quarta-feira, 5 de agosto de 2015

A um ano das Olimpíadas


Faltando um ano para os Jogos de 2012, Londres, a cidade-sede, exibia obras a pleno vapor e um índice de andamento dos trabalhos vistoso: a vila olímpica já tomara corpo e 88% do planejado estava pronto. Sobre o Rio de Janeiro sempre recaiu justificada desconfiança acerca da capacidade de cravar o cronograma para a Olimpíada de 2016. Uma mescla de burocracia, excesso de alçadas e leniência atravancou por anos obras fundamentais. Só que o inesperado aconteceu, mesmo que o roteiro tenha ainda obstáculos por vencer. Na quarta-feira 5 - a um ano exato do grande espetáculo -, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, virá a público anunciar uma marca que apaziguará brasileiros habituados com tudo feito em cima do laço: 80% das obras estão concluídas. É apenas um pouco menos do que indicavam os pontuais ponteiros londrinos em prazo idêntico. A comparação das fotos do Parque Olímpico das duas cidades, publicadas nas páginas desta reportagem, parece um jogo de sete erros, tão sutis são as diferenças.

Algumas instalações cariocas já poderiam até estar prontas - é o caso das três principais arenas do Parque Olímpico -, mas o ritmo foi reduzido pela prefeitura de caso pensado. Uma vez entregues pelas empreiteiras, elas começam a gerar custos de manutenção ao Comitê Organizador. "São gastos desnecessários por ora, já que os primeiros eventos-teste só ocorrerão ali a partir de dezembro", explica um integrante do alto escalão olímpico. Percalços surgiram, sim, e um em especial ainda paira como uma nuvem. Sob os cuidados do governo do estado, a Baía de Guanabara, sede das competições de vela, deve chegar a 2016 longe da meta de 80% do esgoto tratado. Uma pesquisa divulgada na semana passada mostrou que os atletas podem até contrair doenças devido aos vírus e bactérias presentes em suas águas. Dois outros pontos preocupavam, mas agora não mais: o velódromo, que ficou um tempo paralisado em razão da situação financeira da empresa responsável, e o Complexo de Deodoro, base de onze das 41 modalidades em disputa. Deodoro foi passando de mão em mão - do governo federal ao estadual - sem um tijolo à vista, até que, em 2013, o Comitê Olímpico Internacional (COI) soou o alerta. A prefeitura assumiu o complexo, e as coisas começaram a andar. Metade das obras foi concluída.

Há uma confluência de agendas que conspira a favor dos Jogos cariocas. De um lado, o COI busca no Rio um cartão-postal de uma era sem a habitual megalomania arquitetônica. Quer austeridade, para usar uma expressão em voga. Haverá nesta edição várias estruturas feitas de blocos que serão desmontadas quando a festa acabar. O COI deseja um espetáculo condizente com o atual momento de economias em baixa; do contrário, o número e a qualidade de candidatos a sede olímpica continuarão a minguar. Enquanto Londres custou o equivalente a 43 bilhões de reais, o Rio sairá por cerca de 38,2 bilhões. Lá, 80% do dinheiro era público, aqui serão 40%. Fatos recentes reafirmaram os novos tempos. Tóquio, sede da Olimpíada de 2020, decidiu suspender a construção de uma arena de design futurista assinada pela prestigiada Zaha Hadid (valor: 2 bilhões de dólares), e Boston retirou-se da briga para receber os Jogos de 2024. No lado das autoridades brasileiras, se tudo sair a contento, o prefeito Eduardo Paes, do PMDB, terá uma boa plataforma para entrar na corrida presidencial. Dilma Rousseff poderá, enfim, colar à sua imagem algo que deu certo. À margem dos jogos políticos, fica uma boa notícia nestes tempos em que elas são tão raras: pelo menos até agora, os Jogos do Rio vão bem.



Veja, 05/ago