Estamos nos aproximando da alta temporada do mercado imobiliário, que acontece sempre no primeiro trimestre de cada ano. É nessa época que as dúvidas sobre o valor dos imóveis ganham mais repercussão entre proprietários e inquilinos.
Perguntas como ‘Qual o preço ideal para alugar meu imóvel?’, ‘Devo continuar buscando para encontrar um aluguel mais vantajoso?’ ou ‘Como incorporar o valor de uma reforma recente ao preço de venda do meu imóvel?’ revelam a complexidade do processo.
Muitas vezes, a falta de informação acessível leva a uma precificação desalinhada com a realidade de mercado. Isso resulta em negociações mais longas, incorrendo em custos e podendo gerar frustração para ambas as partes.
Uma pesquisa recente do Datafolha sobre precificação imobiliária, em parceria com o QuintoAndar, revelou que 84% dos entrevistados consideram difícil obter informações precisas sobre o preço adequado de um imóvel.
Para ilustrar o impacto negativo que isso pode ter no ecossistema imobiliário, o mesmo estudo apontou que 65% dos entrevistados deixaram de fechar contrato por receio de fazer um mau negócio devido ao preço, mesmo após longos períodos de busca ou espera por uma oferta.
Países mais desenvolvidos já conseguiram transpor a barreira da escassez de informação e consequente insegurança que ela ocasiona no mercado imobiliário, trazendo importantes benefícios para o setor.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o segmento tem como base sistemas centralizados, como o MLS (Multiple Listing Service), que reúne todos os registros de transações de compra e venda, criando um banco de dados único e acessível. Isso permite que corretores, compradores e vendedores acessem informações detalhadas e atualizadas sobre determinado imóvel de forma clara e facilitada.
No Brasil, a fragmentação dos dados dificulta a obtenção desse nível de precisão. Ainda de acordo com a pesquisa do Datafolha, 85% dos entrevistados acreditam que uma maior disponibilidade de dados sobre o preço dos imóveis traria mais segurança na hora de fechar um negócio.
Isso ocorre porque informações essenciais, como características dos imóveis – número de quartos e vagas de garagem – e até dados públicos, como valores de IPTU, ITBI (Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis), e histórico de transações do imóvel estão dispersas em diversas fontes, como cartórios, prefeituras e instituições financeiras.
Além disso, os poucos dados públicos atualmente disponíveis são pouco acessíveis para quem precisa consultá-los.
Soluções que oferecem dados confiáveis e acessíveis, aliadas a processos mais ágeis e simplificados, têm o potencial de transformar a experiência imobiliária, criando um ambiente mais justo, eficiente e vantajoso para todos os envolvidos.
Com as ferramentas corretas, corretores, por exemplo, estariam melhor equipados para apoiar seus clientes a precificar imóveis com mais precisão, beneficiando-se do aumento de liquidez. Investidores e imobiliárias, por sua vez, entenderiam melhor as dinâmicas do mercado para trabalhar uma estratégia mais eficaz, identificando oportunidades facilmente, analisando tendências e compreendendo melhor os fatores que influenciam o preço.
Já proprietários, compradores e locatários se sentiriam mais seguros ao fechar um negócio, sabendo que estão tomando a melhor decisão, com o melhor custo benefício.
É papel do mercado imobiliário estimular a disponibilização de informações públicas (como escritura, licenças, e IPTU) combinadas com dados privados, como valores médios de imóveis e tendências do mercado, em plataformas que sejam de fácil acesso pela sociedade. Tudo isso em prol do interesse público.
Muitos players já têm se mobilizado, com a divulgação de índices de preços, valores de transações e tendências de mercado, a fim de apoiar inquilinos e proprietários na tomada de decisão. Agora, é preciso um debate amplo no setor para que essas soluções sejam desenhadas de forma a serem viáveis, e toda a cadeia seja positivamente impactada, fortalecendo ainda mais o mercado imobiliário no Brasil.
Estadão, 17/dez