quinta-feira, 29 de agosto de 2019
Setor de construção tem primeira alta após 20 trimestres de queda
O setor de construção subiu 2% no segundo trimestre de 2019 ante igual período do ano passado, após 20 trimestres consecutivos de queda nessa base de comparação, segundo dados divulgados na manhã desta quinta-feira pelo IBGE. O reaquecimento das obras impulsionou os investimentos, que avançaram 5,2% em relação ao segundo trimestre do ano passado.
A construção civil é apontada como um bom termômetro para investimentos e emprego, pois mobiliza muita mão de obra. O motor desse segmento costuma ser um misto de ganho de renda da população, confiança do empresariado e das famílias de que dias melhores virão e investimento público, cada vez mais restrito.
Segundo o IBGE, o setor foi impulsionado pela alta de 10,7% no crédito para financiamento habitacional, o que acabou ampliando a abertura de vagas. O número de pessoas empregadas no setor avançou 0,9% no segundo trimestre.
A economia brasileira cresceu 0,4% no segundo trimestre ante os três primeiros meses de 2019, consolidando o quadro de estagnação que o país vive nos últimos anos. Frente ao mesmo período do ano passado, a alta ficou em 1%.
Analistas consultados pela Bloomberg esperavam expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,2% frente ao primeiro trimestre e 0,5% contra o mesmo período de 2018, quando houve a greve dos caminhoneiros que parou o Brasil e fez o PIB encerrar o ano com alta de apenas 1,1%.
Apesar da recuperação, a economia brasileira está no mesmo patamar de primeiro trimestre de 2012 e 4,8% abaixo do pico de produção anterior à crise, no primeiro trimestre de 2014.
O Globo online, Cassia Almeida e Pedro Capetti, 29/ago
quarta-feira, 28 de agosto de 2019
'Lição da crise é repensar seus modelos e forma de atuação'
O tombo do mercado imobiliário desde o início da crise econômica fez as empresas repensarem seus negócios e estruturas. A Brasil Brokers, que detém 22 imobiliárias em 11 Estados brasileiros, foi uma delas. Atualmente a empresa representa metade do que era antes da crise em termos de custo operacional e de pessoal. "Hoje temos uma estrutura mais enxuta", afirma o presidente da companhia, Claudio Hermolin.
Ele conta que, como as demais empresas do setor, a Brasil Brokers sofreu com a crise. O volume de vendas diminuiu, o ticket das unidades caiu e as comissões - que são as receitas da empresa - desabaram. "Foi uma tempestade perfeita num momento em que o mercado estava com volume de lançamentos e de vendas muito elevado. O tombo foi grande."
Nesse cenário, o executivo diz que a saída foi rever os processos, a estrutura e a estratégia de atuação. "Em momentos de euforia, temos poucas possibilidades para repensar o negócio porque a velocidade de venda é tão grande que não há tempo para parar e pensar se o que está sendo feito é o melhor. A grande lição que as crises trazem para as empresas é a possibilidade de repensar seus modelos e a forma de atuação."
No auge da crise, entre 2016 e 2017, ele decidiu criar um novo plano para deixar a empresa menos sensível aos ciclos do mercado imobiliário, com a diversificação das receitas do grupo. Segundo Hermolin, os movimentos nos mercados de incorporação, aluguel de imóvel ou vendas avulsas são diferentes e podem representar ganhos para quem tiver bem posicionado.
Na crise, como os preços tendem a cair, o mercado de locação pode ficar aquecido; mas quando o aluguel sobe, a compra de imóvel pode ficar mais vantajosa, explica o executivo. "Essa não foi a primeira nem a última crise que o mercado viveu. Então temos de aprender e nos preparar para as próximas."
Novos negócios - Na linha de diversificação, a Brasil Brokers criou a Credimorar, uma plataforma de crédito imobiliário, responsável por 5% dos empréstimos no País. Segundo Hermolin, só neste ano, a empresa concedeu mais de R$ 1 bilhão em crédito imobiliário. "Em 2017, a empresa não existia e hoje já representa 35% da receita do grupo."
