quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015


Nos 450 anos de sua fundação, o Rio se empenha em reconquistar o título de Cidade Maravilhosa, depois de algumas décadas em que pareceu parado no tempo. Escolhida como sede da Olimpíada de 2016, a cidade enfrenta um desafio também olímpico, dado o número de intervenções urbanas por que vem passando para a realização de grandes obras e a melhora da mobilidade. Trata-se de um conjunto de projetos combinando componentes urbanísticos e de infraestrutura que poucas vezes se viu. "A Olimpíada é um momento do Brasil. Para uma cidade, é a oportunidade de se transformar. Há casos bem-sucedidos e outros malsucedidos, nós nos inspiramos em Barcelona, que era uma cidade cafoninha na Europa e mudou [depois dos Jogos Olímpicos de 1992]", diz o prefeito Eduardo Paes (PMDB).

Paes gosta de dizer que os Jogos de 2016 são apenas uma desculpa para destravar investimentos que foram ignorados por mais de 40 anos. A mudança da capital federal para Brasília na década de 1960 deixou a cidade perdida - foi um período no qual os investimentos em infraestrutura urbana foram poucos e em que cresceu a violência.

O plano estratégico da prefeitura tenta dar fôlego novo para as reformas estruturais e urbanísticas necessárias. Os recursos foram garantidos em um raro período político favorável: a aliança entre os governos federal, estadual e municipal impulsionou o Rio na última década. O foco na Olimpíada é a aposta da administração municipal dentro de uma ampla proposta de recuperação carioca no imaginário nacional, recolocando a cidade no mapa dos centros globais. "A Olimpíada é um evento muito simbólico. São várias modalidades esportivas em uma única cidade, reunindo quase todos os países", observa o antropólogo Roberto DaMatta. "Mas não se refaz uma metrópole global em dois anos."

Já neste ano a prefeitura planeja inaugurar diversas obras que servirão como ponto de partida para os cariocas receberem a maior competição esportiva do mundo. De um lado, obras de mobilidade urbana como VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), BRT (corredor expresso de ônibus) e a melhora do sistema viário, principalmente nas Zonas Norte e Oeste. Do outro, equipamentos culturais como museus e teatros em regiões degradadas.

O Túnel Rio 450 é a primeira inauguração. Ocorre no dia da celebração dos 450 anos da cidade, 1° de março. Em abril, será a vez do Museu do Amanhã. Foi em 2010 que o prestigiado arquiteto espanhol Santiago Calatrava entrou no Armazém 2 do porto, rabiscou alguns traços em aquarela e explicou o conceito do que seria o museu: uma construção de 15 mil m², no Píer Mauá, com dois andares integrados e vista deslumbrante da Baía de Guanabara. O prédio é um dos símbolos do maior projeto de revitalização em curso no Rio - o Porto Maravilha.

Parceria entre a prefeitura e a Fundação Roberto Marinho, o Museu do Amanhã é uma obra de R$ 215 milhões - parte financiada pelo Santander. Integrará um corredor cultural com museus, bibliotecas e o maior aquário da América Latina (AquaRio), às margens da ainda poluída baía. 

O projeto é transformar a abandonada zona portuária em um bulevar de quase 3 km servido por um VLT.

O Museu do Amanhã será dedicado às ciências, com respostas para as grandes questões da humanidade. Construído quase em frente do Museu de Arte do Rio (MAR), a área de 30 mil m² terá tecnologia semelhante à dos Museus do Futebol e da Língua Portuguesa, em São Paulo. Haverá ambientes com experiências que permitirão ao visitante vislumbrar possibilidades de futuro e perceber como será a sua vida e a do planeta nos próximos 50 anos.

O físico e doutor em cosmologia Luiz Alberto Oliveira é o curador da exposição permanente e precisou praticamente abandonar a vida acadêmica para se dedicar à mostra. 'Agora é o momento de finalizar. Há uma série de audiovisuais e conteúdos interativos sendo finalizados, além de textos, fotografias, tudo neste momento. Por enquanto, só temos as estruturas básicas de museografia." E vai dar tempo de ficar pronto até abril? "Essa é uma pergunta que não deveria ser feita", brinca, sem esconder a preocupação. "O problema não é nem ficar pronto, mas começar a funcionar. Porque o museu deve ter um dinamismo para diariamente verificar se há a necessidade de atualizar algum conteúdo." O museu terá um conselho de cientistas que buscará novos conteúdos e pesquisas para a exposição.

