segunda-feira, 31 de março de 2025
Chegada de novos moradores muda o perfil do Centro
Foram 13 empreendimentos lançados na região desde o início do Reviver Centro, o que significa mais de 2,8 mil novas unidades residenciais.
Passados quatro anos do lançamento do programa Reviver Centro, a região central do Rio continua ganhando novos empreendimentos residenciais e já recebe os primeiros moradores, transformando sua ocupação. Nos próximos 12 meses, seis mil pessoas passarão a viver ali e, até 2027, a previsão é que esse número seja duplicado, segundo dados do Sinduscon-Rio.
Desde a implementação da segunda fase do programa, em 2023, 47 projetos foram licenciados ou estão em processo de aprovação. Ao todo, 13 já foram lançados, o que significa mais de 2,8 mil novas unidades residenciais. De lá para cá, foram vendidas 2,24 mil unidades — 65% para moradores finais e 35% para investidores.
— A requalificação da região vai contribuir para reduzir os deslocamentos de 3,6 mil pessoas, com impacto no trânsito e no transporte público, promovendo uma cidade mais acessível e equilibrada — destaca o presidente do SindusconRio, Claudio Hermolin.
Segundo ele, a previsão é que sejam lançados no Centro cinco novos projetos até dezembro deste ano, totalizando mais de 1,8 mil unidades que levarão cerca de 9,5 mil moradores à região — que é a terceira da cidade com maior volume de lançamentos e vendas.
— Antes da pandemia, o sindicato identificou cerca de quatro mil imóveis vazios ou abandonados na região central, que tinha recebido apenas dois lançamentos residenciais nos cinco anos anteriores ao Reviver Centro, de maio de 2021. A região não figurava sequer entre os 15 bairros da cidade com mais lançamentos — informa.
Um dos cases de sucesso do Centro foi o Bueno Studios Lifestyle, na Rua Buenos Aires, que teve as 121 unidades vendidas em apenas 24 horas no ano passado. O projeto é um retrofit da Calçada Empreendimentos Imobiliários.
— A velocidade das vendas demonstra o sucesso dessas ações e reforça a crescente demanda por imóveis bem localizados e alinhados com a nova dinâmica urbana do Centro do Rio — ressalta João Paulo Mattos, presidente da construtora.
O retrofit do Sal Residencial é outro caso bem sucedido: está com 90% das unidades já comercializadas. O projeto é o primeiro da CTV na região, que pretende lançar, no segundo semestre, um condomínio de estúdios na planta, na Rua do Acre.
— Lançar projetos na planta no Centro do Rio é um desafio em função da escassez e do custo dos terrenos, além das restrições legais. Mas há espaço para soluções criativas com planejamento estratégico e inovador — explica Guilherme Mororó, diretor Comercial e de Marketing do Grupo CTV.
Pioneira no processo de reocupação do Centro, a Cury deve concluir neste ano as obras do Vargas 1140, na Avenida Presidente Vargas, segundo Leonardo Mesquita, vice-presidente da construtora, que apostou forte na Região Portuária nos últimos anos.
— Continuamos estudando novas áreas no Centro, mas é um desafio encontrar terrenos disponíveis com dimensões para comportar residenciais de médio ou grande porte e que não tenham impedimentos judiciais.
A Construtora Calper entrou na região por meio do programa Reviver Centro 2 e, no segundo semestre, deve lançar um projeto na Avenida Presidente Vargas e outra em Santo Cristo.
— O maior avanço do programa foi liberar a construção de unidades compactas, o que não era possível em mais de 40 anos — diz Ricardo Ranauro, CEO da Calper.
No final de abril, a RJDI Desenvolvedora e a W3 Engenharia vão lançar um residencial com estúdios e apartamentos de dois quartos no Bairro de Fátima. A empresa continua a estudar oportunidades na região, segundo o sócio Jomar Monnerat.
— O Centro tem atraído investidores, além de moradores finais. É possível que nos próximos anos a região tenha mais moradores que investidores — diz.
Legislação impulsionou os novos lançamentos
Para o mercado, ainda há espaço para melhorar a lei e dar novo impulso à região
O programa Reviver Centro e o novo Plano Diretor do Rio foram fundamentais para o avanço de novos empreendimentos na região central da cidade, segundo construtoras que têm negócios no bairro. No entanto, ainda há espaço para melhorias na legislação, de modo a impulsionar ainda mais a revitalização da área.
Guilherme Mororó, diretor Comercial e de Marketing do Grupo CTV — uma das construtoras que têm investido na região —, afirma que a região precisa contar com incentivos fiscais mais sedutores para atrair pequenos e inovadores negócios e se tornar um verdadeiro hub de empreendedorismo.
— É hora de expandir as oportunidades tanto comerciais quanto habitacionais, garantindo lares modernos e acessíveis para todos — defende.
Para o CEO da Calper, Ricardo Ranauro, há espaço para ajustes na legislação, especialmente em relação à metragem mínima das unidades residenciais. Segundo ele, o objetivo é atender uma gama maior de pessoas. Ele destaca que a legislação carioca determina o limite de 25 metros quadrados, enquanto a de São Paulo permite projetos com área de 15 metros quadrados.
— Flexibilizar esses parâmetros permitiria oferecer opções mais acessíveis para a população e alinhadas às novas tendências de moradia urbana — explica.
Extra, Morar Bem, 31/mar
sexta-feira, 28 de março de 2025
Projetos com ‘pegada rural’ conectam o carioca à natureza
A Região Serrana do Rio tem sido um refúgio para quem busca experiências diferenciadas no campo e quer ter um estilo de vida mais desacelerado.
