Mercado aposta na manutenção da taxa básica da economia em 13,75% ao ano. Juros vêm de 12 altas seguidas.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne nesta quarta-feira (21) e deve manter a taxa básica de juros estável em 13,75% ao ano, conforme expectativa da maior parte dos analistas do mercado financeiro. A decisão será anunciada depois das 18h.
A previsão dos economistas, colhida na semana passada em pesquisa com mais de 100 bancos, é de que a taxa Selic permanecerá neste patamar até junho de 2023 — quando recuará para 13,50% ao ano. Para o fim do ano que vem, a projeção é de juros em 11,25% .
Ainda há, porém, alguns analistas que acreditam em um aumento de juros nesta quarta: para 14% ao ano.
Se confirmado o encerramento dessa rodada de 12 elevações seguidas, a Selic terá subido 11,75 pontos percentuais desde março de 2021, configurando o maior e mais longo ciclo de alta desde 1999.
Segundo a série histórica do BC, taxa média passou de 29,2% ao ano em dezembro de 1998 (na época havia um piso e um teto para o juro básico) para 45% ao ano em março de 1999. Naquele ano, nasceu o sistema de metas para inflação.
Em meio à troca de seus presidentes (Gustavo Franco por Francisco Lopes e, logo em seguida, por Armínio Fraga), o BC deu uma puxada para cima na taxa Selic no final da década de 90 para atrair dólares e evitar uma disparada ainda maior na cotação da moeda norte-americana.
O objetivo foi evitar que a liberação do câmbio, autorizada depois da reeleição de Fernando Henrique Cardoso), contaminasse a inflação e colocasse em risco o Real — nascido apenas cinco anos antes.
Já o atual ciclo de alta dos juros, que pode se encerrar nesta quarta-feira, teve por objetivo conter as pressões inflacionárias decorrentes da pandemia da Covid-19 (que gerou ruptura na oferta de produtos) e injetou recursos extraordinários na economia (por meio de auxílios temporários); e também por conta dos efeitos da guerra na Ucrânia sobre combustíveis e alimentos.
Inflação em desaceleração
A possível interrupção da alta dos juros acontece em um cenário de desaceleração da inflação. Influenciada pelos preços dos combustíveis, devido ao corte de impostos sobre itens essenciais e à redução do preço internacional do petróleo, houve deflação no país pelo segundo mês seguido em agosto.
Para definir o nível dos juros, o Banco Central se baseia no sistema de metas de inflação. Quando a inflação está alta, o BC eleva a Selic. Quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas, o Banco Central pode reduzir o juro básico da economia.
Em 2022, a meta central de inflação é de 3,5% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2% a 5%. Para 2023, a meta de inflação foi fixada 3,25%, e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%.
Neste momento, o BC já está ajustando a taxa Selic para tentar atingir a meta de inflação dos próximos anos, uma vez que as decisões sobre juros demoram de seis a 18 meses para terem impacto pleno na economia.
Embora as estimativas de inflação estejam acima do teto da meta para este ano, o mercado financeiro já prevê desaceleração das pressões inflacionárias em 2023 (diante do juro alto, da crise energética na Europa e da desaceleração da economia mundial).
O BC informou ainda que está mirando mais adiante nas decisões sobre juros, no início de 2024.
Consequências de juros altos
Mesmo se interrompido o ciclo de alta dos juros, a taxa Selic permanecerá no maior patamar em seis anos. De acordo com especialistas, juros elevados têm vários reflexos na economia, entre os quais:
- Aumento das taxas bancárias: a tendência é que novos aumentos também sejam repassados aos clientes. No ano passado, a elevação do juro bancário foi o maior em seis anos. Em junho, a taxa média cobrada pelos bancos foi a maior em quatro anos.
- Redução do consumo da população e afeta os investimentos produtivos, impactando negativamente o Produto Interno Bruto (PIB), o emprego e a renda. Na semana passada, analistas projetaram uma expansão de 2,65% para este ano e de 0,5% em 2023, contra um crescimento de 4,6% em 2021.
- Despesa adicional com juros da dívida pública: em doze meses até maio, as despesas do governo com juros da dívida atingiram R$ 500 bilhões pela primeira vez desde 2016. A expectativa de economistas é de que essa despesa deve bater recorde em 2022.
- Aplicações em renda fixa, como no Tesouro Direto e em debêntures, passam a render mais: em junho, o total de investidores ativos do Tesouro Direto, programa de oferta de títulos públicos pela internet para pessoas físicas, atingiu o recorde de dois milhões. E, em agosto, as vendas de papeis continuaram elevadas.
Alexandro Martello, G1, 21/set