Com a volta dos juros em dois dígitos, crédito imobiliário ficará menos acessível para a população brasileira; expectativa para 2022 é de crescimento 'modesto' do setor.
Cerca de 3 milhões de famílias deixaram de ter acesso ao financiamento imobiliário desde janeiro do ano passado por conta do maior custo do crédito para compra do imóvel próprio.
Em janeiro de 2021, os juros estavam em 2% ao ano. Na quarta-feira (2), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu elevar a taxa para 10,75% ao ano — o oitavo aumento seguido do juro básico e acima de 10% pela primeira vez em quatro anos e meio.
Os cálculos foram realizados por Alberto Ajzental, coordenador do curso de Desenvolvimento de Negócios Imobiliários da FGV (Fundação Getulio Vargas).
De acordo com Ajzental, a cada variação de 2,5% da Selic, há o aumento de um ponto percentual no Custo Efetivo Total (CET) envolvido na contratação de um financiamento. E a cada um ponto de aumento do CET, 1 milhão de famílias, aproximadamente, perde a condição financeira de comprar um imóvel.
O professor acrescenta que os dados não consideram a inflação e o desemprego, que provocam uma corrosão ainda maior no poder de compra da população e também pesam negativamente para a demanda no setor.
Além do encarecimento do crédito imobiliário, Ajzental lembrou que o aumento do Índice Nacional de Custo de Construção (INCC), que acelerou 0,64% em janeiro, também elevou o preço da construção dos imóveis — prejudicando ainda mais o setor como um todo.
Crescimento 'modesto'
Para Danilo Igliori, economista-chefe da OLX Brasil, o mercado imobiliário vai esfriar bastante em 2022, mas não deve registrar queda em relação ao ano passado. O setor deve ter um crescimento "modesto".
Na avaliação do economista, os bancos vão reajustar as tarifas por conta da elevação da Selic para dois dígitos, mas a um limite que não prejudique o relacionamento com os clientes. A Caixa, como de costume, deve liderar os ajustes tarifários.
A dica para quem vai financiar um imóvel neste período é dar o máximo de entrada possível, sem se esquecer dos gastos que sucedem a liberação do crédito, como impostos e reformas, aconselhou Rafael Costa, diretor de produto da CrediHome.
Taxas cobradas pelos bancos
Entre os grandes bancos, as taxas para financiamento imobiliário chegaram a subir um ponto percentual entre o final de 2021 e janeiro deste ano (veja tabela abaixo). Com o aumento de 1,5 ponto percentual da Selic, as instituições não descartam a possibilidade de novos ajustes.
A Caixa elevou os juros cobrados para as linhas de financiamento imobiliário com recursos da poupança (SBPE) este mês.
Para a linha tradicional indexada à taxa referencial (TR), a Caixa passou a cobrar de 8% ao ano até 8,99% ao ano mais TR. Em novembro, última vez que o g1 fez o comparativo, as taxas cobradas eram a partir de 7,25% ao ano mais TR.
Na linha fixa, por sua vez, as taxas agora estão a partir de 9,75% ao ano. Em novembro, eram a partir de 9,5% ao ano.
O Banco do Brasil divulgou que suas taxas estão em a partir de 7,99% ao ano mais taxa referencial. Em novembro, elas estavam em 7,58% ao ano mais TR. Antes do recente aumento da Selic, o banco informou que também avaliava "possíveis ajustes em suas linhas de crédito imobiliário" a depender da última decisão da reunião do Copom.
Na linha tradicional do Itaú, os juros passaram de a partir de 8,3% mais TR para a partir de 9,1% mais TR em janeiro.
O Bradesco alterou a taxa de sua linha tradicional em dezembro: elas foram de a partir de 8,50% ao ano mais TR para a partir de 9,50% ao ano mais TR.
O Santander também registrou alta de um ponto percentual nas taxas: de a partir de 8,99% ao ano mais TR para a partir de 9,99% ao ano mais TR.
Patrícia Basilio, G1, 03/jan