sexta-feira, 12 de setembro de 2025
Sudeste mantém mercado imobiliário aquecido e lidera criação de vagas no setor da construção no primeiro semestre
A região Sudeste concentra três dos cinco estados que mais criaram vagas de empregos na construção civil nos primeiros sete meses de 2025. Em São Paulo, o saldo de novas vagas entre janeiro e julho deste ano foi de 40.813. Em Minas Gerais, de 20.703. E no Rio de Janeiro, de 11.623. O levantamento mostra que o mercado imobiliário na região se manteve aquecido no primeiro semestre deste ano, sendo o estado de São Paulo responsável por mais da metade dos empreendimentos lançados neste período. Do total de 103.576 novas unidades residenciais, 60.544 foram criadas na capital paulista.
Os números foram divulgados em Belo Horizonte, nesta terça-feira (9), pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) durante o CBIC Indicadores Regionais Sudeste, evento realizado em parceria com o Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG), apoio da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) e patrocínio do Banco de Brasília (BRB).
O mercado aquecido explica o aumento de novas vagas criadas na capital paulista entre janeiro e julho deste ano: mais de 19 mil postos de trabalho formais. A economista-chefe da CBIC, Ieda Vasconcelos, pontua que a cidade de São Paulo foi responsável por 55,31% dos novos postos de trabalho criados pela construção civil no Sudeste nos primeiros sete meses de 2025. “Belo Horizonte também se destacou, respondendo por 28,69% dos novos empregos no setor na região”, afirma Vasconcelos.
Outro dado importante, destaca a economista, é a ascensão do setor da construção para o topo do ranking de melhor salário médio de admissão, segundo dados do Caged. Em julho, a remuneração de entrada no setor foi de R$ 2.490,54 superando a média nacional (R$2.277,51) e ocupando a primeira colocação dentre os segmentos de atividade nacional.
Presidente-executivo da CBIC, Fernando Guedes Ferreira Filho, destaca que todos os segmentos da construção civil continuam gerando empregos formais a despeito do cenário econômico desafiador. “O setor continua crescendo e empregando pessoas, mas, os juros elevados, a inflação persistente acima da meta e as incertezas econômicas têm colocado um freio no setor”, afirma Guedes. A manutenção da taxa de juros alta é uma das preocupações do setor da construção.
Mercado de luxo e Minha Casa Minha Vida
A região Sudeste representa 50% do mercado de construção civil brasileiro. No entanto, a expansão observada na cidade de São Paulo não se repetiu nas outras capitais da região. Dados apresentados pela Brain Inteligência Estratégica mostram que a cidade de Vitória registrou queda de 53,6% nos lançamentos de novos empreendimentos na comparação com o mesmo período de 2024. Em Belo Horizonte, a redução foi de 40,9% e no Rio de Janeiro, de 2,5%.
O Valor Geral de Vendas (VGV) dos lançamentos no Sudeste no primeiro semestre deste ano foi de 59.063 milhões de reais, alta de 29,4% na comparação com o mesmo período de 2024. No Brasil, o crescimento foi de 19,4% no período, passando de 102.889 milhões nos seis primeiros meses do ano passado para 122.885 milhões neste ano.
O Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) continua impulsionando a construção civil no Sudeste. Das 111,704 unidades residenciais lançadas no primeiro semestre deste ano na região, 52,4% (58,355) são referentes ao programa. Os imóveis de médio padrão somaram 49,707 unidades, ou 44,6% do total, e 3,303 unidades de luxo foram lançadas – o que corresponde a 3% do total. Já na capital mineira, a legislação local tem comprometido a expansão do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV).
Presidente do Sinduscon-MG, Raphael Lafetá afirma que uma maior flexibilidade na aprovação de projetos imobiliários e na aprovação dos Planos Diretores municipais poderia ajudar a aquecer o mercado mineiro. “Os juros altos que temos no momento interferem em toda a cadeia de produção da construção civil, porque eles afetam diretamente os custos finais dos imóveis e muitos clientes estão ficando de fora do MCMV por não se enquadrarem nos limites do programa. Mas sempre vale lembrar que o mercado imobiliário é resiliente e consegue se aquecer rapidamente com políticas de estado sólidas”, pontua.
Os dados apresentados pela CBIC indicam, ainda, que 48% dos moradores da região Sudeste têm interesse em comprar novos imóveis, sendo que 6% pretendem comprar um novo imóvel nos próximos seis meses e 24% demonstraram interesse em adquirir um novo bem em até 12 meses.
CBIC, 12/set
quinta-feira, 11 de setembro de 2025
Indicadores do mercado imobiliário para ficar de olho
O setor de construção civil e o mercado imobiliário são influenciados por diversas variáveis econômicas.
Da macroeconomia à análise das vendas de cada praça, entender quais indicadores do mercado imobiliário são representativos é fundamental para as companhias do setor tomarem decisões em prol de uma estratégia mais assertiva e que melhore a rentabilidade.
Ao monitorar os indicadores imobiliários certos, ganha-se a capacidade de prever tendências, entender a oferta e a demanda, entre outros pontos que ajudam a identificar as oportunidades do mercado – como investir em loteamentos imobiliários, por exemplo.
Esses parâmetros auxiliam as empresas a planejar suas estratégias de curto, médio e longo prazo: desde o cronograma de lançamentos futuros até ajustes em preços para melhorar as vendas.
Os tipos de indicadores do mercado imobiliário
Existem diversos indicadores do mercado imobiliário que podem ser monitorados. É comum que eles sejam divididos em três grandes grupos:
De demanda – Refletem a procura por imóveis ou serviços relacionados à construção civil. São úteis para avaliar o interesse do mercado e identificar tendências de consumo.
De oferta – Medem a quantidade de produtos ou serviços disponibilizados no mercado pela construção civil. Conseguem perceber a capacidade produtiva do setor e identificar momentos de excesso ou falta de imóveis disponíveis.