O mercado imobiliário do Rio tem desenvolvido projetos com uma pegada rural para melhorar os níveis de integração dos cariocas com a natureza. São condomínios na Região Serrana do estado que oferecem uma "experiência no campo", incorporando práticas de plantio, colheita e produção de alimentos de forma artesanal à rotina dos residenciais. Todos ainda têm unidades disponíveis.
No Fazendas Secretário - que fica no bairro homônimo de Petrópolis e integra cinco fazendas -, a vivência no campo inclui desde passeios a cavalo até o acompanhamento do processo de produção de queijos, passando ainda pela colheita de frutas em um pomar com mais de 350 árvores e pela ordenha de vacas.
Desenvolvido em uma área de cerca de dez milhões de metros quadrados, o empreendimento será formado por sítios, chácaras, condomínios residenciais, hotel-fazenda, pousadas, clube de campo, centro esportivo, spa, horto-mercado, escola, centro cultural e de eventos, restaurantes e área comercial. O projeto foi desenhado antes da pandemia, mas foi justamente no período de isolamento social que o empreendimento deslanchou.
– O impacto desse tipo de experiência na rotina das crianças é incrível. Elas vão à horta e descobrem que a cenoura sai da terra e que o petit-pois não nasce em uma lata - brinca o arquiteto Mauro Otero, um dos idealizados do projeto.
O Vale do Douro, uma das mais famosas regiões vinícolas de Portugal, foi a inspiração para o Grupo STN criar o Quinta Portuguesa, que fica no município de Areal, a cerca de 100km da capital. O projeto é focado em um vinhedo, mas a experiência "mão na terra" passa pela plantação de oliveiras, outro segmento que os portugueses dominam.
– Os moradores poderão colher as azeitonas e produzir seu azeite caseiro. O projeto fica em uma região de natureza exuberante, que possibilita adotar um ritmo de vida desacelerado, com hortas em casa e frutas que podem ser colhidas no pé - conta o sócio do Grupo STN Danilo Santinon.
O empreendimento é formado por 121 lotes de 500 a três mil metros quadrados, com infraestrutura pronta, restaurante temático português com vista panorâmica de 360°, dois lagos " um para contemplação e outro para pesca " e paisagismo.
Cinco sentdos
O Quinta das Amoras, em Teresópolis, da incorporadora AreaUm, é outro condomínio que nasceu com a ideia de conquistar os clientes pelos cinco sentidos, buscando resgatar a conexão perdida com a natureza. Desde o lançamento do projeto, há ações no pomar com mais de cem espécies frutíferas, que objetivam levar o comprador a perceber texturas, sentir cheiros, apreciar gostos ou observar formas de frutas, além de ouvir o canto dos pássaros.
– Ali entendemos o valor de dar oportunidade às pessoas de estar em meio à natureza, mas também de colocar a mão na massa: plantar, colher, sentir o cheiro de terra molhada… Os clientes têm valorizado cada vez mais esses momentos - conta o sócio da AreaUm Victorio Abreu.
O empreendimento soma 204,4 mil metros quadrados, com 406 unidades de lotes e dez sítios. A infraestrutura de lazer inclui piscinas, sauna, quadras para múltiplos esportes, academia, pomar e espaços gastronômico e de convivência.
Um diferencial do Quinta das Amoras é o projeto Trilha dos Vaga-Lumes, que promove parcerias com agricultores locais e escolas do Vale Alpino, para fortalecer a herança rural, o espírito de comunidade e melhorar as condições de vida da população local.
O Globo, 28/mar
quinta-feira, 27 de março de 2025
Projetos das fachadas unem beleza e economia
No segmento econômico, as construtoras procuram aliar propostas esteticamente bonitas à viabilidade financeira.
Dos projetos simples e sem bossa para um design moderno e uso de materiais alternativos e mais sofisticados. As fachadas dos empreendimentos enquadrados no programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) tornaram-se um diferencial competitivo das construtoras, acompanhando as demandas do mercado e as normas técnicas que regem o setor. O objetivo é apresentar algo esteticamente bonito para o cliente sem comprometer a viabilidade financeira dos projetos.
A estratégia da Cury para as fachadas de seus projetos passa pelos revestimentos cerâmicos, pelas chapas metálicas perfuradas e pela madeira ecológica. As volumetrias diferenciadas, texturas e cores contrastantes criam fachadas mais atraentes sem aumentar significativamente os custos, segundo Cléber Augusto, gerente de Produto da construtora, que ainda destaca a iluminação cênica como tendência. Em alguns prédios do Porto Maravilha, a empresa contratou grafiteiros para fazer intervenções artísticas em partes das fachadas.
— Ao usar elementos mais sofisticados apenas no embasamento das fachadas, conseguimos reduzir a quantidade de material utilizado, tornando a solução mais viável financeiramente. Isso permite valorizar a estética do empreendimento sem elevar o custo da obra.
Bruno Camargo, diretor Comercial do Grupo CTV, diz que a empresa tem tradição em lançar empreendimentos com fachadas diferenciadas e usa elementos nobres na composição. Para cada projeto, a empresa contrata um profissional especializado para fazer o projeto criativo e de design da fachada.
— A fachada do Sal, na Região Portuária, une elementos art déco e contemporâneos; o Nobel, em Irajá, tem varandas em alumínio e vidro; e no Sunny, próximo lançamento no Engenho de Dentro, 100% enquadrado no MCMV, a fachada não terá cara de segmento econômica — adianta Camargo.
Leonardo Laurentino, diretor da Nivo Construtora, aposta no design contemporâneo e minimalista para projetos econômicos: fachadas simples, mas elegantes, que utilizem materiais mais acessíveis.
— Na linha econômica, a solução mais utilizada ainda é a textura. Acho difícil o uso em grande escala de outros materiais como revestimento em alumínio, vidro e madeira.
