As retiradas líquidas, em janeiro, de R$ 9,8 bilhões nas cadernetas do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) e de R$ 12,4 bilhões quando incluída a poupança verde, captada principalmente pelo Banco do Brasil, são o pior resultado para o mês desta década e deverão levar os bancos a acelerar a implantação de novas políticas de atração de aplicações. Por ora, não faltam recursos para financiar a habitação, mas as instituições terão de se preparar para a combinação de um crescimento mais forte da demanda de crédito com um declínio mais rápido do que o previsível dos depósitos de poupança.
O saldo das cadernetas ainda é alto, de quase R$ 650 bilhões. Mas os aplicadores parecem estar modificando rapidamente suas decisões de investimento, em todas as modalidades de renda fixa. Fenômeno semelhante foi observado pela Associação Nacional de Instituições do Mercado Financeiro e de Capitais (Anbima), que registrou, em 2019 e em janeiro, um deslocamento para aplicações de risco, como ações e fundos multimercado.
No caso da poupança, a atenuante para explicar os saques de janeiro é a sazonalidade. Despesas com IPVA, IPTU e educação são severas nos inícios de ano e obrigam as famílias a retirar recursos onde eles são menos remunerados. A remuneração mensal das cadernetas foi de 0,26% em janeiro e será ainda menor a partir deste mês, com o recuo da taxa básica de juros de 4,5% ao ano para 4,25% ao ano. É possível, portanto, que a remuneração das cadernetas não se iguale nem sequer à inflação. Nesse caso, a renda seria apenas nominal, sem ganho real.
Nos últimos anos, os bancos vêm desenvolvendo novos mecanismos de captação, o mais importante dos quais deverá ser a Letra Imobiliária Garantida (LIG), versão local dos covered bonds, papéis muito negociados em mercados desenvolvidos. Até agora, os bancos captam recursos para aplicação em financiamentos habitacionais principalmente das Letras de Crédito Imobiliário (LCIs). Parece ser hora de fortalecer os mecanismos de captação via LIGs, que ainda dependem de regulamentação para que possam atrair investidores estrangeiros. À vista da força do mercado global de LIGs, o crédito imobiliário brasileiro poderá se tornar mais atraente para grandes aplicadores externos, como seguradoras e fundos de pensão.