quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Um ano pouco favorável para as cadernetas


A captação líquida de R$ 13,6 bilhões das cadernetas do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) em dezembro passado superou a de R$ 12,2 bilhões de dezembro de 2018, mas não impediu que 2019 tenha sido o pior dos últimos três anos para essa modalidade de aplicação. Não é uma boa notícia quando se sabe que as cadernetas são o principal instrumento de captação de recursos que financiam, a juros módicos, a compra da casa própria.

Em 2019, a entrada líquida de recursos nas cadernetas de poupança foi de R$ 12,4 bilhões, menos da metade dos R$ 27,8 bilhões captados em 2018 e inferior aos R$ 14,8 bilhões obtidos em 2017. O ingresso líquido de poupança em 2019 não é um valor baixo o bastante para causar apreensões, mas deve ser entendido como evidência de mudança de prioridades dos aplicadores de todos os portes.

A remuneração mensal das cadernetas é hoje de 0,26%. A renda anual propiciada pelas cadernetas em 2019 foi de 4,26%, porcentual inferior ao da inflação medida pelo IPCA calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Só cadernetas antigas, anteriores a 3 de maio de 2012, têm as aplicações feitas até essa data corrigidas pela taxa de 6,17% ao ano - rendimento quase imbatível perante outras aplicações de renda fixa.

A remuneração das cadernetas não foi a única a ser atropelada pelo juro básico de 4,5% ao ano. Este não apenas é o menor da história brasileira, como sua manutenção é prevista pelos analistas para este ano. A renda da caderneta é de 70% da taxa básica, salvo se esta atingir ou superar 8,5% ao ano. Para competir com títulos de renda fixa, a caderneta dispõe da garantia de até R$ 250 mil em caso de insolvência da instituição onde os recursos foram aplicados. Além disso, a renda dos papéis não ligados ao financiamento da moradia está sujeita ao Imposto de Renda (IR) de até 22,5%.

A demanda de crédito concedido com base nos recursos das cadernetas é forte, sem que haja, até aqui, falta de financiamento para mutuários e construtoras. É um bom sinal, mas transitório.

Se crescer, como se espera, a demanda por crédito imobiliário, os recursos hoje obtidos nas cadernetas terão de ser complementados por fontes originárias de títulos imobiliários. Nesta hora, o crédito poderá custar mais caro para os tomadores.



O Estado de S. Paulo, Opinião, 15/jan