quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Preço dos imóveis deve se estabilizar em 2018 após três anos de desvalorização


O preço médio dos imóveis no País deve ficar estável em 2018, o que significa voltar a crescer no mesmo ritmo da inflação, interrompendo uma sequência de três anos de desvalorização. Nesse período, os valores tiveram queda nominal ou alta inferior à inflação.

Em 2017, o preço das moradias acumulou uma queda de 0,54% até novembro, de acordo com pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) feita com base nos anúncios de imóveis prontos em 20 cidades. A pesquisa evidenciou também que o mercado perdeu fôlego ano a ano, com desaquecimento nos preços médios desde 2013.

"O mercado vem em crise há três anos. A expectativa é que os preços se estabilizem e voltem a ficar no terreno positivo em 2018. Talvez girem um pouco acima ou um pouco abaixo da inflação, dependendo da cidade. Mas não espero um aumento de preços elevado em termos reais nesse mercado", afirma o coordenador da pesquisa, Eduardo Zylberstajn.

O pesquisador aponta ainda que o desconto médio no fechamento dos negócios de compra e venda chegou ao pico de 9,3% em junho de 2016 e, desde então, passou a cair gradualmente até o nível atual de 7,8%, próximo da média histórica de 7,6%. 

"Isso é um indicativo de que o mercado começou a se estabilizar", avalia Zylberstajn.

A coordenadora de estudos de construção da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Ana Maria Castelo, observa que o mercado imobiliário se beneficiará da melhora do ambiente macroeconômico, com queda de juros e inflação, interrupção do avanço do desemprego e crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).   

"O mercado imobiliário deve refletir essa conjuntura", diz Castelo.

Ela pondera, entretanto, que a recuperação do setor ainda será lenta e limitada pelas restrições na oferta de financiamento e falta de confiança de consumidores para assumir uma compra de longo prazo. "Renda, crédito e confiança são as variáveis chaves. A confiança começou a crescer ao longo de 2017, mas o crédito se manteve difícil. Por isso, a recuperação está se dando muito lentamente".

São Paulo e Rio

O cenário de preços ainda varia bastante de acordo com a região. Na cidade de São Paulo, maior mercado imobiliário do País, os preços das moradias subiram 1,30% em 2017, mostrando aceleração ante 0,41% em 2016, conforme dados da Fipe. Já o Rio de Janeiro aprofundou a recessão, com queda de 4,21% nos preços em 2017 ante baixa de 2,08% em 2016.

O economista-chefe do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), Celso Petrucci, explica que o mercado imobiliário da capital paulista passou por um ajuste. Desde 2016, há mais vendas do que lançamentos de novos projetos, fato que reduziu a oferta de moradias e ajudou a reequilibrar o setor.

O estoque de unidades (prontas, em obras e na planta) disponíveis para venda chegou ao ápice de 27,2 mil em 2014, baixando para 18,8 mil até outubro de 2017, patamar abaixo da média histórica de 20 mil unidades, conforme dados do Secovi- SP.

"Com redução dos lançamentos, melhora das vendas e queda dos distratos, o estoque está em baixa. Isso deverá fortalecer a recuperação do preço em 2018", analisa Petrucci. "Não esperamos nenhuma alta eufórica como aquela vista no passado, mas algo em torno de 5% seria plausível, se o mercado continuar nesse ritmo", completa.

Já no Rio de Janeiro, a situação do mercado imobiliário é mais grave, pois reflete a crise econômica acentuada no Estado, com desemprego alto e falta de confiança de consumidores e empresários. A reversão desse quadro e a recuperação do setor só deve ocorrer entre o fim de 2018 e início de 2019, estima o presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-RJ) e presidente da imobiliária Brasil Brokers, Claudio Hermolim. "A recuperação do mercado ainda não é uma realidade no Rio", frisa.

Ele acrescenta que o mercado pode ganhar um fôlego extra se a Câmara Municipal votar nos próximos meses a atualização do Código de Obras e da Lei de Ocupação e Uso do Solo. Segundo o executivo, isso poderia flexibilizar a legislação e permitir, por exemplo, que as incorporadoras lancem empreendimentos residenciais compactos, desbravando um novo nicho de atuação.



AE News, Circe Bonatelli, 03/jan