quinta-feira, 16 de julho de 2015

Progresso oculto


Desde 2010, ocultos por tapumes, milhares de operários trabalham em escavações e manipulam maquinaria pesada para dar forma à Linha 4 do metrô, que deverá estar em pleno funcionamento até o início das Olimpíadas de 2016. Atualmente, o trabalho entra na reta final, com trilhos, pisos, escadas rolantes e painéis decorativos sendo instalados. Na semana passada, a equipe do GLOBO-Barra visitou as obras no Jardim Oceânico e em São Conrado, o trecho mais avançado, e constatou o progresso.

Um dos três acessos da estação do bairro, sentido praia, já está quase todo finalizado. O piso de granito, a escada rolante e os degraus, além de um painel do artista Urbano Iglesias, com desenho de animais silvestres como jacaré-de-papo-amarelo, biguá e gato-domato, pintados no corredor, já são vistos. Falta apenas o elevador. Na semana passada, a novidade foi a colocação do guarda-corpo da escada e o início da obra do telhado verde, que cobrirá a estação com vegetação.

A saída na esquina da Avenida Armando Lombardi com a Rua Fernando de Matos está pronta: a estrutura de vidro e aço e a rampa para cadeirantes foram colocadas este mês. Agora, o segundo acesso, do outro lado da Armando Lombardi, entrará na fase de acabamento. Já o terceiro será o da integração com o BRT. Este já começou a ser feito, com fôrmas e armação para concretagem das escadas sendo executadas, mas só ficará pronto quando o Lote Zero da Transoeste (continuação do corredor do BRT até o Jardim Oceânico) for concluído, o que está previsto para o final do ano.

- Estamos trabalhando diretamente com os engenheiros da prefeitura. O estado é que vai construir a estação intermodal, com o município apoiando financeiramente. Provavelmente, a partir do mês que vem esse acesso já começará a ser feito. A previsão é que ele esteja pronto até abril de 2016. Vale lembrar que a Jardim Oceânico é a única estação com uma obra viária no meio, que é a do mergulhão do retorno da Armando Lombardi. Somada ao fato de que atenderá a dois sistemas, BRT e metrô, entende-se a complexidade técnica - explica o secretário estadual de Transportes, Carlos Osório.

Na plataforma, a instalação do piso também já foi iniciada. O mezanino está de pé, mas as bilheterias ainda não foram instaladas. As escadas ligando os dois níveis estão prontas. Os trilhos não chegaram ao corpo da estação: a colocação começou pelo final do rabicho, prolongamento concebido para propiciar a expansão do metrô até o Recreio, uma reivindicação dos moradores da área, e que por enquanto servirá para manobra de trens. Nos túneis, porém, os trilhos estão adiantados: entre a Barra e Ipanema, 14,5 quilômetros de trilhos já foram colocados.

Os avanços na estação São Conrado são ainda mais evidentes. A plataforma já está com o piso e a faixa amarela colocados e as escadas, incluindo quatro rolantes, até o mezanino foram instaladas. Na semana que vem será a vez dos elevadores. Em fase de acabamento, os três acessos - Estrada da Gávea, na altura do Supermercado Extra; Avenida Niemeyer, em frente à Igreja Universal da Rocinha; e Avenida Aquarela do Brasil - estão quase concluídos. Nos dois últimos já é possível ver a área de bilheteria montada. Ali, a iluminação natural será privilegiada, graças a duas claraboias (a primeira está pronta).

São Conrado também foi a primeira a receber trilhos: uma das duas vias foi concluída há duas semanas. Outra peculiaridade será a presença de esteiras ao longo dos corredores, assim como as existentes nas estações Cardeal Arcoverde, em Copacabana, e General Osório, em Ipanema. Diferentemente da estação Jardim Oceânico, que precisou ser escavada a partir do canteiro central da Avenida Armando Lombardi, a de São Conrado foi montada já por debaixo da terra, ou seja, de dentro do túnel do metrô, o que facilita seu acabamento.

O maior avanço nestas estações, em relação às de Ipanema (que ganhará mais duas, uma na Praça Nossa Senhora da Paz e outra no Jardim de Alah) e Leblon (que ficará na Praça Antero de Quental) já era esperado, explica o secretário estadual de Transportes:

- Apesar de este ser um trecho mais longo em quilometragem, é também tecnicamente mais fácil, por causa do solo. A presença de rochas possibilita a construção da base de explosões. Agora, é só questão de acabamento: terminar acesso, bilheteria e plataforma. Por último será feita a parte eletrônica, que começa este ano e termina em abril ou maio.

