Rendimento médio encolhe 11,1% em 1 ano, para R$ 2.449 – o menor valor já registrado na série histórica iniciada em 2012. Número de trabalhadores por conta própria atinge novo recorde.
A taxa de desemprego no Brasil caiu para 12,1% no trimestre encerrado em outubro, mas a falta de trabalho ainda atinge 12,9 milhões de brasileiros, segundo informou nesta terça-feira (28) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Trata-se da menor taxa de desemprego desde o trimestre encerrado em fevereiro de 2020 (11,8%), mas ainda maior que o patamar de antes do início da pandemia de coronavírus.
Apesar da queda do desemprego, o rendimento médio da população ocupada encolheu pelo 5º trimestre seguido, para uma mínima histórica.
Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad). No levantamento anterior, referente ao trimestre encerrado em setembro, a taxa de desemprego estava em 12,6%, atingindo 13,5 milhões de pessoas.
O resultado de veio um pouco melhor do que o esperado. A mediana das previsões em pesquisa da Reuters era de que a taxa ficaria em 12,3%.
Ocupação cresce, mas renda média atinge mínima histórica
O contingente de ocupados no país aumentou 3,6%, o que representa 3,3 milhões de pessoas a mais no mercado de trabalho em relação ao trimestre encerrado em julho. Em 1 ano, houve aumento de 8,7 milhões de trabalhadores.
O nível de ocupação, que é o percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar, subiu para 54,6% no trimestre encerrado em outubro, o maior desde abril do ano passado.
Apesar da queda do desemprego e aumento do número de ocupados, o rendimento médio real habitual do trabalhador (descontada a inflação) caiu para R$ 2.449 –o menor valor já registrado na série histórica da pesquisa, iniciada em 2012. O valor representa uma queda de 4,6% frente ao trimestre anterior e uma redução de 11,1% relação a igual trimestre de 2020.
Já a massa de rendimento foi de R$ 225 bilhões, com queda de 1,1% na comparação com o trimestre anterior e recuo de 1,9% em 1 ano, o que foi classificado pelo IBGE como estatisticamente estável.
A pesquisa do IBGE mostra que o rendimento médio do trabalhador com carteira assinada foi de R$ 2.345, enquanto que o do emprego sem carteira assinada e do trabalho por conta própria informal foram de R$ 1.528 e R$ 1.458, respectivamente.
No comparativo com outubro do ano passado, as seis principais posições de ocupação tiveram queda no rendimento médio: empregado com carteira de trabalho assinada (-8%), empregado sem carteira de trabalho assinada (-11,9%), trabalhador doméstico (-5,1%), empregado no setor público (-10,6%), empregador (-15,0%) e trabalhadores por conta própria (-4%).
Entre as atividades, as maiores reduções na renda média foram observadas na indústria (-16,1%), administração pública (-11,6%) e no comércio (10%).
40,7% dos ocupados na informalidade
A taxa de informalidade manteve a trajetória de alta, atingindo 40,7% da população ocupada, ou 38,2 milhões de trabalhadores. No trimestre anterior, a taxa havia sido 40,2% e, no mesmo trimestre de 2020 estava em 38,4%.
Do adicional de 3,292 milhões de ocupados no trimestre, 1,782 milhão de vagas vieram do mercado informal de trabalho, ou 54% do total. O grupo reúne empregados do setor privado sem carteira assinada, trabalhador doméstico sem carteira, conta própria sem CNPJ, empregador sem CNPJ e trabalhador familiar auxiliar.
O número de empregados sem carteira assinada chegou a 12 milhões, com alta de 9,5% (1 milhão de pessoas) ante o trimestre anterior e de 19,8% (2 milhões de pessoas) em relação a igual trimestre de 2020.
Já número de empregados com carteira de trabalho assinada totalizou 33,9 milhões de pessoas, subindo 4,1% (mais 1,3 milhão de pessoas) frente ao trimestre anterior e 8,1% (mais 2,6 milhões de pessoas) frente a 2020.
