sexta-feira, 9 de março de 2018

"O mercado imobiliário corporativo será o futuro do coworking"


Quando abriu a primeira unidade da PLUG no Brasil, em 2012, o empresário Jorge Pacheco sabia que encontraria dificuldades pela frente. À época, o conceito de coworking ainda aterrissava por aqui e esbarrava em uma importante questão cultural. "As pessoas gostavam da ideia, mas tinham receio dos que os clientes iriam pensar sobre um 'não ter escritório próprio'", comenta.

Nos três primeiros anos, Pacheco cogitou fechar o espaço diversas vezes. Até que o negócio deslanchou, a casa encheu e eles começaram a fechar importantes parcerias com grandes empresas.

Atualmente, a PLUG tem duas unidades em São Paulo (Pinheiros e Brooklin), uma em Boston, nos EUA, e inaugura a terceira da capital no primeiro semestre deste ano. Uma quarta unidade está prevista para o segundo semestre de 2018.

"Somos diferentes na PLUG, nosso enfoque é ser um local acolhedor, em que todas as empresas se sintam em casa", explica. Além disso, o modelo de negócio é aperfeiçoado constantemente. Questões como garantir uma internet de qualidade e manter uma programação que interesse aos profissionais estão na lista de prioridades da gestão.

Com carreira no mercado financeiro, Pacheco apostou em uma ideia que tem dado muito certo. Em 2017, a PLUG faturou R$ 4 milhões, um crescimento de 25% em relação ao ano anterior. Para os próximos anos, a aposta do empresário é o mercado imobiliário corporativo. "Há um crescimento na procura por empresas que não veem mais sentido gastar com criação e manutenção de uma sede", comenta.

De olho nesse mercado, a PLUG inaugura no primeiro semestre deste ano uma unidade com mil metros quadrados na Consolação. A região escolhida fica próxima à estação República do Metrô, do Copan, da Praça Roosevelt e da Rua Augusta. O prédio será o primeiro grande coworking do Centro e terá uma cafeteria aberta ao público.

Como surgiu a ideia de montar a Plug?

A concepção do projeto teve início em 2011. Nessa época, o conceito de coworking estava começando a ficar conhecido, tanto no Brasil como no mundo. Como vínhamos do mercado financeiro e trabalhávamos em um ambiente bem "quadradinho", decidimos que criaríamos um espaço diferente, um lugar em que a gente gostaria de trabalhar. Viajamos para Ásia, Estados Unidos e Europa em busca de referências. Nosso foco eram empresas e profissionais de tecnologia, design, a indústria criativa.

A grande inspiração para o conceito arquitetônico foi o Google, único escritório mais descolado à época. Também resolvemos montar o coworking em um galpão e não em um escritório comercial. No começo, a PLUG era bastante colorida, mas isso acabou sendo revisto e hoje temos um tom mais neutro. São as empresas que precisam se destacar dentro do espaço, não a gente.

Quais foram as principais dificuldades na trajetória da PLUG e como elas foram superadas?

Se hoje a PLUG existe é por pura resiliência, por termos superado as várias situações adversas e acreditado na ideia. Mas confesso que em vários momentos nos três primeiros anos pensei em fechar o negócio. Quando criamos o espaço, ninguém sabia o que era um coworking. Quem ia conhecer a nossa proposta acabava gostando da ideia, mas esbarrava na questão cultural: não se sentiam seguros para levar clientes, com medo de passar uma imagem de fragilidade, por "não terem nem escritório".

Além disso, também enfrentamos a crise econômica e depois a proliferação dos coworkings no país. Foi muito difícil começar a encher o espaço. Então decidimos fazer coisas em paralelo. No começo, fomos uma incubadora de novos empreendimentos. O negócio não dava lucro, mas fazia o espaço da PLUG se pagar e também era um investimento de longo prazo. Além disso, conseguíamos uma receita melhor com a organização de eventos.

Qual a sua aposta para o futuro do coworking?

O coworking não é uma onda passageira, ele veio para ficar. Não sei se o nome vai conseguir traduzir todas as mudanças que vêm acontecendo. O futuro do negócio é o mercado imobiliário corporativo, algo bem alinhado às novas tendências de compartilhamento. As empresas não se interessam mais em ter uma sede e custear sua estruturação e manutenção. Não é lucrativo. Se ela cresce, precisa ir para algo maior, se diminui de tamanho, sobra espaço. Ou seja, ela perde dinheiro nos dois cenários.

Por isso, os empreendedores já perceberam que é muito mais vantajoso optar por um local em que pagam apenas uma mensalidade. Assim, focam no seu business sem se preocupar com a gestão do local. Atualmente, cerca de metade dos cliente da PLUG são empresas que migraram de uma sede para o coworking.

Como você se reinventa para continuar empreendendo e não acabar virando um tipo de 'administrador de condomínio'?

Acho que pensando sempre em coisas novas e diferentes. Não quero me limitar a ser o provedor do metro quadrado e da internet. Quero estar dentro da comunidade, me alimentando com novas informações. O contato com outras pessoas é algo muito rico, e isso sempre me motiva a crescer.

Quando você está à frente de um negócio que está dando certo, que o feedback é muito positivo, surge a vontade de expandir isso, levando para outras pessoas. E isso me motiva no dia-a-dia.

Como será a nova sede da PLUG na Consolação, em SP?

Esse é um projeto muito importante para mim. O Centro da capital é o melhor local quando você pensa em transporte e em quanto regiões como a Vila Olímpia estão saturadas com o trânsito. Estou há anos tentando ir para o Centro, um local que considero democrático e de fácil acesso. Aposto muito nos projetos de revitalização.

Mas existe uma dificuldade muito grande em encontrar bons imóveis nessa região. Os prédios são muito verticais, e nós trabalhamos com lajes bem largas. Quanto mais horizontal, melhor, porque assim todo mundo consegue se ver e interagir. Isso não acontece se verticalizo o coworking.

A procura levou três anos, mas conseguimos encontrar um local perto da Praça da República, no final da Consolação. São mil metros de laje com vão livre, sem parede alguma. Temos um rooftop lindo, com vistas incríveis. Vamos poder atender à comunidade empreendedora do Centro, ser o lugar das startups na região.

Saindo um pouco do mundo coworking. Em seu currículo, você afirma ter certificado de instrutor de yoga. Pretende dar aulas e ser empreendedor na área?

Comecei a praticar yoga bem cedo, influenciado por uns livros que minha mãe tinha em casa. Aos 15 anos, li Convite à não-violência, do professor José Hermógenes, que foi transformador na minha vida. Depois disso, passei a ter uma identificação muito forte com a yoga e foi também quando me tornei vegetariano.

Fiz o curso de certificação pelo conteúdo, para aperfeiçoar meu conhecimento. Sou professor formado, não dou aulas, mas pratico yoga diariamente. É a primeira coisa que faço todas as manhãs.



Revista Pequenas Empresas e Grandes Negócios, Aretha Yarak, 09/mar