De tempos em tempos o mercado imobiliário aposta em certos modelos para capturar os muito ricos, como condomínios com piscinas, golfe, spa e cavalos. Mas e uma casa de campo com pista de pouso e a possibilidade de estacionar o avião na porta de casa? Esse é o conceito "fly-in", ou "condomínio aeronáutico".
Nos Estados Unidos, a fórmula teve início em 1946, na Califórnia, e se espalhou. No Brasil tem ganhado terreno, especialmente nos últimos anos. Há projetos no interior de São Paulo; lago de Furnas, em Minas Gerais; na península de Maraú, na Bahia; e em Governador Celso Ramos, em Santa Catarina.
Nas últimas semanas, com uma festinha aqui e outra ali, um grupo de empresários começou a vender a novidade do momento: o Green Harbour Fly-in Destiny, um complexo com dois condomínios no lago de Furnas, em Minas, que promete ao proprietário a possibilidade de "estacionar o avião de um lado da casa e o barco do outro". O projeto foi desenvolvido pela Marplan Empreendimentos, dos empresários Márcio Bissoli (CEO do Grupo Bauminas) e Alexandre Penido, cônsul do Chile em Minas Gerais. O planejamento e a construção da área devem demorar entre oito e dez anos. No total serão cinco "condomínios boutique", cercados por centro náutico, equestre e hotel design, cuja bandeira está em negociação.
"Ali você poderá ter o estilo de vida de John Travolta. Quer exclusividade maior?", diz Ricardo Kurtz, da Costum Solutions, sócio do projeto. O ator americano também vive num "fly-in", no norte da Flórida, onde estaciona seus dois aviões. Há poucos meses, quando esteve no Rio para gravar um comercial de bebidas, ele aterrissou no aeroporto do Galeão pilotando um deles, um Boeing 707.
Por enquanto, não se esperam Boeings em Furnas, apenas jatinhos. A pista de pouso (1.400 metros de extensão total) será usada por cem famílias e haverá parcerias com empresas de táxi aéreo para quem não tem avião particular. Antes de ser opção para quem quer um hangar privado, o lago de Furnas sempre foi destino turístico com infraestrutura de clubes, hotéis e restaurantes.
Conhecido como "Mar de Minas", tem uma natureza exuberante com cachoeiras, ilhas, enseadas e piscinas naturais, e é circundado por vários municípios. Há mais de 25 anos ali foi construído o primeiro condomínio. O acesso por estrada é demorado e chega a durar três horas e meia de Belo Horizonte.
O empresário Marcio Bissoli começou a frequentar a região com sua primeira mulher e se casou lá, onde a família tinha casa. Há quatro anos, ao decidir implantar o condomínio, passou a comprar terras. "Mesmo depois de ir lá tantos anos, a cada vez descubro áreas ainda inacessíveis. Como me locomovo de helicóptero - sem a menor pretensão - tenho o privilégio de ver do alto aquele santuário ecológico", diz. O investimento, fora a aquisição de terras, será da ordem de R$ 100 milhões, estima. E pretende atrair gente de São Paulo, Rio e Minas, por ser um "ponto equidistante das três capitais que concentram o PIB do país".
Um pouco distante desse triângulo, acaba de ser lançado outro empreendimento do tipo, na Bahia: o Kiaroa Fly-In Residence. Fica na Península de Maraú, na Costa do Dendê, ao lado do hotel de mesmo nome, que completou dez anos. Serão 30 lotes, entre 1.300 e 2.500 m2 com preço a partir de R$ 1 milhão cada um. A pista de pouso já é usada pelo hotel para o transporte de hóspedes em viagens que duram 40 minutos a partir do aeroporto de Salvador. A multiplicação desses condomínios por aqui promete e se fundamenta nos dados da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), que aponta um aumento de 32% no número de aviões privados nos últimos cinco anos, no Brasil.