Com aceleração da alta da Selic, bancos fazem reajustes nas taxas mínimas cobradas para compra de imóvel financiado. Mercado projeta novas elevações na taxa básica de juros até o final do ano.
Acompanhando a alta da taxa básica de juros da economia, os bancos passaram a aumentar as taxas cobradas para o financiamento imobiliário. E a expectativa é que o custo do crédito para a compra de imóveis fique um pouco mais caro nos próximos meses.
Na última quinta-feira (5), um dia após o Banco Central elevar a Selic para 5,25% ao ano, o Itaú Unibanco aumentou a taxa mínima da sua linha mais tradicional de crédito imobiliário, que era de 6,9% ao ano + TR e subiu para a partir de 7,3% ao ano + TR.
O banco se juntou ao Santander, Bradesco e Banco do Brasil (BB), que já haviam reajustado suas taxas mínimas no mês passado.
O Santander elevou em meados de julho o custo mínimo do crédito imobiliário, de a partir de 6,99% para a partir de 7,99% ao ano.
No Banco do Brasil as taxas partem agora de 6,55% ao ano. Em nota, o banco informou que promoveu "ajustes pontuais em algumas de suas linhas após as últimas reuniões do Copom".
No Bradesco, as tarifas mínimas passaram ser de 6,90% ao ano desde julho. Em nota, o banco afirmou que "está avaliando" se vai realizar ou não novos reajustes.
A Caixa Econômica Federal, que lidera o segmento, informou que não reajustou suas taxas e que não pretende reajustá-las. A taxa mínima informada atualmente é de 7% ao ano mais TR.
Em reportagem realizada pelo G1 em março, a taxa mínima informada pela Caixa, no entanto, era de 6,5% ao ano mais TR. Questionado pela reportagem, o banco informou que não houve aumento porque a taxa de 6,5% era oferecida, na época, apenas para clientes que centralizavam suas operações na instituição. Esse percentual não existe mais, segundo a Caixa.
Vale lembrar que as taxas anunciadas pelos bancos são as mínimas, e que, para conseguir juros mais baixos, o tomador do crédito precisa quase sempre aceitar uma série de condições. O nível e o tempo de relacionamento com o banco, valor do imóvel, bem como o perfil e renda do consumidor são fatores que também costumam influenciar diretamente as taxa de juros de um financiamento.
Assim, é importante que o tomador do crédito pesquise entre os bancos qual oferece a menor taxa para o seu perfil. Além da taxa de juros, devem ser considerados também os seguros obrigatórios, o sistema de amortização utilizado (SAC ou Tabela Price), além do pacote de serviços exigidos pelo banco para garantir a taxa ofertada.
Expectativa de novas altas
Segundo dados do Banco Central, as taxas médias do crédito imobiliário chegaram a atingir 6,3% ao ano em março e agora estão em torno de 7,5% ao ano. No começo de 2020, era 10%.
Com a expectativa de novos aumentos da taxa básica de juros, a Selic, e das taxas de longo prazo, o crédito imobiliário deve ficar um pouco mais caro nos próximos meses.
Especialistas afirmam que o cenário ainda permanece favorável para financiar um imóvel, já que as taxas devem continuar subindo — uma vez que a curva de juros futuros está apontando para cima.
Na avaliação de Tiago Galdino, diretor financeiro do Imovelweb, a janela de oportunidades para financiamentos não se fechou ainda, mas está se fechando. E a prova disso está no aumento das taxas de financiamento pelo bancos.
"Enquanto a Selic estiver dentro da margem de 6% ao ano, os repasses serão tímidos. Mas se ela chegar a 7%, poderemos ter aumentos relevantes", afirmou Galdino.
O especialista destacou também que a redução da Selic foi crucial para a inclusão de brasileiros ao crédito imobiliário, principalmente os de classe média e baixa.
Na avaliação da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), as taxas podem subir para algo entre 7,5% e 8% ao ano, mas não devem chegar nem perto do pico visto em 2017, quando a Selic estava em 13% e as taxas para financiar imóveis atingiram quase 11,5%.
O mercado financeiro elevou de 7% para 7,25% ao ano a previsão para a Selic no fim de 2021, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central. A expectativa é de uma nova elevação de 1 ponto percentual na reunião de setembro.
Além do aumento de juros, os preços dos imóveis estão subindo, ainda que abaixo da inflação. Segundo o Índice FipeZap, o preço de venda dos imóveis residenciais subiu 0,64% em julho, a maior variação mensal desde agosto de 2014. No acumulado do ano, a alta é de 2,82%.
Crédito imobiliário saltou nos últimos 12 meses
Dados da Abecip mostram um forte crescimento do crédito imobiliário no país. Os financiamentos com recursos das cadernetas de poupança somaram R$ 19,66 bilhões em junho, um salto de 112,1% na comparação com junho do ano passado e o maior volume nominal mensal da série histórica iniciada em 1994.
No acumulado de 2021, o montante totalizou R$ 97 bilhões, alta de 123,9% na comparação interanual. Já no acumulado em 12 meses, foram R$ 177,67 bilhões, alta de 101,1%.
A Caixa se mantém na liderança do setor, com R$ 37,4 bilhões financiados no ano nas modalidades construção e aquisição. O Itaú está em segundo lugar, com R$ 25,5 bilhão, e o Bradesco apareceu em terceiro, com R$ 17,8 bilhão, segundo balanço da Abecip.
Darlan Alvarenga e Patrícia Basilio, G1, 10/ago