terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Barbosa: mais crédito não afetará combate à inflação


O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, disse ontem não enxergar contradição no combate à inflação pelo Banco Central e, ao mesmo tempo, na melhoria de crédito direcionado pelo Executivo, ação que está em gestação no governo para estimular a economia. Em coletiva a agências de notícias estrangeiras, Barbosa avaliou que é obrigação do governo melhorar as linhas de crédito direcionado, acrescentando que há volume de "liquidez substancial" no sistema financeiro brasileiro para esse fim, sem que haja necessidade de equalização por parte da União. 

Segundo o ministro, essa melhoria deverá contemplar crédito direcionado a capital de giro para micro e pequenas empresas, crédito para exportação, para construção civil e para a agricultura. Ele se esquivou de dar mais detalhes em termos de volume e taxas. Hoje e amanhã, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC se reúne para a definição da taxa de juros, atualmente em 14,25% ao ano. A expectativa dominante no mercado é de alta nos juros, após a autoridade monetária ter sinalizado a retomada do ciclo de aperto diante da desancoragem das expectativas para a inflação. 

Alguns especialistas, contudo, consideram que a investida poderia se mostrar inócua, já que a demanda já estaria deprimida no país em meio à forte recessão econômica. Durante a coletiva, o ministro disse não acreditar na existência de dominância fiscal, situação em que a política monetária estaria perdendo sua eficácia diante dos desarranjos nas contas públicas.

"As ações de política monetária claramente têm efeito sobre expectativas de inflação", disse. Em outro momento, o ministro apontou que o maior desafio macroeconômico hoje é fiscal, e não cambial. Com a valorização do dólar frente ao real também influenciada por instabilidades políticas e fiscais, aumentam as pressões sobre os preços domésticos. 

Petrobras 

Questionado sobre a necessidade de eventual capitalização na Petrobras, impactada pela queda no preço do petróleo, alto endividamento em dólar e pelos desdobramentos da Operação Lava-Jato, o ministro foi enfático em negar essa possibilidade. 

"Não há necessidade nem de recorrer ao mercado, com novas captações, nem de aumento de capital por parte dos acionistas." Na semana passada, a presidente Dilma Rousseff não descartou uma capitalização se os preços do petróleo no exterior continuarem em declínio. As cotações estão operando perto de mínimas desde 2003, com um excedente de oferta afetando o mercado global, em meio a preocupações com a desaceleração na economia da China. Barbosa reconheceu que a volatilidade da economia chinesa tem impacto sobre alguns indicadores brasileiros, mas afirmou que o governo está mais focado em reduzir as causas de volatilidade sobre as quais tem controle, buscando mais previsibilidade macroeconômica.

O ministro também disse esperar um melhor ambiente polí-ico no Brasil este ano para a tramitação de medidas que fazem parte do ajuste fiscal, como a aprovação da volta da CPMF até maio e a prorrogação da Desvinculação de Receitas da União (DRU), consideradas cruciais. "A questão fiscal ainda é um desafio porque ela envolve a aprovação de medidas legislativas. E eu acho que há uma consciência de todos de que a recuperação da economia brasileira, que passa pelo reequilíbrio fiscal, é uma questão de Estado", disse. O ministro reiterou que o governo adotará todas as medidas para o cumprimento da meta de superávit primário equivalente a 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016, mas afirmou que a adoção de uma banda fiscal para os anos seguintes "é assunto que pode ser tratado", no âmbito de discussões no Congresso Nacional sobre limites para a dívida pública e regras fiscais. 

Ele afirmou ainda que poderá sair, ainda nesta semana, alguma medida de limitação de empenho de gastos da União enquanto o governo trabalha na programação fiscal definitiva do ano, que deve sair até fevereiro. 

Oportunidades 

Barbosa apontou que a valorização do dólar em relação ao real torna alguns ativos brasileiros atraentes para investidores estrangeiros. Ao mesmo tempo, o governo está trabalhando na frente regulatória para fomentar a participação desses investidores em projetos de infraestrutura. Sobre oportunidades para o País, o ministro disse ainda que, com o câmbio mais flexível na Argentina, deverá haver crescimento do comércio entre o país vizinho e o Brasil. Barbosa disse ainda que o governo não considera no momento aumentar a alíquota de importação do aço, "até porque não há consenso sobre o tema ao longo da cadeia produtiva".



Jornal do Commercio, 19/jan