A Novolar procura fazer as fachadas de seus residenciais com paletas de cores estratégicas, que se alinham às tendências arquitetônicas atuais. Segundo Flavia Camêlo Freire, gerente de Projetos Executivos da construtora, as fachadas bem trabalhadas impactam diretamente a valorização do produto e a experiência do morador.
— A fachada causa a primeira impressão do empreendimento e, muitas vezes, é associada à qualidade e ao cuidado com o projeto. Portanto, é um fator de decisão de compra. Nos projetos econômicos, que em geral têm as áreas internas padronizadas, a percepção de valor vem do exterior. A fachada, vista como a identidade do empreendimento, é fundamental para criar uma conexão com o público — afirma.
Flavia explica que, mesmo com orçamento limitado, é possível usar cores, texturas e formas que reflitam a proposta do projeto, dando um ar de modernidade e despertando confiança no público. Ela cita o exemplo do Green Life, em Niterói, cuja fachada tem formas geométricas, esquadrias e gradis, elementos que tornam a fachada elegante a preços acessíveis.
A escolha das cores, segundo a gerente, deve privilegiar aquelas que combinem com qualquer entorno, como cinza claro e bege, ou os tons terrosos suaves, que dão um aspecto acolhedor e conectado à natureza. Já o branco e o off-white, combinados com detalhes contrastantes, ampliam visualmente o empreendimento. Texturas acrílicas, gradis metálicos e concreto aparente são muito utilizados, em sintonia com a tendência forte do design minimalista.
— O equilíbrio entre estética e funcionalidade garante um produto mais qualificado sem onerar a manutenção futura — diz Flavia.
Extra, 27/mar
Um passo além na escala da mordomia: condomínios terão central de serviços
Por meio de um aplicativo, moradores poderão solicitar de reserva em restaurante a atendimento em pet shop.
Residenciais que oferecem serviços variados, a partir da locação de seus espaços ou em parceria com empresas ou marcas, já fazem parte da paisagem de bairros como Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes, assim como aqueles que têm seu próprio polo comercial. Mas uma central reunindo dezenas de serviços, acessíveis sem que se precise contatar diferentes fornecedores, um por vez, promete criar um nível a mais na escala da comodidade. Dois novos empreendimentos em construção no Ilha Pura contarão com essa mordomia: bastará o morador abrir um aplicativo para contratar serviços como atendimento de beleza em domicílio ou pedir a um concierge que faça reserva num restaurante badalado.
A ideia é facilitar o acesso a instalações que já constam da planta do condomínio e ir além, concentrando serviços de terceiros cadastrados. O primeiro condomínio a oferecer a chamada central pay-per-use será o Elos, com previsão de entrega este mês. A data da implantação do sistema, porém, ainda será anunciada. O Astra, residencial que está sendo lançado neste fim de semana no Ilha Pura, com previsão para ocupação no primeiro semestre de 2026, também terá uma central pay-per-use. Os pedidos deverão ser feitos por meio de um aplicativo criado para tanto em cada um deles. O pagamento também será feito por lá.
O plano é estender a mordomia a outros condomínios do Ilha Pura. Talitha Ribeiro, gerente de incorporação do bairro planejado, diz que o objetivo é investir em todos os aspectos da vida do morador.
— O condomínio já tem uma boa gama de equipamentos, então como poderíamos ir além, agregando conforto e segurança? Pensamos no cuidado completo, no que se refere a qualidade de vida, lifestyle e segurança —diz.
No rol de facilidades, as centrais oferecerão serviços como aluguel de carro direto na garagem, lavagem do veículo a seco, faztudo, pet shop, limpeza do apartamento, concierge para reservas em restaurantes, solicitação de transfer, recebimento de encomendas, bufê para eventos, beleza em casa (cabelo, unha e maquiagem) e spa com massagem. Outros podem ser incluídos, como encomenda de flores e cestas e compra de ingressos para shows.
O condomínio Elos tem 680 unidades, sendo 40 delas duplex, com entre 86 metros quadrados e 126 metros quadrados, além de cinema, pet place, praça teen, minicidade, espaço piquenique, play kid, solário, wet play, churrasqueira, piscina de adulto, piscina infantil, bar na piscina, salão de beleza e spa com piscina indoor. Já o Astra terá 544 unidades, todas de dois quartos com suíte ou double suítes, variando entre 86 metros quadrados e 93 metros quadrados, além de instalações como coworking, academia, wine bar, brinquedoteca, lavanderia, minimercado, spa e pranchário.
O Globo, 27/mar
terça-feira, 25 de março de 2025
Privacidade ameaçada
Condomínios começam a discutir o uso de drones em suas dependências; invasão de intimidade é a maior preocupação.
Morador de um imóvel de três andares no condomínio de casas Village do Maciço, em Vargem Pequena, o aposentado Marlon Brito, de 62 anos, tem uma piscina na cobertura e, como o espaço fica fora do campo de visão da vizinhança, costuma aproveitar no local, sem preocupação, momentos com a mulher, a engenheira Andrea Lima, de 56. Num deles, no fim do ano passado, o casal foi surpreendido por um voo de drone sobre a área e se sentiu violado. Ele, então, fez o alerta no grupo do residencial e reclamou diretamente com o vizinho dono do equipamento. Conflitos do gênero, principalmente pela preocupação com a invasão de privacidade, têm se tornado comuns na região, sobretudo após a repercussão de um caso em São Vicente, no litoral paulista, onde uma empresária denunciou, em fevereiro, ter sido filmada por um drone quando estava nua, em casa.
— A princípio, esse morador começou filmando a natureza do bairro e colocando as imagens no grupo. Ninguém via maldade. Depois, começou a sobrevoar as casas, com a justificativa de que estava em busca de focos de dengue, com a autorização do síndico, quando isso não é o correto: se fosse o caso, deveriam ir às residências fazer essa fiscalização.