Outro negócio que ganhou impulso na Brasil Brokers foi a Primais, uma empresa voltada para grandes operações, como a venda de prédios, shoppings e galpões logísticos. Depois de uma série de mudanças e investimentos, a companhia, que no passado contribuía com 5% das receitas, hoje é responsável por 15% do faturamento. "Colocamos mais executivos e reestruturamos o modelo de negócios que antes era focado em shoppings. Isso deu resultado." Em 2019, diz o presidente do grupo, ela fez mais de R$ 700 milhões em negócios.
Hermolin afirma que, com a estrutura mais enxuta, tem conseguido reverter os resultados negativos. "No momento, estamos no break even operacional. Ou seja, geramos caixa para pagar a operação. Mas ainda não temos lucro. Esse é o nosso próximo objetivo."
O Estado de S. Paulo online, Renée Pereira, 27/ago
terça-feira, 27 de agosto de 2019
Alta de 96% em lançamentos marca retomada do mercado
O Brasil teve em abril, maio e junho de 2019 uma grande tendência de crescimento. O número de lançamentos de imóveis residenciais subiu 96% no Brasil no segundo trimestre de 2019 em relação aos três meses anteriores, segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), que divulgou nesta segunda-feira (26), em São Paulo, a mais recente rodada dos Indicadores Imobiliários Nacionais. Também foi registrada alta de 11,8% em comparação com o mesmo período de 2018 (2º trimestre).
A constatação foi feita pelo presidente da CBIC, José Carlos Martins, e pelo vice-presidente de Indústria Imobiliária da CBIC, Celso Petrucci. O estudo 'Indicadores Imobiliários Nacionais', faz parte de um projeto da Comissão de Indústria Imobiliária (CII) da CBIC, que conta com a correalização do Serviço Nacional de Aprendizagem Nacional (Senai Nacional).
Somente no Sudeste do país, o aumento nos lançamentos foi de 209,5% na comparação entre os dois trimestres deste ano. Enquanto as empresas da região colocaram no mercado 6.799 casas e apartamentos entre janeiro e março deste ano, os lançamentos alcançaram, entre abril e junho, 21.044 unidades habitacionais - alta também de 35,5% em comparação com o segundo trimestre do ano passado, quando foram registrados 15.536 novos imóveis.
2º Trimestre de 2019 x 2º Trimestre de 2018
- Os lançamentos apresentaram um aumento de 11,8%
- As vendas também apresentaram um aumento de 16%
- A oferta final apresentou uma queda de 8,7%
O número de vendas de imóveis residenciais novos subiu 22,9% (32.813) no Brasil no segundo trimestre de 2019 em relação aos três meses anteriores (26.708). Também foi registrada alta de 16% em comparação com o mesmo período de 2018.
Já no Centro Oeste do país, a alta relativa foi de 40,4% entre os dois trimestres deste ano. Enquanto os consumidores da região compraram 2.263 casas e apartamentos entre janeiro e março deste ano, as vendas alcançaram, entre abril e junho, 3.177 unidades habitacionais - alta também de 22% em comparação com o segundo trimestre do ano passado, quando foram registradas 2.605 aquisições imóveis.
"O mercado está em um grande momento e poderá ficar ainda melhor", afirmou Martins, sobre a pesquisa que reúne dados de 23 cidades e regiões metropolitanas de todo o país.
Já Petrucci explicou a queda nos números da oferta final, ou do estoque de imóveis novos, que já chegou a ser de 21 meses e agora está em 11 meses. "Quando a gente olha os últimos dois anos, os números estão muito parecidos. Há uma tendência clara no aumento dos lançamentos e de vendas. Entretanto, os lançamentos ainda não estão adequados à venda, por isso temos o estoque em queda", informou o presidente da CBIC.
Uma oferta final menor, de 8,7%, em relação ao mesmo trimestre de 2018, pode ser um dos motivos que levaram ao crescimento real do valor de venda de 8% para os imóveis novos em comparação com o Índice Nacional da Construção Civil (INCC), segundo Petrucci.
