Oferta de mudanças nas plantas e pacotes de acabamento não alcançam resultado esperado, levando incorporadores a entregar unidades mais básicas para evitar demolições e geração de resíduos.
Nos últimos anos, as incorporadoras que atuam no segmento de alto padrão passaram a oferecer aos clientes pacotes de personalização do interior das unidades, criados por arquitetos renomados, com possibilidade de alteração das plantas originais e menu de acabamentos sofisticados para livre escolha. Mas o que era para ser uma solução tem se tornado um desafio para o setor, causando desconforto nas duas pontas da cadeia.
As empresas defendem a estratégia: o imóvel pode ser ocupado ou alugado logo na entrega das chaves, os custos da personalização acabam diluídos no próprio financiamento, não há os riscos e a dor de cabe- ça de se gerenciar uma reforma nem o impacto que a demolição pós-obra gera no meio ambiente, com desperdício de energia e geração de resíduos.
Entretanto, na média, menos de 40% dos compradores de São Paulo têm aceitado a oferta. Um dos motivos é a percepção de semipadronização dos apartamentos, levando à perda do aspecto da exclusividade, muito valorizado pelo público AAA.
Outra razão é a aquisição dos imóveis por investidores, voltados para revenda futura dos ativos, o que não validaria o gasto com a customização. “Descontando os investidores, que representam 20% da minha clientela, dos demais compradores, apenas 35% adquiriram nossos kits de personalização”, explica Luciano Amaral, CEO da Benx Incorporadora, responsável pelo Parque Global.
No showroom de vendas do empreendimento, às margens do Rio Pinheiros, um dos ambientes apresentava seis projetos de customização assinados por Carlos Ott, Débora Aguiar e Archea Associati. Marcas renomadas de acabamento e revestimentos davam suporte ao serviço.
“Ouvimos de muitos clientes que o principal receio era ter sua casa igual à de um vizinho”, lembra Amaral. Segundo ele, o tema preocupa porque gera impacto nas questões ASG da companhia, além de causar incômodo a quem optou pela personalização.
“Imagine passar por mais seis meses ou um ano com obra no apartamento do vizinho? Hoje, por exemplo, tenho 80 unidades em reforma simultaneamente nas cinco torres do empreendimento. A gestão disso, que envolve desde o acesso diário dos trabalhadores à logística das caçambas de entulho, é muito complexa”, diz o executivo.
A alternativa encontrada por Amaral foi passar a oferecer os apartamentos do Parque Global — que têm entre 142 e 597 metros quadrados — em uma versão mais básica, “na casca”, como diz o jargão do mercado. “Muitas empresas têm feito essa opção não para economizar, mas para evitar prejuízo e impacto ambiental, além de deixar o comprador mais livre para fazer sua unidade como bem quiser”, afirma.
Contudo, a estratégia é polêmica e, não raro, recebe críticas de potenciais interessados na aquisição de imóveis de alto padrão. No entendimento de muitos deles, apartamentos da categoria, pelo valor elevado, deveriam ser entregues praticamente prontos para morar. Eis o dilema!
Na Zona Norte, a Meta Incorporadora tem observado o mesmo fenômeno acontecer no empreendimento Mawe Luxury Residences. O pacote de customização dos apartamentos, com plantas entre 250 e 790 metros quadrados, foi adquirido por cerca de 30% dos clientes até o momento. “Oferecemos duas propostas de interiores, idealizadas pelo arquiteto do projeto, Gui Mattos, com memoriais de acabamento e quitação feita durante o financiamento”, explica Alexandre Souza Lima, CEO da Meta Incorporadora.
O executivo afirma que a adesão ao serviço tem aumentado nos últimos meses. “A personalização é um grande benefício para o cliente, que certamente vai gastar menos e poder usar o imóvel logo que receber as chaves, além da garantia da obra que a incorporadora oferece”, avalia.
Calendário de obra
Nos casos em que o comprador prefere fazer a customização por conta própria, Souza Lima diz que sua equipe informa o calendário de obra, com datas e prazos específicos para as intervenções. “É importante que as datas sejam respeitadas. Na fase de alvenaria, por exemplo, se o cliente solicitar uma mudança depois do prazo, isso vai gerar um novo custo, já que será preciso demolir o que já foi feito”, explica Souza Lima
De toda forma, a Meta Incorporadora pretende seguir oferecendo o serviço em seus próximos projetos. “Os futuros empreendimentos já serão projetados para facilitar o processo de customização das unidades, com plantas mais flexíveis e ‘layouts’ simplificados”, diz o CEO.
A Benx Incorporadora também tem oferecido personalização dos apartamentos na sua torre mais nova, a PG Residences, que promete ser o edifício de moradia mais alto da cidade — a 173 metros acima do nível da rua.
“Mas é um momento para se refletir sobre o tema, porque é preciso uma mudança de comportamento. Os clientes devem se conscientizar da importância da personalização durante a obra. O desperdício de materiais e a geração de resíduos podem e devem ser evitados” apela Luciano Amaral, da Benx.
Valor Econômico, 07/out