Até que fui surpreendido por esse drone enquanto estava na piscina. Corri até o meu celular, mirei para registrar e ele foi embora numa velocidade alta, sinal de que o dono sabe da ilegalidade que está cometendo. Disse no grupo que não concordo com a prática e fui até a casa do dono dizer o mesmo, numa boa. Não sobre a minha casa. Se acontecer de novo, vou bater na porta dele com a polícia —diz Brito.
O aposentado desconfia das intenções do vizinho.
— É uma invasão muito grande —observa. —Caso o drone dele tenha visto uma mulher pelada em alguma casa, como vamos ter garantia de que não filmou? Quantas famílias ele deve ter visto? O momento em que você está no seu lar é muito íntimo. Tenho para mim que ele guarda imagens muito particulares. No meu caso, detectei rápido, e o drone foi embora.
Morador do condomínio há dois anos, o servidor público estadual Domingo Cundines, de 54 anos, conta já ter sido importunado pela aeronave ao menos três vezes.
— Em todas as ocasiões, eu e minha mulher estávamos na piscina e nosso lazer foi interrompido pelo barulho ensurdecedor de um drone planando logo acima da nossa casa —narra. —Essa situação causa muita indignação nos moradores, que têm os seus direitos à intimidade e à privacidade violados. Alguns pensam até em recorrer à Justiça.
Para operar drones, o condutor precisa cadastrar o equipamento na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O órgão estabelece que a distância do aparelho não poderá ser inferior a 30 metros horizontais de pessoas não envolvidas e não anuentes com a operação. E que devem ser observadas outras regulamentações, como as referentes à inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas.
Especialista em condomínios, a advogada Fátima Gomes de Souza, também moradora do Village do Maciço, explica que os residenciais têm autonomia para permitir ou não o uso de drones e que o assunto deve ser debatido em assembleia:
— O síndico não pode dar autorização para um morador operar drone, porque isso envolve direitos alheios e individuais, protegidos por lei. Aqui, o síndico não só disse no WhatsApp que deu autorização ao dono do drone como o defendeu quando parte dos moradores se colocou contra o uso. A prática tem que ser aprovada em assembleia, para usos específicos. Se é uma vistoria, por exemplo, no mínimo os moradores devem ser avisados previamente sobre data e horário. E, ainda que o uso seja debatido e aprovado, é questionável, porque versa sobre o particular da pessoa. Se uma não concordar, pode processar.
A advogada avalia também que as regras atuais da Anac são generalistas e, por isso, o tema ainda vai gerar muito debate:
— As determinações é da distância mínima, mas não dizem que não se pode fotografar, por exemplo. As regras são mais para garantir a segurança, não para proteger a privacidade. Precisamos de uma legislação própria e mais robusta em relação aos condomínios, que estão se adaptando à medida em que vão surgindo os problemas.
O síndico do residencial, Fábio Barroso, nega ter autorizado o morador a operar o drone. Diz ainda que, por causa do conflito, vai convocar uma assembleia.
— Ele começou a fazer rondas para identificar possíveis focos de dengue por conta própria. Não pedi nada. Depois de algumas vistorias, falou que encontrou algumas piscinas escuras.
Autorização prévia passa a ser exigida
Em janeiro, sobrevoos de drone também foram alvo de reclamação de moradores no Riviera dei Fiori, na Barra, preocupados tanto com acidentes quanto com a preservação da privacidade. De acordo com Márcia Batalha, membro do conselho de síndicos, a pessoa responsável pela operação, que não foi identificada, insistiu com a prática ao longo de uma semana, até que a administração começou a divulgar nos grupos do condomínio que o uso do equipamento é proibido dentro do residencial. Um aviso com a determinação também foi afixado nos murais do empreendimento.
— Disfarçadamente, do nada, aparecia um drone rondando por aqui. Inclusive, uma vez eu quase dei uma vassourada em um que estava voando perto. Isso começou a incomodar muito, até porque não conseguimos descobrir de qual apartamento o aparelho estava decolando, embora existam algumas suspeitas — conta Márcia. — Aqui é um conjunto de sete torres: três de um lado e quatro de outro. E esse drone em questão estava decolando de algum desses quatro prédios, ia para o meio dos demais, passando perto das varandas, e depois ia para a área comum, onde há a piscina. É uma situação bem desagradável, e todos ficaram bem nervosos. Depois dos avisos, a pessoa parou.
A Cipa Síndica, que administra cerca de 1.300 condomínios no Rio, incluindo o Union Square, na Barra; o Vernissage, na Freguesia; e o Estrelas, em Curicica, começou a disparar para todos os moradores, na semana passada, por meio de seus canais digitais, um comunicado com as regras sobre o uso de drones nos residenciais, visando a segurança, privacidade e bem-estar, justifica. Os interessados em manusear o equipamento dentro dos condomínios precisarão de autorização prévia da administração, devendo formalizar a solicitação com antecedência mínima de 48 horas, informando data e horário. A operação só será permitida das 9h às 17h e em áreas determinadas no processo de autorização. O regulamento proíbe expressamente a captura de imagens de áreas privativas, como varandas e janelas.
A regulamentação veio após dois casos envolvendo drones em seus condomínios, ambos em dezembro passado. Num deles, no Vila Carioca, na Tijuca, um morador se sentiu lesado ao ver o aparelho sobrevoando a fachada sem saber ao certo o que o aparelho estava registrando. Ele, então, formalizou uma reclamação, alegando não se sentir confortável com os sobrevoos e pedindo providências da administração. No outro, no Union Square, a própria Cipa identificou um drone sobrevoando e, antecipando-se aos conflitos, fez uma campanha para informar os moradores sobre as regras.
— Essa regra de autorização prévia é nova e foi criada a partir de conflitos que aconteceram. Esse controle é uma forma de sabermos detalhes da operação e informamos aos demais moradores que, em determinado período, haverá um drone sobrevoando — pontua Bruno Gouvea, coordenador da Cipa Síndica. — Essa é uma situação recente, e os condomínios precisam começar a se resguardar.
