segunda-feira, 25 de julho de 2016

Um 'voo' até a Barra


Um aviso sonoro quebra o silêncio dentro dos vagões. "Portas se fechando", anuncia uma voz pelos alto-falantes. O trem logo desata a andar rumo à Barra da Tijuca. Gradativamente, aumenta a velocidade. Passa por Nossa Senhora da Paz, Jardim de Alah e Antero de Quental. Entre São Conrado e Jardim Oceânico, chega a 84km/h. Devagarinho, alcança a ponte estaiada. Em meio a um balé de luzes coloridas, passa pelos pilares de concreto e cabos de aço que a sustentam. Na descida, quase colado aos carros enfileirados em um congestionamento, desaparece, mergulhando em um túnel como se fosse a versão sem sustos de uma montanha-russa.

Na noite da última quinta-feira, uma equipe do GLOBO percorreu toda a Linha 4 do metrô, antecipando-se à viagem inaugural marcada para o próximo sábado. O trajeto entre Ipanema e Barra, sem parar nas estações, durou 16 minutos e 40 segundos - o prometido para o percurso em operação era 13 minutos. Mesmo nas estações já entregues pelo governo estadual ainda há ajustes sendo feitos, como a instalação de placas de sinalização e testes nas roletas. Amanhã, será apresentada a estação Jardim de Alah, a última do chamado trecho olímpico a ficar pronta antes dos Jogos. Só a da Gávea não estará funcionando durante a competição, pois ainda depende de liberação de recursos para ser concluída. O prazo para sua conclusão foi estendido para 2018.

O COLORIDO DAS ESTAÇÕES

O acesso à Linha 4 será feito pela estação General Osório - que ganhará uma entrada na Lagoa, ainda em obras. Ao descer por uma escada rolante bem íngreme, o passageiro vai se deparar com painéis de diferentes cenários, incluindo cartões-postais do Rio. Para não atrapalhar as operações nas linhas 1 e 2, uma nova plataforma foi construída, oito metros abaixo da que hoje recebe os usuários. Enquanto a Linha 4 não atingir sua capacidade plena, será preciso fazer uma baldeação.

Nas primeiras semanas de operação, só portadores de ingressos e credenciais para os Jogos poderão circular pela nova ligação metroviária, que funcionará até as 2h nos dias de maior movimento. A população terá acesso a partir de 19 de setembro, em horário reduzido: das 11h às 15h.

- A restrição vai garantir a qualidade e a segurança no atendimento. Vamos, aos poucos, ampliando o horário e diminuindo os intervalos entre os trens. A expectativa é que, até o fim do ano, a operadora trabalhe em horário integral, com intervalos de quatro minutos, atendendo 300 mil pessoas por dia e tirando mais de 2 mil carros por hora do eixo Barra-Zona Sul - diz o secretário estadual de Transportes, Rodrigo Vieira.

Cada estação tem sua peculiaridade. A Nossa Senhora da Paz é a mais ampla. No acesso da Rua Joana Angélica, há uma escultura da santa em chapa de ferro, com 2,5 metros de altura. No acesso da Rua Maria Quitéria, os passageiros vão encontrar um painel, composto por 3.059 azulejos, que conta a história da paróquia do bairro e homenageia o músico Pixinguinha, que morreu dentro do templo, durante um batizado.

A estação Jardim de Alah é a mais estreita, por causa dos prédios do entorno. Uma peça artística, chamada "Árvores", ficará em um mezanino com esculturas de diferentes tamanhos. Na Antero de Quental, um painel de azulejos coloridos com dez metros de largura saúda os surfistas cariocas.

As estações de São Conrado e do Jardim Oceânico são as maiores. A primeira, com capacidade para receber 61 mil pessoas por dia, tem longos corredores e conta com esteiras rolantes. No acesso da Rocinha, uma parede em branco vai receber uma obra do artista plástico Vik Muniz. Será um mosaico em vidro com reproduções de rostos de crianças da comunidade. Já a estação do Jardim Oceânico, com capacidade para 91 mil passageiros, terá integração com o BRT Transoeste. Na área de circulação de passageiros há quatro painéis. Dois retratam animais silvestres típicos da região. Os outros dois têm mosaicos coloridos que representam os esportes náuticos e o estilo de vida ao ar livre da Barra.

Com cinco quilômetros de extensão, o túnel entre as estações Jardim Oceânico e São Conrado será o maior de toda a rede - o "título" era, até então, do trecho Flamengo-Botafogo, com 1.622 metros. Na nova passagem subterrânea, os trens podem alcançar a velocidade máxima, chegando a 90 km/h. Há 28 interligações com portas corta fogo e exaustores a cada 244 metros.

CATRACAS RETRÁTEIS PARA FACILITAR ACESSO

As estações de São Conrado e do Jardim Oceânico serão as únicas da Linha 4 que terão três acessos (cada uma) e catracas de portas retráteis. Em vez de uma roleta, um torniquete retrai as portas, liberando a passagem sem que a pessoa tenha contato físico com o equipamento. O objetivo é facilitar o acesso dos passageiros.

- Os cariocas ganharão duas horas de deslocamento entre a Barra e o Centro. Nos últimos 40 anos, o metrô ganhou 16 quilômetros. Agora, em seis anos, entregamos outros 16 - afirma Vieira.



O Globo, Rio 2016, 24/jul