Econômicos – São as métricas que influenciam tanto a oferta quanto a demanda na construção civil. Eles permitem compreender o impacto do cenário econômico mais amplo sobre o setor, como mudanças nas políticas monetárias ou oscilações nos preços construtivos.
Mais do que observar uma métrica isoladamente, os indicadores de mercado imobiliário devem ser avaliados de maneira conjunta, auxiliando no planejamento de obras e na previsão de tendências.
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9 indicadores do mercado imobiliário para ficar de olho
Para quem atua no mercado imobiliário, entender os principais indicadores econômicos e setoriais é essencial para tomar decisões estratégicas e reduzir riscos. Esses dados permitem identificar tendências, ajustar preços, planejar lançamentos e otimizar orçamentos de obras, além de antecipar mudanças na demanda por imóveis.
A seguir, listamos 9 indicadores-chave que todo profissional do setor deve monitorar para manter a vantagem no mercado e aproveitar oportunidades de crescimento.
1. PIB e Taxa Selic
Vamos começar com um indicador macroeconômico.
O Produto Interno Bruto avalia o desempenho econômico do país e é medido pelo IBGE. Se for positivo, ele aponta para um aumento do consumo das famílias e nos investimentos, o que amplia a demanda pelos imóveis.
Mas é preciso também monitorar a taxa básica de juros, a Selic, definida pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central. Ela é a base para os juros pagos em financiamentos imobiliários. Para a construção civil, o ideal é que ela esteja em patamares baixos.
2. Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M)
Calculado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (IBRE), é um indicador econômico amplamente utilizado no Brasil para medir a variação de preços e acompanhar a inflação em diversos setores da economia, incluindo a construção civil.
O IGP-M é adotado como referência para reajustes de contratos, como aluguel de imóveis, tarifas públicas e serviços em geral. Ele é calculado mensalmente e reflete as oscilações de preços de diferentes etapas da cadeia econômica.
3. Índice Nacional de Custo da Construção (INCC)
Um dos três subíndices do IGP-M, também medido pelo IBRE, reflete os custos da construção civil, incluindo materiais, serviços e mão de obra.
Com ele, é possível acompanhar a inflação específica do segmento. É amplamente usado para corrigir contratos e orçamentos ao longo da execução de projetos e é um dos primeiros indicadores do país, sendo calculado mensalmente pela Fundação Getúlio Vargas.
4. Custo Unitário Básico da Construção Civil (CUB)
Determina o custo médio por metro quadrado de construção de edifícios habitacionais, comerciais ou industriais, acompanhado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
Serve como referência para orçamentos de obras, contratos e análises financeiras, levando em consideração os materiais, a mão de obra, os equipamentos e os serviços. Para construtoras, ele é importante por ser um parâmetro que permite comparar custos em diferentes regiões do país.
5. Taxa de Vacância
Ingressando nas áreas mais específicas de oferta e demanda, o indicador representa a porcentagem de imóveis vazios em um mercado específico.
Altas taxas de vacância podem indicar excesso de oferta, enquanto taxas baixas sugerem alta procura e oportunidades para novos empreendimentos. Essa taxa costuma ser medida por entidades especializadas em cada praça ou região.
6. VGV e VGL
O Valor Geral de Vendas é a soma dos valores das unidades comercializadas em um período específico – mês, trimestre ou ano. Já o Valor Global Lançado indica a soma das unidades lançadas neste período.
Ao avaliar os dois números, é possível perceber a confiança das construtoras e incorporadoras no potencial de vendas, enquanto uma queda pode refletir cautela. Com isso, é possível chegar ao estoque de imóveis não vendidos, que indicam se a oferta está maior do que a demanda.
Nacionalmente, esses dados são monitorados pela CBIC, mas há entidades locais que fazem esta análise de maneira regional ou em cada praça.
7. Indicadores Abrainc/Fipe
A Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) atualiza mensalmente inúmeros indicadores relativos aos lançamentos, vendas, entregas e até distratos do mercado de imóveis residenciais e comerciais.
É possível monitorar a sua série histórica para obter insights.
8. Sondagem da Construção
Também medida pelo Ibre da FGV, essa Sondagem da Construção traz quatro indicadores para sintetizar percepções sobre as tendências econômicas do setor: Situação Atual dos Negócios, Carteira de Contratos, Expectativas com relação à evolução do Volume de Demanda nos três meses seguintes e Expectativas em relação à evolução da Situação dos Negócios da Empresa nos seis meses seguintes.
São métricas relevantes para as construtoras e indicam a confiança do segmento nos projetos futuros.
9. Número de financiamentos imobiliários
Coordenado pela Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), permite obter informações sobre o volume de financiamentos imobiliários assinados. Em um segmento que depende de crédito imobiliário para efetivar negócios, trata-se de uma informação fundamental para as empresas em relação à busca por imóveis.
Esses são alguns indicadores relacionados à atividade econômica e de custos que impactam a locação e a compra de imóveis. Há, no entanto, outros pontos que influenciam, como a taxa de desemprego e a disponibilidade de crédito imobiliário.
As empresas também precisam estar atentas às características e dados específicos de suas praças de operação. Entender a dinâmica de crescimento, o planejamento do plano diretor e o perfil de construções em determinada área facilita o planejamento e a projeção futura.
O papel do Senior Index
O Senior Index é um relatório que analisa o desempenho do mercado de construção e incorporação no Brasil, com base em dados de vendas de imóveis novos realizados por incorporadoras que utilizam soluções da Senior Sistemas.
Entre os principais indicadores contemplados, estão:
- Valor Geral de Vendas (VGV), que indicou um crescimento de 18,28% em 2024 comparado a 2023;
- Vendas de imóveis, com um aumento de 15,19% em 2024;
- Distratos, que incluem dados sobre cancelamentos de contratos, com variações percentuais regionais;
- Valor médio do metro quadrado: este indicador pode ser acompanhado de forma detalhada por estado, cidade e até em bairros específicos.
Como 54 das 100 maiores incorporadoras do Brasil usam as soluções Senior, segundo o ranking Intec, este relatório traz insights estratégicos e dados precisos sobre a realidade do mercado no país, permitindo que construtoras e incorporadoras tomem decisões mais informadas e otimizem seus processos.