O investimento em torno da Olimpíada e seu legado é de pelo menos R$ 37 bilhões. A prefeitura assumiu R$ 18 bilhões, mas a maior parte - quase R$ 14 bilhões - veio por meio de concessões da iniciativa privada. Os R$ 20 bilhões restantes são bancados pelo governo do Estado, como o metrô e a despoluição do complexo de lagoas da Barra, e pelo governo federal, no Complexo de Deodoro, por exemplo, que abrigará diversas atividades dos Jogos. Nessa conta também entram os gastos com transporte público, como o BRT, o serviço de vias do VLT e a construção de arenas, entre outras obras.

Todas essas intervenções urbanas dão ao carioca a sensação de viver em um gigantesco canteiro de obras. Tapumes são vistos por toda a cidade. A demolição do viaduto da Perimetral, via elevada que ligava o Aterro do Flamengo à avenida Brasil, é a principal marca do Porto Maravilha e será substituído por um túnel de 3 km de extensão, com capacidade de fluxo 40% maior do que a do antigo elevado. "Criar o potencial de construção com a Perimetral em pé era impossível. Com o elevado, não havia como reaproveitar 60% dos terrenos", diz o presidente da Concessionária Porto Novo, José Renato Ponte.

O novo modelo desenhado para a zona portuária religará a Baía de Guanabara com o centro depois de quase um século desconectados. O passeio público já começa a ganhar forma, unindo em uma caminhada o Museu de Arte Moderna (MAM), a praça 15, onde se concentrava grande parte da atividade comercial da cidade no passado, e os novos equipamentos culturais do porto.

O fim da via expressa causou polêmica entre os cariocas e virou debate da disputa à prefeitura, que resultou na reeleição de Eduardo Paes. O projeto abrange uma área de cerca de 5 milhões de m² e tem investimentos que somam R$ 7,6 bilhões em 15 anos. A ideia é reurbanizar toda a região portuária até 2016 e repaginar serviços urbanos, como coleta seletiva de lixo e iluminação pública.

Com 1.480 metros e capacidade para 55 mil veículos por dia, o Túnel 450 é uma via subterrânea, que passa 30 metros abaixo de prédios importantes, entre eles a sede da Superintendência da Polícia Federal no Rio, da Justiça Federal e outras instituições públicas. "Imagina o que eu escutei dos juízes após a primeira tremidinha", brinca o presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp), Alberto Gomes Silva, sobre as explosões que abriram caminho no subsolo. "É um desafio de engenharia. Para fazer as escavações foram detonações diárias desde o início de 2012", afirma o engenheiro. As principais obras viárias da região devem ser concluídas até a metade do próximo ano, ainda antes da Olimpíada.

Grande parte da região portuária está sobre um aterro criado no início do século XX, o que torna as intervenções na área ainda mais difíceis. Além disso, não havia mapeamento adequado das redes de gás, energia, telefone e água. "Gastamos mais tempo organizando a rede dos outros [concessionários] do que construindo as nossas novas. O custo é partilhado, mas isso leva tempo", lamenta o chefe da Cdurp.

Todas as obras de revitalização da zona portuária estão sendo financiadas pela emissão dos Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs). Em 2011, foram lançados mais de seis milhões de títulos, vendidos a R$ 546 cada um em um único leilão para o FII-FGTS. Os títulos foram comprados pela Caixa Econômica Federal (CEF) e são negociados pela instituição com o mercado imobiliário para que as empresas tenha permissão de construir empreendimentos acima da cota urbanística estabelecida para a região, uma operação nos mesmos moldes da que ocorreu na região da avenida Faria Lima, em São Paulo.

