Para Campos Neto, com o avanço da tecnologia e da digitalização, medida é desnecessária; e pode gerar inflação. Ideia foi defendida por Lula na cúpula de países da América do Sul.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta sexta-feira (2) ser "muito contra" o uso de moedas comuns para estimular o comércio entre países. Segundo ele, essa seria uma ideia antiga para tratar de uma questão que não existe mais.
"Eu sou muito contra, mas sou só um banqueiro central", afirmou, em participação no Valor Capital's Crypto Workshop, organizado pelo Valor Capital Group.
Ele acrescentou que, com o avanço dos pagamentos digitais e digitalização de processos, não há necessidade de um moeda comum para ter eficiência comercial.
- Nesta semana, o presidente Lula propôs 10 temas para discussão entre os presidentes e representantes que participam da reunião da cúpula dos países da América do Sul.
- Um deles foi a criação de uma moeda comum para "reduzir a dependência de moedas extrarregionais" e ter mecanismos de compensação mais eficientes.
Campos Neto afirmou que houve duas tentativas de se criar uma moeda comum no comércio entre o Brasil e a Argentina, e disse que, em ambos os casos, posicionou-se contra a ideia.
"Tentei explicar para um oficial do governo e não podia usar termos muito técnicos, então disso que uma moeda comum é como uma criança com DNA do pai e da mãe. Isso significa que a união de duas moedas significa que a taxa de juros vai ser uma mistura desses dois países, uma mistura de duas inflações", declarou.
Campos Neto também declarou que o BC continua trabalhando para implementar o chamado PIX internacional. Disse, também, que acha possível conectar o PIX com o sistema Nexus - que está sendo desenvolvido pelo Banco de Compensações Internacionais (o Banco Central dos bancos centrais).
'Ministério de Soluções Digitais'
Para o presidente do BC, o governo deveria ter um ministro unicamente para cuidar das soluções digitais, o que, em sua visão, poderia ajudar em termos de inclusão e de redução dos custos dos serviços públicos.
"Sobre termos tantos ministros perto, e não temos um ministro sobre digital. Deveríamos ter um ministro digital, alguém pensando em soluções digitais", declarou Campos Neto.
Quando foi lançado o open finance em 2021, plataforma digital para que os clientes compartilhem dados bancários e históricos de transação para obter melhores preços em produtos e serviços bancários, Campos Neto disse que foi procurado pelo Ministério da Saúde para que fosse feito também um "open health" – que seria um sistema parecido para comparar cotações de planos de saúde.
"O fato de não termos pessoas no governo fazendo essas conexões, mostra que estamos distantes de sermos eficientes nisso", declarou Campos Neto.
Na avaliação do presidente do BC, os governos, com algumas exceções, como Índia e Cingapura, ainda são "muito analógicos".
Alexandro Martello, g1, 06/jun