terça-feira, 30 de abril de 2019

Tudo no mesmo lugar


Os números gerais de coworking no país são animadores. Para se ter uma ideia, segundo a Associação Coworking Brasil, os 238 espaços mapeados em 2015 se transformaram em 1.194, em 2018. O mercado de escritórios compartilhados está mesmo acelerado por aqui - cresceu 500% nos últimos três anos ante a média de 200% no mundo durante o mesmo período. E mais: em 2018, os coworkings localizados nos 26 estados do país, mais o Distrito Federal, faturaram, juntos, R$ 130 milhões. No Brasil, houve um crescimento também do número de pessoas que trabalham em sistema de home office.
- Os espaços para coworking vieram para ficar e refletem uma tendência mundial. São uma inovação bem-vinda, uma resposta às necessidades do mundo contemporâneo. Hoje, cada vez mais pessoas trabalham em sistema de home office ou buscam ambientes fora dos escritórios convencionais para realizar suas atividades e fazer contatos. É como ter em casa praticamente um espaço com toda estrutura e conforto de uma sala comercial -explica o gerente-geral de incorporação e produto da RJZ Cyrela, Marcelo Parreira.
De olho nesse movimento, construtoras e incorporadoras investem em empreendimentos residenciais com espaços de coworking. É o caso da Tegra, que lançou o East Side, em Curicica, o Volp 40, em Botafogo,e o Soho, na Barra. A partir de grupos de discussão, a Tegra detectou uma mudança de desejo dos clientes e passou a incluir em seus lançamentos áreas e serviços para facilitar a rotina dos futuros moradores. Dentre os anseios por espaços multiuso, as pesquisas da incorporadora apontaram para a necessidade de se ter um local para coworking nos seus novos projetos. - O mundo mudou e a forma de se trabalhar, também. Os empreendimentos precisam acompanhar essas mudanças. Os nossos dois últimos lançamentos (East Side Méier e Volp40), tiveram espaços para coworking incluídos em seus projetos. Com a vida moderna, as pessoas precisam de espaços para troca de experiências e versatilidade na forma de trabalhar - explica Alexandre Fonseca, diretor executivo da Tegra Incorporadora Unidade RJ.
DUPLA FUNÇÃO
Tanto no Volp40 quanto no East Side Méier, o "salão gourmet" terá dupla função. De dia, o espaço funcionará como área de coworking para os moradores poderem trabalhar de forma autônoma, estudar em paz e trocar experiências.
O residencial Jardins, em Nova Iguaçu, da Jeronimo da Veiga, aposta no Espaço coworking de Atelier de Artes, dedicado à interação de artistas do prédio.
- Cada vez mais as pessoas buscam qualidade de vida, não se distanciando tanto de casa, por conta de trânsito e da violência. Então, quanto mais opções existirem dentro do prédio residencial, melhor. O coworking é uma tendência - aponta Maurício Santos, diretor comercial da Jeronimo da Veiga, que destaca como principais vantagens o fato de não se ter interferência de ninguém enquanto se está trabalhando "dentro de casa", não ter que usar um cômodo de casa para virar escritório e, por fim, fazer networking.
Criar contatos sem sair de casa também é um dos benefícios citados pela Cyrela, que acaba de lançar o ON, na Voluntários da Pátria, em Botafogo. O empreendimento oferece um ambiente de coworking com infraestrutura tradicional - 14 pontos de trabalho, wi-fi, ar-condicionado, TV e sistema de iluminação completo para que várias pessoas trabalhem ao mesmo tempo -com direito a um terraço para se trabalhar ao ar livre. É um ambiente amplo e fechado, que integra o projeto arquitetônico de Miguel Pinto Guimarães, um dos ícones do país na sua área. Além dos equipamentos necessários ao trabalho (cadeiras, mesas, wi-fi, ar-condicionado etc), há facilidades como frigobar, cafeteira, filtro e TV. Um outro espaço, ao ar livre e chamado de Terraço ON, serve para reuniões e encontros de trabalho mais informais. Seu projeto é assinado pelo premiadíssimo paisagista Alex Hanazaki.
A mesma construtora prepara outro empreendimento residencial que terá espaço de coworking para os moradores. Previsto para ficar pronto em 2021, o Rio By Yoo ficará na antiga sede do Flamengo, no Morro da Viúva, de frente para o Aterro do Flamengo. Além da localização privilegiada, o empreendimento terá a participação do escritório britânico Yoo Studio, fundado pelo renomado designer e arquiteto Philippe Starck.
- Eles vão requalificar os espaços do empreendimento, onde temos um coworking amplo, com design moderno e iluminação especial, exatamente para oferecer comodidade para quem precisa resolver questões cotidianas e de trabalho -valoriza Marcelo Parreira, gerente-geral de incorporação e produto da RJZ Cyrela.
Os lançamentos de edifícios residenciais com coworkings já preveem regras e especificações acerca de como se dará a utilização destas áreas pelos condôminos. Mas caso um prédio antigo queira criar um espaço de trabalho compartilhado em suas áreas comuns, será preciso estar atento ao regulamento interno e às convenções do edifício (o mais provável é ter de conseguir aprovação em assembleia de 2/3 dos condôminos), já que um vaivém de clientes poderá incomodar vizinhos.
- Não há legislação específica, razão pela qual o coworking é regulado pelas disposições do Código Civil e principalmente pelo Regimento Interno e Convenção Condominial - explica o advogado Leandro Sender, especializado em direito imobiliário.
Por se tratar de um tema recente, não há um posicionamento consolidado ou jurisprudências sobre a questão.
- Tratando-se de condomínio estritamente residencial, se existir alta rotatividade de clientes, haveria a necessidade de alterar a natureza do condomínio para misto, ante a natureza comercial deste espaço de coworking - afirma o advogado.
Daniele Souza, gerente do departamento de locação da Precisão Administradora, lembra que, entre as obrigações dos coworkings, também está manter alvarás de localização e funcionamento originais, cópias dos atos constitutivos, cadastramento fiscal, documentação societária e informações sobre os usuários. Ela aponta ainda alguns cuidados básicos para não incomodar os vizinhos.
- É indispensável estar ciente dos horários de funcionamento do prédio e da portaria, além de respeitar o regulamento e a convenção, evitando infração e pagamento de multas indesejáveis, que variam em torno de um salário mínimo. Outro ponto que deve ser levado em conta em nome da boa convivência é o barulho, lembra Sender. -Por se tratar de ambiente compartilhado, é indicado que não sejam feitas ligações no viva voz, bem como não utilizar aparelhos eletrônicos em volume que possa causar incômodo aos demais. Por fim, é importante manter o local limpo e organizado -salienta.


O Globo, Morar Bem, 28/abr