Diretor da Administradora Nacional, que tem sob seu guarda-chuva residenciais como o Ventanas Nature Resort e o Villa do Golfe, ambos na Barra; e o Pontal Quality Green, o Praia Nova Sernambetiba e o Residenciais da Praia, no Recreio, Victor Tulli diz que o assunto tem surgido com mais frequência nas assembleias.
— É algo que começou a gerar mobilização no fim do ano passado e vem numa crescente desde o início do ano, com as pessoas procurando saber mais a esse respeito nas reuniões de condomínio. Isso se deve muito ao fato de os drones estarem se popularizando, tornando-se cada vez mais baratos e menores —analisa. —Em geral, os condomínios ainda não estão preparados, porque é um tema que exige conhecimento das normas, o que muitos síndicos não têm, mas a tendência é que fiquem cada vez mais capacitados para os problemas que possam surgir relacionados ao uso de drones.
O Globo, 25/mar
segunda-feira, 24 de março de 2025
Senna Tower: prédio residencial mais alto do mundo terá apartamentos de até R$ 200 milhões, em Balneário Camboriú
Construção terá 18 mansões suspensas e sistema para reduzir balanço causado pelo vento.
O Senna Tower, planejado para ser o prédio residencial mais alto do mundo com 500 metros, será erguido na orla de Balneário Camboriú. Com 228 unidades, incluindo mansões suspensas e apartamentos de até R$ 200 milhões, a construção contará com um sistema para reduzir o balanço do vento. A obra, que homenageia Ayrton Senna, deve ser concluída em 7 anos.
Planejado para chegar aos 500 metros de altura, o Senna Tower, que será erguido na orla de Balneário Camboriú, promete ser o maior prédio residencial do mundo. A obra só ficará pronta daqui há 7 ou 10 anos, mas os 228 apartamentos e mansões suspensas do arranha-céu já estão sendo negociados. Segundo divulgado pela construtura responsável pelo projeto, as unidades podem chegar a R$ 200 milhões.
"No total, serão 228, contando com 18 mansões suspensas de 420 a 563 m², 204 apartamentos de até 400 m², 4 coberturas duplex de 600 m², 2 mega coberturas triplex de 903 m² e 8 elevadores de ultravelocidade", acrescenta a construtora FG. A construção contará com um sistema chamado Mass Damper, que servirá para reduzir o balanço do prédio causado pelo vento.
Piscinas, academia, centro de bem estar, quadras, área de lazer e um observatório também farão parte do prédio, que contará com espaços abertos ao público. Inicialmente, a previsão da construtora era a de que a obra demoraria 10 para ser concluída. No entanto, com avanços tecnológicos no campo da construção civil, a empresa acredita que 7 anos serão suficientes para erguer o arranha-céu.
O nome do imóvel irá homenagear o piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna. O empreendimento é fruto de uma parceria da família de Senna com a FG Empreendimento e o Grupo Hang, dono da rede de lojas Havan.
Segundo Lalalli Senna, sobrinha do automobilista e responsável pelo projeto, o prédio "é inspirado na trajetória de superação de Ayrton Senna, simbolizando a ’Jornada do Herói’, a superação dos limites e a busca pelo ideal". A obra começou a ser idealizada em 2019.
Atualmente, o maior prédio residencial do Brasil também está localizado em Balneário Camboriú: o Yachthouse by Pininfarina Tower 2, com 294,1 metros. A cidade tem 8 dos 10 prédios mais altos do país. Atualmente, o edifício residencial mais alto do mundo é o Steinway Tower, em Nova York, com 435,3 metros, conforme o ranking internacional The Skyscrapper Center.
O Globo, 24/mar
sexta-feira, 21 de março de 2025
Preço foi o aspecto mais importante para quem buscou comprar imóveis, diz estudo
Viver em um bairro que seja seguro é o principal quesito quando o tema é localização para os compradores.
Se o preço do imóvel residencial no Brasil bateu recorte no ano passado, com a maior alta em 11 anos, os interessados em comprar propriedades avaliam como aspecto mais importante a faixa de preço acessível, sendo apontado como aspecto mais relevante para 98% das pessoas que pesquisaram por imóveis para compra em 2024, de acordo com pesquisa da 3ª edição do Anuário DataZAP, do Grupo OLX.
Entre as formas de pagamento, o financiamento imobiliário foi citado como principal (51%) forma de pagamento, sendo destaque entre as gerações Z e Y (77%), solteiros (60%) e indivíduos da classe B (57%). De acordo com o estudo, 42% dos entrevistados considerariam adquirir um imóvel enquadrado em programas habitacionais como Minha Casa Minha Vida e similares, mesma porcentagem daqueles que têm a intenção de pagar 100% do valor à vista.
A tipologia mais procurada, segundo o anuário, foi o apartamento padrão (43%), sendo mais comum entre compradores da classe A (58%) e moradores das capitais (50%). Na sequência estão as casas de rua (34%), preferência entre as gerações Z e Y (41%), aqueles que têm filhos (37%) e tutores de animais de estimação (41%).
Sobre o tamanho do imóvel, as unidades mais procuradas (41%) possuem tamanho entre 61 a 90 m², se destacando entre os mais jovens (48%) e interessados em apartamento padrão (50%). Já a metragem de 46 a 60 m² agrada mais compradores da classe C (37%).