Quais são os impactos das tendências econômicas nos preços dos imóveis?
O cenário econômico é o principal termômetro do setor imobiliário. Como se trata de bens de alto valor e longo prazo — muitas vezes financiados por décadas —, fatores como crescimento, recessão ou crise impactam diretamente os preços dos imóveis e o volume de negócios.
Senior, 11/set
quarta-feira, 10 de setembro de 2025
Imóvel do futuro será inteligente, verde e adaptado
Casas e condomínios se transformam com tecnologia, autossuficiência e famílias cada vez menores.
O imóvel do futuro é cada vez mais real, conectando tecnologia e sustentabilidade. Segundo pesquisas da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (ADEMI-BA), Brain Inteligência Estratégica e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os imóveis atuais estão se moldando para se adequar às novas dinâmicas familiares e às demandas ambientais.
Uma pesquisa deste ano revelou que 57% dos entrevistados no Nordeste acreditam que práticas ambientais, sociais e de governança impactam sua decisão de compra. Isso significa que construções com materiais ecológicos e tecnologias que promovem eficiência, como painéis solares e sistemas para reaproveitamento de água, estão se tornando imprescindíveis.
Esses esforços sustentáveis são mais do que um produto de marketing. A professora Lirandina Gomes, da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), destaca que tais ações ajudam a reduzir a emissão de gases do efeito estufa e o desperdício de recursos naturais. Ela acredita que, com o avanço da sustentabilidade, esses imóveis acabarão se tornando acessíveis a diferentes classes sociais, apesar de atualmente serem mais valorizados no mercado.
Iniciativas como o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) Verde, promovido em Salvador, incentivam práticas sustentáveis. No condomínio Cedro Horto, os abatimentos fiscais são frutos de medidas como a instalação de painéis solares e a captação de água da chuva para irrigação de jardins.
O presidente da Ademi-BA, Cláudio Cunha, observa que o futuro imediato inclui a criação de condomínios que sejam autossustentáveis, produza sua própria energia e tenham infraestrutura para veículos elétricos. Para ele, as questões vão além da sustentabilidade e autossuficiência, englobando a flexibilidade dos espaços e a conectividade com a natureza.
Conectividade nos lares
O avanço da tecnologia é um pilar fundamental para os imóveis do futuro. Dados do IBGE mostram que 9 em cada 10 baianos usaram a internet em 2024, com 84,3% dos domicílios brasileiros possuindo conexão Wi-Fi. O professor Roney Camargo Malaguti, da Wyden, ressalta que a expectativa é de um aumento na conectividade entre residências e a cidade, com a transformação dos prédios em estruturas mais integradas.
Os prédios 4.0 estão na vanguarda, unindo automação em iluminação, climatização e controle de energia. Enquanto assistentes virtuais e dispositivos de segurança já são comuns, a privacidade dos moradores levanta discussões sobre o uso dos dados pessoais. Roney alerta sobre a importância de proteger essas informações, destacando avanços em criptografia e autenticações.
Mudanças na estrutura familiar
Mudanças demográficas também têm redefine como habitamos. O Censo de 2022 revelou que a taxa de fecundidade na Bahia caiu de 2,4 filhos por mulher em 2000 para 1,55 em 2022. O número de casais sem filhos e de pessoas morando sozinhas também aumentou. Hoje, essas composições são quase 40% dos domicílios do estado.
Entre 2010 e 2022, o total de residências na Bahia cresceu em 35,7%, mas a média de moradores por casa caiu de 3,4 para 2,8. Dados confirmam a queda no mercado de empreendimentos horizontais, enquanto as construções verticais aumentaram em 6,25%, refletindo a procura por espaços menores e mais eficientes.
O imóvel do futuro é, portanto, uma junção de conectividade, sustentabilidade e adaptação às novas composições familiares, representando um reflexo das rápidas mudanças sociais.
Primeiro Jornal, 10/set
terça-feira, 9 de setembro de 2025
Construção em terrenos descontaminados é saída para falta de espaço
Algo que já foi entrave no mercado imobiliário, a construção em terrenos contaminados agora é um caminho para conseguir um bom espaço nas cidades.
“Estamos vivenciando a substituição de áreas que no passado foram industriais por edificações para serviços e moradia, é processo pelo qual as principais capitais do Brasil também estão passando”, afirma Thomaz Toledo, presidente da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo). A atividade industrial é a maior fonte de contaminação do solo e da água subterrânea nos ambientes urbanos.
Terrenos contaminados são comuns. A Cetesb tem cadastradas em seu sistema 7,5 mil áreas contaminadas no Estado. Mas a reabilitação desses terrenos também é recorrente: do total, 2,5 mil já passaram por uma remediação. Em São Paulo, onde a disputa por espaço para construir é ainda maior, 41% das 2,8 mil áreas cadastradas como contaminadas já foram reabilitadas.
O setor imobiliário é o maior responsável pela recuperação dessas áreas: está presente em 64% dos 2,5 mil terrenos remediados. Se depender do apetite do setor, esse patamar deve seguir alto.
A Cetesb lançou neste mês uma nova edição do seu manual sobre descontaminação do solo, a primeira revisão desde 2001, conta Toledo. A ideia é que, com os processos mais claros, a aprovação de planos de remediação seja mais rápida. O órgão tem tentado manter o tempo de aprovação em até 60 dias, ante uma média de 9 meses há poucos anos.
Roberta Jardim, sócia de direito ambiental do escritório Cescon Barrieu, explica que para construir em um terreno contaminado não é preciso acabar com todos os poluentes, mas chegar até os padrões mínimos exigidos para cada tipo de ocupação. Além das regras da Cetesb, há uma norma federal sobre o tema, a Conama nº 420.
