O projeto de lei do Executivo exclui toda a Zona Oeste e parte da Zona Sul. A proposta, vista com bons olhos por urbanistas, ainda não tem consenso na Câmara. O vereador Pedro Duarte (Novo) defende que o tema seja debatido em audiências públicas e que a prefeitura explique melhor os critérios para a seleção dos imóveis, porque há falhas no cadastro das propriedades. Já Teresa Bergher (PSDB),da Comissão de Assuntos Urbanos, diz que a questão precisa ser aprofundada para que os colegas entendam melhor o tema em lugar de votarem de forma açodada. O Executivo, por sua vez, diz que as discussões já ocorreram para a aprovação do Plano Diretor e que cada imóvel selecionado será alvo de inspeções prévias e relatórios.
O mercado imobiliário avalia que o mecanismo tem que ser aplicado com cuidado para não prejudicar os que não conseguem alugar ou vender um determinado bem, distinguindo-os daqueles que, de fato, só especulam:
— É preciso ter critério para evitar injustiças. Conheço o dono de três lojas na Rua Gonçalves Dias, no Centro, que estão fechadas há mais de 20 anos porque o proprietário não quer vender ou alugar por valores do mercado. Isso é uma coisa. Mas, se quase todos os imóveis de uma rua estão fechados, é preciso entender as causas — avaliou o empresário Claudio Castro, da Sergio Castro Imóveis.
Para o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon), Claudio Hermolin, o recurso pode ajudar na revitalização de áreas do Rio, mas pode ser insuficiente:
— Ao contrário de outros estados, o governo do Rio não aplica recursos para subsidiar construções populares.
Ex-secretário de Planejamento Urbano da prefeitura do Rio, o arquiteto Washington Fajardo diz que o ideal seria ter regulamentado o IPTU progressivo no Plano Diretor, mas apoia o mecanismo:
— Tem muito imóvel histórico subutilizado no Centro, muitos com risco de desabar ou funcionando como ferros-velhos e estacionamentos clandestinos.
O IPTU progressivo se somará a outras regras que visam à reocupação da cidade, como a que concede benefícios fiscais e urbanísticos a quem investir em novos residenciais na área do Projeto Reviver Centro.
Saiba mais sobre a cobrança
O projeto enviado pelo Executivo à Câmara prevê que o IPTU progressivo poderá ser aplicado no caso de terrenos sem uso há oito anos. Já os imóveis têm que estar vazios há pelo menos quatro anos para que recebam a notificação. No caso de bens tombados, esse prazo cai para três anos. A prefeitura definirá por decreto por onde começará a aplicar a nova lei.
Imóveis serão considerados subutilizados se tiverem pelo menos 250 metros quadrados e forem usados apenas como estacionamento, ou caso 60% das unidades estejam vazias.
Não serão classificados como subutilizados imóveis com área inferior a 250 metros quadrados, desde que o proprietário não seja dono de outro imóvel, ou que estejam parcialmente ocupados com atividade econômica regularmente inscrita no órgão municipal, exceto aqueles que funcionam só como estacionamentos. Os localizados em Áreas de Preservação Permanente, Zonas de Conservação Ambiental ou Unidades de Conservação da Natureza também estão fora.
Antes da aplicação do IPTU progressivo, o proprietário será intimado a construir ou a ocupar os imóveis. A partir daí, terá mais um ano para apresentar projeto de uso do imóvel à prefeitura e mais dois para executá-lo. Se não houve ocupação, no quarto ano após a notificação inicial começa a cobrança das alíquotas progressivas: 2% (ano 1), 4% (ano 2), 8% (ano 3), 12% (ano 4) e 15% (ano 5 e demais).
Caso se comprometa a executar o projeto e houver atraso, ou o início não for como prometido, estão previstas multas. O cálculo da infração é baseado na seguinte fórmula: valor do IPTU multiplicado pela área do imóvel, mais 20% desse total.
