Exemplos passados mostram como é difícil deter uma queda da economia assim que ela começa.
Durante todo o esforço do Federal Reserve (Fed) para conter a inflação, as autoridades se concentraram em elevar a taxa básica de juros o suficiente para alcançar seu objetivo, levando-a a um nível alto em um ritmo rápido o suficiente para evitar que o público perca a esperança na redução dos preços.
Mas na busca por um "pouso suave" — em que a inflação cai sem recessão econômica ou grandes perdas de empregos —, a discussão sobre quando cortar os juros e aliviar a pressão sobre famílias e empresas é tão importante e talvez ainda mais difícil de se acertar.
Nas três recessões anteriores à pandemia da Covid-19 — de 1990 a 1991, 2001, e 2007 a 2009 — o banco central atingiu o pico do patamar de sua taxa e começou a reduzir os custos de empréstimos de três a 13 meses antes do que provou ser o início de uma recessão.
Isso mostra como é difícil deter uma queda assim que ela começa e igualar os efeitos lentos da política monetária com o que a economia pode precisar meses no futuro.
Permitir que a inflação alta se incorpore à economia é o pecado capital de um banco central, e as autoridades do Fed ainda preferem cometer o erro de ir longe demais para garantir que a inflação seja controlada do que parar e arriscar sua recuperação, disse Antulio Bomfim, chefe de macro global para a equipe de renda fixa da Northern Trust Asset Management.
Isso pode apontar para pelo menos mais um aumento de juros, mesmo quando os investidores apostam que o Fed chegou ao fim de seu ciclo de aperto, com os mercados de futuros de juros refletindo não mais do que 25% de chance de outra alta. Na semana passada, o Fed elevou sua taxa para a faixa de 5,25% a 5,50%, o 11º aumento nas últimas 12 reuniões.
Dados recentes sobre salários, crescimento e preços têm mostrado o dilema enfrentado pelas autoridades ao considerar se devem aumentar ainda mais os custos dos empréstimos e por quanto tempo deixá-los elevados, uma discussão que pode determinar a direção geral da economia em 2024, ano de eleições presidenciais.
Após dezesseis meses de rápido aperto monetário, a economia ainda cresceu a uma taxa anualizada de 2,4% acima do esperado no segundo trimestre e do que é considerado sua tendência não inflacionária, com esse ímpeto continuando no trimestre atual.
Embora a inflação nominal tenha caído de forma acentuada em relação às máximas de 2022, as medidas das pressões de preços subjacentes têm se movido mais lentamente. O núcleo do índice PCE desacelerou notavelmente em junho para 4,1% na comparação anual, após ficar por meses próximo a 4,6%, mas ainda é mais que o dobro da meta de 2%.
O chair do Fed, Jerome Powell, disse na semana passada que as peças do "quebra-cabeça" da inflação baixa podem estar se alinhando, mas ele ainda não confia nisso.
"Precisamos ver se a inflação caiu de forma duradoura... o núcleo da inflação ainda está bastante elevado", disse Powell em coletiva de imprensa após o fim da reunião de política monetária de dois dias do Fed.
Powell reconheceu a delicada calibragem necessária para vencer a inflação sem restringir a atividade mais do que o necessário e ficar à frente de qualquer desaceleração com juros mais baixos à medida que a inflação cai e a atividade diminui.
Mas ele não deu sinalizações diretas sobre como o Fed avaliará quando será a hora de afrouxar a política monetária, dizendo que "estaremos confortáveis em cortar os juros quando estivermos confortáveis em cortá-los".
Com a inflação abaixo de seu pico sem grandes interrupções no emprego, alguns economistas se perguntam se Powell — ao se concentrar na necessidade de "folga" econômica para terminar a tarefa — não está cometendo o mesmo erro de seus antecessores e preparando o terreno para uma recessão desnecessária.
Reuters, 31/jul