Emprego e nova modalidade de crédito sinalizam recuperação para a construção civil
Celso Petrucci destacou o impacto dos lançamentos e das vendas na geração de empregos no segmento. "Depois de cinco anos de PIB [Produto Interno Bruto] negativo na construção civil, estamos percebendo também no emprego, pela primeira vez, essa reversão de expectativa negativa. Em 2019, de abril a junho, já estamos com mais vagas criadas que nos 12 meses de 2018", disse o vice-presidente, ao lembrar os dados mais recentes do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia. "O setor da construção foi um dos setores que mais empregou. Isso, em parte, é resultado de novas obras, que refletem seu crescimento na empregabilidade", afirmou.
Para ele e Martins, a nova modalidade, que terá como referência o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), vai aquecer o mercado, além de garantir mais segurança para o empresário e para o consumidor investirem, movimentando o mercado e o aumentando o número de postos de trabalho.
"O IPCA é uma revolução. O mais importante do IPCA é o futuro. Vai haver impacto imediato sim, mas o fundamental é que vai se criar um mercado competitivo na concessão do crédito", disse Martins. "Acredito que possamos ter um crescimento de 10 a 15% do mercado, se as previsões com a contratação com IPCA e outras medidas se encaminharem. O setor é uma saída para a recuperação econômica, já que responde rapidamente em termos de empregabilidade para o país", complementou Petrucci.
Informe CBIC, Notícias, 26/ago
segunda-feira, 26 de agosto de 2019
Crédito imobiliário indexado pelo IPCA vai estimular a concorrência entre os bancos
A nova modalidade de crédito anunciada pela Caixa Econômica Federal na terça será corrigida pelo IPCA, o índice oficial de inflação do país. Os juros nesse tipo de financiamento habitacional serão mais baixos em relação ao modelo tradicional. A nova linha de crédito valerá para imóveis residenciais novos e usados.
A taxa mínima para imóveis residenciais enquadrados será de IPCA mais 2,95% ao ano. A taxa máxima será de IPCA mais 4,95% ao ano. A projeção é que o IPCA feche este ano em 3,76%. As taxas valem para novos contratos e já estarão vigentes a partir de amanhã.
O prazo do financiamento - que hoje pode chegar a 35 anos - será mais curto, de no máximo 30 anos. O comprometimento de renda, ou seja, o valor da prestação, que pode atingir 30% do salário hoje, também será menor, de 20%. A cota do financiamento será de 80% do valor do imóvel. Atualmente, pode chegar a 90%.
Quem tem recursos no FGTS também poderá usar o dinheiro para dar como entrada na compra de um imóvel de até R$ 1,5 milhão. Essas taxas não são válidas para o Minha Casa, Minha Vida, que cobra juros mais baixos.
Para Claudio Hermolin, presidente da Ademi-RJ e CEO da Brasil Brokers, criar mais uma modalidade de financiamento imobiliário pode ser algo bem positivo.
- Vai estimular a concorrência entre os bancos e forçar a queda dos juros, o que é benéfico para o consumidor. Caso os bancos privados aceitem aderir ao novo cálculo, maior será a concorrência e menores serão os índices. A medida vai mexer com o mercado, provocando, já num primeiro momento, o aquecimento no segmento de usados e também na redução dos estoques - afirma Claudio.
FGTS: lojas aguardam o saque para obras
A medida provisória publicada em 24 de julho trouxe mudanças para o saque do FGTS . Entre elas, está a criação da modalidade de saque-aniversário, que estará disponível a partir de 2020 (e tem suas próprias regras e valores) e, ainda neste ano, um saque imediato de até R$ 500 por conta ativa ou inativa.
Os calendários variam, sendo a partir de 13 de setembro para correntistas da Caixa e, para os demais, de outubro em diante.
Os valor é baixo mas, ainda assim, há a expectativa de que estimule reformas residenciais em geral e, até mesmo, a quitação de contas atrasadas. Se o trabalhador tiver duas contas de FGTS, poderá receber R$ 1 mil. Em uma família, o valor pode subir para R$ 1.500 ou R$ 2 mil, dependendo da quantidade de contas e moradores.
