quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Milionários investem US$ 2,9 trilhões em imóveis no mundo


Por qualquer métrica, o edifício One Sixty, lançado pela incorporadora Cyrela no início de outubro, é um imóvel de luxo. Seus 55 apartamentos possuem de 270 a 340 metros quadrados, e cada um desses metros pode custar de R$ 25 mil a R$ 40 mil. O ponto alto (sem trocadilho) são as duas coberturas duplex, com seis suítes e seis vagas. No entanto, essas duas unidades não estão à venda. Segundo os especialistas do mercado imobiliário, elas foram comercializadas antes do lançamento

Esse fato demonstra bem que as coberturas estão acima da crise. "Os preços no mercado imobiliário vêm caindo, com algumas unidades sendo vendidas com desconto, mas nesse segmento em particular não se percebeu nenhuma diferença de valor", diz Elton Oliveira, diretor da corretora de imóveis RealtOn, que criou uma diretoria dedicada ao segmento. Segundo Oliveira, enquanto a escassez do crédito e a desaceleração da economia desaceleram o ritmo das vendas, um movimento inverso ocorre nas coberturas. "Há muitos executivos e investidores que estão aproveitando a alta do dólar para converter aplicações no exterior e trocar o imóvel por outro melhor", diz ele. "E os proprietários que colocam esses imóveis à venda não precisam nem querem conceder descontos."

A resiliência dos preços ã crise é um fenômeno mundial. A edição de 2015 do estudo do mercado imobiliário de luxo realizado anualmente pela empresa britânica de leilões e vendas Sotheby's mostra que, apesar dos solavancos da economia, a relação entre os bilionários e seus palacetes continua sólida. Na média, os 211 mil superricos, com patrimônios superiores a US$ 30 milhões (R$ 114 milhões), possuem US$ 2,9 trilhões em imóveis usados para moradia própria ou da família. Essa cifra apresentou um crescimento de 8% em relação ao ano anterior. Outra tendência é a da diversificação. Mais e mais indivíduos de alta renda estão comprando imóveis fora de seus países de origem. As motivações, nesses casos, são menos empresariais e mais emocionais, segundo o levantamento da Sotheby's.

O Brasil vem registrando um movimento semelhante. O segmento é muito sigiloso - a Sotheby's não comentou o assunto, nem ofereceu imagens dos imóveis à venda - mas quem conhece o mercado avalia que o interesse de investidores internacionais cresceu um pouco, apesar dos prognósticos ruins da economia. Tanto que a alta do dólar trouxe poucos benefícios para os compradores. Um bom exemplo é outro lançamento da Cyrela, o edifício Pininfarina, cujo projeto foi elaborado em conjunto com o famoso escritório de design italiano. Com mil metros quadrados, a cobertura custava R$ 40 mil o metro no lançamento, no início de setembro. Trinta dias, e 10% de valorização do dólar depois, o preço havia sido reajustado para R$ 44 mil, acompanhando a valorização do câmbio. Parte da estratégia da empresa fundada por Elie Horn está em se focar nesse nicho de mercado para combater a desaceleração do setor. Procurada, a Cyrela não falou com a DINHEIRO.

O perfil mais frequente das coberturas de altíssimo luxo à venda em São Paulo e no Rio é o de imóveis muito amplos, de pelo menos 600 metros quadrados e várias vagas de garagem - quatro, no mínimo. Além dos luxos de praxe, como piscina, sauna e adega, é comum que os imóveis tenham dependências para os empregados ou seguranças da família. Os preços começam a partir de R$ 30 milhões, mas as cifras podem dobrar sem muito esforço. "Há cerca de 30 unidades à venda em São Paulo neste momento", diz Oliveira, da RealtOn. "A maioria delas é usada, ou então foi comprada por investidores que agora estão querendo aproveitar a alta do dólar e realizar lucros."

Vale a pena comprar para investir? Vamos com calma. "O mercado de coberturas é bastante específico, são imóveis não apenas mais caros para comprar, como também mais custosos para manter", diz José Eduardo Cazarin, proprietário da imobiliária AxPE, especializada em imóveis especiais. "Uma cobertura é, basicamente, um apartamento padrão com um andar superior onde há em geral um terraço, uma piscina e uma sala para a convivência da família", diz ele. "Em geral, o proprietário paga caro para usufruir desses luxos, e, por isso, as coberturas são mais difíceis de vender." Assim, se a ideia não for desfrutar da vista, a recomendação é manter os pés mais perto do chão.



IstoÉ Dinheiro, Investidor, 21/out