É comum, por exemplo, que a contaminação das águas subterrâneas no terreno não seja totalmente resolvida, mas a empresa é liberada para tocar seu projeto, desde que o prédio não use essa água. “É obrigatório [a restrição] estar na matrícula do imóvel, no registro da convenção do condomínio, com publicidade absoluta”, afirma Ely Wertheim, presidente-executivo do Secovi-SP, sindicato do setor imobiliário.
O uso comercial tem parâmetros mais “brandos” do que o residencial, o que transforma as áreas contaminadas em oportunidades de negócio. É o caso da Goodman, que constrói galpões para logística de “última milha”, focados em entregas rápidas, em São Paulo e na região metropolitana.
A empresa precisa de áreas grandes e com boa localização nas cidades, o que a coloca em disputa com o segmento residencial, principalmente o de baixa renda. Mas as obras de logística não são “verticalizadas”, usam menos do potencial do terreno e, por isso, pagam menos pela área. “Em uma disputa padrão, sem contaminação, o residencial está ganhando, então passamos a ver imóveis contaminados com bons olhos”, afirma Tamara Mereb, diretora de novos negócios e propriedades da Goodman no Brasil. “O imóvel contaminado assusta mais o player residencial, é algo que nos ajuda a comprar”.
Essa contaminação é avaliada superficialmente antes da compra do terreno. O custo para remediá-la é calculado e entra na negociação com o terrenista, em forma de desconto.
“A maioria das pessoas não entende que esse passivo não é nosso, é um tema muito sensível nas negociações”, afirma Bruna Santini, diretora de incorporação da Cury. A Goodman também já deixou de fazer negócios por não chegar a um acordo entre as partes.
A empresa está construindo um galpão logístico no terreno onde, por um século, funcionou uma indústria química, a Rhodia. Foi constatada a presença de metais pesados no solo, que precisou ser escavado e retirado. Também foi feita a injeção de neutralizantes no terreno, conta Mereb.
O solo também foi elevado em quatro metros, para evitar enchentes. Com a escavação, foi necessário trazer 370 mil metros cúbicos de terra, vinda de outras obras, em 25 mil viagens de caminhão. “E ainda recusamos 100 mil metros cúbicos, que estavam contaminados”, afirma a diretora. A empresa não abre os valores envolvidos na operação.
Na Cury, é considerada viável uma remediação que custe até 1% do valor geral de venda (VGV) total do empreendimento, afirma Santini. “Tem terrenos em que a remoção do solo custou R$ 300 mil, outros em que foi R$ 8 milhões”.
Antes, a empresa evitava áreas assim. Agora, não mais. “Existe escassez da nossa matéria prima, que é o terreno, não dá pra se dar ao luxo de escolher não enfrentar esse tipo de situação”, diz.
Com projetos em São Paulo e no Rio, a companhia se depara com mais áreas contaminadas na capital paulista, devido ao perfil mais industrial da cidade.
A depender da região em que a empresa atua, essas áreas são quase inevitáveis. É o caso da incorporadora Porte, que constrói no Tatuapé e no Jardim Anália Franco, na Zona Leste de São Paulo. “Por estarmos concentrados nesses bairros, que tinham ocupação fabril, precisamos nos especializar no assunto”, afirma Marília Kovacsik, gerente de legalização da Porte.
A empresa está investindo cerca de R$ 3 milhões na descontaminação de um grande terreno em frente ao Sesc Belenzinho, onde terá um projeto multiuso, com residenciais, escritórios, hotel, shopping e teatro. Ali, no passado, já operou uma indústria de galvanoplastia, que liberou metais pesados no solo. O valor é alto, mas viável diante dos R$ 2,8 bilhões de VGV previstos para o local.
A retirada do solo, com descarte para aterros especializados, é a saída mais simples e a preferida das incorporadoras. Quando a contaminação envolve o lençol freático, a situação se complica. Santini conta que, pela movimentação natural da água, o processo se torna mais demorado e, pior, imprevisível. “É mais difícil fazer as injeções de componentes que descontaminam”, diz. “Tem que injetar, medir, dar um tempo, medir de novo”.
Toledo afirma que, hoje, há solução para todo tipo de contaminação por substâncias químicas. “O que entra na discussão é o custo”, diz.
O interesse do mercado imobiliário pela descontaminação das áreas não significa que os terrenos com poluentes se tornarão mais raros no futuro, pontua Igor Melro, diretor comercial da Porte, porque a legislação ambiental evolui e se torna mais restritiva. “Quanto mais os anos passam, mais contaminantes aparecem”.
Um contaminante comum são hidrocarbonetos que vazaram de antigos tanques de postos de combustível. Postos novos precisam ter tanques com parede dupla, para evitar o vazamento, afirma Toledo.
Outra contaminação recorrente é por organoclorados, resultado do uso de solventes para retirar graxa de maquinário industrial. A substância é da mesma classe do pesticida DDT. “Tem técnica de reabilitação que consiste em aplicar carga elétrica no solo, ele aquece a 100 graus Celsius, esses compostos são voláteis e evaporam”, explica.
Em São Paulo, na região de Jurubatuba (Zona Sul), vários terrenos foram contaminados dessa forma. Mesmo assim, tem sido possível fazer desenvolvimento imobiliário no local, lembra Santini. “Era uma área que ninguém olhava, tem grandes problemas ambientais, e hoje existe movimento forte de incorporação”.
Sinduscon Rio, 09/set
segunda-feira, 8 de setembro de 2025
Centro do Rio: Barrosão vai ganhar supermercado, rooftop e até cinema exclusivo em projeto de revitalização
Junto com o anúncio da conversão para residencial, vem um pacote de novidades que promete revitalizar a região do Largo da Carioca, hoje a área de maior movimento do centro financeiro.
O Edifício Almirante Barroso, mais conhecido como Barrosão, começa a revelar o que deve ser um dos projetos mais ambiciosos do programa Reviver Centro. A antiga sede da Caixa Econômica Federal, onde funcionava por décadas a maior agência da instituição no Rio, vai se tornar um residencial com até 1.070 apartamentos e, junto com ele, chega um pacote de novidades promete revitalizar a região do Largo da Carioca, atualmente, a área de maior movimento do centro financeiro do município.