Osório chama a atenção também para a ponte estaiada na Barra. Com 72 metros de altura, é outra obra de alta complexidade, e será o único trecho em que o metrô poderá ser visto acima da superfície na Linha 4. A fase atual é de instalação dos cabos de aço, e a plataforma deverá ser colocada este mês.

A previsão da Secretaria de Transportes é que o metrô comece a funcionar sem passageiros entre abril e maio de 2016. A abertura será em 1º de junho, mas apenas fora dos horários de pico. Um mês depois, começa a operação plena. Estima-se que a Linha 4 vá receber 300 mil passageiros por dia, dos quais 91 mil passarão pela Estação Jardim Oceânico. Apesar de um relatório do Tribunal de Contas do Estado (TCE) ter demonstrado dificuldades no cumprimento do prazo, Osório se diz confiante:- O relatório mostrou o cenário de um momento anterior da obra (de agosto a dezembro de 2014), mas, nos últimos três meses, ganhamos 40 dias, com o avanço do tatuzão. Até o final da semana, Jardim de Alah estará completamente cavada e em dezembro juntamos os dois túneis (o da Barra e o de Ipanema). Precisamos de atenção até o último dia, mas ela será entregue no prazo.

Há visitas guiadas todo fim de mês

Qualquer pessoa pode conhecer as obras da Linha 4. As visitas, ciceroneadas por um engenheiro, são realizadas sempre no último domingo do mês. Em geral, os grupos têm entre 60 e 90 pessoas. As inscrições podem ser feitas pelo número 0800- 0210- 620, e, quando as turmas são fechadas, o interessado é avisado.

As opiniões, críticas e sugestões dos moradores da Barra acerca do metrô são acompanhadas de perto pela Câmara Comunitária da Barra, diz seu presidente, Delair Dumbrosck. Por isso, seus diretores frequentemente visitam as obras.

- Repassamos sempre o que vemos aos moradores, e em muitas ocasiões os síndicos nos acompanham - explica.

Dumbrosck foi um dos que lutaram, por muitos anos, para ver o metrô chegar à Barra.

- Desde 1998 estamos nessa batalha. Foram inúmeras reuniões, audiências públicas e viagens a Brasília. Temos confiança plena de que, em julho do ano que vem, o metrô estará funcionando. Agora, nossa mobilização será para levar a expansão ao Recreio, uma promessa do governador (Luiz Fernando Pezão) - conta ele, que, como a maioria dos moradores da Barra, torcia pela mudança no traçado original, que seguiria por Humaitá e pelo Jardim Botânico. - Mais de 85% das pessoas que usam ônibus de condomínio fazem o trajeto por Ipanema e Leblon.

A proximidade do fim das obras e da inauguração do metrô representa satisfação em dose dupla para a região, que vive entre a certeza de que a Linha 4 será um ganho para a cidade e a paciência necessária para tolerar os inconvenientes inerentes à construção.

Como o canteiro fica instalado em frente ao local de embarque para as ilhas da Lagoa da Barra, poucos acompanham a evolução da obra da Estação Jardim Oceânico tão de perto quanto Eduardo Dias, presidente da Associação de Moradores da Ilha da Gigoia. Tico, como é conhecido, diz que o sentimento entre os residentes é de ansiedade.

- Os transtornos são grandes, porque, além do trânsito caótico, há muitas ocorrências de assaltos no entorno, principalmente perto das passarelas, e a iluminação é precária na Estrada da Barra, próximo ao Itanhangá e na Armando Lombardi - lamenta ele, que, por outro lado, celebra a chegada do metrô. - A obra está indo bem, achávamos que demoraria mais. Os novos mergulhões ajudarão muito aos motoristas, e ficará mais fácil para os moradores das ilhas se deslocarem até a Zona Sul ou o Centro, o que aumenta as oportunidades de emprego.

Tico acrescenta que a Associação de Moradores da Ilha da Gigoia vai pedir à prefeitura que, após o término das obras, os espaços usados como canteiros virem estacionamentos públicos.

Questionada, a Rioluz afirmou que retirou parte da iluminação do entorno dos canteiros, por causa da obra, e que o Metrô Rio é responsável por colocar projetores, em caráter paliativo. O consórcio respondeu que vai verificar a necessidade de reforçar os pontos de luz. Já o comandande do 31º BPM, Sergio Schalioni, observa que existe uma guarita próximo à passarela e que o local não consta na mancha criminal da área. Mesmo assim, o policiamento no local será reforçado.



O Globo, Barra, 16/jul