De acordo com números divulgados pela própria concessionária que administra as obras, apenas 7% dos Cepacs foram usados até agora- dado que revela a incerteza do mercado em relação aos investimentos na região portuária. Em pouco mais de três anos, 33% dos certificados foram comercializados pelo FII FGTS e outros 17% estão em fase final de negociação. A crise da economia, além de travar a venda dos títulos, ainda coloca os investimentos em marcha lenta, já que as empresas revisam projetos para reduzir custos, em vez de correr para concluir e aproveitar o mercado aquecido.

O arquiteto e ex-superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Rio (Iphan) Carlos Fernando Andrade diz acreditar que não houve avaliação mais aprofundada da prefeitura sobre a demanda de construções de prédios empresariais e residenciais. "O projeto Porto Maravilha é um colcha de retalhos com ideias importadas que não estão conectadas entre si", critica.

A Prefeitura do Rio ampliou os benefícios para tentar atrair empreendimentos para a região, mas até agora não teve sucesso. Os prédios residenciais são ainda mais raros e uma nova rodada de benefícios para as construtoras já foi aprovada na Câmara dos Vereadores.

"É natural que os primeiros lançamentos sejam comerciais. Existe hoje um conjunto de terrenos negociados com o FGTS em que 90% dos imóveis são residenciais. Tem o Porto Vida, já com unidades construídas, onde seria a Vila de Mídia. Acontece que o país vive uma situação difícil, os negócios deram uma travada", lamenta o presidente do Consórcio Porto Novo. "Mas os recursos para as obras estão garantidos. Temos recursos até o fim de 2016 para obras e prestação de serviços", afirma José Renato.

Apesar da cautela do mercado imobiliário, a CEF - gestora do fundo de investimento - descarta reduzir o preço dos Cepacs. "A dúvida não é se o Porto Maravilha vai vingar, mas quanto tempo a área vai levar para se consolidar. Nós temos convicção de que o investimento será muito bom", diz o gerente nacional de fundos para o setor imobiliário da Caixa, Vitor Hugo dos Santos Pinto. "Num mercado ruim, as pessoas só enxergam coisas ruins", completa.

A concepção de revitalização do porto previa aliar empreendimentos corporativos a habitações; assim, a região cresceria e atrairia cada vez mais investimentos. Porém, no início de 2014, a prefeitura decidiu transferir os prédios que abrigarão jornalistas e árbitros na Olimpíada da região portuária para a Zona Oeste. De acordo com a administração municipal, com a mudança, seriam economizados cerca de R$ 70 milhões.

A decisão foi um grave erro de avaliação, na opinião do presidente do Instituto dos Arqui-tetos do Brasil (IAB), Sérgio Magalhães: "Estou deprimido com a oportunidade que o porto está perdendo", afirma. "O projeto da Vila era construir dez mil quartos, cinco mil apartamentos que poderiam ser revertidos para 15 mil pessoas. Construir essa Vila de Mídia definiria um padrão novo de urbanização que a cidade não tem. O porto tinha a capacidade de criar uma cidade integrada, de múltiplas funções, uma escala nova. E isso sinalizaria muito positivamente para o resto da ocupação portuária."

Outra região recuperada por causa de obras foi a do Parque Madureira, inaugurado no segundo semestre de 2012, quando renovou o tradicional bairro da Zona Norte. E ainda conseguiu influenciar a revitalização de áreas vizinhas, onde quase não havia manifestações culturais e a violência era crescente. A região é berço de duas tradicionais escolas de samba: Império Serrano e Portela, agremiação adotada por Paes que vai desfilar na Marquês de Sapucaí celebrando os 450 anos do Rio

"Madureira ficou anos abandonada, sem investimento. Agora está tão claro que o Parque de Madureira é importante que vão inaugurar outro no Méier e fazer um em Guaratiba", resume a diretora da ONG Rio Como Vamos, Tereza Lobo. "Estamos em um momento de revalorização de espaços que eram desvalorizados."

O professor de história da PUC-Rio Antônio Edmilson Rodrigues diz acreditar que essas obras dão um novo padrão para a cidade e levam o carioca a "usar as áreas exóticas do Rio". De acordo com ele, há uma série de novidades importantes nessas áreas que ajuda a integrar a cidade. "A Zona Oeste e a Zona Norte estão ganhando da Zona Sul em perspectivas de investimentos e isso dá uma dinâmica de equilíbrio cultural."