A rede de varejo de materiais de construção Disensa espera aumentar as vendas com produtos usados em reformas. Tanto que já planejou suas ações de marketing para o fim do ano, dirigidas ao público que pretende usar o "dinheiro extra".
- Com a antecipação do FGTS, acreditamos que o aumento das vendas voltadas a reformas de fim de ano acontecerá mais cedo. Pensando nisso, intensificaremos as promoções nos próximos meses com a realização de festivais mensais focados nas categorias de pintura, hidráulica, acabamentos e iluminação - adianta Natália Cid, gerente geral de varejo da Disensa no Brasil.
Segundo ela, a empresa prevê ainda fechar o segundo semestre deste ano com um crescimento de 20% em relação ao mesmo período do ano anterior.
A rede Construmais também tem boa expectativa de vendas para este semestre, em comparação ao mesmo período de 2018, por conta dos saques do FGTS.
- Estamos sempre com campanhas em nossas lojas e em nosso site para que o cliente possa reformar. E acreditamos que os R$ 500 que serão liberados das contas do FGTS darão mais oportunidades de o cliente terminar ou começar aquela reforma tão desejada - comenta Iuri Russo, diretor da Construmais.
Extra, Geralda Doca, 25/ago
sexta-feira, 23 de agosto de 2019
Aposta do BC, crédito garantido por imóvel ganha espaço no Brasil
Com uma combinação de taxas de juros em queda, incentivos do Banco Central (BC) e lições deixadas pela crise econômica, o crédito garantido por um ativo imobiliário, chamado de "home equity", entrou no radar de fintechs e dos bancos no Brasil. Grandes instituições financeiras têm reforçado a oferta do produto aos clientes, com redução de taxas, enquanto as startups ampliam o volume de recursos para a modalidade.
O mercado brasileiro de home equity soma R$ 9,5 bilhões, segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Em 2017, o estoque era de R$ 12 bilhões, mas encolheu junto com o mercado brasileiro de crédito como um todo. Neste ano, porém, a produção mensal voltou a crescer.
Ainda está bem distante do potencial, levando-se em conta o que se vê em outros países. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, já afirmou que o crédito com garantia de imóveis tem capacidade de alcançar R$ 500 bilhões. Apenas como comparação, o estoque de financiamentos imobiliários - para aquisição e construção - era de R$ 655 bilhões no fim de junho.
"Hoje, existem R$ 13 trilhões 'sentados' em ativos fixos, em casas, e desse total só R$ 600 [bilhões] são financiados. Então, temos um índice de alavancagem muito baixo", disse o presidente do BC nesta semana. Segundo ele, 95% das casas são pagas e, "no entanto, as pessoas não conseguem usar esse ativo nem para baratear o crédito nem para extrair valor pessoal".
Um impulso para esse mercado é a queda da taxa Selic para 6% ao ano - e a perspectiva de que os juros permaneçam baixos por bastante tempo -, já que estimula a tomada de linhas de crédito com prazos mais longos. No modelo praticado hoje pelo mercado, os empréstimos com garantia em ativo imobiliário chegam a ter uma duração de 15 anos.
"Já tínhamos o produto, mas relançamos no fim do ano passado", afirma Cristiane Magalhães, diretora do Itaú Unibanco responsável pelas áreas de crédito imobiliário e consórcios. O banco começou a divulgar mais ostensivamente o produto para dois grupos: clientes que precisam reorganizar dívidas e pessoas que precisam de dinheiro para investir num negócio próprio, normalmente para quem o home equity tem mais apelo.
O Santander, por sua vez, oferece a linha há oito anos, mas agora também resolveu dar mais visibilidade. O crédito com garantia imobiliária ganhou mais destaque no site e passou a ser oferecido pela rede de agências, afirma o superintendente-executivo de negócios imobiliários do banco, Paulo Duailibi. "É um produto do qual a gente gosta bastante. Tem garantia muito boa", diz.
