quinta-feira, 23 de julho de 2015

Arrocho econômico eleva em 30% devolução de imóveis novos


Juros em alta e o aumento das restrições nos financiamentos imobiliários são ingredientes que, junto com o aumento do desemprego e da queda na renda dos trabalhadores, estão levando mais brasileiros a devolver para as construtoras imóveis comprados na planta. O setor da construção registrou um aumento de quase 30% na desistência de compra de imóveis novos neste primeiro semestre do ano na comparação com igual período do ano passado. No jargão do setor, essa volta atrás é conhecida como distrato. 

O percentual é da Associação Brasileira dos Mutuários da Habitação (ANMH) que representa no país quem compra imóveis com financiamentos de bancos e das próprias construturas. A entidade calcula que os pedidos de distratos ocorridos de janeiro a junho deste ano alcançam mais de seis mil contratos. O número se refere àqueles acompanhados pela associação.

Entre esses distratos, de acordo com a entidade, boa parte se refere a mutuários que não suportaram o valor das prestações e das parcelas intermediárias (pagamentos extras feitos semestralmente ou anualmente às incorporadoras). Outros devolvem por não acreditarem na possibilidade de conseguir financiamento com bancos, sejam eles públicos ou privados e, há ainda os motivados pela perda do emprego.

Outro fator que influencia negativamente é a posição dos bancos de tornarem mais restritivos os financiamentos de imóveis. No começo de maio deste ano, a Caixa Economia Federal, o principal agente imobiliário do mercado, passou a financiar apenas 50% do valor de imóveis de até R$ 750 mil. Antes, o percentual era 80%. Nos financiamentos para imóveis com valores superiores a R$ 750 mil, o percentual passou que era de 70% foi reduzido a 40%.


Decepção 

A aposentada Maria José Soares, de 70 anos, resolveu comprar um apartamento para morar com a sua filha. Comprou, em 2010, um imóvel no Guará, localizado a cerca de 15 km do centro de Brasília, com a certeza de que conseguiria arcar com todos os custos. Mas, prestes a receber as chaves, procurou um banco para fazer o financiamento, e, por conta dos seus setenta anos, teve o empréstimo negado pela instituição financeira. Devolveu o imóvel à construtora no final de 2013 e perdeu cerca de R$ 35 mil do que já havia pago.

"Eu perdi muito dinheiro com tudo isso e fiquei super decepcionada. Não contava com essa possibilidade e fiz um acordo com a construtora para ficar melhor para ambas as partes", disse Maria José, emocionada ao lembrar do episódio. Ela ainda afirmou que tentou fazer o financiamento no nome de sua filha, mas não se concretizou por ela já ter outro financiamento.

O presidente do Sindimóveis (Sindicato dos Corretores de Imóveis do Distrito Federal) e corretor, Geraldo Nascimento, atribuiu a turbulência no setor à atual crise financeira. "Está muito difícil vender. Por conta da redução do financiamento e do aumento da taxa de juros", afirmou Nascimento. A taxa básica de juros (Selic) está fixada em 13,75% ao ano.

Além disso, o presidente alega que os clientes andam precipitados, sem pensar mais à frente nas parcelas que devem pagar. E ainda existe a dificuldade de vender o imóvel usado que, em muitos casos, representa a entrada para aquisição de outro imóvel novo. 

Olimpíadas

Mesmo com a maior procura de imóveis por conta da realização das Olimpíadas no ano que vem, o que tem aquecido o mercado local, o Rio de Janeiro também vive o dilema dos distratos. De janeiro a abril deste ano, segundo a ADEMI (Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário), houve crescimento de 4% na venda de imóveis novos na capital em relação ao mesmo período do ano passado. 

O vice-presidente da entidade, Claudio Hermolin, atribui a devolução de imóveis, que acontece em paralelo as vendas, ao aumento da inadimplência e à postura mais restritiva dos bancos.  "Temos visto um distrato num volume maior do que o normal. Com o aperto do crédito, aumento da taxa (Selic) e o percentual o valor do imóvel a ser financiado, tem como consequência, infelizmente, o aumento da inadimplência, ou o aumento na quantidade de distratos", disse Hermolin.



Fato Online, 22/jul