terça-feira, 1 de setembro de 2020

Financiamentos crescem 34% com queda nas taxas de juros


Taxas de juros em queda e baixo retorno de investimentos financeiros levaram a uma alta de 34% nos financiamentos imobiliários no Brasil entre janeiro e julho deste ano, em comparação a igual período do ano passado.

Os dados são de um levantamento da Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança), que registrou um total de R$ 54,7 bilhões em empréstimos no período.

A taxa de juros para financiamento atingiu o menor patamar histórico, saindo de 10,5% ao ano em 2016 para 6,99% em 2020, considerando um perfil de comprador de 40 anos e um imóvel de R$ 500 mil.

A estimativa do setor, segundo Claudio Hermolin, vice-presidente de intermediação imobiliária e marketing do Secovi-SP, é que cada ponto percentual a menos na taxa de juros represente um milhão de famílias a mais com acesso a crédito para um imóvel de médio padrão ou dois milhões de famílias com crédito para uma unidade popular.

Yslanda Barros, que é especialista em mercado imobiliário, ressalta que a redução dos juros impacta também o valor das parcelas.

Levantamento realizado pela plataforma imobiliária Kzas mostra que em um financiamento de R$ 500 mil, com entrada de R$ 100 mil e 360 meses para pagar, a parcela inicial caiu de R$ 4.630,43 para R$ 3.369,60 entre 2016 e 2020.

"Ao final do contrato, o mutuário terá economizado cerca de R$ 243,5 mil só com a taxa mais baixa", diz Eduardo Muszkat, diretor financeiro e fundador da plataforma Kzas.

O executivo diz que há 20 anos o crédito era escasso e caro. A Selic (taxa básica de juros) alta impedia a entrada de ofertantes de crédito, que ficava restrito a bancos que tinham depósitos de poupança.

"A Selic a 2% permite a entrada de novos agentes ofertando crédito, o que deverá aumentar ainda mais o acesso à aquisição de imóveis para um grupo cada vez maior de pessoas", avalia Muszkat.

Foi a prestação mais baixa que ajudou o casal Sabrina Santos, 24, e William Silva, 28, sócios na Deal's Art, agência de marketing digital, a comprar a casa própria e a marcar o casamento para maio do ano que vem.

"Fizemos várias simulações no passado e agora conseguimos uma parcela com valor semelhante em um imóvel melhor, com eletrodomésticos inclusos e mais bem localizado do que o outro que estávamos olhando", diz Sabrina, que escolheu um apartamento de 56 m² na Vila Andrade, zona sul de São Paulo, com parcela inicial de R$ 2.669,97.

O novo cenário trouxe de volta um tipo de investidor que andava sumido: aquele que considera a compra de um imóvel alavancado, ou seja, com dívidas, para alugar para terceiros.

"Ainda que esse investidor tenha um ônus mensal (a parcela provavelmente será maior que o aluguel recebido), é uma oportunidade de formar patrimônio investindo pouco", diz Leonardo Azevedo, fundador e diretor-executivo da startup Apê11.

Animada com aquecimento do mercado, a construtora Canopus, de Minas Gerais, está conseguindo liquidar o estoque de imóveis e planeja 11 lançamentos em São Paulo até o fim do ano que vem.

A construtora, que é focada no alto padrão, entrou em um novo nicho de mercado com o financiamento imobiliário mais barato e agora passa a oferecer apartamentos a partir de R$ 190 mil.

"Entre 2016 e 2017, vendíamos até duas unidades do estoque por mês. Subiu para cerca de cinco entre 2018 e 2019. Agora, estamos vendendo até nove mensalmente", diz.

A construtora espanhola Grupo Lar, que já tinha feito projetos no interior de São Paulo, resolveu fincar unidade na capital e começa a lançar os primeiros imóveis na cidade. "A situação macro do Brasil veio melhorando ao longo dos últimos anos", diz o diretor-geral Guilherme Carlini.

Apesar da expansão, a participação do crédito imobiliário no PIB (Produto Interno Bruto) ainda é bem pequena se comparada a outros países.

Por aqui, o percentual chega a 9,3%, enquanto no Chile é de 27,9% e nos Estados Unidos, 53,1%. "A projeção é que essa participação chegue a 20% em 20 anos", diz Muszkat.



Folha de São Paulo, Gilmara Santos, 30/ago