terça-feira, 12 de setembro de 2023

IPCA sobe 0,23% em agosto, com aumento na conta de luz

Fim da incorporação do bônus de Itaipu elevou os preços da energia elétrica residencial. País passa a ter uma inflação acumulada de 4,61% na janela de 12 meses.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador considerado a inflação oficial do país, subiu 0,23% em agosto, segundo dados divulgados nesta terça-feira (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O indicador voltou a acelerar em relação ao mês anterior, puxado desta vez por um aumento da energia elétrica residencial (4,59% no mês). Em junho, o IPCA fechou com alta de 0,12%. Já em agosto de 2022, o país havia registrado deflação de 0,36%, na esteira da desoneração de combustíveis.

Com isso, o país passa a ter uma inflação acumulada de 4,61% na janela de 12 meses. No ano, acumula alta de 3,23%.

Mesmo em trajetória de alta, o índice de preços veio levemente abaixo das projeções do mercado financeiro. A mediana das estimativas coletadas pelo Valor Data apontava alta de 0,29% no mês.

O IBGE mostra que houve alta em seis dos nove grupos que compõem o IPCA. O maior ganho vem do grupo Habitação (1,11%), que abriga o subitem de energia elétrica residencial. As contas de luz tiveram alta de 4,59% e impacto de 0,18 ponto percentual no índice geral.

O aumento das contas de luz tem relação com o fim da incorporação do bônus de Itaipu, um saldo positivo na conta de comercialização de energia elétrica de Itaipu em 2022. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) havia anunciado R$ 405,4 milhões em bônus para o mês de julho.

Na ocasião, o grupo de Habitação havia registrado queda de 1,01% no mês, porque o bônus foi incorporado nas contas de luz de julho. Agora, ele sai da conta em agosto.

Por outro lado, o grupo de Alimentação e bebidas continua em queda, e registra deflação de 0,85% em agosto. É o terceiro mês consecutivo de quedas no grupo, puxados sempre pelos preços da alimentação no domicílio (-1,26% no mês).

Veja o resultado dos grupos do IPCA:

- Alimentação e bebidas: -0,85%;

- Habitação: 1,11%;

- Artigos de residência: -0,04%;

- Vestuário: 0,54%;

- Transportes: 0,34%;

- Saúde e cuidados pessoais: 0,58%;

- Despesas pessoais: 0,38%;

- Educação: 0,69%;

- Comunicação: -0,09%.

Conta de luz puxa preços monitorados

De acordo com André Almeida, gerente de IPCA do IBGE, os produtos monitorados tornaram-se o destaque dos resultados de inflação nos últimos meses. São itens cujos preços são definidos pelo setor público ou por contratos.

Na janela de 12 meses, essa cesta de produtos acumula alta de 7,69%, acima do índice geral de inflação. No mês, houve aceleração de 0,46% em julho para 1,26% em agosto.

A energia elétrica carrega o aumento dos preços monitorados neste mês. Em agosto, todas as áreas de abrangência do IBGE mostram alta nas contas de luz. O maior ajuste veio de Vitória, com alta de 9,64%. Em seguida, Belém (8,84%) e Goiânia (7,05%) fazem o pódio de maiores aumentos.

Mas a cesta também foi influenciada pelo diesel. O combustível teve alta de 8,54% no mês, após mais um reajuste de preços por parte da Petrobras nas refinarias. Desde o dia 16, o litro do diesel subiu R$ 0,78 na venda para distribuidoras, que desemboca no preço da bomba.

A gasolina também teve uma alta de R$ 0,41 na ocasião, mas o aumento no IPCA foi menor, de 1,24%. Ainda assim, vem da gasolina o maior impulso do IPCA no ano. A alta no combustível foi de 13,02% em 2023, com participação total de 0,60 p.p. no índice geral.

Serviços seguem em desaceleração

A inflação de serviços segue em lenta desaceleração, aproximando-se do índice geral do IPCA. Na janela de 12 meses, a cesta de serviços acumula alta de 5,43%, com alta de apenas 0,08% no mês de agosto.

É o menor resultado para o grupamento desde janeiro de 2022, quando a alta acumulava 5,09%.

O principal destaque de queda foi o preço das passagens aéreas, que mantém uma forte oscilação mês a mês. Em agosto, houve queda de 11,69%. Em junho, havia registrado alta de 4,97%.

A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, chama atenção para a desaceleração dos serviços subjacentes. O grupamento é critério importante para o Banco Central definir direção e velocidade da taxa de juros no Brasil.

"O resultado abaixo de 0,20% na margem é muito baixo. Continuamos acreditando que há espaço para uma redução de 0,75 p.p. em dezembro. As notícias positivas com inflação podem reduzir as expectativas de inflação, apesar da surpresa que tivemos com a atividade econômica", diz ela.

Alimentação e bebidas seguem caindo

Principal motor de queda para o grupo de Alimentação e bebidas (-0,85%), a Alimentação no domicílio enfrenta desaceleração desde abril, mas o destaque são as três deflações seguidas nos últimos meses.

As principais quedas constatadas pelo IBGE no mês foram da batata-inglesa (-12,92%), do feijão-carioca (-8,27%), do tomate (-7,91%), do leite longa vida (-3,35%), do frango em pedaços (-2,57%) e das carnes (-1,90%). O item de maior alta foi o limão, com alta de 51,11%, produto que enfrenta redução de oferta.

De acordo com André Almeida, do IBGE, a queda constante nos preços alimentícios tem sido influenciada por maior oferta dos produtos no mercado.

João Savignon, chefe de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital, destaca que o movimento de Alimentos e bebidas segue com uma dinâmica favorável e deve se manter assim no mês de setembro.

"As aberturas do dado de hoje reforçam a dinâmica positiva recente da inflação no país e o plano de voo do Banco Central no ciclo de cortes de juros", afirma o analista.

INPC tem alta de 0,20% em agosto

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) — que é usado como referência para reajustes do salário mínimo, pois calcula a inflação para famílias com renda mais baixa — teve alta de 0,20% em agosto. Em julho, houve queda foi de 0,09%.

Assim, o INPC acumula alta de 2,80% no ano e de 4,06% nos últimos 12 meses. Em agosto de 2022, a taxa foi de -0,31%.

"Os produtos alimentícios apresentaram variação de -0,91% em agosto, após queda de 0,59% em julho. Nos produtos não alimentícios, foi registrada alta de 0,56%, acima do resultado de 0,07% observado em julho", destaca o IBGE.

Raphael Martins, g1, 12/set