Na Zona Norte, o foco da Prefeitura do Rio é reformar o entorno do Estádio Olímpico João Havelange, o Engenhão, onde serão disputadas as provas de atletismo nos Jogos de 2016. O maior projeto a ser entregue neste ano é a Praça do Trem, que será o principal acesso à arena. Segundo a Secretaria Municipal de Obras, o local de 35 mil m² vai se tornar a maior área pública do Méier, com iluminação eficiente e uma esplanada livre para facilitar a circulação pela região. Além disso, 34 ruas adjacentes ao estádio receberão nova pavimentação, reforma nas calçadas e arborização. A entrega da obra está prevista para o segundo semestre.

"A prefeitura pensou em um projeto de revitalização para melhorar o fluxo de entrada do Engenhão, a chegada das pessoas que vêm pela rede ferroviária, e que também pudesse ser, ao longo do ano, uma área de lazer para a cidade", diz o secretário de Obras, Alexandre Pinto. Fechado desde março de 2013 por causa de problemas de estrutura na cobertura, o próprio Engenhão deve ser reaberto no primeiro semestre. Ainda no ano do 450° aniversário, a prefeitura quer triplicar o Parque Madureira, uma das principais áreas de lazer da região.

A defesa da requalificação da Zona Norte é uma das principais preocupações dos urbanistas ouvidos pelo Valor. "Não se pode fazer uma cidade com 80% à margem. Isso é uma injustiça brutal", alerta Magalhães, do IAB. "A região era o lugar de melhor infraestrutura da cidade, em termos de saneamento, água etc.", lembra. "Lá, há três linhas de trem, uma de metrô e agora o BRT. Isso tem que ser qualificado, as pessoas precisam querer ficar na Zona Norte. É um nó estratégico na Região Metropolitana, onde moram 2,6 milhões de pessoas."

Apesar de não ser concluídas neste ano, três obras de mobilidade urbana já modificam a realidade da população. As linhas Transolímpica, Transoeste e Transbrasil vão ser um corredor expresso exclusivo para ônibus ligando centro, Zona Norte e Zona Oeste. A previsão é que os usuários gastem até a metade do tempo no trajeto entre a casa e o trabalho depois da conclusão das obras. Uma pesquisa liderada por professores da Fundação Getulio Vargas (FGV) concluiu que o carioca já gasta mais tempo no trânsito do que o paulista. Para o economista e professor da FGV Armando Castellar, o BRT e a expansão do metrô vão aliviar essa situação na Região Metropolitana. "O papel do Estado é dar infraestrutura e um bom ambiente de negócios. E no Rio hoje há projetos importantes de infraestrutura."

Na última década, segundo o Censo, a população da região da Barra da Tijuca foi a que mais cresceu. Recreio dos Bandeirantes e Vargem Pequena dobraram de tamanho; Jacarepaguá e a própria Barra tiveram aumento de cerca de 50% no número de moradores. Dos dez bairros mais populosos, sete ficam na Zona Oeste. Mesmo assim, nessa área não há linhas de metrô, de trem e a oferta de ônibus é inferior à da Zona Sul, cuja população é bem menor. A cidade forjada por Carlos Lacerda, há 60 anos, foi criada para os veículos sobre rodas, afirma o arquiteto Magalhães, do IAB. Os projetos em construção da prefeitura e do Estado prometem criar um círculo de transporte expresso. Linhas de BRT e metrô vão se integrar na Barra da Tijuca e levar os cariocas para as áreas mais populosas.

A linha 4 do metrô terá seis estações e cerca de 16 km de extensão, ligando a Zona Sul à Barra. O projeto está orçado em R$ 8,79 bilhões e quase todos os recursos são do governo estadual. As obras estão atrasadas por causa de erros de cálculo na perfuração do túnel no subsolo. A Secretaria de Estado de Transportes admite que o trecho será inaugurado incompleto antes da Olimpíada. A Estação Gávea não ficará pronta em 2016. Em Ipanema, Leblon, Gávea, São Conrado e na Barra há diversas intervenções que causam congestionamentos diários, um tormento no cotidiano do Rio. Os mais otimistas repetem o mantra ensinado pelo prefeito Eduardo Paes: "Não se faz omelete sem quebrar ovos".

