Hotel do grupo Fasano é o primeiro da América Latina a dispor de uma piscina própria para o esporte.
Se há um grupo hoteleiro que não tem o hábito de se render a modismos é o Fasano, o que também vale para o empório, os restaurantes e os bares que completam o portfólio dele. Não adianta procurar por “pontos instagramáveis”, para citar uma das atuais fixações do segmento, em nenhum dos endereços. Nem por pratos ou drinques com apresentações inusitadas, pensadas para viralizar nas redes sociais.
Com uma trajetória que remonta a 1902, quando o milanês Vittorio Fasano inaugurou a Brasserie Paulista, no centro paulistano, o grupo defende a tradição com unhas e dentes. Não à toa, um dos adjetivos mais utilizados para descrever a grife Fasano - da arquitetura à coquetelaria, da elegância à gastronomia - é clássico.
Se a marca se rendeu às piscinas para a prática de surfe, tudo leva a crer, portanto, que elas vieram para ficar - já não dá para classificá-las como mero modismo do mercado de luxo. Trata-se do principal chamariz do 11º hotel do grupo, o Boa Vista Surf Lodge, que dá início a uma nova bandeira - todos os outros em operação, além dos quatro em desenvolvimento, em Miami (EUA), Londres (Inglaterra), Sardenha (Itália) e Cascais (Portugal), carregam o sobrenome de Vittorio.
Recém-inaugurado, o 11º se encontra no Boa Vista Village, um dos dois condomínios erguidos pela JHSFCotação de JHSF em Porto Feliz, no interior de São Paulo. O outro é a Fazenda Boa Vista, que abriga o Fasano Boa Vista, o 4º hotel do grupo.
Cercada por uma faixa de areia, a piscina com ondas artificiais do Boa Vista Surf Lodge é a mesma do condomínio do qual ele faz parte. Com 220 metros de extensão, ela projeta uma centena de ondulações diferentes, com até 22 segundos de duração. Não é só para surfistas, mas eles são o público-alvo - o hotel é o primeiro da América Latina a dispor de uma piscina própria para o esporte.
“A falta de imprevisibilidade das ondas faz com que a piscina seja ótima para quem está começando a surfar”, diz Beny Fiterman, que exerce o cargo de diretor-geral do grupo desde novembro, acrescentando que surfistas experientes não têm do que reclamar. A água é doce e não climatizada, o que o executivo garante não ser um problema.
A decisão de criar uma nova bandeira se deve, em parte, à proximidade do Fasano Boa Vista. “Ao analisarmos as características da localização e o perfil dos frequentadores do Boa Vista Village, concluímos que era necessário criar uma proposta com espírito mais jovem e esportivo, sem abrir mão da excelência de atendimento do grupo Fasano”, afirma Augusto Martins, CEO da JHSF.
A incorporadora é controladora da empresa encabeçada por Gero Fasano e dona das edificações que abrigam o Fasano Boa Vista, o Boa Vista Surf Lodge e os hotéis localizados em Nova York, nos Estados Unidos, e em Punta del Este, no Uruguai. “A nova bandeira poderá ser levada para futuros empreendimentos da JHSF”, diz Martins.
O novo hotel se espalha por um prédio de sete andares projetado pelo escritório do arquiteto Pablo Slemenson, que assina as demais construções do Boa Vista Village. Com 8 mil m2, a novidade foi decorada por Sig Bergamin e seu marido, Murilo Lomas.
“A ambientação remete à Califórnia de outras épocas”, resume o CEO da JHSF. São 57 quartos, que variam entre 45 e 128 m2. Diferentemente da maioria das cozinhas do grupo, o restaurante do hotel não se atém à culinária italiana. Sob o comando do chef William Lima, foca na cozinha internacional com pratos de frutos do mar, massas e grelhados. Piscina interna, spa, academia e quadras de tênis e de beach tennis completam o leque de opções de lazer. As diárias, em média, custam R$ 3.500.
Entre os novos favoritos do mercado de luxo, as piscinas com ondas artificiais roubam a cena. A Fazenda da Grama, condomínio localizado em Itupeva, a 60 km de São Paulo, foi a primeira a oferecer uma delas. Inaugurada em 2021, tem 700 metros de extensão, areia que não esquenta e ondas de até 2 metros a cada 8 segundos. A incorporadora responsável pelo empreendimento é a KSM. Depois, veio o Boa Vista Village.
Dado o sucesso dessa, a JHSF resolveu criar mais um empreendimento em torno de uma piscina do tipo. É o São Paulo Surf Club, que deverá ser inaugurado neste primeiro trimestre. Nos arredores da ponte Estaiada, na capital paulista, terá quadras diversas - de beach tennis a pickleball -, além de academia, spa, restaurante, bar, uma piscina com ondas similar à do Boa Vista Village e torres residenciais. Os títulos do clube custam de R$ 605 mil a R$ 900 mil e a anuidade gira em torno de R$ 25 mil.
Há outros empreendimentos do gênero em fase de desenvolvimento. É o caso da Fazenda Vista Verde, em Araçoiaba da Serra, no interior de São Paulo. Trata-se de mais um condomínio nos moldes da Fazenda Boa Vista, que virou benchmark no segmento. A inauguração está prevista para 2027.
O hotel e a vinícola da incensada marca chilena Vik serão dois dos diferenciais, assim como a piscina com ondas artificiais, que custará R$ 130 milhões. Em Santo Amaro, o Beyond the Club também terá uma piscina voltada para a prática de surfe - esta promete até reproduzir o barulho do mar. O título familiar custará R$ 780 mil e a conclusão das obras está prevista para este primeiro semestre.
