Ainda um tabu para muitos pais, a moradia independente para pessoas com deficiência intelectual será tema de um seminário aberto ao público que acontece hoje, das 8h30m às 17h30m, no Palácio São Clemente, em Botafogo.
Promovido pelo Instituto JNG, que desde 2010 se dedica a projetos de inclusão social para deficientes, o evento vai reunir arquitetos, acadêmicos, profissionais de saúde, políticos e famílias para discutir as diretrizes e os rumos de um novo modelo de moradia independente para o Brasil. Além disso, serão compartilhadas informações e pesquisas sobre experiências bem-sucedidas em países como a Inglaterra.
Segundo Flávia Poppe, presidente do JNG, é a primeira vez que pessoas de múltiplos setores se juntam para pensar em como as cidades podem se preparar para oferecer mais independência para deficientes.
- A autonomia para pessoas com deficiência não é uma bandeira, é um conceito firme, que deve se tornar política pública. Aqui no Brasil, a gente entende que a viabilização desse tipo de habitação depende de uma ação tripartite, envolvendo o governo, os familiares e os investidores imobiliários. Também precisamos do auxílio de urbanistas para esse planejamento, uma vez que essas moradias não podem de forma alguma se transformar em espaços segmentados, afastados da comunidade; elas têm de estar inseridas nos bairros, para que todos tenham convívio social, rotina, e acesso aos serviços - pontua Flávia.
Ela explica que essas residências seriam uma espécie de república, onde os moradores teriam seus apartamentos individuais e contariam com a supervisão de "apoiadores", profissionais que, de acordo com Flávia, são diferentes dos já conhecidos cuidadores:
- O cuidador tem um papel assistencial. Já o apoiador tem a função de promover a autonomia dos deficientes, de orientar as atividades em vez de fazê-las por eles.
Do ponto de vista da segurança, Flávia entende que algumas famílias são resistentes à ideia de ver seus filhos morando sozinhos por opção própria ou por necessidade.
- Há, muitas vezes, uma atitude superprotetora. Mas um assunto que precisa ser enfrentado é: o que acontece com o deficiente após a morte dos pais ou responsáveis? É a partir de uma convivência com outras pessoas e da liberdade para realizar tarefas sozinhos que eles vão desenvolver habilidades para se sentirem cada vez mais seguros - enfatiza.
Helena Werneck, diretora do instituto Meta Social, que criou a campanha "Ser Diferente é Normal", é uma das mães que estarão do evento. Ela conta que sua filha Paula, de 26 anos, com Síndrome de Down, tem rotina ativa e independente.
- Ela estuda, trabalha, sai para festas, malha... E moraria com amigos se existissem residências com esse formato aqui no Rio. É importante que os pais comprem essa ideia e acreditem que seus filhos podem e precisam ter sua individualidade - enfatiza Helena.
Durante o dia, o seminário contará com painéis que tratam do Estado e das garantias dos deficientes, de políticas habitacionais para pessoas com comprometimento intelectual e depoimentos de jovens com deficiência.