Sem lucratividade, empresa estuda elevar o preço das assinaturas do streaming Disney+ nos Estados Unidos e cobrar taxas maiores para o compartilhamento de telas, assim como fez a Netflix. Especialistas, porém, acreditam que situação vai melhorar.
O mundo mágico da Disney vive dias turbulentos. O balanço corporativo relativo ao segundo trimestre divulgado pela companhia nesta quarta-feira (9) revelou que, entre abril e junho, a empresa de entretenimento teve um prejuízo de US$ 460 milhões (ou mais de R$ 2,2 bilhões na atual taxa de câmbio).
O maior problema, segundo especialistas, é a "crise de criatividade" na produção de conteúdo.
Com uma série de remakes de filmes clássicos e sequências de títulos — como "A Pequena Sereia" e "Indiana Jones" — a Disney não tem alcançado bilheterias tão expressivas como o esperado, ao mesmo tempo em que os números de assinantes do streaming Disney+ vêm diminuindo — foram quase 12 milhões de assinantes a menos do primeiro para o segundo trimestre deste ano.
Após a divulgação dos resultados, o presidente da companhia, Bob Iger, disse que "apesar dos ventos contrários no curto prazo", ele tem uma "confiança incrível na trajetória de longo prazo da Disney".
Como forma de reverter o cenário e aumentar sua receita e o lucro, a empresa já estuda algumas estratégias: elevar o preço das assinaturas do serviço de streaming nos Estados Unidos, o que poderia impactar no resto do mundo também, e cobrar taxas maiores para o compartilhamento de telas, assim como fez a Netflix recentemente.
Essas medidas fazem parte de uma correção de rotas liderada por Iger, que retornou ao comando da empresa depois de dois anos fora. Agora, o foco da companhia é ter lucro, deixando o crescimento um pouco de lado por um tempo.
Streaming gera receita, mas não lucratividade
O estrategista-chefe da Avenue Securities, William Castro Alves, afirma que o serviço de streaming da Disney, até aqui, tem gerado receita para a companhia, por conta das assinaturas, mas pouca lucratividade.
O Disney+ surgiu nos Estados Unidos com mensalidades mais baixas que outras plataformas e, além disso, fez parcerias com outras empresas para atrair mais assinantes, o que fez sua base crescer rapidamente até o fim de 2022, destaca Paulo Gitz, estrategista global da XP.
Nos últimos dois trimestres, no entanto, essa base vem caindo, com o fim dessas parcerias que inflavam o número de assinantes, além de uma forte concorrência de outros serviços de streaming e o próprio corte de custos por parte dos consumidores, pontua Gitz.
Porém, essa queda de assinantes não é a principal razão para a baixa lucratividade e o prejuízo observado no último trimestre. A empresa, na verdade, gastou muito com conteúdos que não tiveram o retorno esperado.
O analista de investimentos Vitor Miziara ressalta que, nos últimos meses, a Disney não contou com nenhum grande lançamento que atraísse a quantidade desejada de público — nem nas salas de cinema, nem no streaming.
Castro Alves, compartilha da mesma visão e afirma que a ideia de revisitar filmes antigos já está desgastada.
Uma das grandes apostas para 2023, por exemplo, era o remake de "A Pequena Sereia", que teve um orçamento de cerca de US$ 250 milhões. A bilheteria, entretanto, foi pouco mais que o dobro disso: US$ 564,2 milhões.
A situação foi pior ainda com a sequência "Indiana Jones e a Relíquia do Destino", que faturou cerca de US$ 300 milhões, o mesmo valor do orçamento inicial do filme. As expectativas eram de que o longa arrecadasse, pelo menos, US$ 800 milhões.
Com altos gastos, a receita levantada com as assinaturas do streaming não foram o suficiente para evitar o prejuízo da companhia.
Mercado dá voto de confiança
Apesar da situação complicada com os conteúdos que não impactaram tanto o público como a Disney e seus acionistas gostariam, o mercado continua dando um voto de confiança para a empresa — o que pode ser observado pelo desempenho de suas ações, que ainda apresenta desempenho positivo em 2023, com alta de cerca de 3% no ano até aqui.
Mas, a razão para essa confiança tem nome e sobrenome: Bob Iger. Ele já foi presidente da Disney antes, entre 2005 e 2020, e é consenso entre os especialistas que ele fez uma boa gestão. Por isso, o mercado se animou com a sua volta ao comando da companhia.
O estrategista considera que "os esforços para cortar gastos são claros", principalmente gastando menos com a produção de conteúdo e aumentando as receitas onde for possível. "A empresa crê que voltará a crescer a sua base, mas o foco no curto prazo será mais em lucratividade do que em crescimento de usuários".
Tanto Gitz quanto Castro Alves, da Avenue, pontuam ainda que o cenário já se mostra mais positivo por conta dessa recente estratégia adotada pela Disney e que o prejuízo registrado no último trimestre acabou por esconder um pouco da melhora operacional que a empresa está buscando desempenhar.
Bruna Miato, g1, 11/ago