O comércio liderou a geração de postos de trabalho no trimestre encerrado em outubro. O número de ocupados no comércio cresceu 6,4% em 3 meses, o que representa 1,1 milhão de pessoas a mais trabalhando no setor. Em 1 ano, o avanço foi e 10,9% ( 1,7 milhão a mais).
5,1 milhões de desalentados e 7,7 milhões de subocupados
O número de desalentados (pessoas que desistiram de procurar trabalho devido às condições estruturais do mercado foi estimado em 5,1 milhões de pessoas, o que representa uma queda de 3,8% (menos 199 mil pessoas) frente ao trimestre anterior e de 11,9% (menos 683 mil) no comparativo internanual.
A população subocupada por insuficiência de horas trabalhadas, ou seja, que trabalha menos horas do que gostaria totalizou 7,7 milhões de pessoas, contra 7,8 milhões no trimestre. Há 1 ano, porém, o número era menor: 6,5 milhões.
Faltam oportunidades para 29,9 milhões
O levantamento do IBGE mostrou ainda que faltavam oportunidades no mercado para cerca de 29,9 milhões de trabalhadores. Este contingente forma o que o instituto classifica como trabalhadores subutilizados. Há 1 ano, porém, a mão de obra "desperdiçada" somava 33,1 milhões.
A taxa composta de subutilização caiu para 25,7%, ante 27,9% no trimestre anterior e 29,6% no 3º trimestre do ano passado.
Entre os destaques positivos, houve queda de 2,1% na população fora da força de trabalho na comparação com o último trimestre e redução de 7,7% no comparativo interanual. O total de pessoas que não estavam nem ocupadas nem desocupadas somaram 65,2 milhões de pessoas. Há 1 ano, eram 70,5 milhões fora do mercado de trabalho.
Repercussão e perspectivas
Apesar da trajetória de queda do desemprego, a recuperação do mercado de trabalho tem sido puxada pelo aumento o número de trabalhadores subocupados e informais, e vem sendo marcada pela queda do rendimento médio da população ocupada.
O economista da Necton, André Perfeito, destaca que a massa salarial, ou seja, a quantidade de "dinheiro na mesa" por assim dizer, permanece no mesmo patamar do pior momento da crise da pandemia.
Vale lembrar que nos meses anteriores à pandemia, a taxa de desemprego no país estava ao redor de 11,5% e a população ocupada superava 95 milhões.
Entre os fatores que dificultam uma retomada mais firme do mercado de trabalho e a geração de vagas de melhor qualidade estão a piora das expectativas para a economia em 2022, as incertezas fiscais e políticas em ano de eleições presidenciais, e a trajetória de alta da taxa básica de juros, que encarece os investimentos e os financiamentos de empresas e consumidores.
Os índices de confiança do comércio e de serviços voltaram a cair em dezembro, segundo mostrou nesta terça o Instituto Brasileiro de Economia da FGV (FGV IBRE), indicando a piora do otimismo dos empresários.
A projeção do mercado financeiro para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 2022 passou de 0,50% para 0,42%, segundo o boletim Focus do Banco Central. Já a estimativa para a Selic é de 11,50% ao ano para o fim de 2022, o que pressupõe novas altas do juro básico da economia no próximo ano. Para a inflação, a previsão é de 5,03%.
Para o mercado de trabalho, a expectativa é de desaceleração do ritmo de recuperação e de ligeira alta da taxa de desocupação no ano que vem. A XP projeta que o desemprego atingirá 11,8% ao final de 2021, chegando a 12,4% ao final de 2022. "A nosso ver, a taxa de desocupação subirá - ainda que modestamente - no 2º semestre do próximo ano, em linha com o enfraquecimento da demanda doméstico", destacou em relatório.
Darlan Alvarenga, G1, 28/dez