Com sua plataforma digital de crédito pessoal com garantia - o Empréstimo Sim -, o Santander deu em mais um passo para explorar o mundo das fintechs. A ambição do banco espanhol, que tem quase R$ 840 bilhões em ativos no País, é abocanhar 1% do mercado que migrou para as mãos de startups do setor financeiro, de cerca de R$ 100 bilhões, até o fim deste ano, segundo Gustavo Andres, presidente da operação.
Para atingir a marca de R$ 1 bilhão, o Santander aposta no fato do empréstimo pessoal com garantia ainda ser pouco desenvolvido no País. A modalidade tem sido usada, preferencialmente, a partir de imóveis residenciais ou comerciais, o chamado home equity no jargão do mercado financeiro. O banco quer ir além e deslanchar a linha aproveitando como garantia veículos e motocicletas já quitados. A oferta será 100% digital, por meio do celular, em até um dia útil, mas a ambição do banco é ser ainda mais ágil.
O potencial desse novo mercado, conforme Andres, é enorme. Há um universo de 40 milhões de brasileiros com veículos quitados. Esse universo se divide em 30 milhões de carros e 10 milhões de motos. No entanto, apenas algumas fintechs como, por exemplo, a Creditas, investida do conglomerado japonês Softbank, olha para este segmento, que passa a ter um concorrente de peso com a chegada do Santander.
Segundo Andres, entre 60% e 70% dos carros e motos que circulam nas ruas do País estão quitados. Ao mesmo tempo, a maioria dos donos desses veículos está tomando créditos mais caros na praça. Na mira, estão, principalmente, pessoas das classes C e D, clientes do banco ou não. De partida, a fintech do Santander vai financiar até 90% do valor do bem, aceitando como garantia carros com até 15 anos e motos com até cinco anos.
"O plano que temos e está até no nome, Sim, é conceder empréstimos de uma forma simples. Nosso objetivo é ampliar e facilitar o acesso a crédito pessoal no Brasil a partir do refinanciamento de um carro ou uma moto", diz Andres, que depois de 15 anos de banco foi escolhido para tocar um dos negócios de fintech do grupo, em sua primeira entrevista, ao Estadão/Broadcast. "O carro vai ajudar o cliente a entender o poder de uma garantia na tomada de um empréstimo versus um crédito emergencial, que é mais caro."
O principal desafio, diz, é convencer quem tem um carro ou uma moto quitada a refinanciá-los e contratar o produto, pouco conhecido no Brasil. Como atrativo, explica, a modalidade oferece juros que chegam a ser, pelo menos, 50% menores que o crédito pessoal puro. Isso porque dar um bem como garantia possibilita baratear o custo ao consumidor final à medida que o risco do banco se reduz.
Os juros cobrados na plataforma Sim iniciam, conforme Andres, em 1,35% ao mês. Apesar de "um pouco maior" que a taxa do financiamento de veículos, é menor que o do crédito pessoal tradicional, que varia de 3% a quase 5% ao mês nos grandes bancos. "É um produto bem mais barato para o cliente e, por termos o histórico e a garantia atrelada, acreditamos que se trata de uma operação, cuja inadimplência será mais baixa", afirma.
Ele diz, porém, que assim como no tradicional financiamento de veículos, há um desafio em torno da recuperação da garantia no Brasil a despeito dos avanços regulatórios ocorridos nos últimos anos. Para diminuir esse risco, a fintech vai se utilizar de toda a estrutura da financeira do Santander, que detém a liderança no crédito de veículos no Brasil.
Constituída em apenas seis meses, a plataforma Sim começou a operar no mês passado. O pontapé do negócio são os financiamentos com carros e motos quitados, mas a ideia do banco é expandir o portfólio em um futuro breve. O alvo são imóveis e no futuro, quem sabe, diz ele, celulares devido à popularização dos smartphones no Brasil.
A Sim faz parte de uma ofensiva do Santander de desenvolver novos negócios e que estão na mira das fintechs. Além de crédito pessoal com garantia, o banco lançou ainda iniciativas nas áreas de investimentos, renegociação de dívidas e uma seguradora digital de automóvel em parceria com a alemã HDI. Os negócios ocupam, inclusive, uma estrutura separada do banco, localizada no antigo prédio do Banespa, ponto turístico da cidade e rebatizado de Farol Santander, no Centro de São Paulo. A exceção é a plataforma de investimentos, batizada de Pi, que fica próximo, em um prédio chamado pelo banco de Quarteirão de Investimentos.
"Na prática, os bancos estão replicando os modelos das fintechs no Brasil", diz Claudio Gallina, diretor de instituições financeiras da Fitch Ratings para América Latina.
Em recente entrevista à imprensa, o presidente do Santander Brasil, Sergio Rial, disse que a ideia é que os novos negócios sejam concorrentes do próprio banco. "A Sim vai competir com o próprio Santander. Há espaço para mais uma plataforma digital de crédito e vamos competir nisso", afirmou ele, na ocasião.