Anunciado há dois anos, o plano da prefeitura para transformar a Área de Preservação Ambiental (APA) de Marapendi num dos maiores parques públicos do Rio começa a tomar forma. As secretarias municipais de Urbanismo e Meio Ambiente concluíram este mês o projeto do espaço de lazer - localizado entre a Praia da Reserva e a Avenida das Américas -, que terá 846 mil metros quadrados, o equivalente a dois terços do tamanho do Parque do Flamengo.
A implantação deverá ser feita em três etapas. A primeira fase, que abrangerá intervenções num trecho de 430 mil metros quadrados na Barra, estará concluída até o fim de 2016, promete o prefeito Eduardo Paes. O parque será chamado de Nelson Mandela.
O projeto começará a sair do papel em um pedaço da APA conhecido como Setor Capivara. Paes prevê a construção de quadras poliesportivas, um campo de futebol soçaite, estruturas para a prática de arvorismo, torres de observação de pássaros, ciclovias, deques para contemplação da Lagoa de Marapendi e quiosques. Passarelas suspensas de madeira permitirão uma circulação segura de pedestres entre as avenidas das Américas e Lúcio Costa. A Secretaria de Meio Ambiente está levantando os custos das intervenções e contratará uma empresa para criar o plano de manejo do parque, que estabelecerá sua lotação máxima, seu horário de funcionamento e suas regras de manutenção e visitação.
- O ex- governador Carlos Lacerda criou o Parque do Flamengo. Vamos implantar o Parque Nelson Mandela para preservar e valorizar a reserva - diz o prefeito.
CONTRAPARTIDA POR CAMPO DE GOLFE
O plano de criação do Parque Nelson Mandela surgiu como uma contrapartida pela exclusão de uma área de 58 mil metros quadrados da APA de Marapendi, que, até 2012, era considerada uma Zona de Conservação de Vida Silvestre, o que impedia a realização de obras no local. A mudança, aprovada pela Câmara Municipal, teve como objetivo permitir a construção de um campo de golfe para as Olimpíadas de 2016. O projeto também abre caminho para parcerias com a iniciativa privada.
- A prefeitura negociou com donos de terrenos que ficam na APA a adoção de um recurso urbanístico conhecido como Transferência do Potencial Construtivo. Esse potencial, que equivale à área edificável antes de sua transformação em parque, será transferida para outras regiões da Barra. E os atuais proprietários se comprometem a replantar trechos degradados da vegetação de restinga - informa a secretária municipal de Urbanismo, Maria Madalena Saint-Martin.
Hoje, vários terrenos do trecho da APA que abrigará o Parque Nelson Mandela estão alugados e viraram estacionamentos. O município espera chegar a acordos com todos os proprietários até o fim de 2016. Se houver casos de negociações fracassadas, a prefeitura fará desapropriações. As intervenções no Setor Capivara já estão acertadas porque foram bem-sucedidas as conversas com os donos de seis lotes, e os contratos deverão ser fechados nas próximas semanas.
O subsecretário municipal de Meio Ambiente, Altamirando de Moraes, informa que o conceito desenvolvido para o Nelson Mandela é de um parque urbano, mas com foco na preservação.
- O parque preservará uma área da cidade que está bastante urbanizada. A proposta é cuidar melhor dela. Não vamos, por exemplo, abrir novas trilhas - explica Altamirando, acrescentando que o projeto poderá ajudar a desenvolver o turismo náutico nas lagoas da Barra.
O projeto da prefeitura divide opiniões. O presidente da Associação de Moradores do Recreio, Dair José Zanotelli, é uma das vozes favoráveis à criação do parque:
- Se dependesse apenas da prefeitura, seria muito difícil tirar o parque do papel. Mas, se vai haver contrapartida do setor privado, acredito na proposta. Vamos fiscalizar e cobrar a execução do projeto.
O presidente da Câmara Comunitária da Barra, Delair Dumbrosck, defende que os imóveis privados localizados na APA permaneçam como estão. Ele diz não haver garantias de que o projeto será implantado na íntegra:
- A legislação da área não permite prédios grandes. É melhor ficar como está. O que a prefeitura quer investir ali poderia ser gasto em saúde e educação.
Morador do Recreio, o professor Welton Conceição aprova o projeto:
- A proposta vale a pena porque preservará uma grande área da região da Barra. Evitará construções e uma maior degradação da vegetação de restinga.
Por sua vez, Ricardo Herdy, sócio da empresa Ecobalsas, que presta serviços de transportes para condomínios da região, é contra o plano:
- Até hoje a prefeitura não conseguiu concluir a implantação plena da APA de Marapendi, que já tem mais de 20 anos. A proposta do parque pode até acelerar a degradação da área. Além disso, o município ainda não procurou os prestadores de serviços da região para detalhar seus planos. Essa conversa é necessária, pois o projeto poderá causar prejuízos ou mesmo o encerramento de algumas atividades.
Sônia Rabello de Castro, presidente da Federação das Associações de Moradores do Rio e professora da ONG americana Lincoln Institute of Land Policy, considera positiva a iniciativa da prefeitura. Porém, ela afirma que o parque não pode ser considerado uma compensação pela construção do campo de golfe:
- São ecossistemas distintos. O que será feito no parque não compensará a perda da vegetação na área esportiva.