Um bairro imperial começa a ganhar passaporte para o futuro. Ignorado por décadas pelas incorporadoras, São Cristóvão está na ordem do dia do mercado imobiliário graças ao projeto Reviver Centro, que propõe a revitalização da área que vai da Lapa à Zona Portuária. O bairro que abrigou a Família Real Portuguesa, a partir de 1808, tornou-se uma área natural de expansão do coração central do Rio, e as empresas já se mobilizam para construir na região. A Cury Construtora tem dois lançamentos ali, um deles em parceria com a Riva Incorporadora - os novos residenciais serão os primeiros dessa fase de redescoberta de São Cristóvão.
No masterplan do Centro do Rio de Janeiro, contratado pelo BNDES em convênio com a prefeitura da cidade, o Consórcio Conexão Rio - formado por Urban Systems, Finarq Consultoria, Vieira, Rezende e Guerreiro Advogados, Ramboll e Porto Marinho - esmiúça a região central com foco “em ativos imobiliários públicos atualmente subutilizados, para que catalisem e impulsionem o desenvolvimento dessa região”, como consta no documento concluído em dezembro de 2023.
Ao longo do século XX, a circulação de pessoas no bairro imperial foi mantida pela atividade fabril e pela praia que sucumbiu aos sucessivos aterros para a expansão do Porto. Agora, com a inauguração do Terminal Intermodal Gentileza no início deste ano, o movimento tende a crescer de novo.
O masterplan aponta três locais no bairro com potencial para o setor imobiliário: Leopoldina, Fonseca Telles e Almirante Mariath Docas. Nos 80 mil metros quadrados do terreno da antiga Estação Leopoldina, por exemplo, será possível erguer um novo bairro com dez quadras.
- Na época da Copa do Mundo já havíamos feito um estudo para o Maracanã e arredores, incluindo São Cristóvão. E foi interessante observar como Maracanã e Tijuca eram bairros superqualificados, enquanto São Cristóvão, em contrapartida, parecia esquecido pelo carioca. A região tem um enorme potencial de desenvolvimento urbano e imobiliário, e apostamos nisso - conta o sócio-diretor da Urban System, Paulo Takito.
Infraestrutura
Motivos para essa aposta não faltam. A região é atendida por diferentes modais de transporte, tem infraestrutura completa, escolas, museus e uma das áreas de lazer mais importantes da cidade, a Quinta da Boa Vista, com o BioParque e o Museu Nacional. Na avaliação do diretor da Sérgio Castro Imóveis, Claudio Castro, São Cristóvão tem uma coisa que o vizinho Porto Maravilha ainda não tem: cara de bairro.
- No contato com potenciais clientes, muitas vezes percebemos que eles relutam em morar no Porto Maravilha. Os comerciantes dizem que faltam moradores, e os moradores, que falta comércio. A área vai terminar se consolidando, mas, por enquanto, São Cristóvão é mais convidativo para quem quer morar ou ter um negócio no Centro do Rio e prefere esperar um pouco mais para ver o que acontecerá com o Porto - observa Castro.
De olho nessa ligação entre o Museu Nacional e o Museu do Amanhã, casando o passado e o futuro da Cidade Maravilhosa, a Cury está lançando o Origem Porto Imperial, em parceria com a Riva. São apartamentos de dois e três quartos com suítes, negociados entre R$ 400 mil e R$ 450 mil. Além disso, vai erguer na região o Porto Maravilha Residencial, com unidades de dois quartos por R$ 200 mil, que serão enquadradas no programa Minha Casa, Minha Vida.
- Era um desperdício não aproveitar uma área tão preparada para receber empreendimentos imobiliários. A construção de residenciais no bairro atrai o movimento de pessoas e de estabelecimentos comerciais e de serviços. Isso acaba qualificando a região - afirma o vice-presidente Comercial da Cury, Leonardo Mesquita.
O Globo, 15/mar