A prioridade de aplicação do IPTU progressivo é no Centro e na Zona Norte (exceto Grande Tijuca). Mas podem ser alcançadas outras áreas, excepcionalmente, se o imóvel não oferecer condições mínimas de segurança, integridade e habitabilidade.
A cobrança da alíquota máxima de 15% será mantida até o proprietário dar um destino ao imóvel, ou caso ocorra a desapropriação.
O dono terá que provar que executou as obras ou que ocupou o imóvel para que a alíquota volte a 1% (no caso de residenciais).
Em caso de desapropriação, o dono será indenizado recebendo títulos da Dívida Pública, parcelados no prazo de dez anos.
São Paulo já tem o IPTU progressivo desde 2014, mas só iniciou a desapropriação de cinco prédios este ano. Eles ficam na região central da cidade. Ao todo, donos de 1.224 imóveis ociosos já foram notificados. Desse total, em 203 casos (16,5%), os imóveis foram ocupados ou iniciadas novas construções. Mais 193 (15,76%) já pagam mais IPTU.
O Globo, 14/nov
quarta-feira, 13 de novembro de 2024
De acordo com economista, setor da construção civil encerrará 2024 com crescimento de 3,5%
Dados sobre o crescimento da construção civil e a pauta sustentabilidade marcaram abertura do segundo dia do Sinduscon-RS + Greenbuilding Brasil 2024.
O crescimento histórico da construção civil, depois de 10 anos, foi abordado durante a abertura do segundo dia da conferência internacional Inovar Sinduscon-RS + Greenbuilding Brasil 2024, realizado na Unisinos, em Porto Alegre.
A economista chefe da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Ieda Maria Vasconcelos destacou a grande potencialidade do setor da construção civil, que atualmente tem quase três milhões de trabalhadores com carteira assinada.
“A última vez que isso aconteceu foi no final de 2014”, observou. De janeiro a setembro deste ano foram mais de 231 mil trabalhadores formais. Mas o pico das atividades foi há 10 anos. “Ainda estamos 15% abaixo do pico alcançados em 2014. Porque de 2014 a 2019, a construção teve uma queda muito grande, o setor caiu 30%. Em 2021 e 2022, crescemos e recuperamos uma parcela”, explicou.
Segundo Ieda, a construção civil encerrará 2024 com um crescimento projetado em cerca de 3,5%. Ano passado o setor registrou recuo de 0,5%, e a expectativa é de continuidade do crescimento em 2025. Entretanto, a economista considera que um dos desafios é a taxa de juros, que com “o patamar elevado inibe os investimentos produtivos”, e a capacitação da mão de obra. Uma realidade que já é vivenciada pelo setor.
Durante o seminário “Mercado Financeiro: descarbonização traz oportunidades junto às Instituições Financeiras e o mercado de capitais”, o sócio diretor Finvest: Diogo Castro discutiu a falsa dicotomia entre lucro e sustentabilidade, enfatizando que essa visão ocorre devido a uma falta de transparência nos custos e benefícios reais.
Castro argumentou que sustentabilidade deve ser mais que uma intenção: precisa gerar retornos e superar barreiras para se integrar plenamente ao mercado. Segundo ele, o mercado financeiro tem um papel central em fornecer os recursos para essa agenda, destacando a necessidade de metodologias padronizadas para uma precificação mais precisa dos riscos e benefícios de iniciativas sustentáveis.
No setor de construção, ele aponta que a transição dos financiamentos tradicionais para o mercado de capitais exige um esforço maior em comunicação e padronização de informações para evitar problemas de greenwashing. Isso é necessário para que o mercado financeiro possa identificar com clareza os projetos sustentáveis e alocar recursos de forma eficiente.
Castro também destacou os desafios enfrentados pelos investidores de patrimônio (wealth management), especialmente as famílias com investimentos significativos em imóveis, que precisam considerar o risco climático no valor de seus ativos. A depreciação de imóveis antigos e não certificados, por exemplo, pode levar a uma perda de valor, visto que empresas evitam alugá-los para atender aos requisitos de sustentabilidade.