O prédio de 31 andares terá supermercado no térreo, dois restaurantes (um deles no rooftop, com vista para a Baía de Guanabara), além da recuperação de um antigo cinema, agora exclusivo para os moradores. A ideia, segundo Rafael Nigri, da Nigri Incorporadora, é criar um condomínio de classe B com padrão de Barra da Tijuca, incluindo piscina, academia e infraestrutura completa. Estão previstas novas entradas no quarteirão, ligando a Carioca à Avenida Rio Branco, à própria Almirante Barroso e à estação de metrô. Esse acesso será totalmente reformulado, com cobertura, iluminação e paisagismo, revitalizando a área entre o Barrosão e o vizinho Ed. Avenida Central.
As antigas 250 vagas de garagem usadas pelos funcionários da Caixa também serão vendidas separadamente. Já no térreo, a instalação do supermercado ainda levanta dúvidas, já que o espaço é ocupado atualmente por uma das maiores lojas de artigos chineses do Centro, aberta durante a pandemia. Ainda não se sabe se o grupo Casas da Mamãe continuaria como inquilino, já que a nova administradora estaria mobilizando seus mais de 2 mil investidores para aprovar uma mudança na política de investimentos.
O imóvel pertence hoje a um fundo gerido pela Afira Investimentos e administrado pela Actual DTVM. Quando sair do papel, o residencial será o maior do Reviver Centro, superando até o polêmico projeto do Buraco do Lume.
Diário do Rio, 08/set
Pesquisa inédita vai mapear a maturidade digital de empresas da construção
O setor da construção ganha, a partir desta semana, uma iniciativa inédita para avaliar o estágio de transformação digital das empresas brasileiras. O BIM Fórum Brasil, com patrocínio da ABDI e da GS1 Brasil, e apoio da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (CONFREA) e Sebrae, lançou nesta quinta-feira (4), a Pesquisa Nacional de Maturidade Digital, voltada para incorporadoras e construtoras que atuam em edificações e infraestrutura.
O levantamento vai ficar aberto até 25 de setembro e deve identificar em que nível as empresas estão em termos de adoção tecnológica e capacidade organizacional, para apontar desafios, tendências e oportunidades de desenvolvimento. A pesquisa também quer oferecer subsídios para políticas públicas e programas de inovação no setor.
A participação é gratuita e cada empresa que responder ao diagnóstico recebe um relatório individual e confidencial, com análise do seu estágio digital, comparativos com outras empresas participantes, além de recomendações estratégicas para orientar futuras ações de digitalização.
O público-alvo são incorporadoras, construtoras e empresas integradas. O preenchimento deve ser feito por profissionais que tenham uma visão ampla da operação da companhia, como diretores, gerentes e colaboradores das áreas de planejamento, projetos, obras, suprimentos e orçamento.
Agência CBIC, 08/set
quinta-feira, 4 de setembro de 2025
O que falta para a construção civil entrar no século XXI?
Apesar de representar cerca de 6% do PIB brasileiro e empregar mais de 7 milhões de pessoas, a construção civil ainda opera, em muitos aspectos, como no século passado. Obras geridas em planilhas, atrasos recorrentes, desperdícios de materiais e a ausência de dados confiáveis seguem como marcas registradas de um setor que resiste à transformação digital — e cultural.
Mas para que a construção civil finalmente entre no século XXI não basta digitalizar processos, é preciso mudar a forma como o setor enxerga eficiência, inovação e diversidade.
Um dos primeiros passos é abandonar a ideia de que tecnologia é custo. Quando bem aplicada, a inovação é o principal caminho para aumentar a produtividade e garantir mais previsibilidade nas entregas — algo crítico para investidores, incorporadoras e clientes finais. Modelos BIM, sensores conectados por IoT, plataformas de gestão de obra e dados integrados permitem prever atrasos, controlar orçamentos com mais rigor e até antecipar riscos estruturais.
Outro ponto essencial é a inclusão de novos perfis de liderança, especialmente das mulheres. A construção civil ainda é marcada por uma cultura masculina e hierárquica, mas a presença feminina vem crescendo e mostrando que diversidade não é só uma questão de justiça social — é também um diferencial competitivo. Lideranças femininas tendem a trazer olhares mais colaborativos, foco em processos e uma escuta ativa que impulsiona a inovação. É nesse contexto que surge uma nova geração de empresas lideradas por mulheres que não apenas constroem obras, mas também reconstroem modelos de negócio, relações de trabalho e propósito.
Também é preciso enfrentar a fragmentação da cadeia. A construção civil envolve uma enorme rede de fornecedores, prestadores e subempreiteiros, o que dificulta a padronização de processos e a adoção de tecnologias em escala. Mas o que hoje é visto como obstáculo pode ser a chave para criar ecossistemas mais ágeis, colaborativos e inteligentes, com apoio de construtechs e proptechs que atuam em nichos específicos para resolver problemas reais.
O futuro do setor não será definido por quem constrói mais rápido ou mais barato, mas por quem entrega com mais inteligência, sustentabilidade e previsibilidade. E isso só será possível com dados no centro da operação, equipes diversas liderando projetos e tecnologia conectando os elos de uma cadeia ainda analógica.
Entrar no século XXI não é uma questão de tempo, é uma questão de decisão. E quem decidir agora, sairá na frente.
Hoje em Dia, 04/set
quarta-feira, 3 de setembro de 2025
Alta em custo de moradia afeta qualidade de vida de 62% dos brasileiros
Segundo pesquisa realizada pela Serasa em parceria com o Instituto Opinion Box, 62% dos entrevistados afirmam que despesas como aluguel, IPTU e condomínio comprometem a sua qualidade de vida. O cenário se agrava com a percepção de aumento desses gastos: 66% perceberam que os valores subiram nos últimos 12 meses.
