Método de revitalização foi tema de painel do evento SOMA, do Instituto Mulheres do Imobiliário.
Mais que uma reforma, o termo “retrofit” é usado no mercado imobiliário como sinônimo para revitalização e modernização de um edifício já construído – muitas vezes para adequar a estrutura a padrões atuais de eficiência e segurança. O modelo é a saída ideal para que os especialistas chamam de “esgotamento construtivo”: cidades que já alcançaram todo seu potencial e não tem mais para onde crescer.
Muito utilizado nas milenares cidades europeias, o retrofit ainda não é tão proeminente nas metrópoles brasileiras – que são mais jovens e costumam ter espaço para desenvolvimento imobiliário. Ainda assim, especialistas apontam que o retrofit é um recurso indispensável para o futuro de qualquer cidade. O motivo? A busca pela sustentabilidade.
“A cidade do futuro já está construída. Cada vez mais as indústrias – inclusive construção civil e mercado imobiliário – passam a ter que trabalhar com o que já existe, com regeneração produtiva”, afirmou Pedro Ichimaru, sócio da Somauma, incorporadora focada em retrofit. A declaração foi dada em painel do evento SOMA, do Instituto Mulheres do Imobiliário, realizado nesta quinta-feira, 15. “Precisamos pensar, enquanto sociedade, o que vamos fazer com todos os recursos que já extraímos da natureza.”
Bruna Alcine, arquiteta do escritório Triptyque, também reforçou o ganho em sustentabilidade trazido pelos projetos de retrofit no momento da obra. “Para arquitetura é muito interessante, porque a produção de descarte de uma obra nova não é a mesma que de um retrofit. Manter a estrutura do prédio traz um impacto muito menor.”
No Brasil, os centros das grandes capitais são ideais para projetos de retrofit por serem adensados e com muitos edifícios ociosos após processo de desvalorização. A Somauma atua com retrofit no centro de São Paulo e tem no edifício Virgínia um de seus projetos mais emblemáticos. Inaugurado em 1951, o prédio foi encomendado pela família Matarazzo e acabou abandonado com a derrocada da região central da cidade a partir da década de 1970. A incorporadora adquiriu o edifício em 2020 e as unidades já estão 80% vendidas – a obra termina no próximo ano. “É um ganha-ganha: o edifício é revitalizado e o meio-ambiente sai beneficiado pela redução da pegada de carbono”, explicou o sócio da incorporadora.
Existem oportunidades também fora dos centros. Para Vasco Rodrigues, presidente da construtora Fator Realty, a maior delas está no Rio de Janeiro, uma cidade “espremida entre o morro e o mar”. A Zona Sul é a mais valorizada da capital fluminense e está praticamente toda ocupada. “Temos pouco espaço para desenvolvimento, então é preciso ter muita criatividade e cuidado.”
Rodrigues destaca o empreendimento First — Life Friendly, no bairro de Humaitá, como um dos maiores exemplos de retrofit da empresa na Zona Sul carioca. Com vista para o Corcovado, o prédio conta com área de lazer completa e plantas modernas de apartamentos sob a estrutura do prédio inaugurado nos anos 1970. “O retrofit é um caminho sem volta. As cidades estão cada vez mais maduras e sem oportunidades de desenvolvimento.”
O incorporador reforça, no entanto, que existem alguns casos à parte. Um deles é a própria cidade de São Paulo. Embora abrigue projetos de retrofit no centro, a capital paulista segue se expandindo horizontalmente: a topografia da cidade permite expansão de terrenos e não há sinais de queda na oferta. “Nem todas as cidades são assim. Então precisamos nos acostumar com o retrofit. Ele chegou para ficar e vai crescer cada vez mais.”
Exame, 20/ago