Com a garantia imobiliária, o home equity costuma oferecer um dos menores juros do mercado, sem considerar as linhas de crédito subsidiado. Um empréstimo pessoal num banco custava 3,64% ao mês, em média, em julho, segundo a Anefac - mais de três vezes acima do cobrado no home equity.
Em maio, a taxa mínima cobrada pelo Santander foi reduzida de 1,20% para 1,05% ao mês mais TR. Desde então, segundo Duailibi, o volume de operações aumentou 70% - o banco diz ter uma carteira de R$ 1,7 bilhão na modalidade. Em julho, o Itaú deu um novo passo e reduziu de 1,17% para 1,08% ao mês mais TR a taxa mínima.
A modalidade, que agora desperta maior atenção dos bancos, tem sido impulsionada por fintechs. Especializada em crédito com garantia, a Creditas soma R$ 250 milhões concedidos nas operações lastreadas em imóveis. Um aporte de US$ 231 milhões recebido pela fintech em julho, numa rodada encabeçada pelo grupo japonês Softbank, também é uma amostra do novo momento para o home equity no Brasil. A Creditas foi avaliada em US$ 750 milhões na operação. Além do crédito com garantia imobiliária, a fintech faz operações com garantia de veículos.
O fundador da empresa, Sergio Furio, costuma dizer que o crédito no Brasil tem taxas de juros muito altas porque está concentrado em operações de curto prazo e sem garantia. Por isso, o home equity teria o potencial de mudar o perfil do mercado.
É nisso que o BC vem se debruçando. No mês passado, o regulador diminuiu os requisitos de capital exigidos dos bancos ao operar a modalidade. O Banco Central também estuda melhorias que possam reduzir custos atrelados a esses contratos e até mesmo como ampliar o uso de imóveis e terrenos para permitir um maior número de transações.
Hoje, no Brasil, só é permitido tomar um empréstimo por imóvel, já que não é possível fazer a alienação fiduciária do ativo para mais de uma operação. Porém, em países como os Estados Unidos - em que o modelo vigente é o da hipoteca - o valor do imóvel é um "guarda-chuva" sob o qual podem ser feitos vários financiamentos.
"O imóvel pode ser usado para gerar valor para outros fins, e hoje isso quase não acontece no Brasil", afirma Claudio Hermolin, presidente da Brasil Brokers. A rede de imobiliária firmou parceria com o Banco Inter para explorar a modalidade.
Os aprendizados deixados pela crise econômica também ajudam a despertar maior pelo crédito com garantia em imóveis. A linha é considerada mais saudável e, por ter lastro, menos arriscada que outras modalidades. Além disso, com taxas relativamente baixas e prazos maiores, é mais fácil a prestação caber no bolso. Não por acaso, tem sido oferecido pelas instituições financeiras a clientes que precisam renegociar dívidas.
"Antes, havia um receio dos bancos de que o produto rivalizasse com linhas mais caras. Agora, é inexorável", afirma Bruno Gama, presidente da CrediHome, plataforma digital que oferece financiamento imobiliário e crédito com garantia de imóveis. Desde a metade do ano passado, a fintech concluiu R$ 150 milhões em operações nas duas modalidades.
Por enquanto, o produto se torna viável entre clientes de renda mais elevada. A Creditas, por exemplo, faz empréstimos entre R$ 30 mil e R$ 2 milhões, com prazo de 5 a 15 anos, aceitando como garantia até 60% do valor do imóvel. As taxas começam em 0,99% ao mês mais IPCA. "Claramente não é um produto para a baixa renda, é para quem tem renda e bens", diz Fábio Zveibil, vice-presidente de desenvolvimento de negócios da Creditas. Em média, o tomador pega R$ 180 mil emprestados e dá em garantia um imóvel de R$ 500 mil. No mínimo, o imóvel deve ter valor de R$ 150 mil.
A fintech, que está presente em 400 cidades, analisa a capacidade de pagamento do tomador, processos pendentes que possam atrapalhar a retomada e as condições e liquidez do imóvel.
Apesar do interesse crescente, há quem veja limites para a o crédito com garantia imobiliária no Brasil. "Somos latinos, temos apego à casa. Não vai ser uma linha popular nunca", afirma um executivo de banco.