Em um mês de orçamento apertado, o aluguel é visto como prioridade para 39% dos entrevistados – na sequência, aparecem a conta de energia (25%) e o financiamento (19%). Segundo o levantamento, 40% dos consumidores ainda moram de aluguel e 30% já possuem o imóvel próprio quitado.
Para 19% dos entrevistados, as despesas do lar, envolvendo aluguel, financiamento, IPTU e condomínio, superam a metade da renda familiar. Outros 27% sequer sabem calcular quanto do orçamento é comprometido com esse tipo de despesa.
As contas básicas de água, luz e gás também representam impacto significativo: para 36% dos brasileiros, o pagamento desses gastos essenciais consome entre 11% e 20% da renda; para 23%, esse valor varia de 21% a 30%.
“O custo de moradia no Brasil tem um grande impacto na vida financeira das famílias. A alta dos preços pressiona não apenas o orçamento mensal, mas também o planejamento de médio e longo prazo, forçando muitos a recorrerem ao crédito para manter as contas em dia”, afirma Thiago Ramos, especialista da Serasa em educação financeira.
Ainda segundo a pesquisa, cerca de 29% recorrem ao cartão de crédito e 44% já precisaram de empréstimo ou crédito pessoal para arcar com despesas relacionadas à moradia. E 53% não se preparam para reajustes de contas e têm dificuldades de ajustar o orçamento.
Os contratos de locação residencial com vencimento em agosto de 2025 e correção pelo Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) poderão ter reajuste de 2,96%. O índice foi divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e corresponde à variação acumulada nos últimos 12 meses (agosto de 2024 a julho de 2025). No mês de julho, o indicador registrou variação negativa de 0,77%.
O IGP-M é um dos principais indicadores utilizados no mercado imobiliário para reajustes contratuais, principalmente por ser divulgado ainda dentro do mês de referência.
Monitor Mercantil, 03/set
terça-feira, 2 de setembro de 2025
Mercado imobiliário deve chegar a US$ 89,9 bi até 2030 com imóveis sustentáveis
Pesquisa mostra demanda crescente por imóveis certificados e geração própria de energia.
O mercado imobiliário brasileiro deve atingir US$ 89,9 bilhões até 2030, com taxa média de crescimento anual de 5,1%, segundo projeção da consultoria internacional Grand View Research. Entre os fatores que impulsionam esse crescimento está a valorização de empreendimentos sustentáveis, cada vez mais considerados nas decisões de compra.
Dados do Next Gen Survey, publicado no Wealth Report 2025, indicam que 75% dos jovens investidores estão dispostos a pagar mais por produtos ambientalmente responsáveis. Além disso, 53% priorizam imóveis com certificações verdes, enquanto 48% buscam empreendimentos com geração própria de energia. Essa mudança de comportamento reflete uma transformação no perfil de demanda, que passa a considerar aspectos de eficiência energética, qualidade do ar e bem-estar.
Um exemplo dessa tendência é o Auris Residenze, que será o primeiro edifício-árvore do Brasil, localizado em Balneário Camboriú. O projeto, desenvolvido pelo escritório italiano Archea Associati, inclui fachada viva com irrigação automatizada, concreto pigmentado que muda de cor ao longo do tempo, áreas de lazer com horta, playground e rooftop com piscina, além de tecnologias para gerar água filtrada e detectar níveis de CO2. O empreendimento busca atender aos critérios das certificações LEED e WELL, voltadas respectivamente para desempenho ambiental e bem-estar dos moradores.
Segundo Cláudio Fischer, CEO da Fischer Group, “o Auris Residenze antecipa uma transformação que já é realidade no mercado internacional. Trata-se de uma nova definição de luxo, onde bem-estar, saúde e sustentabilidade deixam de ser diferenciais e passam a ser pré-requisitos. Nosso compromisso é entregar não apenas um imóvel, mas um padrão de moradia conectado à natureza, à eficiência e à responsabilidade ambiental”.
O empreendimento terá 26 apartamentos, com um por andar, combinando exclusividade e soluções construtivas alinhadas à biofilia. Fischer afirma ainda que “a busca por empreendimentos sustentáveis, que entregam bem-estar real, cresce de forma consistente entre moradores e investidores. Este projeto atende a essa expectativa com profundidade e visão de futuro”.
O Wealth Report aponta que mais de 60% dos investidores globais de alta renda priorizam eficiência energética, enquanto 53% exigem certificações verdes e 48% buscam geração própria de energia nos imóveis. Para a Fischer Group, esse cenário apresenta oportunidades para investidores interessados em empreendimentos alinhados a padrões ESG, tanto para moradia quanto para valorização de ativos.
Money Report, 02/set
segunda-feira, 1 de setembro de 2025
Empresa oferece ‘bunkers de luxo’ para bilionários se protegerem
Nova vertente do mercado imobiliário está trazendo uma espécie de resort subterrâneo aos mais ricos do planeta.
Se antes os bunkers eram apenas espaços frios e funcionais para garantir a sobrevivência, agora eles estão virando verdadeiros resorts subterrâneos. O novo conceito que vem ganhando espaço no mercado imobiliário é o dos bunkers de luxo, preparados para enfrentar desde guerras até crises climáticas, mas sem abrir mão do conforto.
Esses refúgios oferecem muito mais do que proteção: há spas, cardápios de alta gastronomia e até telas panorâmicas que simulam paisagens externas. O intuito é transformar um possível cenário apocalíptico em uma experiência premium.
Grandes nomes da tecnologia já embarcaram nessa tendência. Mark Zuckerberg, da Meta, planeja erguer um complexo com infraestrutura emergencial no Havaí. Jeff Bezos, da Amazon, também investe em estruturas similares.
A empresa americana Safe é uma das que mais avança nesse segmento. O projeto Aerie pretende criar mais de mil bunkers ao redor do mundo, acessíveis apenas por convite e com vagas limitadas. O custo? Um espaço de 185 m² sai por cerca de US$ 2 milhões (R$ 10,8 milhões), mas há unidades que podem ultrapassar os US$ 20 milhões (R$ 108 milhões). Mas não é só a Safe. Empresas como a Atlas Survival Shelters e Survival Condo também já atuam no segmento. A Atlas afirma já construir mais de 300 bunkers por ano.