As propriedades com 2 ou 3 quartos lideraram o ranking da quantidade de dormitórios, com 60% e 54% das escolhas, respectivamente. Unidades com uma vaga de garagem foram as mais procuradas, representando 54% das respostas, seguidas pelas que têm duas vagas (32%)
As características do imóvel (32%) foram a principal motivação de compra de unidades no ano passado, segundo o estudo, seguido de segurança da região (31%) e estrutura do imóvel (28%). Viver em um bairro que seja seguro é o principal quesito (97%) quando o tema é localização, além de ter a facilidade de comércios próximos à futura moradia (77%) e mobilidade (65%).
Perfil dos compradores
O Anuário aponta que, em 2024, o perfil médio da maioria das pessoas que buscaram por imóveis no ano passado foi de mulher, geração X (41 a 60 anos), casada, com filhos, classe B e tutora de pet.
Entre os que pesquisaram por imóveis à venda, 52% são mulheres e 48% homens, com destaque para a geração X, que representa a maior parte do público entrevistado, com 51%.
A maioria dos entrevistados (60%) é casado, mora junto ou têm união estável, e 65% têm filhos. O estudo também aponta que 59% pertencem à classe B, cuja renda domiciliar mensal tem mediana de R$ 7.512,54. O levantamento ainda mapeou a presença de pets nos lares, com 61% tendo animais, sendo 48% cães e 23% gatos.
Valor Investe, 21/mar
quinta-feira, 20 de março de 2025
Mercado financeiro americano atravessa momento que lembra 2008
O Brasil saiu rapidamente da crise de 2008, mas as lições que ela deixou deveriam ser levadas em conta.
Uma reportagem de The Wall Street Journal mostrou que o mercado americano de produtos financeiros lastreados em empréstimos, dívidas e financiamentos está em expansão. Vejo isso com preocupação, pois foram operações deste tipo os vetores da crise de 2008, uma das mais graves do nosso tempo e com consequências catastróficas.
Segundo o WSJ, o mercado destes títulos totalizou US$ 335 bilhões no ano passado. A reportagem foi a um evento de investidores e confirmou que a maioria deles acha que desta vez será diferente e continua a tomar este tipo de risco.
Em 2008, os EUA vinham de anos de juros baixos. Os bancos concediam financiamentos imobiliários a taxas baixas e sem exigir comprovação de renda, operações que ficaram conhecidas como empréstimos subprime. Resultado: os americanos passaram a financiar cada vez mais casas e o mercado imobiliário se expandiu.
Os bancos – muitas vezes sem o conhecimento de seus conselhos – criaram títulos lastreados nestas carteiras de empréstimos imobiliários. Investidores compravam estes títulos, confiando na força do mercado imobiliário.
Como contei em meu livro, Calma sob pressão, percebi algo errado quando fui a Nova York em 2007, como presidente do Banco Central. A motorista do carro que me apanhou no aeroporto era brasileira e contou que tinha duas hipotecas: usava o aluguel de uma casa para pagar as prestações da outra. Pensei: “Não tem como isso dar certo”. Pesquisas com os bancos confirmaram minha impressão.
Apesar de o Fed ter elevado os juros no último ano, manteve as taxas baixas durante alguns anos devido à pandemia.
Em 2008, os preços do mercado imobiliário estagnaram, a inadimplência cresceu e os títulos viraram pó. Alguns dos maiores bancos, como o Lehman Brothers, quebraram. O governo americano teve de injetar cerca de US$ 1 trilhão para salvar o mercado mundial.
Hoje, a situação tem certa similaridade. Apesar de o Fed ter elevado os juros no último ano, manteve as taxas baixas durante alguns anos devido à pandemia, o que levou ao ressurgimento deste tipo de investimento.
O Brasil foi afetado pela crise de 2008 porque os bancos americanos fecharam os canais de crédito internacionais que representavam cerca de 30% do total. Empresas brasileiras que apostaram que o dólar não subiria sofreram prejuízos enormes e provocaram uma crise quando o dólar disparou.
O mercado brasileiro só se acalmou quando, depois de mapear o tamanho do problema com bancos centrais de outros países, avisei que o Banco Central venderia até US$ 50 bilhões no mercado de derivativos naquele dia. O Brasil saiu rapidamente da crise de 2008, mas as lições que ela deixou deveriam ser levadas em conta.
Estadão, 20/mar
quarta-feira, 19 de março de 2025
Nos imóveis de médio padrão, sofisticação e sustentabilidade
Tijolos ecológicos e materiais sustentáveis e reciclados valorizam os empreendimentos.
No segmento de médio padrão, as fachadas também caminham rumo à sofisticação e à sustentabilidade. Bruno Oliveira, diretor Comercial e de Incorporação da Calçada, diz que o uso de materiais sustentáveis, como tijolos ecológicos e revestimentos reciclados, além da implementação de fachadas ventiladas, contribui para a valorização do empreendimento e atrai os consumidores mais conscientes.
— A viabilidade financeira dessas inovações exige planejamento estratégico e escolha inteligente de materiais e técnicas. O investimento em fachadas diferenciadas agrega valor ao imóvel, melhora a percepção do comprador e pode gerar uma vantagem competitiva no mercado sem comprometer a rentabilidade do projeto.
Monique Nunes, arquiteta da Avanço Realizações Imobiliárias, diz que a busca dos clientes é por algo inovador, diferente e exclusivo. Segundo ela, a empresa aposta em fachadas que unam minimalismo e personalidade.
— A tendência do momento é o uso de materiais que expressem refinamento, modernidade, aconchego e equilíbrio perfeito com os outros elementos que compõem as fachadas. E sempre se destacam aquelas soluções que corroborem com a preocupação global com o meio ambiente e a sustentabilidade.
Extra, 19/mar
terça-feira, 18 de março de 2025
Opinião: Retrofit é a chave para o futuro do imobiliário e das cidades
Elisa Rosenthal é diretora-presidente do Instituto Mulheres no Imobiliário.
