quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Prévia da inflação oficial de fevereiro é a maior em 13 anos


Com uma alta de quase 2% nos preços de alimentos - resultado dos problemas climáticos e da alta do dólar -, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 ( IPCA15) subiu 1,42% em fevereiro, acima dos 0,92% de janeiro e da taxa de 1,33% de fevereiro de 2015. É a maior taxa mensal do índice - considerado uma prévia do IPCA, a inflação oficial do país - desde fevereiro de 2003, quando chegou a 2,19%. O número veio acima do esperado pelo mercado, mas a expectativa é que o resultado fechado do IPCA em fevereiro venha menor que no IPCA- 15.

Apenas três grupos - alimentos, transportes e educação - responderam por 75% da inflação registrada entre 15 de janeiro e 15 de fevereiro, quando foram coletados os preços do IPCA- 15 deste mês. O custo dos alimentos avançou 1,92% e respondeu por 0,49 ponto percentual da taxa, ou quase um terço da inflação do mês. Já o grupo Transportes teve alta de 1,65% e fatia de 0,30 ponto percentual na taxa, puxado pelos reajustes nas tarifas de ônibus urbanos. O grupo Educação, por sua vez, teve aumento de 5,91%, influenciado pela alta das mensalidades escolares no início de ano. O salto nos preços de cursos regulares foi de 7,41%. No acumulado nos doze meses encerrados em fevereiro, o IPCA- 15 ficou em 10,84%, o maior desde novembro de 2003.

- O que teve de surpreendente foi que o El Niño intensificou a piora do grupo alimentação. O número do IPCA- 15 de fevereiro veio muito ruim. Apesar de apenas três grupos responderem por mais de 70% do índice, a alta de preços está disseminada - afirma o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otavio de Souza Leal.

Economista da consultoria Rosenberg & Associados, Leonardo Costa França lembra ainda o impacto da alta do dólar nos preços de alimentos:

- Houve excesso de chuvas no Sul e seca no Nordeste, afetando os preços de alimentos. Mas também há impacto da desvalorização cambial, que demora mais a aparecer nos preços.

AUMENTO DENTRO E FORA DE CASA 

A alta dos alimentos pesou dentro de casa - alimentação no domicílio subiu 2,37% - e também fora dela, 1,08%. Itens importantes na cesta de consumo das famílias tiveram aumento expressivo: o preço da cenoura subiu 24,36%, enquanto o da cebola avançou 14,16%, e o do tomate, 14,11%. Em um ano, a cebola ficou 84,61% mais cara.

A taxa de difusão - que indica a fatia dos mais de 400 itens pesquisados pelo IPCA- 15 que tiveram alta de preços no mês - subiu de 75,34% em janeiro para 77,53% em fevereiro, segundo o ABC Brasil. Em fevereiro de 2015, o percentual era de 68,49%. Luis Otavio de Souza Leal lembra que os preços de alimentos respondem por mais de 40% dos itens pesquisados. Ou seja, se a tendência é alta entre os alimentos, maior é a difusão. Ainda assim, ele acredita que há um espalhamento maior dos reajustes.

Ele estima que o IPCA de fevereiro fique perto de 1%, previsão semelhante à da Rosenberg & Associados. O banco Brasil Plural projeta alta de 1,05%. Para 2016, as estimativas estão perto de 8%. Pelo Boletim Focus, do Banco Central, que reúne as projeções do mercado, a expectativa é 7,62%, acima do teto da meta de inflação do governo, de 6,5%.

- Talvez a variação de 1,42% seja a maior do ano para um mês, seja pelo IPCA ou IPCA- 15. Acreditamos que o resultado fechado de fevereiro já mostre desaceleração, para fechar 2016 em 8% - disse Leonardo França.



O Globo, Lucianne Carneiro, 24/fev