terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Inquilinos agora têm espaço para negociar


Nos últimos anos, a relação entre locadores e inquilinos vinha pendendo sempre para o lado dos proprietários dos imóveis. A oferta era pouca, principalmente em áreas com alta procura, como a Zona Sul, e os locatários se viam invariavelmente pagando uma pequena fortuna por apartamentos pequenos e sem grandes luxos.

Pois a situação mudou com a maior oferta e a consequente queda no preço médio do aluguel em 2015, de 3,34%. Levando-se em conta que a inflação medida pelo IPCA atingiu 10,67% no ano, o preço médio anunciado do metro quadrado apresentou queda real de 12,66% ano passado, segundodados do Índice FipeZap.

No novo cenário, os inquilinos têm vez na hora da negociação. Conseguem encontrar preços mais em conta, melhorar prazos e até ganhar outros benefícios.

- É hora de negociar. Principalmente para quem já tem um contrato e vai renovar. Se você é um bom inquilino, está com o aluguel em dia, com certeza o proprietário não vai querer perder você e fará algumas concessões, como manter o preço de aluguel de um ano para o outro - explica Johnny Guedes, proprietário da imobiliária Nova Aliança.

Segundo Guedes, na prática, ele sentiu uma queda média de 20% no preço dos imóveis comerciais e de 10% a 15% no preço dos aluguéis de imóveis residenciais.

- Uma loja que administro tinha contrato de R$ 7.500 mensais e, no ano passado, o proprietário já negociou a renovação por R$ 6.500. Agora, como o inquilino continuava sem conseguir pagar o valor, e ameaçava devolver o imóvel, o locador aceitou baixar o aluguel para R$ 6 mil até o fim do ano. Hoje, ter esse dinheiro menor é mais vantajoso do que seguir com a loja vazia - explica Guedes.

O portal de imóveis Viva Real, que analisa os preços do mercado com uma pesquisa trimestral em 30 cidades brasileiras, também constatou a queda nos números. No país, a desvalorização do metro quadrado para aluguel foi de 5,24% em 2015. Entre as cidades analisadas, apenas Florianópolis (+10,6%) teve valorização acima do indicador de inflação acumulado no período - IGP-M em 10,54%. O Rio está entre as capitais que apresentaram maior queda, com -21,21%, seguida por João Pessoa (-11%), Recife (-8,9%), Natal (- 8,5%) e Belo Horizonte (-5,0%). Lucas Vargas, executivo chefe de Operações do VivaReal, espera agora uma acomodação do mercado.

- Os inquilinos passaram a ter um maior poder de negociação durante o ano de 2015 com o excesso de imóveis. Porém, no fim do ano, percebemos as pessoas procurando mais imóveis para alugar do que para vender. Isso aconteceu quando notaram que as regras de financiamento tinham mudado e sua capacidade de compra havia diminuído. É bem provável que o poder de negociação fique equilibrado para os dois lados em breve e, em alguns meses, o preço dos imóveis para locação possa estabilizar ou mesmo voltar a subir. Até o momento, porém, os inquilinos têm conseguido negociar melhores valores - avalia.

Rita Tostes, proprietária da Inova Rio Imóveis, diz que o papel dos corretores se torna mais importante neste momento, já que avaliar o preço justo de cada imóvel se mostra fundamental.

- Hoje, há um comparativo muito grande, porque a oferta aumentou. Não é que esteja difícil para os proprietários alugar os imóveis, o que está acontecendo é que quem está fora do preço não aluga. Não adianta querer valorizar, e vale até mesmo perder um pouquinho para manter um bom pagador. Mas é preciso ser um profissional capacitado para fazer a avaliação, e aí é fundamental a figura do corretor.



O Globo, Morar Bem, Luciana Barros, 25/jan