Folha de São Paulo, Morar, 29/mai
Usada como abrigo de plantas, cadeiras e churrasqueira, a
varanda dos apartamentos tem passado por reformas e ganhado novas
funções que vão de brinquedoteca a cozinha. A tendência tem sido
estimulada, segundo arquitetos, pelo tamanho cada vez menor dos imóveis.
"Os
quartos quase nunca têm espaço para brincadeira. Muitos prédios também
não têm playground. É isso que tem feito das varandas o novo lugar do
brincar", diz a designer Mariane Cunha, da empresa de reformas AH!SIM.
O
arquiteto Marcelo Nunes, da DT Estudio, em São Paulo, vê outro motivo.
"Além de subutilizadas, as varandas geralmente são entregues com um
layout mal resolvido e acabam passando por uma intervenção para ganhar
um novo uso pela família", diz.
A publicitária
Lucila Zahran, 33, montou uma brinquedoteca na varanda de seu
apartamento no Itaim Bibi (zona oeste de São Paulo) após a chegada de
seu primeiro filho, Bento, em 2014. Antes disso, diz ela, o local ficava
às moscas.
"Não tinha função. Na segunda vez
que meu marido usou a churrasqueira, esqueceu de ligar o exaustor e o
apartamento ficou todo defumado. Foi um horror", afirma a publicitária.
Para
criar o canto predileto de Bento, a publicitária pôs abaixo a pia e a
churrasqueira e ergueu no lugar um espaçoso armário de freijó -madeira
nobre -, onde os brinquedos ficam guardados. "Quando não dá tempo de
organizar os brinquedos, jogo tudo lá dentro e fecho. Ninguém vê a
bagunça", afirma.
Segundo ela, após a reforma o espaço se tornou o mais frequentado da casa. "A gente janta ali e brinca com ele ao mesmo tempo."
A
obra durou um mês e custou cerca de R$ 40 mil -o valor incluiu projeto
arquitetônico, obra, marcenaria, redistribuição dos móveis, paisagismo e
nova iluminação.
AUTONOMIA
No
Brooklin Paulista (zona oeste), a psicóloga escolar Carolina Rodrigues,
36, diz que entre 60% e 70% das varandas de seu prédio têm
brinquedotecas, apesar do condomínio ter área de lazer.
O
espaço reservado para as duas filhas dela na varanda, de 30 metros
quadrados, convive com a churrasqueira da família. "Uma parede separa os
dois lugares. Não tivemos que fazer nenhuma obra quando adquirimos o
apartamento", diz ela.
No piso, a psicóloga
instalou um tapete emborrachado. Ela optou por fechar a varanda com
vidro para conter o vento -o imóvel está no 22º andar.
Os
brinquedos estão distribuídos no local em diversas caixas, cada uma com
um tema -uma guarda os itens de cozinha infantil e outra legos, por
exemplo. "Todos os brinquedos estão à mão. Elas criam situações com as
peças e desenvolvem a autonomia."
"Acho que se a
sacada fosse cheia de pufes, poltrona e mesinha, não seria tão usada
por nós. Do jeito que está, eu e meu marido interagimos com as crianças,
é muito benéfico", afirma ela.
O administrador
de empresas Andre Battaglia, 41, levou a cozinha para a varanda de seu
apartamento usado para locação, nos Jardins, e acabou otimizando os 25
m² da área total do imóvel. "A reforma ampliou muito a sensação de
espaço", diz.
PLANO DE AÇÃO
Reformar
a varanda exige tempo, planejamento e paciência, afirma o arquiteto
Marcelo Nunes. A obra precisa receber o aval do condomínio e ser
assinada por um engenheiro civil.
O segredo
para tudo dar certo, complementa Nunes, é planejar. "É melhor ficar três
meses em projeto e três meses em obra do que duas semanas em projeto e
um ano em obra", afirma.
Para o arquiteto
Adriano Mascarenhas, da Sotero Arquitetos, de Salvador, é preciso tomar
cuidado com o resultado. "Se a reforma tornar o espaço muito
personalista e diferente demais, pode atrapalhar uma venda futura do
imóvel", diz.
Mas a designer Mariane Cunha
ensina um truque. "Só opte por intervenções que são reversíveis. Assim, a
chance de ter dor de cabeça será bem menor", afirma.
Fonte: ADEMI