quarta-feira, 13 de abril de 2016

FMI piora projeções para o Brasil


A economia brasileira encolherá 3,8% neste ano, terá crescimento nulo em 2017 e continuará em marcha lenta nos anos seguintes, com expansão de apenas 2% em 2021, segundo as novas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI). A estimativa anterior, divulgada em janeiro, indicava contração de 3,5% em 2016. O desempenho do Brasil será um dos piores do mundo.

A produção global deve aumentar 3,2% neste ano e 3,5% no próximo. Mas há riscos à frente, principalmente financeiros, e o cenário efetivo poderá ser pior que o previsto, de acordo com o economista-chefe da instituição, Maurice Obstfeld.

A estimativa atual já é mais baixa que a do início do ano, quando a expansão global foi calculada em 3,4%. "Lento demais por tempo demasiado" - referência ao crescimento - é o título de capa do Panorama Econômico Mundial apresentado ontem em entrevista coletiva.

"Incertezas internas" continuarão dificultando a formulação e a execução de políticas pelo governo brasileiro, segundo o relatório. Em documentos anteriores houve referência explícita a problemas políticos e à investigação da Petrobrás. Relatórios sobre as condições fiscais e financeiras ainda serão divulgados, como de costume. Falta ver se a linguagem será mais clara em relação ao Brasil.

Mesmo com algum eufemismo, a descrição das condições brasileiras mostra um governo com enormes dificuldades de atuação. Mais impostos serão necessários. O texto menciona "medidas tributárias no curto prazo" e a tradução evidente é "aumento de impostos". Nenhum tributo é especificado. Não há, portanto, endosso expresso à solução defendida pelo governo da recriação da CPMF.

Reformas

O conserto das contas públicas, no entanto, só será efetivo com reformas. Será preciso, de acordo com o documento, combater a rigidez do Orçamento e mexer nos "mandatos insustentáveis do lado da despesa". Não há detalhes, mas em outros documentos apareceram referências à vinculação de verbas. Há mais de 20 anos, o governo brasileiro se comprometeu, em acordos com o FMI, a agir para tornar o Orçamento mais flexível, mas nada foi feito. A rigidez afeta uns 90% da programação orçamentária.

A reforma fiscal é apenas parte das mudanças necessárias para a recuperação do potencial de crescimento. O texto menciona medidas estruturais, incluídas as concessões de infraestrutura, para elevar a produtividade e o poder de competição do País. Economistas do FMI vêm apontando há anos a redução do potencial produtivo da economia brasileira. A previsão de um crescimento de apenas 2% em 2021é uma reafirmação dessa advertência.

Pelas estimativas do Fundo, só dois países sul-americanos terão desempenho pior que o do Brasil neste ano. Um deles é o Equador, com recuo previsto de 4,5%. Isso se explica pela redução dos preços do petróleo e por problemas cambiais. O outro é a Venezuela. O PIB venezuelano deve diminuir 8% .

O risco principal, segundo Obstfled, é de turbulência financeira. Já houve, desde o ano passado, duas fases de instabilidade, marcadas por aumento da aversão ao risco, elevação dos spreads cobrados de países emergentes e quedas abruptas de preços do petróleo e de outras commodities. As duas fases foram superadas, mas permanece o risco de novas turbulências, maior aperto do mercado financeiro e novas fugas de capitais de economias emergentes.

Além desses, outros fatores, como a insegurança geopolítica e crises políticas em alguns países podem afetar a economia a reduzir o ritmo da atividade. "Menor crescimento", lembrou Obstfeld, "significa menor espaço para erro."



O Estado de São Paulo, Rolf Kuntz, 13/abr