Empresas 'destravam' valor de propriedade
Uma parceria firmada em junho entre a Brasil Brokers e o Banco Inter gerou até agora mais de R$ 20 milhões em crédito com garantia imobiliária. A joint venture, batizada de Imóvel Cash, antecipa até 40% do valor da propriedade a quem colocá-la à venda com exclusividade na plataforma da rede de imobiliárias.
Quando o ativo for vendido, o cliente recebe a diferença entre o valor da venda e o que foi antecipado. O empréstimo tem seis meses de carência - prazo que costuma levar, em média, a venda de um imóvel. A partir do sétimo mês, o cliente paga 1% ao mês numa operação de até 180 meses.
"A ideia é que o cliente possa usar o imóvel como fonte de recurso para dar entrada em outra casa ou investir num negócio próprio, entre outras coisas", afirma Claudio Hermolin, presidente da Brasil Brokers.
A parceria é uma amostra dos diferentes formatos que o crédito com garantia imobiliária pode oferecer à medida que o mercado for se desenvolvendo.
Outro exemplo é o cartão de crédito com garantia imobiliária lançado em julho pelo Banco Bari, do grupo paranaense Barigui. O produto terá limite de até R$ 1 milhão, dependendo do imóvel e do perfil do tomador. Em dois dias de oferta, o cartão atraiu mais de 3 mil interessados, afirma Rodrigo Pinheiro, sócio e executivo-chefe do Bari.
Em faturas de até R$ 30 mil, o pagamento pode ser parcelado com taxa de 1,99% ao mês. Acima disso, a operação se converte num crédito com garantia de imóvel e passa a ter taxa de 0,99% ao mês mais IPCA. O prazo de pagamento é de até 180 meses. "A queda da Selic e a redução na exigência de capital tornam o ambiente muito favorável para o crédito com garantia imobiliária", afirma Pinheiro.
Para o executivo, o home equity vai se desenvolver no Brasil na esteira do próprio crédito imobiliário. O financiamento à construção ou compra de imóveis representa apenas 9% do PIB, muito aquém do que se vê em outros países. No Chile, esse patamar está próximo de 20%.
"O home equity será o mercado secundário do imobiliário", afirma Marco Túlio Guimarães, vice-presidente do Banco Inter.
Valor Econômico, Talita Moreira e Flávia Furlan, 23/ago
quinta-feira, 22 de agosto de 2019
Após período de baixa, mercado imobiliário do Rio de Janeiro volta a crescer
O ano de 2012 é considerado um auge para o mercado imobiliário do Rio de Janeiro. O período foi de bonança para essa considerável parcela da economia da Cidade Maravilhosa.
Contudo, o momento de crise provocou uma queda no setor. As variações do mercado imobiliário não foram tão positivas nos últimos 7 anos. Todavia, a situação começa a dar claros sinais de melhora.
De acordo com dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), no Rio de Janeiro foram lançadas 2.090 unidades no primeiro trimestre de 2019, contra 1.480 no mesmo período de 2018 - crescimento de 41%. O número de unidades vendidas aumentou ainda mais, crescendo 48% no período, totalizando 4.070 unidades vendidas no primeiro trimestre de 2019.
"Estamos nos despedindo de um período de retração no mercado imobiliário. Começamos a vislumbrar uma retomada de mercado. Embora os dados ainda sejam discretos são concretos. E por isso é hora de investir. Já neste ano, 2019, tivemos um considerável aumento da procura e mais investimentos ao compararmos com os dois últimos anos", conta Lucy Dobbin, nova superintendente da Sergio Castro Imóveis.
De acordo com alguns analistas do mercado imobiliário, fatores como ajustes fiscais, inflação mais baixa e novos cortes na Taxa Selic acirram a concorrência entre os bancos na concessão de créditos com taxas mais baixas para aquisição de imóveis e isso melhora o cenário.
"A expectativa, lógico, não é de que viveremos já no próximo ano um novo boom imobiliário, mas o cenário atual está favorecido com os sinais de melhora da economia, de recuperação de renda", destaca Lucy.
