A pouco mais de quatro meses da Copa do Mundo, turistas que ainda não definiram onde vão se hospedar vão encontrar preços das diárias e dos aluguéis nas alturas. Levantamento feito pelo GLOBO identificou ofertas de aluguel de imóvel por até R$ 100 mil perto dos estádios. Na Rocinha, há casas oferecidas por R$ 33 mil durante o mês da competição.
No Vidigal, a associação Ser Alzira de Aleluia vai deixar de receber voluntários de suas atividades sociais para alugar os seis quartos de sua sede a 13 turistas por diárias de R$ 300 por pessoa. Quenia Aleluia, coordenadora da ONG, quer usar os recursos para contratar mais uma professora de balé, oferecer internet e concluir a obra do campo de futebol:
- Vimos a oportunidade de oferecer quartos para quem não quer pagar muito e, com isso, ganhar renda para a comunidade.
Na Rocinha, há casas por US$ 12 mil no mês da Copa. O americano Elliot Rosenberg criou o site Favela Experience ainda no ano passado para oferecer aos turistas quartos na Rocinha e no Vidigal, além de vender um tour por favelas. Segundo ele, o valor máximo de US$ 400 por dia em uma casa para seis pessoas na Rocinha está compatível com o preço de albergues, que não saem por menos de US$ 50. Ele disse que o Favela Experience tem um caráter social, que é oferecer às comunidades um incremento de renda.
- Acreditamos que, durante a Copa, as pessoas podem acumular vários meses de renda. E também visamos a quebrar estereótipos negativos que existem nas favelas - disse Rosenberg
O administrador Marcelo Pimentel, 34 anos, cobra R$ 100 mil pelo aluguel de sua casa em Itaquera, em São Paulo, a cinco quilômetros da arena paulista, durante a Copa. No imóvel de três quartos, moram ele, a mãe e a irmã. As duas deverão sair da casa no período e ele ficará para oferecer serviços como passeios de carro pela cidade e transporte para os jogos - tudo incluído no pacote, à venda na internet:
- Estou me baseando na oferta. Mas, dependendo da negociação, posso reduzir o preço.
O empresário Alexandre Lessa, de 40 anos, quer ganhar até R$ 200 mil com o aluguel de duas casas e um apartamento próximos ao Maracanã, além de outro imóvel em São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos. A ideia, disse, veio há apenas 20 dias. O empresário mora na residência da Região dos Lagos, mas isolará uma área útil de 150 metros para alugá-la e oferecerá serviços de transporte para os jogos. O valor foi estimado a partir de pesquisa dos valores de diárias cobradas por outras residências no período, uma média de R$ 300 por pessoa:
- Esse tem sido o preço das diárias de imóveis a menos de quatro quilômetros do estádio.
Não são só pessoas físicas e instituições que estão em busca dos dólares que virão com a Copa. Para lucrar mais durante o evento, o sofisticado Hotel Majestic, na praia da Ponta Negra, em Natal, preferiu não aderir às propostas da operadora credenciada da Fifa para poder cobrar o preço que considera justo de seus clientes. Na lista de quem já tem reserva programada para a Copa, está o presidente de uma multinacional de acessórios de luxo que pagará mais de US$ 1 mil por dia.
- A operadora deles (da Fifa) quer ter o seu lucro, pagando menos para nós, por isso nossa proposta não foi aceita por eles. Mesmo assim, a aceitação do hotel por outras operadoras internacionais está ótima. É a regra de oferta e procura - disse Abdon Gosson, diretor do hotel que tem a bandeira Best Western Premier.
Com um bebê de dois meses, a cabeleireira Claudiana Lima, de 39 anos, também quer lucrar com o torneio. Ela saiu de seu apartamento de dois quartos, em Fortaleza, para passar o período da licença-maternidade na casa da mãe, na mesma cidade. Como voltaria para casa somente em maio, bem perto da Copa, decidiu adiar o retorno e alugar o imóvel, que fica a menos de dez minutos da arena Castelão, por R$ 10 mil durante um mês.
- Falaram que os jogos seriam uma oportunidade - disse.
Quem elevou os preços dos aluguéis dos imóveis confia na disposição de estrangeiros, como o argelino Adib Khelef, que é fanático por futebol e trabalha com o esporte em Londres. O fato de a seleção da Argélia estar na Copa leva muitos a fazer "grandes sacrifícios" para vir, disse Khelef, que vai passar por São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre, Curitiba e Rio.
- Os hotéis que vi cobram US$ 200 por noite, o que é uma loucura. Estou pedindo para meus amigos brasileiros encontrarem opções mais baratas - disse Khelef. - Eu diria que os preços estão altos, mas nós não podemos ficar fora da Copa.