Existe na Barra um lugar em que carros não circulam, o som dos pássaros ecoa pelas vielas, que abrigam casas simples, e as bicicletas são o único meio de transporte. O refúgio do caos urbano, entre o Itanhangá e o Jardim Oceânico, está atraindo muitos novos moradores, na maioria jovens, do Rio e de outros estados, que encontraram na Ilha da Gigoia uma alternativa aos altos preços cobrados no restante da cidade, além de um estilo de vida bucólico. O desenvolvimento do sistema de transportes no bairro, com destaque para a Linha 4 do metrô, que terá estação em frente à entrada da ilha, é um atrativo a mais. Por outro lado, para os antigos moradores, o aumento populacional lança a preocupação acerca do crescimento desordenado. A estimativa é que hoje o número esteja chegando a três mil pessoas e em crescimento, como denunciam a chegada constante de material de construção, pelas balsas que levam até o local; o ir e vir de operários; e o barulho das obras.
- Nunca vi tanta obra ao mesmo tempo por aqui. Aumentou muito a demanda de um ano para cá - afirma Eduardo Dias, mais conhecido como Tico, que vive na Gigoia desde que nasceu, em 1978, e hoje é presidente da associação de moradores do local.
Em um passeio pela ilha, que tem cerca de 130 mil m², o traje que mais se vê é camisa regata, bermuda e chinelos. Surfistas carregando suas pranchas, crianças jogando bola ou brincando com cachorros pelas ruas são cenas prováveis. A tranquilidade de um local cercado de água, com vegetação abundante e pouco barulho, é o que buscam muitos novos moradores, como Helena Bielinski, que desembarcou na Gigoia em maio.
- Eu não queria sair da casa da minha mãe para pagar uma nota e viver num cubículo em outro bairro - explica a produtora de 25 anos, que vivia na
Tijuca. - Quando comecei a procurar casa aqui, trabalhava na Globosat, que fica bem perto. Não estou mais lá, mas não penso em me mudar. O que vale é o isolamento do meio urbano; a melhor qualidade de vida. Nem parece que estamos na cidade.
Helena acabou dividindo a casa com Mariah Borges, que já vivia na Gigoia desde fevereiro de 2014.
- Eu morava com outra pessoa, mas ela se mudou e eu não queria sair da ilha. Eu e a Helena encontramos uma casa maior e convidamos mais duas amigas para morarem conosco - explica Mariah, de 21 anos, que é de Macaé e estuda Geologia na UFRJ. - Precisava de um lugar para morar no Rio e descobri a Gigoia. A tranquilidade e a alegria dos moradores me encantam.
Desde então só houve uma mudança: saiu uma das moças e entrou Bernardo Ribeiro, de 26 anos. O quarteto divide uma casa de quatro quartos, com amplo quintal. O valor de aluguel, originalmente de R$ 3 mil, foi negociado e ficou em R$ 2.500, cifra inimaginável para um imóvel do mesmo tamanho na Zona Sul ou no Jardim Oceânico, por exemplo.
O preço atraente foi um dos motivos que levaram Dandara Rodrigues, de 23 anos, a outra integrante do quarteto, a ir para a Gigoia. De Nova Iguaçu, ela se mudou para o Rio a fim de estudar Geologia na UFRJ, onde conheceu Mariah, e, antes de chegar à ilha, passou temporadas em Copacabana e no Leblon.
- Por incrível que pareça, chego mais rápido ao Fundão saindo daqui do que do Leblon. Apesar de não ser um lugar central da cidade, há muitas opções de transporte. Eu morava em um apartamento, mas queria me mudar para uma casa e ter mais conforto - diz a estudante de 23 anos, que faz estágio na Urca, onde costuma chegar em cerca de uma hora.
O novo lar também está agradando ao designer Bernardo Ribeiro, que trocou a Urca pela Barra, no mês passado.
- Agora consigo surfar todo dia antes do trabalho. Estabeleci minha vida no litoral, porque trabalho em Ipanema. Eu já estava procurando uma casa com mais espaço e com mais acesso ao transporte público. Na Urca, as opções de ônibus são restritas - diz o designer, que chega ao trabalho em 30 minutos.
As supostas dificuldades de transporte são, em muitos casos, "preconceito com a Barra", acredita Helena. Mesmo antes da inauguração do metrô, ela acha que a região em que vive já dispõe de suficientes opções de mobilidade.