Prisão de luxo?
Além de água, comida e atendimento médico ilimitado, os bunkers de luxo da Safe foram pensados para longos períodos de isolamento. Eles contam até com uma “cela de luxo” para lidar com conflitos internos, caso algum comportamento saia do controle.
Essas estruturas seguem padrões de segurança semelhantes às SCIFs – instalações blindadas contra espionagem eletrônica, como a sala de crise da Casa Branca -, tornando-se um atrativo para quem busca total privacidade.
Bunkers autossuficientes
Segundo a Safe, suas unidades de bunkers de luxo são projetadas para serem completamente autossuficientes, sem depender de energia externa. Isso significa que os bunkers também são resistentes a pulsos eletromagnéticos, que poderiam inutilizar equipamentos eletrônicos em caso de ataque.
Outra curiosidade é que os projetos incluem estratégias de convivência para equipes de serviço e convidados. Para a empresa, até o comportamento dos moradores precisa ser monitorado. Daí a existência da chamada “prisão interna”, que funciona como uma suíte de isolamento equipada para comunicação. O que certamente abre espaço para questões éticas.
A companhia afirma que já existe uma demanda crescente em várias partes do mundo, inclusive na América Latina. “O Brasil não está alheio às preocupações com segurança”, disse Naomi Corbi, executiva da Safe, à BBC Brasil. Ou seja, em meio a crises globais e instabilidades, até sobreviver pode se tornar um luxo que poucos podem pagar.
Olhar Digital, 01/set
sexta-feira, 29 de agosto de 2025
A primeira onda das IAs no mercado imobiliário
O ano de 2025 foi marcado pela rápida adoção da Inteligência Artificial (IA) por pessoas e empresas. No mercado imobiliário, diversas soluções especializadas ganharam mercado. Em paralelo, cresce também o número de imobiliárias e incorporadoras que desenvolvem seus próprios agentes inteligentes. Nesse movimento, os processos têm sido gradualmente aprimorados em busca de uma melhor performance. No entanto, é natural que o surgimento de novas tecnologias venha acompanhado de expectativas, dúvidas e receios, que tendem a se equilibrar com o tempo. E para promover um melhor entendimento sobre esta primeira onda da IA no imobiliário, o Imobi Report foi a campo ouvir startups e empresas, que compartilharam visões sobre este período.
O cofundador da Lastro, José Thomaz Pereira, compreende que o marco da IA foi em 30 de novembro de 2022, com o lançamento do ChatGPT. E não por acaso, a primeira experiência da IA no mercado imobiliário brasileiro foi justamente com a utilização da solução da OpenAI para tarefas específicas. Corretores e agentes de locação buscavam a ferramenta para melhorar a descrição dos anúncios de imóveis, corrigir erros, esclarecer dúvidas e solucionar conflitos administrativos. Neste contexto, a Lastro entendeu que as imobiliárias, em especial as mais consolidadas, tinham dificuldade em fornecer um atendimento rápido e de qualidade para o cliente, dado o volume de leads característicos na locação. Além disso, acredita-se que metade dos leads entravam em contato fora do horário comercial, sendo humanamente impossível atender essa demanda. Partindo dessa necessidade, em julho de 2023, a Lastro lançou a Lais, sua atendente de IA para imobiliárias. “A Lais entrega um trabalho quase indistinguível do de uma pessoa, mas sem as limitações humanas. A Lais tem paciência infinita, ela trabalha 24 horas por dia, é incansável e sempre está de bom humor. Isso se traduz num atendimento de alta qualidade para os clientes de topo de fúnil”, afirma.
José Thomaz acrescenta que a IA surge a partir da evolução dos modelos de linguagem, que possibilitaram o desenvolvimento de sistemas de pensamento intuitivos, capazes de reconhecer padrões quando expostos às mais diversas circunstâncias, processo semelhante à cognição humana. O especialista explica que esses modelos são abundantes, relativamente baratos e acessíveis para qualquer pessoa com a mínima capacidade de desenvolvimento. Porém, essa “comoditização” da IA conduz a um problema de ordem prática: construir uma solução que entregue resultados dentro do propósito e dos processos da empresa. “Antes de contratar ou desenvolver uma solução de IA, a imobiliária deve mapear seus problemas e entender se a ferramenta de fato vai resolvê-los, ou se é só promessa de vendedor. É preciso investir muito tempo em pesquisa e desenvolvimento para conseguir criar uma solução focada no mercado imobiliário, que de fato funcione”, declara.
No pico das expectativas infladas
Para compreender o momento atual da IA no imobiliário, o CRO da Morada, Luis Veloso, se utiliza da Curva de Gartner. Conforme o modelo, tudo começa com um Gatilho Tecnológico, por exemplo, o surgimento da IA. Esse caminho leva diretamente para o Pico das Expectativas Infladas, quando há um deslumbramento com a tecnologia. A partir desta etapa, diante da frustração causada por falhas e limitações, há uma queda para o Vale da Desilusão. Por fim, com as expectativas devidamente alinhadas, ocorre uma lenta subida pela Ladeira do Encantamento, até o Planalto da Produtividade, quando se alcança o pleno domínio da tecnologia. “Entendo que ainda estamos no Pico das Expectativas Infladas, prestes a cair no Vale da Desilusão”, observa.
Curva de Gartner
Luis comenta que no início da sua operação foi necessário provar para os incorporadores que a Mia, solução de IA da Morada, era capaz de realizar um bom atendimento. Atualmente, com a popularização da tecnologia, esse desafio foi superado. Porém, com essa popularidade aumentaram os casos de alucinações, quando o agente de IA fornece uma resposta incorreta. Isso gerou um novo problema, o de provar que essa tecnologia é confiável. “Muitas empresas e profissionais estão utilizando IA, mas nem sempre essa tecnologia atende as expectativas, o que resulta em desilusão”, salienta.
