quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Especialistas preveem maior oferta de crédito


Na avaliação de especialistas, a nova modalidade de financiamento imobiliário anunciada pela Caixa Econômica Federal pode ser um pontapé inicial para a formatação de financiamentos mais competitivos. Também deve ser um estímulo à entrada de novas empresas nesse mercado, pois haverá mais mais segurança financeira para conceder o empréstimo.

- Com a possibilidade de fazer a correção pela inflação ou pela TR, são abertas novas oportunidades de crédito imobiliário e de disputar o cliente. O efeito virá a médio e longo prazos, havendo estabilidade da economia - afirma o presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Rio de Janeiro (Ademi-RJ), Claudio Hermolin.

Ele pondera que, no Brasil, o percentual de crédito imobiliário sobre o PIB é ínfimo, se considerado o déficit habitacional do país.

- Sempre tivemos o mercado de crédito imobiliário concentrado na mão dos poucos bancos que têm poupança. O fato de discutir formas diferentes de financiamento já é um ganho para o consumidor. O IPCA é um índice mais comercial, mais fácil de comercializar. É uma possibilidade de nova carteira de crédito imobiliário - diz Hermolin, confiante de que a medida pode impulsionar a venda de imóveis usados e em estoque, como são chamadas as unidades novas prontas e não comercializadas.

IPCA: ATENÇÃO EM LONGO PRAZO

O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, também acredita que a nova modalidade criará mais concorrência. Ele avalia que surgirão companhias hipotecárias, que passariam a operar na intermediação da compra e venda de recebíveis imobiliários residenciais.

- A concorrência virá à tona, o que é muito bom para o mercado. A TR é um indexador que ninguém sabe de onde vem, é instrumento de política econômica e traz insegurança. O IPCA é transparente, tem mais credibilidade - diz Martins.

Para o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otavio Leal, deve aumentar o crédito na economia, dando mais segurança para construtoras e investidores, com efeito positivo sobre a atividade econômica:

-Já estamos vendo em São Paulo lançamentos imobiliários e, com mais crédito, isso tende a aumentar. Essas novas linhas vão aumentar os recursos disponíveis, com securitização das dívidas (títulos lastreados pelos créditos), o que dilui o risco.

Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos da construção do Ibre/FGV, avalia que a nova modelagem poderá se tornar uma fonte de captação adicional para o mercado imobiliário no futuro. A curto prazo, porém, alcançará um público muito específico, de mais alta renda, e pequeno:

- Ele é mais vantajoso? Hoje, sim. Mas inclui a inflação como mecanismo de correção, que ninguém sabe como vai se comportar em 25 ou 30 anos.

A redução do percentual de comprometimento da renda com o financiamento, de 30% para 20%, diz Ana Maria, já demonstra uma precaução do governo:

- Quem optar por esse financiamento terá de poupar mais antes de comprar o imóvel. E esse colchão de renda que o governo está estipulando para o mutuário já joga o novo crédito para uma faixa de renda mais alta.

No mercado, contudo, há a interpretação de que só na alta renda é viável estimular crédito neste momento.

- Quem está comprando atualmente são as classes Ae B, adquirindo imóveis com valor superior a R$ 1,5 milhão - diz um executivo do setor, que prefere não se identificar.



O Globo, Cássia Almeida, Glauce Cavalcanti e Patricia Valle, 21/ago