quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Comprar imóvel é mais barato no Brasil em relação à América Latina, mas valor ainda pesa no bolso das famílias, diz pesquisa

Levantamento do QuintoAndar pegou dados de venda e aluguel em capitais de seis países e grandes cidades brasileiras entre agosto de 2021 e julho de 2022.

Entre 12 das cidades mais populosas da América Latina, o Brasil tem os municípios com aluguéis e preços de venda mais baratos, segundo a pesquisa “O mercado residencial na América Latina”, divulgada pelo QuintoAndar nesta quinta (29).

O levantamento foi feito com dados de anúncio em plataformas digitais de agosto de 2021 a julho de 2022 e investigou São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Lima (Peru), Cidade do México (México), Buenos Aires (Argentina), Quito (Equador) e Cidade do Panamá (Panamá).

Dentre os locais pesquisados, Buenos Aires é a cidade mais cara para comprar ou alugar um imóvel. Para compra, o metro quadrado na capital argentina custa, em média, US$ 2,4 mil. Cidade do México (US$ 2,2 mil) e Cidade do Panamá (US$ 2,1 mil) completam o pódio.

No Brasil, Brasília tem o metro quadrado mais caro, com US$ 1,8 mil. Em seguida, estão Rio de Janeiro (US$ 1.784) e São Paulo (US$ 1.725).

Já entre os aluguéis, o preço por metro quadrado na capital argentina é US$ 11,8. Para contextualizar: um apartamento de 50 metros custa, em média, US$ 590 por mês. Depois, estão também a Cidade do México, com US$ 10,7, e a Cidade do Panamá, com US$ 10,5.

No quesito aluguéis, as cidades brasileiras ficam um pouco acima no ranking. São Paulo, por exemplo, tem o quarto aluguel mais caro (US$ 8,6), acima de Lima (US$ 8,4), Quito (US$ 5,7) e Brasília (US$ 6,9).

Segundo o economista do QuintoAndar, Vinicius Oike, o mercado imobiliário cresceu no continente, com exceção da Argentina. O país sofre com inflação alta, recessão econômica e economia cada vez mais dolarizada (as transações têm usado mais o dólar e menos o peso, moeda oficial argentina). Além disso, a oferta de casas e apartamentos é maior do que a demanda por eles.

Especificamente no Brasil, o aumento do crédito (seja via empréstimos ou programas como Minha Casa, Minha Vida e Casa Verde Amarela) e um baixo aumento real de preço (descontada a inflação) na última década impulsionaram o setor, destrincha a pesquisa.

Preço pesa no bolso

Apesar de um aquecimento desse mercado, a moradia ainda apresenta um nível alto de comprometimento de renda nas cidades analisadas. Isso quer dizer que o peso no bolso das pessoas e famílias é bem grande - em alguns casos, maior do que a recomendação de 30%.

Das 12 cidades, só em 3 é possível gastar menos do que um terço da renda mensal com aluguel. Elas são Curitiba, Porto Alegre e Rio de Janeiro.

Para compra, a situação é ainda mais difícil. Para mensurar o peso do preço do imóvel para as famílias, a pesquisa calculou quantos anos essa família precisaria trabalhar pra comprar uma casa ou apê em cada uma das cidades. O cálculo leva em consideração o preço médio dos imóveis e a renda anual dessas pessoas.

Em 11 das 12, o nível obtido foi considerado alarmante: são necessários mais de 7 a 10 anos de trabalho para que as famílias possam realizar o sonho da casa própria. O fato de a maioria das cidades apresentar essa dificuldade mostra que o acesso à moradia ainda é um problema a ser combatido na região.

“Os valores de comprometimento para compra são bastante similares e também indicam uma baixa acessibilidade financeira. Já os valores no aluguel apontam para um mercado formal descolado da renda familiar média. No caso da Cidade do México, há uma fatia expressiva do mercado que atende estrangeiros, que tipicamente têm renda muito mais elevada que a família média local”, explica o economista.

Os preços usados na pesquisa são resultado de uma conversão para dólares em paridade de poder de compra, que "ajusta as diferentes taxas de câmbio às flutuações domésticas no nível de preços e permite uma comparação mais adequada do custo de vida", explica a empresa.

Thaís Matos, G1, 29/set