terça-feira, 1 de setembro de 2015

Zum-zum-zum dos drones invade o céu carioca


Um zum- zum- zum tomou conta do céu no Rio. O ruído é característico e deu nome ao equipamento: em inglês, drone significa zumbido. Para muitos cariocas, o robô cinegrafista já virou moda e pode ser visto em casamentos, shows, formaturas e obras. Até a prefeitura entrou na onda tecnológica. Mas a rápida popularização dessas aeronaves pilotadas remotamente não veio acompanhada de regras específicas. Com um ano de atraso, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) lança amanhã uma proposta para regulamentar o uso dos aparelhos. A consulta pública permitirá que qualquer pessoa envie sugestões ou críticas sobre o projeto durante 30 dias.

A grande novidade do momento é o uso de drones na construção civil. Em alguns casos, as construtoras enviam as imagens das tomadas aéreas para os clientes, que se informam sobre o andamento de suas futuras residências. A Secretaria municipal de Obras (SMO) também usa esse serviço para monitorar seus projetos.

Ontem, um equipamento fez um sobrevoo no costão da Avenida Niemeyer, para registrar a construção da ciclovia que ligará Leblon a São Conrado. Ao custo de R$ 35,9 milhões, as obras estão 82% concluídas, de acordo com a SMO. A previsão de inauguração é dezembro.

O presidente da Fundação Instituto de Geotécnica (Geo- Rio), Márcio Machado, afirmou que, além do acompanhamento de projetos em andamento, pretende fazer, até o fim do ano, vistorias em obras já realizadas:

- É um instrumento valioso, que serve de apoio ao nosso trabalho diário em lugares de difícil acesso. Todas as obras concluídas são inspecionadas depois de algum tempo. Desde 1966, fazemos voos de helicóptero para identificar os problemas, mas há casos em que não é possível chegar muito perto. O drone é como o olho humano no local das obras. O custo também é muito menor que o do uso de helicópteros.

SEGURANÇA DOS JOGOS PREOCUPA

Atento à segurança, o Comitê Organizador Rio 2016 busca soluções para que a nova mania não atrapalhe as Olimpíadas. O comitê e o Ministério da Defesa esperam o resultado da regulamentação para definir como serão feitas as proibições no espaço aéreo da cidade durante o evento. A Força Aérea Brasileira informou que tem quatro drones na Base Aérea de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e que os equipamentos poderão ser usados durante os Jogos.

Os riscos desse aumento de drones no céu são reais, alerta o empresário Ricardo Cohen, vice- presidente da Associação Brasileira de Multimotores. Para ele, a fácil aquisição do equipamento não dispensa uma boa capacitação.

- Nosso mantra é: pratique o voo seguro e siga as normas. Para operar, tem que haver um aprendizado, uma orientação. Então, não é só ligar e sair voando. É que nem carro. Qualquer um pode comprar, mas não é todo mundo que está habilitado - explicou.
Há equipamentos com peso entre 1,5kg e 20kg e com tamanho entre 25 centímetros e 1,2 metro. Na ausência de uma regulamentação, o fotógrafo Francisco Almendra aprendeu a usar o equipamento sozinho. Com o Drone do Amor, devidamente pintado e fantasiado, chegou a filmar blocos de carnaval. Atualmente, porém, deixou de sobrevoar multidões:

- É por questão de segurança. Nunca tive problemas, mas não acho certo. Revisei a forma como uso o drone. Voar em cidade é perigoso. Se aquilo cair na cabeça de alguém, faz um estrago. Há toda uma série de precauções. É preciso um plano de voo muito bem feito.

As igrejas também já estão se acostumando com a presença dos drones. Segundo Reynaldo Cavalcanti, diretor de um estúdio fotográfico, o serviço ficou bastante conhecido depois do casamento do cantor Naldo Benny com Ellen Cardoso, a Mulher Moranguinho, em 2013. O valor da filmagem pode chegar a R$ 9 mil.

- Toda noiva quer drone, é muito engraçado. As imagens são inseridas no DVD do casamento ou mesmo editadas no mesmo dia e exibidas durante a festa - diz Cavalcanti.

Almendra acredita que o uso do drone vai se tornar cada vez mais comum.

- Drone é uma tecnologia nova e que vai ser tão popular quanto o celular. A regulamentação é importante para que as pessoas entendam o que é permitido ou não. Por enquanto, o que temos é um vácuo ( na legislação).



O Globo, Guilherme Ramalho, 01/ago