sexta-feira, 18 de junho de 2021

Por que a bolsa bate recordes em meio à crise? Entenda os motivos e avalie se é hora de investir

Avanço da vacinação, alta das commodities no exterior e recuperação das blue chips fez pontuação do Ibovespa avançar em junho; risco do país ainda pode gerar instabilidade no índice.

A pouco mais de 10 dias do fim, junho já é considerado o mês mais intenso do semestre na bolsa de valores brasileira, a B3. Neste mês, ela alcançou os 130 mil pontos, bateu novos recordes e chegou a acumular oito altas consecutivas até o dia 7 — na maior série de ganhos desde 2018.

Isso, apenas três meses após recuar a 110 mil pontos por conta da insegurança do mercado com a segunda onda da Covid-19 no país.

O que mudou de lá para cá? Entre outros indicadores que apontaram melhora, houve avanço de 1,2% no PIB do 1º trimestre deste ano. No entanto, especialistas garantem que o Brasil já vive a terceira onda da pandemia, com pouco mais de 10% da população totalmente vacinada, e registrando níveis recordes de desemprego e alto índice de inflação.

Avanço da vacinação

Dados do consórcio de veículos de imprensa divulgados nesta quinta-feira (17) apontam que 28,51% da população tomou a primeira dose da vacina contra Covid-19. A segunda dose, no entanto, foi aplicada em apenas 11,37% dos brasileiros.

Apesar dos números ainda estarem baixos, a partir de maio houve uma evolução nos números de aplicação do imunizante. São Paulo, por exemplo, adiantou o calendário de vacinação em um mês.

Influência de mercados externos

O desempenho de mercados externos, principalmente de Wall Street, reflete diretamente na bolsa brasileira. Isso porque a maior parte do investimento feito no país vem do exterior, explicaram os economistas.

Se algum parceiro comercial do Brasil passa por problemas econômicos, o mercado sofre os efeitos dessa adversidade.

A desaceleração da China no último semestre de 2019 foi um exemplo do efeito dominó em diversos mercados, incluindo o Brasil. Prejudicada pela guerra comercial com os EUA e pelo estopim da Covid-19, o país asiático reduziu a quantidade de importações, provocando uma queda nos preços das commodities.

O contrário também acontece – e é o que vem ocorrendo no momento. Incentivados pelo ritmo de vacinação e pelo pacote trilionário de ajuda econômica, os mercados dos EUA vivem um momento otimista, que se reflete por aqui.

Juros do Brasil e dos EUA

As taxas de juros no Brasil e do exterior também tem influência direta na bolsa brasileira. O efeito é o mesmo: juros baixos tornam menos atrativos investimentos em renda fixa e títulos públicos, e acabam por levar mais recursos à bolsa de valores, em busca de retornos maiores.

Por aqui, a taxa de juros atingiu a mínima histórica de 2% ao ano em agosto de 2020 e permaneceu nesse patamar até janeiro deste ano, quando voltou a subir. Nesta quarta-feira (16), ela atingiu 4,25% ao ano, com tendência de novas altas.

Segundo Virgínia Prestes, professora de finanças da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), como a Selic ainda está baixa, no entanto, não deve haver uma grande movimentação na bolsa até o final do ano.

E se a alta aqui foi pouca, lá fora houve nenhuma, e os juros seguem em pisos históricos: na tarde desta quarta, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) decidiu manter inalteradas suas taxas de juros, apesar da elevação da inflação no país. A taxa básica foi mantida no piso entre zero e 0,25%. A projeção de alta foi antecipada para 2023.

Valorização das commodities no exterior

De acordo com João Guilherme Penteado, CEO da Apollo Investimentos, as commodities — como petróleo e minério — também registraram um bom desempenho no exterior, impactando positivamente o Ibovespa.

Ibovespa não reflete economia do país

O principal ponto que justifica o rali do Ibovespa em meio à crise brasileira é o fato do índice não refletir o cenário econômico do país, apontaram os especialistas.

Segundo Claudia, apesar de os brasileiros perderem o poder de compra por conta da alta inflação e os pedidos de falência crescerem mais de 50%, atingindo principalmente pequenas empresas, a bolsa tem nas grandes companhias (chamadas blue chips) o grande impulso para avançar em pontuação.

É hora de investir?

Virginia, da FAAP, afirma que a bolsa antecipa movimentos: reflete hoje o que o mercado prevê para o próximo trimestre. O momento atual é positivo, afirma.

Penteado, da Apollo, pondera que ainda é muito cedo para se falar em retomada e que ainda há muito risco no país. Ou seja, a bolsa pode sofrer grandes flutuações nos próximos meses – e o investidor precisa estar preparado para eventuais perdas.

Claudia, da FGV, concorda com os desafios que o Brasil ainda tem de enfrentar, mas afirma ser possível aproveitar esse movimento com cautela, principalmente por investidores que são propensos ao risco.

Para quem quiser investir, vale sempre a máxima: cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém.

Patrícia Basilio, G1, 18/jun