"A imagem do Rio como cidade global, sem barreiras, só se sustenta em conjunção com a população, que não se satisfaz mais apenas com os cinco S [soccer, samba, sensuality, sun e sand]. O Rio ainda quer ser despojado, mas com qualidade e, principalmente, respeito pelo tempo, que hoje é dos maiores gargalos", afirma Bruno Israel, sócio da Ana Couto Branding, agência que estudou a marca Rio antes de incorporá-la ao nome do Aeroporto Inter-nacional do Rio de Janeiro, hoje Rio Galeão - Aeroporto Internacional Tom Jobim.

Ainda antes da Olimpíada, o Rio deve ter de volta os bondes que circulavam em Santa Teresa, na região central. A reinauguração está atrasada desde março. A primeira previsão do governo estadual era concluir a fase inicial das obras ainda no primeiro semestre de 2014. Os tradicionais bondinhos estão parados desde 2011, quando um acidente deixou cinco mortos e 57 feridos. Desde então, os moradores lutam para ter de volta o meio de transporte. Agora, o secretário de Transportes, Carlos Roberto Osório, garante que o novo bonde vai entrar nos trilhos-ainda que de forma parcial.

Foram muitas as empreitadas que deram ao Rio a cara que tem hoje. Com d. Pedro II, a cidade ganhou a Floresta da Tijuca e a Estrada de Ferro Corcovado. Pereira Passos e Paulo de Frontin abriram as avenidas Beira-Mar, Atlântica e Central (atual Rio Branco). O Rio passou a ser a Cidade Maravilhosa.

Henrique Dodsworth começou a construção do Maracanã e urbanizou a Esplanada do Castelo. Lacerda finalizou o Aterro do Flamengo, criou o Museu da Imagem e do Som (MIS) eaSa- la Cecília Meireles. Marcelo Alencar, Cesar Maia e Luiz Paulo Conde urbanizaram as orlas da Zona Sul, da Barra, construíram as primeiras ciclovias e remodelaram o entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas. Todos cartões-postais da cidade.

A imagem que sairá da reforma tocada agora, porém, ainda é difícil de visualizar. Usando recursos de computação gráfica, prefeitura e Concessionária Porto Novo colocaram na internet animações que mostram como ficará a região.

Com a derrubada da Perimetral, o centro voltará a se encontrar com a Baía de Guanabara, depois de quase um século desconectados. A praça 15, onde se concentrava grande parte da atividade comercial da cidade até o século passado, será a conexão entre o começo do Aterro de Lacerda, onde está o Museu de Arte Moderna (MAM), e a ponta do novo porto, que, além do Museu do Amanhã, já conta com o Museu de Arte do Rio (MAR).

No total, essa região que compreende o novo porto e o centro da cidade contará com mais de uma dezena de equipamentos culturais, inclusive o Theatro Municipal e a Sala Cecília Meireles, que acaba de sair de uma modernização que custou R$47,5 milhões.

"O Rio precisa escolher se quer deixar o turista o dia inteiro tomando sol na praia de Copacabana, sem gastar dinheiro, ou se aprende a explorar todo o seu potencial turístico", disse recentemente em uma palestra na PUC-Rio o secretário municipal de Turismo, Antonio Pedro Viegas Figueira de Mello.

A Copacabana da praia também terá novidade. Idealizado pela Secretaria de Cultura do Estado do Rio com a Fundação Roberto Marinho, a nova sede do MIS, na sua orla, é outro projeto que será concluído ainda neste ano. Ao todo, serão seis níveis, com diferentes exposições. Entre eles um sobre o "Espírito Carioca", que apresentará o humor, a rebeldia e as festas, como o Carnaval. O desenho do novo MIS foi realizado por arquitetos do escritório americano Diller Scofidio + Renfro. A construção está orçada em R$ 104,6 milhões, bancados pelo governo do Estado.

"Tenho fé que o Rio vai retomar parte da im-portância. Mas a educação do carioca deve acontecer junto com as transformações físicas", comenta o antropólogo DaMatta.



Valor Econômico, Especial Rio 450 anos, 13/fev