terça-feira, 19 de março de 2019

Nasce em Nova York o maior empreendimento imobiliário da história, por US$ 25 bilhões


Nova York ganhou nesta sexta-feira um bairro. Em Manhattan. E por ser Nova York, e por ser Manhattan, o Hudson Yards já se tornou o maior empreendimento imobiliário privado da história americana. E consequentemente o maior da história da humanidade. São 113.300m² de terreno abrigando escritórios, lojas icônicas e de luxo, múltiplos endereços de comida badalada, uma praça ao ar livre, escola, hotel e um edifício multiarte coexistindo com prédios residenciais (cheque preços aqui). Related Companies e Oxford Properties Group, as corporações por trás da operação, construíram uma área de US$ 25 bilhões de dólares a partir do zero. Para o The New York Times, “são magnitudes de cair o queixo e você não vai entender até que esteja lá”.
Entender Hudson Yards da melhor maneira é combinar grandes espaços + diferentes interesses = para (quase) todos os públicos. O lado residencial, o espaço público, o segmento de artes, o shopping, a gastronomia. Enfim, cada canto do bairro está integrado e cria conexões. Ao ser concluído o novo bairro terá 16 novos edifícios, incluindo cerca de 4.000 novos apartamentos, uma escola pública para 750 alunos, um hotel exclusivíssimo a ser aberto em junho – o primeiro da rede fitness Equinox, que entra no ramo da hotelaria – um parque e escritórios para mais de 55.000 empregos. Usar lá (para se hospedar, comer, fazer compras) será mais comum que trabalhar lá. E ainda mais comum que morar lá. De toda forma, um dos espaços mais democráticos vai ser, sem dúvida, o edifício The Shed, um centro de artes e performances que será inaugurado dia 5 de abril.
THE SHED
Projetado para ser transformado fisicamente de acordo com a agenda. Sim, é uma espécie de caixa de encaixes, mas isso numa edificação cujo prédio base tem oito andares (vídeo) e parte tem megatrilhos deslizantes para fazer o galpão frontal se mover e se adaptar de acordo com as necessidades dos eventos. O prédio, projetado pelo escritório Diller Scofidio + Renfro, pode ser acessado no nível da rua sem que as pessoas entrem no bairro. “O edifício pode se transformar fisicamente de acordo com a visão dos artistas e o trabalho que eles criam”, disse à Fast Company o diretor da The Shed, Alex Poots. “Ele pode se transformar em um ambiente cheio de luz ou completamente preto.” Nas performances podem ser acomodadas 1.250 pessoas sentadas – ou mais de 2.000 pessoas em pé.
Vessel
O The Shed concorrerá fortemente com o Vessel. Uma torre de 46 metros de altura destinada a propiciar um mosaico de vistas de Manhattan. Como se fosse ujma gigantesca escada em espiral com 154 lances, 80 plataformas e 2.500 degraus as interconectando tem a pretensão de ser um marco turístico para a cidade. Esta obra de arte interativa foi imaginada pelo escritório Heatherwick Studio, do londrino Thomas Heatherwick. As pessoas poderão descobrir novas perspectivas da cidade de diferentes alturas, ângulos e pontos de vista. Heatherwick vê isso como uma extensão da High Line, o parque público elevado que termina na Hudson Yards. “Nós pensamos: ‘E se tivéssemos um espaço público no ar?’ ”, disse à Fast Company. Ele também queria que a peça fosse interativa para os visitantes. “Queria algo realmente físico, onde você pudesse usar seu corpo. Não é apenas algo que você olha.” O projeto custou US$ 150 milhões.
Escritório e varejo
Duas torres de escritórios, a 10 e a 30, foram projetadas pelos arquitetos da Kohn Pedersen Fox. Na primeira, haverá sedes de empresas de classe mundial, como L’Oréal e SAP. A torre mais elevada, a 30 Hudson Yards, abriga empresas como Time Warner e suas subsidiárias HBO, CNN e Warner Brothers e a mais alta plataforma de observação ao ar livre da cidade de Nova York. O deck no 100º andar será ainda a maior área de observação artificial ao ar livre no hemisfério ocidental, e a quinta mais alta do mundo.