Parte dessas novidades espelha outra tendência recente do mercado de luxo no Brasil: o surgimento de clubes privados determinados a aproximar pessoas que partilham do mesmo estilo de vida. É o caso da Soho House.
Apresentada como um clube para criativos, ela foi fundada pelo inglês Nick Jones em 1995. Hoje já são 43 propriedades, a maioria delas no Reino Unido e nos Estados Unidos. Servem, na visão dos administradores, para os associados trabalharem, socializarem, se conectarem, criarem e prosperarem.
O livre acesso a todas custa R$ 20.650 por ano e a anuidade de uma única propriedade custa R$ 8.150. Aos interessados: para fazer parte do quadro de associados, é necessário se submeter a um processo de seleção.
São Paulo já tem uma unidade para chamar de sua. Trata-se da segunda filial na América Latina - a do México foi inaugurada em 2023. “São Paulo é uma cidade global que pulsa com arquitetura de ponta, música e arte, além de outros campos criativos que estão crescendo rapidamente, como moda e design”, disse Andrew Carnie, CEO do Soho House, ao anunciar a novidade paulistana.
Inaugurada parcialmente em junho, ela terá 32 quartos, academia, spa e rooftop com piscina, além de restaurantes e bares. Fica dentro da Cidade Matarazzo, o complexo do qual o hotel Rosewood São Paulo faz parte, e deverá ficar pronta neste ano.
Outro novo clube privado que tem o propósito de agrupar pessoas com interesses em comum é o Resid. “Não gosto do termo exclusivo porque nosso clube não é excludente”, diz Paulo Henrique Barbosa, CEO da novidade. “Buscamos pessoas agregadoras, com interesses em comum e que sejam vistas como referências em suas áreas de atuação. Repare que, em nenhum momento, falei sobre poder aquisitivo, embora, claro, seja necessário dispor dos recursos necessários.”
Segundo o executivo, quem não se enquadra no perfil desejado, por mais dinheiro que tenha, ficará de fora. O nadador paralímpico Daniel Dias é o único membro cuja identidade foi revelada.
São três frentes de negócios. Uma delas abarca as experiências que visam fidelizar o público-alvo. Uma viagem por Módena, na Itália, por exemplo, na companhia dos chefs Alex Atala e Massimo Bottura. O brasileiro é o anfitrião de várias dessas experiências porque também está por trás do negócio. Outra frente é formada pelos hotéis que o grupo pretende tirar do papel - nos quais só os associados poderão frequentar.
O primeiro é o Nas Rocas, em Búzios. Na Ilha Rasa, estava fechado havia quase 20 anos. Nas mãos do Resid, está passando por uma reforma que deverá chegar a R$ 200 milhões. O término das obras dos primeiros 22 bangalôs e da área comum está prometido para este mês. Fernando de Noronha, Paraty, Foz do Iguaçu e Pantanal são alguns dos destinos cotados para as demais unidades.
E há o Resid Exclusive Selection, uma lista de hotéis parceiros - caso do Fasano Trancoso, na Bahia - nos quais os membros do clube podem se hospedar com condições exclusivas. A taxa de adesão é de R$ 360 mil e ainda há R$ 15 mil de anuidade. Esta dá direito a um crédito anual de R$ 90 mil, disponibilizados no aplicativo do Resid, que só podem ser gastos no ecossistema do clube. Serão, no máximo, 2.500 associados. Os primeiros 250 estão sendo selecionados com base em indicações feitas por eles mesmos. Os demais terão de se submeter a um processo de seleção.
“Esses não precisam ser indicados, mas indicações são sempre bem-vindas”, diz Barbosa. O clube é fruto de um investimento inicial de R$ 37 milhões amealhados numa rodada de captação liderada pela gestora Urca Capital Partners.
No mercado imobiliário de altíssimo luxo, uma das novas tendências é a oferta de serviços exclusivos. Recém-lançado, o Daslu Residences São Paulo oferece até serviço de organização pós-mudança, além de governança e concierge.
Nos Jardins, o edifício residencial será erguido pela MitreCotação de Mitre Realty, que adquiriu em um leilão judicial, por R$ 10 milhões, a célebre (e controversa) varejista de luxo que pertenceu a Eliana Tranchesi (1955-2012). A incorporadora não tem planos de ressuscitar a Daslu como loja de moda, apenas como grife de empreendimentos imobiliários de altíssimo padrão.
A unidade de São Paulo - o único no radar, por enquanto - será erguida nos Jardins, praticamente ao lado da avenida Rebouças. Com 31 andares, terá fachada revestida de mármore travertino entre o térreo e o terceiro pavimento, a partir do qual os apartamentos serão empilhados.
Os menores terão 114 m2 (com três suítes e duas vagas na garagem). Já a maior das duas penthouses terá 306 m2 e direito a quatro suítes e três vagas. O Valor Geral de Vendas (VGV) é de R$ 600 milhões.
A novidade terá duas entradas para pedestres, uma na alameda Gabriel Monteiro da Silva e a outra na rua Chabad. Darão acesso ao Boulevard Daslu, que não será restrito aos moradores. O térreo vai abrigar, entre outros negócios, um restaurante do chef Rafael Cagali, dono do Da Terra, em Londres, que ostenta duas estrelas Michelin. Uma escada rolante dará acesso a um spa de 700 m2 assinado pela Renata de Abreu, referência desse universo, e a um simulador de golfe profissional.
Valor Econômico, 04/fev