segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Mercado imobiliário teme inflação, mas está otimista com futuro

Estudo indica que 74% dos líderes do setor acreditam que ambiente deve melhorar nos próximos 12 meses.

Na visão de líderes do mercado imobiliário brasileiro, a economia não deve mudar muito nos próximos meses. É isso que mostra o Termômetro Imobiliário, estudo realizado pela Brain Inteligência Estratégica, em parceria com o GRI Club, que ouviu empresários e profissionais de grandes companhias do setor.

Segundo a pesquisa, 61% esperam que a economia permaneça como está nos próximos 12 meses. Já 14% acreditam que ela estará pior ou muito pior, enquanto 23% antecipam que estará melhor. O movimento indica uma percepção de estabilidade para o setor, pois no último trimestre, 24% (-1%) dos respondentes esperavam um cenário melhor e 28% (-14%) esperavam um cenário pior.

Em contrapartida, os líderes do setor estão otimistas com o futuro do mercado imobiliário. A pesquisa indica que, apesar de não apresentarem tanto entusiasmo com a economia, para 74% dos respondentes, o segmento imobiliário deve melhorar nos próximos 12 meses.

O valor corresponde à soma de líderes que acreditam que estará muito melhor (2%) e melhor (72%). Enquanto 24% espera que o segmento se mantenha como está atualmente, apenas 2% acreditam que ele estará pior.

“Com a desaceleração da economia, seria natural que o otimismo com o mercado imobiliário também caísse, mas, na prática, ele aumenta. A estabilização da Selic ajuda a fomentar este cenário”, analisa Gustavo Favaron, CEO do GRI Club.

No entanto, ele entende que este otimismo deve apresentar uma queda no próximo trimestre. “A alta taxa de juros e o custo dos materiais vão refletir no preço”, aponta. “Além disso, a pesquisa foi realizada antes do anúncio das mudanças promovidas no financiamento imobiliário”.

No último mês, a Caixa Econômica Federal anunciou uma série de alterações nas regras para buscar financiamento. Entre as medidas, estão a definição do valor de compra ou venda ao limite de R$ 1,5 milhão e a redução nas cotas de financiamento para até 70% do valor do imóvel.

“Possivelmente, veremos uma desaceleração leve na velocidade de venda dos lançamentos, seguida por uma alta de preços. A demanda restringida para a aquisição de imóveis também pode fazer o preço dos aluguéis subir”, antecipa o executivo.

Expectativa para as empresas

Fato é que as iniciativas e o cenário positivo para os empresários devem impulsionar o setor imobiliário. Não à toa, 72% esperam resultados melhores para seus negócios nos próximos 12 meses, enquanto 16% esperam resultados muito melhores. De acordo com o estudo, 67% já estão atuando para investir ou ampliar os negócios, enquanto 33% aguardam para tomar decisões.

“O Governo Federal vem demonstrando de maneira efetiva o interesse em investir no Minha Casa, Minha Vida e o público de altíssimo padrão é muito resiliente, não sente as pressões de preço”, justifica Favaron. “A classe média é a que mais sente os efeitos da inflação. Isso deve fazer os empresários recalibrarem seus produtos”, indica.

Setores com oportunidades

Para 65% dos líderes imobiliários, as melhores oportunidades do setor estão no segmento residencial. Os galpões, segundo 58% dos respondentes, aparecem como o segundo setor com mais oportunidades, seguido de loteamentos (40%), infraestrutura (40%) e shopping center (23%). Em contraste, apenas 19% apontaram os escritórios e 7% os hotéis.

“O setor de escritórios não ser considerado um dos ativos mais importantes ou desejados do segmento ainda é reflexo da pandemia, examina Favaron. “Porém, a tendência é de evolução, pois já vemos um movimento expressivo de volta aos escritórios. Porém, um projeto de escritório percorre uma longa jornada para sair do papel e se tornar realidade. Assim, é possível vermos uma escassez no futuro”.

Principais dificuldades do setor

Apesar do bom momento e das altas expectativas, os empresários também precisam lidar com diversos obstáculos. E nenhum é tão marcante quanto os custos de produção, segundo 65% dos entrevistados. Processos de aprovação (44%) e acesso limitado a crédito e financiamento (42%) também se destacam entre as respostas apresentadas.

Já entre os fatores mais críticos, 93% dos líderes apontam a taxa de juros elevada como o principal deles, seguido do ambiente político-institucional do País. “As principais dificuldades do mercado imobiliário estão relacionadas à participação das autoridades no processo”, comenta Favaron. “Apesar de melhorias em diversas prefeituras, ainda é difícil aprovar um projeto no País”.

“O acesso limitado ao crédito e a taxa de juros alta também ajudam a desacelerar a economia e isso reverbera na confiança do consumidor em comprar um imóvel. Se o índice de confiança e os juros sobem, o valor da parcela dos financiamentos também sobe. E se o consumidor se sente inseguro, ele adia a compra do imóvel. É um ciclo”, aponta.

Estadão Imóveis, 04/out