Considerando as atuais circunstâncias, o momento é propício para investir neste mercado:
"Nesta certeza da reação da economia, esta é a melhor época para garantir que o valor investido nos imóveis ainda comprados com preços excelentes terá um retorno considerável em curto espaço de tempo. Os imóveis não vão mais cair de preço. Os indícios não apontam para isso. Pode existir situações pontuais de uma necessidade de venda em prazos recordes e por esta razão, uma oferta abaixo do que está sendo praticado na região, mas os ventos estão soprando forte para a recuperação do mercado imobiliário", disse Lucy Dobbin.
Diário do Rio, Felipe Lucena, 21/ago
quarta-feira, 21 de agosto de 2019
Especialistas preveem maior oferta de crédito
Na avaliação de especialistas, a nova modalidade de financiamento imobiliário anunciada pela Caixa Econômica Federal pode ser um pontapé inicial para a formatação de financiamentos mais competitivos. Também deve ser um estímulo à entrada de novas empresas nesse mercado, pois haverá mais mais segurança financeira para conceder o empréstimo.
- Com a possibilidade de fazer a correção pela inflação ou pela TR, são abertas novas oportunidades de crédito imobiliário e de disputar o cliente. O efeito virá a médio e longo prazos, havendo estabilidade da economia - afirma o presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Rio de Janeiro (Ademi-RJ), Claudio Hermolin.
Ele pondera que, no Brasil, o percentual de crédito imobiliário sobre o PIB é ínfimo, se considerado o déficit habitacional do país.
- Sempre tivemos o mercado de crédito imobiliário concentrado na mão dos poucos bancos que têm poupança. O fato de discutir formas diferentes de financiamento já é um ganho para o consumidor. O IPCA é um índice mais comercial, mais fácil de comercializar. É uma possibilidade de nova carteira de crédito imobiliário - diz Hermolin, confiante de que a medida pode impulsionar a venda de imóveis usados e em estoque, como são chamadas as unidades novas prontas e não comercializadas.
IPCA: ATENÇÃO EM LONGO PRAZO
O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, também acredita que a nova modalidade criará mais concorrência. Ele avalia que surgirão companhias hipotecárias, que passariam a operar na intermediação da compra e venda de recebíveis imobiliários residenciais.
- A concorrência virá à tona, o que é muito bom para o mercado. A TR é um indexador que ninguém sabe de onde vem, é instrumento de política econômica e traz insegurança. O IPCA é transparente, tem mais credibilidade - diz Martins.
Para o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otavio Leal, deve aumentar o crédito na economia, dando mais segurança para construtoras e investidores, com efeito positivo sobre a atividade econômica:
-Já estamos vendo em São Paulo lançamentos imobiliários e, com mais crédito, isso tende a aumentar. Essas novas linhas vão aumentar os recursos disponíveis, com securitização das dívidas (títulos lastreados pelos créditos), o que dilui o risco.
Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos da construção do Ibre/FGV, avalia que a nova modelagem poderá se tornar uma fonte de captação adicional para o mercado imobiliário no futuro. A curto prazo, porém, alcançará um público muito específico, de mais alta renda, e pequeno:
- Ele é mais vantajoso? Hoje, sim. Mas inclui a inflação como mecanismo de correção, que ninguém sabe como vai se comportar em 25 ou 30 anos.
A redução do percentual de comprometimento da renda com o financiamento, de 30% para 20%, diz Ana Maria, já demonstra uma precaução do governo:
- Quem optar por esse financiamento terá de poupar mais antes de comprar o imóvel. E esse colchão de renda que o governo está estipulando para o mutuário já joga o novo crédito para uma faixa de renda mais alta.
No mercado, contudo, há a interpretação de que só na alta renda é viável estimular crédito neste momento.
- Quem está comprando atualmente são as classes Ae B, adquirindo imóveis com valor superior a R$ 1,5 milhão - diz um executivo do setor, que prefere não se identificar.
O Globo, Cássia Almeida, Glauce Cavalcanti e Patricia Valle, 21/ago
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