Sobre as expectativas, o fundador e CEO da Plaza, Julio Viana, entende que o mercado espera que a IA faça algo que ela ainda não é capaz de fazer. Nesse sentido, o setor precisa entender as limitações da tecnologia e então se educar sobre o tema. “O gerenciamento das expectativas é um dos aspectos mais importantes na implementação da IA no mercado imobiliário”, comenta.
Batalha de IAs
Em busca de uma solução capaz de oferecer a melhor taxa de conversão, a imobiliária Fuhro Souto, de Pelotas (RS), está promovendo uma batalha de IAs dentro da empresa. Atualmente, a imobiliária emprega duas fornecedoras na programação da Déia, sua agente de atendimento virtual. O gestor de tecnologia da informação da imobiliária, Eduardo Branco Kickhöfel, compartilha que há uma grande dificuldade em encontrar IAs que atendam seus requisitos e possibilitem personalização. “A equipe de pré-atendimento da Fuhro Souto levou anos para ser desenvolvida e tem uma alta performance de conversão. Entendemos que humanos têm limitações e estamos dispostos a ver como a IA se comporta. Mas até o momento, a atendente virtual não foi capaz de superar nossos atendentes humanos”, destaca.
A Deia faz o levantamento das necessidades do cliente e pesquisa no banco de dados da imobiliária por imóveis que as atendam, com o objetivo de agendar a visita. Segundo Eduardo, a conversa por mensagens de texto flui naturalmente, grande parte dos clientes nem percebe que se trata de uma inteligência artificial. Porém, o desejo da empresa é possuir um agente de IA capaz de assumir 100% da jornada de locação. “Além de atender clientes e agendar visitas, queremos uma IA capaz de colher o feedback, fazer propostas, consultar o proprietário e fazer análise de crédito dos inquilinos”, manifesta.
Já na Apolar, de Curitiba (PR), a imobiliária conseguiu aumentar em 57% o número de visitas agendadas – de 160 para 250 por dia – ao mesmo tempo em que reduziu em 70% o time de pré-atendimento, que passou de 10 para apenas 3 profissionais. “Antes, nosso time de pré-atendimento precisava ligar para todos os clientes. Hoje, a Lina (como chamamos a Lais na Apolar) faz todo esse contato inicial, e nossa equipe apenas confirma as visitas”, explica Camila dos Santos, gerente de operação da imobiliária. A Apolar começou a expandir o uso da Lais também para rotinas administrativas, e os primeiros resultados têm se mostrado bastante promissores.
De acordo com Fernando Menon, sócio-proprietário da Felicità Imóveis, de Balneário Camboriú (SC), a integração de inteligência artificial com o atendimento humano é a chave para a abertura e efetivação de novos negócios. Hoje a atendente virtual da imobiliária realiza o primeiro contato com o cliente em no máximo dois minutos. Em seguida, um corretor humano se envolve em até três minutos, totalizando um tempo de resposta 98,6% mais rápido do que a média do mercado. Após identificar as necessidades do cliente, o sistema encaminha estas informações ao primeiro corretor disponível em uma lista de prioridades. No entanto, se o profissional não atender o cliente nos próximos dois minutos, outros corretores podem assumir o atendimento rapidamente, garantindo que a interação humana ocorra em até cinco minutos. “Se o corretor da vez não assumir esse atendimento, o próprio sistema disponibiliza para todos os outros profissionais. E quem for mais rápido, garante o atendimento”, afirma o dono da imobiliária.
Já em Fortaleza (CE), a imobiliária 7Cantos desenvolveu suas próprias soluções de inteligência artificial. O analista de tecnologia e transformação digital da empresa, Anderson Sousa, esclarece que a primeira foi a Laila, agente virtual de pré-atendimento que realiza triagem, responde dúvidas, consulta o banco de dados da empresa, sugere imóveis e agenda visitas de forma contínua e personalizada, com variações para diferentes departamentos. No setor financeiro, a IA W Junior analisa transações, gera relatórios com insights sobre economia e inconsistências e inspirou a criação específica de uma OKR de redução de custos. Já a IA Alexandre atua como auditor dos atendimentos, avaliando semanalmente interações da equipe para subsidiar treinamentos e feedbacks, reforçando a cultura de melhoria contínua. Estes insights geram um relatório semanal entregue por email ao gestor de cada área. “Levei cerca de 6 meses desenvolvendo o prompt da Laila. E hoje trabalho apenas com IA dentro da 7Cantos”, revela.
Modelos de cobrança
Luis, da Morada, explica que no mercado de IA o custo de operação se baseia na quantidade de tokens utilizados, que é basicamente uma unidade semântica, uma palavra com significado. A frase “o céu é azul”, por exemplo, tem quatro palavras, ou seja, quatro tokens. Por isso, algumas soluções podem ter prompts que reduzam o tamanho da conversa que os agentes virtuais trocam com clientes, para diminuir o custo de operação. No entanto, a Morada adota um modelo distinto, cobrando por conversas. Os pacotes oferecidos pela empresa vão de 100 até 2.000 atendimentos. Ultrapassando esses limites, a startup passa a cobrar por atendimentos adicionais. O modelo da Lastro é similar, cobrando por atendimentos realizados. Os pacotes podem ser tanto mensal como anual.
Julio, da Plaza, entende que há preocupação em não precificar a IA de modo que ela se equipare ao custo da mão de obra humana. Além disso, existe um cuidado em não tornar a cobrança imprevisível, de modo a prejudicar o retorno do investimento para as imobiliárias. Nesse sentido, a empresa trabalha com um modelo de assinatura sem limites de atendimento
José Thomaz, da Lastro, faz um alerta para que as imobiliárias não se deixem levar apenas pelo preço na hora de contratar uma solução. “É fundamental avaliar o custo real em relação ao resultado que ela entrega. Uma ferramenta ruim, ainda que pareça atrativa no valor, invariavelmente fará a imobiliária perder negócios – e esse é, sem dúvida, o maior custo para a operação.”.
Imobi Report, 29/ago
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