Apesar da expansão imobiliária da cidade rumo à Zona Oeste, o Centro ainda é o motor econômico do Rio de Janeiro. Com a presença de estatais, sedes de grandes empresas e boa parte do comércio, o Centro detém um quarto do emprego da cidade (25,37%), e o salário médio é o oitavo maior entre os mais de 160 bairros: R$ 3.576,98. Se acrescentada a zona portuária, que abrange Gamboa, Saúde, Caju e Santo Cristo, a região passa a concentrar 37% do emprego da cidade, bem acima da Zona Oeste. As informações fazem parte do levantamento feito pelo professor de Economia da UFRJ Mauro Osório que mapeia o rendimento na capital, com base nos dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais).
Os números mostram que o plano do arquiteto e urbanista Lúcio Costa de implantar na Barra da Tijuca um novo centro da cidade ainda parece longe de ser realidade. A Barra e o Recreio concentraram 31,4% dos lançamentos residenciais e comerciais de 2013, segundo dados da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi). Apesar disso, a Barra tem apenas o 24º salário da cidade, em média: R$ 2.467,32, o que pode estar ligado à grande concentração de comércio. A participação no emprego também é modesta. A região da Barra, Recreio e Jacarepaguá responde por somente 7% do emprego da cidade.
- A centralidade da Barra é muito menor do que as pessoas imaginam. Atualmente, procura-se adensar as cidades pelo seu centro e isso é racional, para reduzir a mobilidade obrigatória. Como a tendência da população é não crescer mais, não faz sentido as pessoas morarem longe do trabalho - afirma Osório.
O economista Leonardo Muls, da Universidade Federal Fluminense (UFF), lembra que o fato de o Centro concentrar dinamismo tem origem histórica. Na época em que o Rio era a capital do país, atividades administrativas e estatais predominavam na região.
- Quando o Rio deixou de ser capital, não houve planejamento econômico para o entorno da cidade. Mas o Centro ainda precisa virar um pouco do que é hoje Botafogo, crescer em termos de oferta de padarias, cinemas e de todo tipo de serviços - afirma Muls.
Segundo o levantamento de Osório, mesmo bairros que passaram a abrigar gestoras e bancos de investimento, como o Leblon, ainda estão longe de ocupar as primeiras posições no ranking da renda. O Leblon detém apenas o 32º lugar, com um salário que, em média, é de R$ 2.254,13.
Para o professor José Cezar Castanhar, da FGV Projetos, as obras do Porto Maravilha aumentam a tendência de concentração no Centro da cidade.
- Existe um movimento global neste sentido, algo que já aconteceu em Lisboa, Buenos Aires. Mas houve, sim, um crescimento para a Zona Oeste e hoje existe um paradoxo, porque as pessoas foram para lá acreditando que, do ponto de vista dos negócios, a Barra tivesse condições de competir - pondera.
Cidade Universitária tem maior salário
O mapa do rendimento no Rio mostra ainda que centros de pesquisa ajudam a elevar a renda. Encabeçando a lista, o maior salário é o da região da Cidade Universitária, onde a média fica em R$ 7.313,47, seguida por Manguinhos, com renda média de R$ 4.754,63.
Bairros da Zona Sul, como Jardim Botânico e Botafogo, também estão entre os dez maiores salários médios graças ainda a institutos de pesquisa. O Jardim Botânico aparece em terceiro no ranking, ao abrigar grandes empresas e o Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), além do próprio Jardim Botânico. O salário médio é de R$ 4.118,84. Botafogo está em sétimo: R$ 3.631,23.
A ideia de que apenas o setor de Serviços comanda a economia da cidade é outro equívoco, na opinião de Osório. O Rio ocupa a segunda posição na renda gerada em Serviços, de acordo com os dados mais atualizados divulgados pelo IBGE sobre o PIB dos Municípios. Para ele, ainda é grande o peso do rendimento industrial no total da renda. Isso acontece em Jacarepaguá, na Zona Oeste, onde o emprego industrial influencia a renda de trabalhadores. A região detém 17.484 empregos industriais diretos e está em nono na média geral de rendimentos: R$ 3.531.
O petróleo influencia os salários no Centro e no Maracanã. Só o Maracanã ocupa a quinta colocação no ranking de salários, com uma média de R$ 3.939,42 por trabalhador.
- O petróleo não se restringe à extração, mas também à indústria naval, que tem crescido fortemente na Região Metropolitana do Rio, além de todo aumento de empresas de partes e peças e prestação de serviços também vinculada ao complexo de petróleo e gás - afirma Osório.
Menos deslocamentos
A EcoSistemas, empresa de tecnologia especializada em softwares na gestão de saúde, está de malas prontas para se mudar este mês de Niterói para o Rio de Janeiro. Passará a ocupar dois andares de um prédio comercial numa área de 1.700 metros quadrados na Rua Dom Gerardo, em um investimento de R$ 2,5 milhões. O presidente da EcoSistemas, Marco Aurélio Duarte, espera que, com menos deslocamentos de funcionários, a receita aumente em 30% até 2015.
- É uma aposta que estamos fazendo. O Centro é uma área que movimenta toda cidade. Queremos aproveitar a convivência dos funcionários e dividir conhecimento. O Porto Maravilha pode nos levar mais adiante - estima Duarte.