Grandes empresas, investidores ou fundos miram na novidade no Brasil. Nos EUA, negócio já movimenta US$ 200 bilhões por ano.
Um estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2023, mostra que o número de brasileiros com imóvel próprio vem caindo desde 2016. Na outra ponta, o levantamento indica que, no mesmo período, a quantidade de pessoas vivendo em domicílio alugado cresceu cerca de 3%. Na mesma direção, uma pesquisa da Agência Today revela que 80% dos jovens, entre 25 e 39 anos, preferem alugar um imóvel a comprá-lo. O cenário favorável à locação levou empresas brasileiras a investir no conceito “multifamily”. O segmento, que já existe há cem anos nos Estados Unidos, movimenta US$ 200 bilhões por ano e responde por 80% dos aluguéis no país.
Também chamado de “build to rent” (construído para alugar, em uma tradução literal), o conceito, que já vinha crescendo no Brasil, promete se consolidar em 2024 por aqui, de acordo com especialistas. Isso se deve em boa parte à alta nos valores dos imóveis particulares, somada à elevação dos juros e às dificuldades de financiamento, além da mudança da cultura nacional em relação à habitação. Diante desse quadro, projetos “multifamily” passaram a ser o foco dos fundos de investimentos imobiliários, que têm nas classes A e B seu público-alvo.
O conceito é simples e oferece comodidades ao consumidor: grandes empresas constroem prédios exclusivamente voltados ao aluguel e equipam os apartamentos com uma série de serviços: eletrodomésticos como geladeira, fogão, micro-ondas, aparelhos de ar-condicionado e máquinas de lavar roupa e louça; portas com fechadura eletrônica; e armários com espaços generosos na cozinha e no banheiro. Nas áreas comuns, os locatários geralmente têm à disposição churrasqueira gourmet, piscina, academia, ambientes para home-office e área de lazer para animais, entre outros atrativos.
Geralmente os contratos, que podem ter períodos adaptados às necessidades do cliente, incluem serviços de hotelaria.
“É uma nova forma de morar, consequência da maneira como trabalhamos e estamos vivendo. O brasileiro está refletindo sobre as vantagens de viver de aluguel. Ainda há uma carga cultural grande para compra, mas muitos já perceberam que a aquisição nem sempre é a melhor opção”, observa Cristiano Viola, diretor de operações da incorporadora e gestora imobiliária global Greystar, em entrevista ao site do Sistema de Excelência em Gestão Sindical (SEGs), ligado à Fecomércio: “Nessa nova realidade, muitas pessoas buscam lugares para viver sem a obrigação de fazer um contrato de 30 meses. Na Greystar, por exemplo, a duração de cada contrato é variável”.
A desburocratização também é vendida como uma vantagem, uma vez que as decisões são tomadas de maneira centralizada, com gestão profissional – diferentemente do que acontece normalmente em intermináveis reuniões de condomínio.
Lista, que inclui o Brasil, possui opções sofisticadas para todo tipo de gosto
- O empreendimento ‘multifamily’ faz parte de um modelo de negócio, podendo ser um complexo de casas, de apartamentos ou de imóveis comerciais. Pertence apenas a um proprietário, grupo investidor, empresa, fundo ou pessoa física, destinado à locação e que centraliza a gestão do condomínio e das unidades em empresas profissionais. É muito comum que esses empreendimentos tenham plantas, arquitetura e serviços customizados para atender determinado público, como idosos, aposentados, famílias pequenas e solteiros - explica Fernanda Leitão, tabeliã do Cartório 15.
- Vivemos o conceito da economia compartilhada, que se baseia nos princípios da colaboração e troca de bens e serviços. Já temos Uber, Airbnb, carros e bicicletas compartilhados... É uma realidade econômica que se baseia muito mais no uso e na experiência do que na propriedade em si - completa.
Para ela, a maior oferta de imóveis para locação aumentará a competitividade do mercado, acarretando o crescimento do número de investidores nacionais e estrangeiros, além da mudança nos padrões de moradia e da alteração da política habitacional.
- A questão do déficit habitacional, principalmente nos grandes centros urbanos, é um problema conhecido por todos. Apesar de o direito à moradia ser previsto constitucionalmente, sabemos que, na prática, existe uma distância abissal entre o que manda a Constituição e a realidade vivida pela sociedade brasileira. Os empreendimentos do tipo ‘multifamily’ são mais resistentes às crises econômicas. Além disso, esse investimento é mais protegido da inflação, pois os aluguéis tendem a acompanhar a elevação do custo de vida. A perspectiva de crescimento do setor é tão positiva que já existem vários projetos dessa natureza em grandes centros urbanos e nas grandes cidades do interior do país - destaca Fernanda.
O Globo, 29/mai