O retrofit surge como uma estratégia eficaz para promover a modernização de construções antigas e obsoletas, sem comprometer suas características originais. É uma resposta possível para a revitalização dos centros urbanos brasileiros, que hoje enfrentam desafios significativos, como a degradação e ociosidade de edifícios históricos e a necessidade de soluções sustentáveis.
A prática combina sustentabilidade e valorização imobiliária, sem se desalinhar das demandas contemporâneas. Afinal, a modernização sustentável de edificações é crucial para atingir metas globais de redução de carbono.
Segundo o relatório Navigating Sustainable Retrofit in Real Estate, publicado pelo Barclays e pela consultoria Baringa, 80% dos edifícios que existirão em 2050 já estão construídos hoje. Portanto, adaptar essas estruturas aos padrões atuais de eficiência energética é essencial para diminuir a pegada de carbono do setor imobiliário.
O retrofit reduz a necessidade de novas construções, economizando recursos naturais e minimizando resíduos, além de permitir a implementação de tecnologias mais avançadas.
No Brasil, o retrofit tem ganhado impulso graças a iniciativas governamentais e incentivos financeiros. A Caixa Econômica Federal lançou recentemente uma linha de crédito específica para projetos de retrofit, facilitando o financiamento tanto da aquisição do imóvel quanto das obras necessárias.
Uma vantagem significativa dessa linha de crédito é a possibilidade de antecipação de até 50% do valor financiado, tornando viáveis projetos de grande porte.
Além disso, programas municipais, como o Requalifica Centro em São Paulo, oferecem incentivos fiscais e regulamentares para estimular a requalificação de prédios antigos.
Essas iniciativas buscam revitalizar áreas centrais, promovendo a ocupação desses espaços e atraindo novos moradores e empreendimentos.Edifícios obsoletos são transformados em espaços modernos e funcionais, como residências, escritórios e estabelecimentos comerciais, tornando os centros urbanos mais atrativos e vibrantes.
Entre alguns exemplos práticos deste movimento se destacam o Basílio 177, o Edifício Virgínia e o Edifício Renata.
Portanto, é notório que o retrofit contribui para a preservação do patrimônio arquitetônico e cultural das cidades, reduz a vacância imobiliária, melhora a segurança e dinamiza a economia local.
Apesar dos desafios técnicos e burocráticos, as oportunidades de valorização, sustentabilidade e rentabilidade tornam essa prática uma estratégia altamente atrativa para incorporadoras, construtoras e investidores.
É uma tendência que reflete a nova abordagem no desenvolvimento urbano: menos desperdício, mais eficiência e melhor aproveitamento das estruturas existentes. Com o apoio de iniciativas como as linhas de crédito da Caixa e programas municipais de revitalização, o retrofit se consolida como um pilar fundamental para o futuro das cidades brasileiras.
Estadão Imóveis, 18/mar
segunda-feira, 17 de março de 2025
Mesmo com juros altos, financiamento é primeira opção de compradores de imóveis
Pesquisa mostra que programas habitacionais, FGTS e recursos próprios também se destacam como instrumentos de acesso a casa própria.
O financiamento bancário é a modalidade preferida para quem sonha em comprar um imóvel no Brasil. Segundo um relatório da Loft, a opção foi citada por 36% dos entrevistados, logo à frente de programas habitacionais, como o Minha Casa, Minha Vida (35%).
De acordo com a pesquisa, o uso do FGTS (21%) e de recursos próprios (21%) também se destacam como opções relevantes para quem deseja comprar o próprio imóvel.
Entre as alternativas citadas pelos participantes estão ainda os empréstimos bancários (19%) e os consórcios imobiliários (16%).
A expectativa de Fábio Takahashi, gerente de dados da Loft, é que essas outras opções ganhem mais espaço em 2025, uma tendência justificada pelo aumento da taxa de juros no País.
Perspectiva de mudança
De fato, o ano de 2024 chegou ao fim com a Selic ajustada em 13,25% e a estimativa de chegar a até 15% em 2025. A Selic está atrelada às taxas cobradas pelos bancos em empréstimos, financiamentos imobiliários e até em fundos imobiliários.
“A sensibilidade do consumidor em relação ao juros é muito alta e mesmo que ele queira se endividar, em um momento de alta, os bancos costumam fechar a torneira do crédito”, observa Carlos Honorato, professor de economia da FIA Business School.
Desta forma, ele acredita que todos os segmentos devem sofrer as consequências do ambiente macroeconômico, não apenas o financiamento bancário. “Os juros altos, o risco de inadimplência e redução do acesso ao FGTS e Minha Casa, Minha Vida criam um cenário de dificuldades para quem pensa em comprar um imóvel”, acredita.
Desenvolvido em parceria com a Offerwise, o Índice de Confiança da Loft ouviu pessoas em Porto Alegre, Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro. Os entrevistados poderiam responder mais de uma resposta.
Estadão Imóveis, 17/mar
sexta-feira, 14 de março de 2025
Condomínios de luxo perdem tração, mas preços seguem firmes
Setor ganhou impulso com isolamento social e segue aquecido no pós-pandemia.
O setor de condomínios e loteamentos no interior ganhou impulso na pandemia, quando ter uma casa de campo era uma forma de ter uma vida mais livre, mas ainda relativamente protegida, e tudo indicava que o trabalho em escritório não voltaria a ser tão presencial quanto antes.
Passados cinco anos do início da pandemia, o estoque de lotes disponíveis para venda, em loteamentos abertos e fechados, no país caiu de 243,8 mil no terceiro trimestre de 2020 para 157,6 mil no terceiro trimestre de 2024, dado mais recente da Associação das Empresas de Loteamento e Desenvolvimento Urbano (Aelo).
No mercado de luxo, os quatro principais condomínios próximos à São Paulo - Fazenda Boa Vista, Quinta da Baroneza, Fazenda da Grama e Haras Larissa - tiveram alta de procura e de preço, tanto por lotes quanto por casas prontas, afirma Marco Túlio, CEO da imobiliária Esquema Imóveis.
