quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Preço da gasolina sobe 12,5% nos postos em 2023; veja a variação dos combustíveis no 1º ano de Lula 3

 

Diesel e etanol, por outro lado, recuaram. Fatores como cotação internacional do petróleo, retomada de impostos federais e reajustes de preços pela Petrobras ajudam a explicar reflexos na bomba.

O preço médio da gasolina aumentou nos postos do país em 2023, enquanto diesel e etanol tiveram quedas. É o que mostram dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), divulgados na última terça-feira (2).

Veja abaixo como ficou o acumulado no primeiro ano do governo Lula 3.

- Gasolina: o preço médio passou de R$ 4,96 na última semana de 2022 para R$ 5,58 na semana de 24 a 30 de dezembro de 2023. O avanço é de 12,5%.

- Etanol: encerrou 2022 custando R$ 3,87. Na última semana de 2023, o valor médio encontrado foi de R$ 3,42 — recuo de 11,6%.

- Diesel: fechou o ano passado a R$ 6,25. Na última semana, custava R$ 5,86 — queda de 6,24% no ano.

Diversos fatores ajudam a explicar a variação nas bombas. Entre eles, a reoneração dos combustíveis, a cotação internacional do petróleo, o câmbio e os reajustes de preços pela Petrobras às refinarias. No caso do etanol, há relação direta com a safra de cana-de-açúcar.

Apesar do registro de fortes variações nos preços em meados de 2023, é possível perceber uma estabilização na curva de valores a partir de agosto, tanto para a gasolina quanto para o diesel e o etanol.

O que explica as variações

O ano foi marcado pela retomada de impostos federais sobre os combustíveis. Além disso, exerceram influência nos preços a cotação internacional do petróleo, o câmbio e os reajustes dos valores praticados pela Petrobras — que, em 2023, também alterou sua política de preços.

No caso do etanol, a queda nos preços foi influenciada principalmente pela boa safra da cana-de-açúcar e pela decisão das usinas de eliminar estoques, com o intuito de diminuir custos e baratear o combustível.

Veja o ponto a ponto:

Reoneração

A cobrança de PIS/Cofins foi retomada integralmente para a gasolina e o etanol em junho de 2023, ajudando a pressionar os preços dos combustíveis — especialmente da gasolina — nas bombas. O retorno da cobrança já era previsto. Em março, inclusive, o governo Lula (PT) já havia aplicado um aumento parcial dos tributos.

A reoneração dos combustíveis reverteu a decisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de zerar em 2022 a cobrança dos impostos federais, em um contexto de escalada de preços nas bombas e de proximidade das eleições presidenciais. À época, a medida de Bolsonaro foi vista como eleitoreira por economistas e analistas políticos.

Já o diesel permaneceu com impostos federais zerados em 2023 — com exceção de quando teve cobranças antecipadas para financiar o programa de carros populares do governo federal. A retomada integral de PIS/Cofins para o combustível ocorrerá em 2024.

Para especialistas, apesar da retomada de tributos, os reflexos nos preços foram moderados.

Cotação internacional do petróleo

O barril de petróleo tipo Brent, referência para o mercado, encerrou 2022 cotado a US$ 85,91. Um ano depois, na cotação de 29 de dezembro de 2023, fechou avaliado em US$ 77,04, o que representa uma queda de 10,3%.

Galhardo lembra que, apesar de aumentos pontuais, o petróleo seguiu em tendência de desvalorização ao longo do ano.

O economista também destaca a influência da Opep, grupo de países produtores e exportadores de petróleo, na variação dos preços.

"Em reunião no fim de novembro, a Opep anunciou novos cortes na produção, mas não da forma que alguns membros gostariam. Não houve consenso, e o tiro saiu pela culatra: a produção continua elevada, e o preço da commodity caiu", diz.

Vale lembrar que diminuir a oferta é um artifício usado pelo grupo para encarecer a commodity: menos petróleo no mercado significa, na prática, maior valorização do produto.

Mudança na política de preços da Petrobras

A cotação do petróleo no mercado internacional influencia diretamente os preços praticados pela Petrobras e, consequentemente, os valores encontrados nas bombas. Ou seja, quanto mais valorizada a commodity, maior tende a ser o custo dos combustíveis nos postos.