Entre as duas torres estará o The Shops e Restaurants at Hudson Yards. Um dos principais destinos de moda e gastronomia da cidade. O centro de varejo terá uma coleção de marcas de primeira linha e mais de 100 lojas, incluindo a primeira Neiman Marcus de Nova York – além de Cartier, Dior, Gucci, Fendi… A de Marcus terá tecnologia em seus provadores e espelhos para ajudar os compradores a encontrar o ajuste perfeito. O centro também reunirá alguns dos 25 restaurantes do novo bairro, incluindo um do chef Thomas Keller e um Momofuku, de David Chang. O chef espanhol José Andres e os irmãos Adrià (por trás do célebre restaurante El Bulli) abriram um mercado que celebra tudo o que acontece na gastronomia da Espanha.
Haverá carrinhos de compras digitais que permitem aos consumidores comprar itens em lojas para entrega mais tarde, e monitorar seus hábitos de compra. Assim que as pessoas acessam as redes wifi do Hudson Yards seus movimentos e compras serão rastreados e podem ser enviadas ofertas direcionadas, anúncios ou descontos para lojas e restaurantes. “Você vai andar na High Line (o tradicional parque elevado ao lado de Hudson Yards) e haverá algoritmos nos dizendo com quem você compra e você receberá e-mails direcionados e anúncios em mídias sociais”, disse à Fast Company o especialista em varejo Esty Ottaleser.
O parque
O local de encontro mais popular do West Side, a Public Square and Gardens, é o coração de Hudson Yards. Entre as visitas a The Shops & Restaurants, ou de ida e volta para o trabalho, o espaço foi feito para a convivência. Como diz o site oficial do Hudson Yards, “a maioria dos parques tem árvores e flores e sombra, o nosso tem motores a jato – e raízes super-refrigeradas e o chamado inteligente”. O espaço está sobre plataformas que cobrem um antigo pátio de trabalho com 30 trilhos de trem, três túneis ferroviários e o novo túnel que ligará Hudosn Yards à Penn Station. Os jardins de 20.200m², projetados por Nelson Byrd Woltz, têm mais de 28.000 plantas e 200 árvores nativas do estado de Nova York que foram cultivadas em Nova Jersey por quatro anos antes de serem replantadas.
Para fazer o espaço parecer maior, o arquiteto líder Thomas Woltz fez a pavimentação da praça ir de prédio em prédio em vez de limitá-las com meio-fios e calhas. E para manter o solo propício para as árvores e permitir que elas cresçam até a altura máxima, apesar de estarem sobre um pátio ferroviário, um sistema alimentado por 15 ventiladores usados em motores a jato resfria os trilhos abaixo e circula líquidos de resfriamento através de uma rede de tubos para proteger as raízes. A estrutura também prevê aproveitamento de água da chuva, que será coletada em um tanque de 60 mil litros e usada para irrigar as plantas, economizando 6,5 megawatts-hora de energia.
Energia própria
Um espaço desse porte precisa de precauções relacionadas à energia. Hudson Yards terá suas próprias estações de cogeração para aumentar a eficiência energética ao produzir calor e eletricidade ao mesmo tempo, e mais 1,2 MW de microturbinas a gás que geram energia para manter os serviços, incluindo abastecimento residencial, mesmo no caso de interrupção no fornecimento de energia. Isso é crucial, já que a Hudson Yards fica ao longo do rio Hudson, que inundou em 2012 e isso deve voltar a acontecer com o aquecimento global e as alterações climáticas.
Uma questão levantada pela imprensa americana é sobre o impacto urbanístico que megaprojetos desse porte podem provocar. “Sentado a 7,5 metros acima do nível da rua, o bairro pode parecer um playground para os ricos, com lojas de luxo, monitoramento dos visitantes por wifi e apartamentos a partir de US$ 1,95 milhão”, questiona a Fast Company. “O Hudson Yards será o exemplo do que qualquer cidade desejará ter. É o que Nova York deveria ser”, disse Stephen Ross, o bilionário presidente da Related Companies, uma das gigantes por trás do projeto. “Mas o resto de Nova York concordará?”, pergunta a publicação.
Na mesma linha foi o The New York Times. De acordo com o jornal, para os defensores do Hudson Yards, “o projeto passou pelos processos de revisão pública e ambiental, ganhando a aprovação da vizinhança, em parte porque na época parecia melhor do que uma proposta anterior de erguer um estádio esportivo no local, e em parte porque foi concebido quando Nova York ainda temia por seu futuro econômico e defasado, em termos de espaços de escritórios Classe A, atrás de concorrentes globais como Londres.” O jornal também indaga: “É esse o tipo de bairro que Nova York merece?”. Se sim ou não, desde sexta-feira é sem volta.

IstoÉ, 17/03/2019