Ele explica que a pandemia igualou a liquidez entre os condomínios de alto padrão, favorecendo a venda daqueles que eram menos requisitados. “Cada um no seu valor, claro”. O Fazenda da Grama, por exemplo, era mais difícil de vender, segundo ele, mas se transformou com a pandemia e a piscina para surfe inaugurada em 2021. O mesmo vale para o Haras Larissa. “A pandemia reviveu esses condomínios”, diz. Boa Vista e Baroneza, já muito procurados, só subiram.
A situação não é mais a mesma. Embora o preço não tenha caído na mesma proporção que subiu, as vendas estão mais lentas e novos competidores nesse mercado de condomínios de luxo podem ter dificuldades. “Começou uma febre de inaugurar outros condomínios, que agora têm dificuldade para vender”, diz Túlio. “Esse mercado não é tão gigantesco assim.”
Irapuã Dantas, responsável pela área de ‘real estate’ da gestora CVPar, que também desenvolve casas em condomínios paulistas e em bairros ricos de São Paulo, afirma que houve o “efeito de manada” tão comum na construção civil. “Fazer casa no Boa Vista, no Baroneza, era o que dava dinheiro, aí começa uma superoferta”, afirma. Segundo ele, houve queda do preço do terreno - lotes que chegaram a R$ 2,5 mil m2 no Baroneza hoje custam R$ 1,7 mil m2, mas o valor das casas estagnou.
O trabalho híbrido ainda permite o movimento pêndulo entre casas no interior e na capital. Segundo a CCRCotação de CCR, que tem a concessão das rodovias Castello Branco, Bandeirantes e Anhanguera, principais ligações da capital com o interior, a pandemia e o trabalho híbrido, “bem como a migração de população para municípios do interior do Estado, alterou o comportamento dos clientes nas rodovias”.
Dados da empresa mostram que o horário de pico do trânsito na chegada à capital agora é mais longo de quarta e quinta-feira, dias mais intensos de trabalho presencial, do que de segunda e terça-feira. De quarta e quinta, vai das 6h às 12h, contra das 6h às 10h no início da semana. Às sextas, o movimento é similar ao de quarta e quinta, mas com “horário de maior movimento ligeiramente menor”, diz a empresa, em nota.
Para Beto Horst, sócio-diretor da loteadora Lote5, os empreendimentos no interior surgiram como um escape à sensação de violência e à poluição da capital, ao mesmo tempo em que têm logística melhor do que os destinos de praia, por causa do trânsito para entrar e sair da cidade.
Sua empresa se concentra em projetos para a classe média, para quem já vive nessas cidades do interior paulista ou deseja migrar para lá. Segundo ele, os preços de lotes para condomínios e loteamentos desse padrão ficaram mais “perenes” durante a pandemia e depois dela, diferentemente do setor de luxo. “Foi um momento de desespero da pandemia”, diz. “Aquilo não foi normal e criou preços artificiais”.
A velocidade de venda dos projetos da empresa tem respondido bem. Foram 14 loteamentos lançados desde o fim de 2020, que estão 79% vendidos, em média.
Caio Portugal, presidente da Aelo, afirma que a maior região em produção de loteamentos tem sido a de Campinas (interior de São Paulo). A cidade, de 1,1 milhão de habitantes, esteve com a aprovação de novos condomínios “engessada” por questões da prefeitura, o que estimulou esse mercado nos municípios no seu entorno. “Americana, Santa Bárbara D’Oeste, Sumaré, Monte Mor, Paulínia, Indaiatuba, todas tiveram crescimento horizontal, em detrimento de Campinas”, diz.
O setor ainda atrai novos competidores, de olho no desejo de fuga da cidade da classe média alta. A construtora Libercon, que faz projetos comerciais e residenciais, está estruturando uma área de loteamentos. Caio Rocha, diretor de incorporação, diz que há terrenos em tratativas avançadas. A empresa quer atuar nas regiões de Campinas, Bragança Paulista e Sorocaba, com foco em clientes com renda a partir de R$ 35 mil mensais.
Para ele, a concorrência no setor não é um problema, por ser muito pulverizada. “Têm poucos ‘players’ grandes e muitos pequenos, que vivem de dois loteamentos”, diz, e a demanda segue aquecida. “Todo fim de semana, formam-se grandes avenidas nas estradas, e o paulistano sai [da cidade]”, diz Paulo Liberatore, diretor administrativo da empresa.
Companhia por trás do Fazenda Boa Vista, a JHSFCotação de JHSF continua investindo no segmento, via expansões do seu complexo, que fica em Porto Feliz (110 km de São Paulo). “A procura por empreendimentos de campo não arrefeceu com o fim da pandemia”, disse, em nota, o CEO Augusto Martins.
O Fazenda, lançado em 2007, foi sucedido pelo Boa Vista Village, em 2019, e Boa Vista Estates, em 2021. Na pandemia, a empresa também começou a investir em casas prontas para locação, nesses condomínios. “As residências são entregues mobiliadas, decoradas e com enxoval completo e contam com concierge 24 horas por dia”, disse o executivo. Essa vertical, que também inclui o clube do grupo, gerou R$ 67,9 milhões em receita para a JHSF de janeiro a setembro de 2024, quase 9% da receita líquida consolidada no período.
Túlio, da Esquema Imóveis, ressalta que pessoas que nunca haviam morado em uma casa, ou pelo menos não após deixar a casa dos pais, e experimentaram isso na pandemia não querem voltar para apartamentos, ainda que tenham de viver nos grandes centros. Por isso, a procura por casas em São Paulo também cresceu, em bairros como Jardim Guedala e Cidade Jardim.
Valor Econômico, 14/mar
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