Essa influência era ainda mais evidente quando a Petrobras seguia a política de paridade internacional (PPI), que reajustava o preço dos combustíveis com base nas variações do dólar e da cotação do petróleo no exterior.

A petroleira, em maio de 2023, anunciou a alteração dessa política. A mudança definiu que seus preços às distribuidoras passaram a estar no intervalo entre:

- O maior valor que um comprador pode pagar antes de querer procurar outro fornecedor;

- O menor valor que a Petrobras pode praticar na venda mantendo o lucro.

À época, analistas ouvidos pelo g1 consideraram o novo modelo confuso e pouco transparente. Na prática, porém, o entendimento era de que o consumidor final seria beneficiado, justamente porque a estatal passaria a segurar os repasses das oscilações do dólar e do petróleo.

Vale lembrar que os valores praticados pela petroleira não são os mesmos dos postos de combustíveis. Os preços nas bombas também levam em conta os impostos e a margem de lucro das distribuidoras e revendedoras.

Reajustes pela Petrobras

Apesar do aumento dos preços nos postos em 2023, a Petrobras informou que, ao longo do ano, a gasolina teve ajustes para baixo nas refinarias, com o litro ficando R$ 0,27 mais barato — queda de 8,7% no período. Já o diesel recuou R$ 1,01 o litro, uma retração de 22,5%, segundo a petroleira.

Mas o que, então, explica o aumento nos postos?

Ricardo Balistiero, professor de economia do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), afirma que os movimentos mais fortes de alta ocorreram no meio do ano, com a retomada de impostos sobre os combustíveis — apesar da suavização de preços com o mercado externo mais positivo.

Câmbio

O câmbio também favoreceu os preços dos combustíveis em 2023. "A moeda brasileira se valorizou em 2023. Isso é bom inclusive para a Petrobras, porque abre margem para cortes de preços", diz André Galhardo, da Análise Econômica.

Em 2023, a moeda norte-americana registrou queda de 8,06% frente ao real, cotada a R$ 4,8525.

"O ano de 2023 foi muito positivo para os preços dos combustíveis no Brasil, especialmente se compararmos com 2022, quando tivemos o conflito entre Rússia e Ucrânia e a forte taxa de câmbio", compara Ricardo Balistiero, do IMT, reforçando que não houve eventos de grande impacto para os combustíveis no ano.

E o etanol?

Em 2023, o preço do etanol foi influenciado principalmente pela boa safra da cana-de-açúcar e pela prática de preços mais baixos pelas usinas, que buscaram diminuir estoque, aumentar a oferta e tornar o etanol mais vantajoso, explica Ricardo Balistiero, do IMT.

"Ou seja, existe o custo do estoque [que incentiva a venda do produto a preços menores], além de uma safra muito boa. Isso possibilita a redução nos postos de combustíveis."

Como funciona a calculadora?

O cálculo médio é feito a partir do preço e do rendimento de cada combustível. Com a oscilação dos valores da gasolina e do etanol nos postos, a opção mais vantajosa pode variar.

Segundo especialistas, o etanol vale mais a pena quando está custando até 70% do preço da gasolina. Entenda o cálculo.

O que esperar para 2024

A equipe econômica do governo não prevê impostos federais reduzidos sobre combustíveis em 2024. A informação consta na proposta de Orçamento do ano que vem e foi confirmada pela Secretaria da Receita Federal ao g1.

Apesar do fim de benefícios fiscais para gasolina, etanol e querosene de aviação já em 2023, as alíquotas seguirão reduzidas até o último dia deste ano para o diesel, biodiesel e para o gás de cozinha (GLP).

Com o fim da desoneração, portanto, esses produtos terão impostos elevados no começo de 2024. Caso os valores sejam repassados, haverá aumento de preços aos consumidores — com impacto na inflação.

- No caso do diesel, o reajuste tende a impactar de uma forma geral os preços da economia, pois o combustível é utilizado no transporte de cargas pelo país, assim como no transporte público.

- O aumento da tributação do gás de cozinha, por sua vez, tende a afetar não somente a população de baixa renda, mas também a classe média e os preços cobrados pelos restaurantes.

Para 2024, também está projetado o aumento do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), um tributo estadual.

A alta será de 12,5% nas alíquotas do imposto sobre a gasolina, o diesel e o gás de cozinha. A decisão foi publicada em 20 de outubro, e passará a valer em 1º de fevereiro de 2024.

André Catto, g1, 04/jan