A necessidade de uma melhor comunicação dos benefícios sustentáveis em uma construção foi destacado pelo presidente do conselho consultivo da CBIC, José Carlos Martins. Ele mencionou que ações que reduzem o consumo de água e energia em edifícios não só impactam positivamente o meio ambiente, mas também reduzem custos para os moradores a longo prazo.
Martins comparou o setor de construção com o de eletrodomésticos, onde a eficiência energética é valorizada e incentivada. Segundo ele, falta essa mesma mentalidade no mercado imobiliário brasileiro: apesar de ser possível aumentar a eficiência energética de um imóvel por meio de ajustes simples de projeto, os consumidores não priorizam isso ao comprar uma casa.
Correio do Povo, 13/nov
terça-feira, 12 de novembro de 2024
Moradia Estudantil: A nova fronteira do setor imobiliário no Brasil
Residências integradas e bem localizadas atraem estudantes com segurança, apoio e custo-benefício.
O mercado de moradias estudantis está em alta no Brasil, transformando o setor imobiliário com um modelo de residências integradas que oferecem serviços, segurança e uma experiência social enriquecedora. A crescente demanda, principalmente em cidades universitárias como São Paulo e Rio Grande do Sul, reflete a busca dos estudantes por alternativas acessíveis e práticas em comparação ao aluguel de apartamentos convencionais. Dados globais indicam que o segmento, avaliado em US$ 11,34 bilhões em 2023, deve crescer 5% ao ano até 2027.
Com as residências próximas das universidades e dotadas de áreas de lazer, segurança e espaços de estudo, o modelo já desponta como tendência para 2025. Segundo Juliana Onias, gerente da Share Student Living, especializada em moradias para estudantes, essa nova geração busca não apenas comodidade, mas uma experiência completa de vida universitária. “Os estudantes valorizam o ambiente de co-living e o suporte integrado, o que torna esses residenciais uma opção cada vez mais vantajosa em relação ao aluguel comum”, observa.
Uma Coimbra, estudante de Nutrição, descreve a experiência como “uma extensão da universidade”, destacando o convívio com colegas de diferentes cursos e nacionalidades, o que enriquece seu desenvolvimento acadêmico e pessoal. “O ambiente multicultural e o suporte psicológico oferecido tornam a estadia mais agradável e segura”, compartilha a jovem, que reside no Share Butantã.
Halyson Cardoso, de 29 anos, fotógrafo de Santa Catarina, também elogia a praticidade das residências estudantis. “A localização facilita meu acesso à cidade e o prédio oferece tudo o que preciso, desde áreas de lazer até serviços como lavanderia. É um investimento que vale a pena”, comenta Cardoso, que já mora há mais de dois anos em São Paulo.
Os residenciais estudantis oferecem seis principais diferenciais que incluem serviços integrados como limpeza e internet, localização estratégica perto de universidades, custo-benefício, maior segurança, ambiente de apoio e flexibilidade no contrato, ideal para intercambistas ou períodos acadêmicos curtos. Essas características são atrativos poderosos para pais e estudantes que buscam praticidade e segurança no início da vida universitária.
Com uma estrutura projetada para reduzir burocracias, o modelo de residências estudantis simplifica a entrada dos alunos, dispensando a exigência de fiadores ou depósitos altos. Além disso, oferecem um espaço que vai além de uma simples acomodação, criando uma comunidade de apoio que incentiva tanto o desenvolvimento acadêmico quanto social.
Este novo formato já se consolida como a opção preferida de muitos jovens, especialmente com as constantes mudanças no mercado de trabalho e no estilo de vida dos estudantes, que valorizam mais o tempo de convivência, a proximidade das faculdades e a segurança. A tendência, portanto, aponta para um futuro onde o modelo de moradia estudantil pode continuar a crescer, atendendo às necessidades específicas de uma geração em busca de conectividade e integração.
Jornal de Brasília, 12/nov
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